27 de abril de 2006

Árido Movie – Lírio Ferreira


Lembro de quando assisti “Baile Perfumado”, saí do cinema sem saber se havia gostado ou não do filme, pois achei o filme estranhíssimo, bem diferente. Isso acabou mudando numa revisão, e o que era estranho se tornou original e belo, fruto da direção criativa de Lírio Ferreira e Paulo Caldas.Neste Árido Movie, a direção ficou apenas com Lírio Ferreira, talvez por isso a impressão que fiquei do filme é de que ele ora parece ousado, ora não, fica no meio do caminho.Talvez seja a falta de Paulo Caldas.

Muito aguardado e com um elenco estrelar, mesmo sem toda aquela ousadia que eu aguardava,o filme me agradou muito, e que bela fotografia azulada. Com exceção de Guilherme Weber (Jonas), que me parece, inapropriado para viver o protagonista do filme.Mas o restante do elenco compensa.

O filme conta à história de Jonas, homem do tempo, num jornal televisivo de São Paulo, que é obrigado a voltar às suas origens, no sertão pernambucano, devido ao assassinato de seu pai, que ele não via desde menino. Sua volta, o leva a confrontar seu passado num ambiente totalmente estranho a ele, e neste lugar ele se depara com vários tipos e situações. Vingança, Seca, Índios, Maconha. Tudo se mistura em sua mente.

O que muitos acham ser o defeito do filme, para mim é o seu grande mérito. O diretor mistura vários personagens e várias situações estranhas. Ele atira para todos os lados, e deixa muitas situações em aberto, ele parece não procurar respostas. Tanto é que o melhor do filme, é sua parte onde não há política, nem questões sobre seca ou água. É a turma de maconheiros, amigos de Jonas, três porras loucas, cujo único objetivo é... Fumar mais maconha. Selton Mello arrasa, com seu Bob (que parece ter sido inspirado na canção do Otto, que por sinal assina a trilha sonora do filme), com seu tipo bonachão e gordo. Vale lembrar também do Meu Velho, personagem de José Celso Martinez, que evoca um profeta fajuto e sua filosofia sobre a água no sertão.

Passado, presente. Costumes antigos e modernidade, entram em choque neste filme meio que autobiográfico do diretor Lírio Ferreira. Faltou um pouco mais de ousadia, mas vale muito a pena assistir.

25 de abril de 2006

Três Enterros – Tommy Lee Jones


Pouco tempo, pouco dinheiro (quase nenhum),computador pifado e um coração para lá de carente. Deste jeito fica difícil, mas a gente vai levando, como já falou Chico. Ainda bem que num domingo de angústia, me aparece Tommy Lee Jones com sua primeira direção no cinema e... Bingo! Saí do cinema meio que desnorteado, daquele jeito em que se alguém fala contigo, não dá nem vontade de responder.

Três Enterros é um filme raro e único, ainda guardo perguntas e cenas específicas até agora, pulsando dentro da cabeça, assisti há dois dias e cada vez ele cresce mais na minha memória. Quanto deserto!!!!

Acho que nem vale dizer sobre o que é o filme, apenas o que ele esconde (ou será que revela?) em cada um de seus personagens. Todos, sem exceção, com um verdadeiro deserto dentro de si, sendo que uns até sabem disso, outros vão descobrindo ao longo do caminho, ou melhor, ao longo do deserto onde vivem (Texas), onde pouco ou quase nada acontece ou se tem a fazer, onde o tédio impera.

Neste ambiente existe uma bela amizade entre Pete (Tommy Lee Jones) e Malquiades (Julio Cedillo), que trabalham juntos, sendo um o patrão e o outro seu empregado mexicano. Essa amizade é interrompida pelo assassinato do mexicano por Mike (Barry Pepper, excelente), guarda de fronteira que havia acabado de assumir o posto e é novo no local, este o mata sem querer. Como a polícia local não se empenha em achar o culpado, Pete resolve fazer justiça com as próprias mãos. Ele captura Mike e parte ao México, em meio ao deserto, para fazer o funeral do amigo morto em sua terra, como havia prometido ao mesmo, junto à sua família. Daí, o que vemos é a trajetória destes três corpos (sendo um morto) no deserto . E de forma maravilhosamente não linear, vemos os acontecimentos que fizeram eles chegarem a aquele deserto, suas vidas e seus relacionamentos.

