31 de julho de 2006

Verdade Nua – Etom Egoyan


No cinema de Egoyan, existe uma preocupação imensa sempre com o ser-humano, seus filmes sempre buscam olhar a fundo o homem e suas inquietações. Este é o seu ponto a favor, que especificamente eu adoro em qualquer obra. Mas existem os pontos negativos, que identifico tanto neste, Verdade Nua, quanto nos elogiados, Exótica e A Doce Amanhã, os outros filmes que assisti do diretor. O maior problema do filme é o seu roteiro confuso.

Com ótima ambientação nos anos 50 e 70, e uma clara homenagem aos film-noir, Egoyan nos conduz a história de uma dupla de muito sucesso nos anos 50, vivida pelos ótimos Kevin Bacon e Colin Firth. Acompanhamos em flash-back , os fatos que fizeram a dupla se separar através de uma jornalista, vivida por Alison Lohman, já nos anos 70, que resolve investigar o porquê do afastamento da dupla em seu apogeu. Até porque o caso ficou meio obscuro, por causa de uma arrumadeira de hotel ter sido encontrada morta na suíte da dupla.

O filme vai muito bem até sua metade, mas quando vai desvendar o mistério da morte da arrumadeira, fica confuso e se perde. Se a dupla de atores dá conta do recado, o mesmo não se pode falar de Alison Lohman. Personagem principal e fundamental na trama, a jornalista não encontra em Alison a força e carisma necessário para o andamento do filme. Ela é uma jovem atriz de talento, mas está equivocadamente escalada, neste complexo personagem, o filme empaca nela.

Egoyan é um diretor muito elogiado, que sempre faz muito sucesso nos festivais em que um filme seu participa. Para mim, ainda falta uma obra à altura dos elogios que recebe.

29 de julho de 2006

Consumido Pelo Ódio – Yoichi Sai


Na minha eterna luta para conciliar tempo para assistir tudo que me interessa, acabei assistindo a este filme em seu último dia de exibição nos cinemas de São Paulo, na última quinta-feira. Ainda bem que deu tempo, pois este épico japones-coreano tem a melhor performance de ator que vi este ano, na figura de Takeshi Kitano, interpretando o patriarca Shunpei.

Vemos, logo no inicio, ele chegando moço em Osaka, de navio, vindo de sua terra natal, pronto para conquistar uma nova vida cheia de riquezas, que a nova terra prometia. Este é o único momento em que vemos o rosto dele leve, porque a partir de então, vemos em Kitano a própria personificação do ódio e brutalidade já mostrada no cinema. Em um certo momento, ele tem semelhanças com Era Uma Vez Na América, mas é pouca, pois Shunpei, não demonstra em momento nenhum, qualquer resquício de ternura ou afeto, por quem quer que seja, e acaba sendo algoz, de seus mais próximos, sua própria família. O máximo de ternura que demonstra é quando dá um banho em sua amante, depois dela ter um derrame cerebral, mas na cena seguinte, vemos que não é bem assim.

O filme conta a saga deste homem-monstro, pela ótica de seu filho, que o faz já de inicio com grande rancor, e com o passar do filme vamos acompanhando o porque de tanta mágoa . Depois da cena de Shunpei no navio, no inicio do filme, ele só aparece de novo, já batendo e violentando a própria esposa. Coisa corriqueira, que também acontece com os filhos, irmão, ou qualquer um, que lhe responde ou se mostra contra as suas ordens. E assim ele forma seu mini-feudo, em um subúrbio, entre coreanos como ele, onde explora sua família e empregados, na base da porrada e ditadura, numa pequena fábrica de alimentos a base de peixes, que o faz enriquecer e usar o dinheiro ganho, para agiotagem e ter outras pessoas em suas mãos. Sua rispidez e brutalidade não têm limites, e seu vigor para a violência, que isso tudo produz, também não, ele nunca se intimida.

Talvez o filme perca um pouco seu vigor por não trabalhar direito seus coadjuvantes e seus fragmentos, mas já vale, pelo trabalho de Kitano. Apesar de seu personagem ser odioso e brutal, nunca parece vulgar, pois Kitano o mostra de forma muito eficiente, e incrivelmente humano. Se não fosse pela genialidade do diretor de Dolls, esse filme talvez até passasse desapercebido. Ele leva o filme nas costas.

28 de julho de 2006

O Samurai ao Entardecer – Yoji Yamada


Este é um daqueles filmes que vão crescendo em nossa mente, na medida em que caminhamos momentos após assistir ao filme. E como cresce, pois é riquíssimo em sutilezas e detalhes. Que bom que finalmente podemos conhecer um filme deste cineasta veterano, que já tem mais de setenta obras dirigidas. Prova de que , neste maravilhoso mundo do cinema, sempre haverá algo novo, ou velho mesmo, para conhecermos e nos deliciarmos. Que belo filme!

Conta à história de um pai de família muito pobre, que logo após a morte da esposa, se vê cheio de dívidas, e tendo que cuidar de uma mãe doente e duas filhas pequenas, uma de dez e outra de cinco anos. Por isso o titulo, pois é o apelido do protagonista, dado por seus colegas de trabalho, por ele sair correndo do serviço, para cuidar dos afazeres da sua casa e da família. Mas também porque ele tem um passado, em que já foi (e continua sendo) um samurai. E este passado virá à tona, quando ele se vê obrigado a defender uma amiga de infância, de um ex-marido violento que o desafia a um duelo. Logo suas habilidades escondidas são mostradas, e acaba lhe custando uma volta a um passado que ele não queria mais para si. Logo o chefe do clã praticamente o obriga a fazer um “serviço”, matar um outro samurai.Quando estes dois se encontram, culminando na cena mais bela do filme, ele descobre que a história de vida de ambos tem muita coisa em comum. São duas peças pobres, manipuladas pelos seus superiores poderosos. Clara alusão ao Japão de ontem e hoje.

O Samurai é um homem simples, sem ganâncias, ou gana para riquezas. Suas maiores riquezas, são suas filhas, às quais em certo momento, em uma conversa com seu tio, ele diz serem elas a sua riqueza, e ver as duas crescerem belas e frondosas, feito as flores do campo, é sua alegria e maior ambição. Apesar de ser um filme de samurai, e com algumas lutas inclusive, é na verdade um filme que transpira amor, nas intenções e sentimentos.

O filme é contado pela ótica dá filha mais velha já adulta. Mas isso não faz com que ele caía no melodrama em momento nenhum. Ela fala com reverencia de um homem simples, que muitos julgaram até infeliz, mas que ela sabia, ter sido na sua breve trajetória de vida, imenso em intensidade, caráter e amor. Um filme delicado e imperdível que está já há semanas em cartaz no maravilhoso CineSesc, no meio de super produções ocas que povoam os cinemas.

26 de julho de 2006

Elza e Fred Um Amor de Paixão – Marcos Carnevale


O que falar de um filme que narra o encontro romântico entre dois velhinhos que no limiar da vida, se vêem apaixonados e