Há tantas cenas instigantes, como aquela em que Mike observa chorando, a mulher se encaminhar ao shopping. O mexicano presenteando o amigo com seu cavalo, ou até mesmo as brochadas do policial durão. Mas a cena antológica, aquela que já vale o filme, se passa quase no final, quando Mike sente sinceramente que não existem diferenças entre ele (americano que se julgava superior aos mexicanos ilegais ou não) e as outras pessoas, seus valores se diluem e ele ajoelhado pede perdão ao espírito de Melquiades.

Lembro quando assisti a Raio Verde de Rohmer, lá no final do filme, aparece o raio e senti uma indescritível sensação de beleza.Muitos não conseguiram enxergar o raio verde que aparece por menos de um segundo. Falo dele, pois algo aconteceu parecido neste filme, quando Pete diz a Mike que este está livre, por um segundo também, Tommy Lee Jones empresta ao seu personagem toda uma gama de angústia e vazio. Apenas numa rápida troca de olhar, um mágico segundo, que revela toda a tristeza na alma daquele homem durão que perdeu o companheiro e amigo (coisa rara que não se encontra facilmente). O durão em meio ao seu deserto interno, no deserto externo.Ele se mostra nu , só e digno. Que belo personagem, que belo filme.

19 de abril de 2006

MANUAL DO AMOR – Giovanni Veronesi

Paixão, crise, traição e abandono.Nesta ordem, até parece que o amor é um sentimento fadado ao fracasso, uma ilusão de trouxas. E é nesta mesma ordem que Veronesi aborda o amor, o romance, tema central desse filme. Os temas acima descritos são abordados como uma espécie de episódios interligados, nesta deliciosa comédia em homenagem ao amor. A boa novidade neste filme é que ele é realmente engraçado e leve.Sendo cada episódio interpretado por um casal diferente.

Tudo começa com a bela e lírica história de Tomasso (Silvio Muccino) desempregado que se apaixona por uma guia turística (Jasmine Trinca, linda, linda, linda). Daí ele faz de tudo para conquistá-la e nasce uma paixão linda entre os dois.

No episódio da crise, acompanhamos um casal, que após vários anos de casamento, percebem que a união está desgastada e tenta de todas as maneiras possíveis sair da crise vivida por eles, sem muito sucesso. O grande questionamento nesta cena se dá quando eles se perguntam se um filho ajudaria a solucionar a crise deles.Cena engraçada, em que eles estão visitando amigos já com filhos.

Não menos engraçado, é a cena da traição, onde uma guarda de transito se vê traída pelo marido e resolve se vingar dos homens distribuindo multa a todos do sexo masculino possível. Inclusive ao homem que foi abandonado pela esposa e protagoniza o último episódio.

O abandono poderia ser o mais melancólico pela temática, mas não é o que acontece. Acompanhamos Gofredo (Carlos Verdome, ótimo), pediatra que não se conforma com o abandono da esposa e saí a procura do tal “Manual do Amor” do título e outras formas possíveis para conseguir conviver com o abandono. Até que acaba conhecendo, na praia, a irmã de Tomasso e vemos tudo recomeçar, formando-se assim, uma cadeia de pessoas em busca do amor.

O que importa aqui é mostrar de forma leve e divertida o caminho destes personagens através das desventuras amorosas, e suas conseqüências.

Eles vivem e querem, como todo mundo (eu,nós), amar e serem amados, pois essa é a delícia da vida. Essa eterna procura, esses encontros e desencontros amorosos bem ou mal resolvidos. O importante aqui é o caminho, não a chegada ou partida.Tentando cada vez, a cada trombada, melhorar e viver a doce mágica do romance, do amor, por um instante que seja.

O cinema italiano já me presenteou com o surpreendente drama “As Chaves de Casa” este ano. Agora me presenteia com esta deliciosa comédia, que fez eu sair mais leve do cinema.

Um bellisimo lavoro di questi italiani. Um saluto a tutti e aguri!

17 de abril de 2006

V de Vingança - James McTeigue


Estréia promissora do diretor Mcteigue com está adaptação dos quadrinhos de Alan Moore (que incrivelmente não quis seu nome nos créditos). Tinha ressalvas de ver este filme, cansado desse monte de filmes de ação americanos que imperam nos cinemas, e também porque detestei os dois últimos Matrix dos irmãos Wachowski, que aqui assinam o roteiro e a produção. Então achei que este também abusaria da ação, pancadaria e efeitos especiais, mas isso não acontece.A direção é econômica nos efeitos, utilizando-os só quando necessário, que substitui a ação por tensão, nesta história sobre um governo absolutista e ditatorial, que utiliza terrorismo vedado e cerebral num futuro não muito distante.

Neste cenário surge, o herói mascarado V (Hugo Weaving), com a cumplicidade acidental e não explícita de Evey (Natalie Portman).Ele resolve utilizar a ação terrorista de fato, para lutar contra esse governo e incitar o povo a se rebelar contra esta ditadura. Não entro do mérito se esta ação é válida ou não, particularmente, qualquer tipo de ação terrorista é abominável, mas fica difícil não torcer pelo mascarado.

Apesar da ação se passar em Londres, assim como nos quadrinhos, fica evidente a ligação com os Estados Unidos da era George Bush, que assim como o governo do filme, tenta governar seu país através do terrorismo do medo.

Portman e Weaving dão um show à parte com suas interpretações que fazem do filme, juntamente com a direção não apelativa aos efeitos à mão, uma respeitosa adaptação dos quadrinhos de Alan Moore.

Mesmo assim, algumas questões ficaram sem resposta para mim, talvez precise assistir novamente para ver se perdi pelo caminho. Como V consegue estar sempre vários passos à frente da polícia em suas ações agindo sozinho? Ele agia sozinho? Era ele mesmo falando com Evey na prisão, mas não era outra voz?

Enfim... Mesmo com essas questões bobas, o filme vale muito ser visto, pois reúne entretenimento e questões inteligentes e atuais para os dias de hoje. Pois toca diretamente nas feridas da maior potência do mundo, a América.

15 de abril de 2006

Tapete Vermelho - Luiz Albert Perreira


Que delícia de filme! Em uma aberta homenagem à Mazzaropi, o diretor conseguiu evocar o filme de interior, e o fez com maestria.

E isso se deve à interpretação espetacular de Matheus Nachtergaele. Este ator fantástico que já nos brindou em sua curta carreira(seu primeiro filme foi O Que é Isso, Companheiro) com papéis memoráveis,como em " O Primeiro Dia" em que interpretava um ladrão pé-de-chinelo, ou o inesquecivel sertanejo de "O Auto da Compadecida", ou a bichinha de "Amarelo Manga", conseguiu se superar ao dar vida ao "Jeca-tatu" Quinzinho. Matheus vive seu melhor momento e leva praticamente o filme nas costas, tanto é que ele praticamente não saí de cena durante o filme todo. Mesmo tento todos os trejeitos do homenageado, com seu jeca ingênuo, mas esperto,consegue impor seu próprio estilo.

Um filme para um público esquecido, para o povão. Aqueles saudosos de Mazzaropi, que lotavam os cinemas na década de 60 e 70.

Conta a história de um pai (quinzinho) que quer pagar uma promessa feita ao seu falecido pai, que quando tivesse um filho e esse fosse completar 10 anos de idade, levaria o menino para assistir a um filme do Mazzaropi, igual o avô fez com o pai. Mas os tempos são outros, não existe mais cinemas no interior, e a jornada desse pai, o filho e sua esposa (Gorete Milagres) se torna cada vez mais difícil. A cada lugar que ele chega, o cinema que existia, ora virou igreja, ora supermecado, e sua caminhada se torna mais longa, até acabarem, por força das circunstântacias, chegando à São Paulo.

Até um pouco depois da metade do filme, o filme flui que é uma beleza, passeando pelos folclores do interior e se concentrando na família em sua jornada. Mas perde sua força,quando eles se deparam com um grupo de sem terras, daí o que se segue são soluções rápidas e mal resolvidas, mas mesmo assim o filme continua a encantar por causa de Matheus que arrasa.

Interessante notar que o cinema onde Quinzinho consegue finalmente seu Tapete Vermelho, é o velho e infelizmente inativo cine Paissandú, do centro da cidade. Onde eu ia menino nos finais de semana assistir às matines. Tempo esse, que os cinemas do centro da cidade viviam lotados, a grande maioria nem existe mais, pois viraram igrejas e estacionamentos, assim como no filme, só restanto os shoppings. Triste, triste...

Tapete Vermelho invoca um cinema que também não existe mais, uma ingenuidade e um público que não existe mais, e isso não é pouco. Pois o povo mesmo, que assistia aos filmes de Mazzaropi (bons tempos) não vai mais ao cinema, pois o mesmo não é acessível como há trinta ou vinte anos atrás. Hoje, só uma espécie de elite vai ao cinema, tanto é que eles estão concentrados nos shoppings.

Mesmo com seus defeitos, é um filme obrigatório por evocar um humor de interior que já havia sido esquecido, fora que é muito divertido graças ao show de Nachtergaele.

13 de abril de 2006

Boleiros 2 – Ugo Georgetti

Para mim, é motivo de festa. Um novo filme de Ugo Georgetti, cineasta que adoro, ainda mais sendo a continuação de Boleiros, filme subestimado e incrivelmente pouco visto. Sem contar “O Príncipe”, que lembro ter sido o preferido por mim no ano de 2002, o que não é pouco. Todos os filmes de Georgetti contêm um personagem a mais, que é a cidade de São Paulo, muito familiar a mim, que como ele, mantêm uma relação de amor e ódio com a Metrópole habitada por nós.

Para falar de seu último filme, é preciso ressaltar, que antes de assistí-lo, li uma entrevista de Georgetti na Folha de São Paulo que muito me impressionou, tamanha descrença e pessimismo do cineasta sobre futebol brasileiro, tema central do seu filme, obviamente.

Se no primeiro Boleiros, Georgetti mostra o tempo, irremediável tempo, na vida dos jogadores e adjacentes. Neste último, além do corrosivo tempo às memórias futebolísticas, o grande vilão do simples futebol, é toda a modernidade e ação globalizadora, no moderno mundo do futebol, pois do primeiro Boleiros para esse, muita coisa mudou com as altas tecnologias e facilidades promovidas pela vida virtual. O mundo ficou pequeno.

O filme mostra que o futebol no Brasil é o ponto inicial para uma grande indústria que funciona por trás, pela frente e pelos lados. E com isso a magia, vai se apagando. Um bom exemplo no filme, é o bar onde a maioria da ação se passa, e lá se encontram os mesmos jogadores aposentados do primeiro filme, contando agora com o doutor Sócrates.O bar, totalmente reformado e modernizado por um jogador na crista da onda no exterior (seu time é o Roma), perde seu glamour, sua essência, e seus fiéis freqüentadores são postos numa mesa à parte, no andar de cima do bar. É a memória, o antigo, o velho sendo posto de lado, para os jovens atuais. São estes, os novos e também velhos envolvidos no futebol, assim vemos advogados, ladrões, empresários, marias-chuteira, juizes e todos os outros que fazem parte desta engrenagem moderna do futebol atual. Na mesa de cima, os velhos assistem a tudo apreensivos.

O olhar de Georgetti também não é nenhum pouco positivo. Se o primeiro filme tinha ainda um pouco de humor, neste a coisa piora. Boleiros 2 é um filme triste sobre a maior paixão do brasileiro. Quem ama, adora discutir e assistir futebol como eu, sente uma espécie de desencanto assim que acaba o filme. Percebi isso em dois rapazes que assistiram ao filme do meu lado, percebe-se que foram ao cinema só para se divertirem com o tema que mais gostam, o futebol.Saíram com um sorriso amarelo, quase que imperceptível.

Dá-lhe Georgetti, que belo (mas triste) gol marcado, neste mundo de Globo filmes.Que venha Boleiros 3.


11 de abril de 2006

Revista Paisà


Obrigatório para quem curte e vive cinema. Mais um número do belo trabalho de Sérgio, Alê Carvalho e seus colaboradores. Não percam.

10 de abril de 2006

Irma Vap - O Retorno – Carla Camurati

Não sou uma das pessoas que assistiu ao espetáculo Irma Vap. Este foi o maior fenômeno teatral brasileiro, ficou mais de dez anos em cartaz, atraindo mais de um milhão de espectadores. Realmente um grande feito, e pelo que todos dizem, graças ao talento inquestionável da dupla formada por Ney Latorraca e Marco Nanini. Visto assim, uma adaptação para o cinema, além de ser bem vinda, e quase uma garantia de retorno e sucesso, serve para amansar as saudades, deixada pela peça. Mas...

Ao contrário de muitos, não entendo e não vejo beleza em nenhum dos filmes de Carla Camurati. Já a própria como atriz, eu adorava, achava e acho ainda linda. Chega a ser até um contra-senso, pois, eu que sou muito fã do cinema nacional e não deixo de assistir nada que é produzido.Sei que Carlota Joaquina foi uns dos filmes que impulsionou o cinema nacional na década passada, a partir dele o Brasil começou a produzir e principalmente convencer com seus filmes. Não sei, não... É inegável o grande sucesso de Carlota Joaquina, mas não gostei, assim como os outros dois filmes que Carla Camurati fez em seguida “La Serva Padrona” e “ Copacabana”. Mas reconheço sua importância e qualidades.

Daí, ela resolve fazer esta adaptação, triste opção. Este filme não conseguiu arrancar um único sorriso amarelo de meus lábios, e confesso que estava me retorcendo na cadeira para o filme acabar, apesar da bela fotografia de Lauro Escorel, que coisa mais triste. O filme não se resolve: é teatro ou cinema? Conseguiu superar negativamente “A Máquina”. Outra adaptação do teatro para cinema.

É inegável o talento dos protagonistas, principalmente de Marco Nanini, um ator sensacional, mas isso não salva o filme do desastre. Com um roteiro pra lá de capenga, o filme se arrasta. Um bom exemplo, é a relação vivida pelos dois irmãos (ambos vividos por Nanini) e o acidente que colocou um deles na cadeira de rodas. Já no final é dada uma conclusão para lá de tosca, e quem era mal, fica do bem. Mesmo uma comédia escachada, precisa ser mais verossímil.

Bom mesmo é lembrar da Carla Camurati em “Os Bons Tempos Voltaram...”

7 de abril de 2006

Um Lugar Para Recomeçar – Lasse Hallstrom


Fui assistir a este filme pronto para gostar, ao contrário dos comentários e críticas lidas. Gosto do argumento, essa coisa de interior, parece que as coisas da “alma” são melhores resolvidas e analisadas nesses ambientes rurais, sei lá, sair dos grandes centros urbanos. E também para ver um ator que gosto muito, Robert Redford, aqui como o vaqueiro Einar.

Mas chega a ser impressionante como o diretor Hallstrom,desperdiça sempre uma boa produção e bom elenco ao seu dispor. Parece-me que é preguiça mesmo, e não falta de talento. Lembro de ter ido assistir Chocolate por causa da francesa Binouche e sair com uma impressão pior ainda, jurando não mais assistir a nenhum filme do diretor. Não tenho a intenção de ser crítico com os filmes, apenas ver o que eles falam a mim.Mas não tem jeito, a impressão que tenho é que o diretor é um medroso, não se arrisca, só quer manter um patrão regular e torna-se um frouxo.

O filme conta sobre o retorno,(fugindo de um namorado violento), de uma viúva a sua ex-casa, onde ainda vive seu ex-sogro, junto com o velho e bom empregado. Este não se recupera, apesar dos dez anos passados, da morte prematura do filho querido, e culpa a viúva pela morte dele, que aconteceu num acidente automobilístico em que ela conduzia o carro. Acontece que ela aparece com uma filha, neta que ele não sabia existir. Mesmo assim a relação dos dois é de culpa e mágoa.

Diálogos rasos, atores mal trabalhados e cenas mal elaboradas constituem um filme que nunca se aprofunda em nada, não emociona, é apático. Quando você pensa que o filme vai decolar, ele acaba.
Parece que Jennifer Lopez (Jean Gilkyson) desistiu de ser atriz, tamanha a apatia, e talentos como Redford e Morgan Freeman (Mitch Brasley) são desperdiçados. Ponto para a carismática menina que faz a neta de Einar e o grande urso. Os três juntos fazem as melhores cenas do filme. É pouco, muito pouco, para tamanha pretensão.

6 de abril de 2006

Crianças Invisíveis – vários diretores


Nem tinha tanta vontade de assistir este filme, mas com um episódio do Spike Lee. Não resisti e fui assistir. Se não agradou muito, também não decepcionou. Um projeto como este, que reúne vários diretores de locais diferentes, possibilita um resultado irregular.Tendo a criança como ponto principal, o que mais me impressionou foi o pessimismo latente em praticamente todos os sete episódios, com exceção do episodio da brasileira Kátia Lung.

Já de cara, temos o episódio mais cruel de todos, que mostra crianças em plena guerra civil em Ruanda, sem tempo nem espaço para serem o que são: crianças. Pequenos ainda, já são soldados de uma guerra longe de acabar, prontos para matar ou morrer. Detalhe para a metralhadora de um deles, que mostra a foto de um ídolo brasileiro naquele país miserável.

Spike Lee não decepciona, trata de um tema extremamente difícil, que nunca foi tratado no cinema (que eu saiba), que é crianças portadoras do vírus HIV, filhos de pais viciados em drogas, não bastasse a doença, ainda sofrem extremo preconceito pelas outras pessoas, na escola, etc.. Dói no coração ver aquela bela menina com uma vida tão difícil e finita.

Já o melhor episódio disparado é o da brasileira Kátia Lung.Talvez eu ache isso, por ser o único entre os setes episódios, que mostra algum tipo de esperança. Conta a história de “Bilú e João” que são muito pobres, e vivem de catar entulhos pela rua. Pobres de dinheiro, mas riquíssimos de coração.

O ponto negativo vai para Ridley Scott, que fez uma baboseira imensa. Às vezes nem acredito que este é o mesmo diretor de Blade Runner. Chatíssimo.

John Woo fez um episódio para lá de meloso, feito na medida para arrancar lágrimas das moças da platéia , como aconteceu na sessão em que eu estava presente.

Kusturica e Veneruso fizeram episódios fracos, como se estivessem no piloto automático. Parece que faltou um pouco de esmero em todos os episódios, poderiam ser melhores, mas vale a pena conferir assim mesmo, pela diversidade autoral e pelo tema abordado.


3 de abril de 2006

Um Plano Perfeito – Spike Lee


Spike Lee fez o melhor filme pós-atentado até agora que foi “A Última Noite”, isso não é pouco, já que a produção de Hollywood é vasta.Um filme cheio de mágoas, arestas e incertezas de uma cidade atônita com o desastre,mas sem bandidos e muito menos mocinhos.Seu melhor filme até agora.

Agora o diretor parte para o “filmão”, sem arestas, conciso, apenas uma boa história, onde abre mão do seu estilo político, crítico e mordaz para nos mostrar um bom enredo, tantas vezes contado( um roubo de banco e suas complicações) mas agora com sua pegada, sua direção. Acerta em cheio.Muda sua direção, seu modo de contar uma história, mas continua com seu olhar persuasivo e crítico, mas em menor grau, aqui o que manda é o enredo, com começo, meio e fim. O filme é perfeito naquilo que se propõe. É certeiro e sem firulas. Posso estar falando bobagens, mais ouso comparar sua direção à de qualquer filme de Hitchcock. Spike Lee é quem brilha, não seus atores, tamanha precisão no contar da história.

O filme começa com o líder do roubo Dalton Russel (Clive Owen) se apresentando diretamente a nós de forma direta, para depois vermos todo o desenrolar dos fatos e sermos apresentados ao policial (desacreditado) que comanda as negociações Keith Miler (Denzel Washington). Quando entra uma misteriosa funcionária Madeleine White (Jodie Foster), o policial desconfia que não é um simples roubo de banco, que tem coisas por trás. Tanto é que o dono do banco vivido por Chistopher Prummer , pouco se importa com valores ou reféns, seus interesses são outros e é nisto que se consiste o grande segredo do filme.

Um Plano Perfeito é um filme de ação perfeito de um diretor em estado de perfeição. Spike Lee já pode ser considerado um dos dez melhores diretos americanos em atividade (talvez do mundo) e isso definitivamente não é pouco. Dá vontade até de rever toda sua obra.

1 de abril de 2006

Relação de filmes - Março de 2006

Filmes assistidos no mês de março, por ordem de preferência:

Crime Delicado - Beto Brant ****
Rio Vermelho - Howard Hawks (DVD) ****
As Chaves de Casa - Gianni Amelio ****
Paradise Now - Hany Abu-Asad ****
Johnny e June - James Mangold ***
O Mundo de Jack e Rose - Rebecca Miller ***
A Garota da Vitrine - Anard Tucker ***
Depois Daquele Beijo - Roberto Bomtempo ***
Ponto Final Match Point - Woody Allen **
Mentiras Sinceras - Julian Fellowes **
A Máquina - João Falcão **
Sra Anderson Apresenta - Sthephen Frears **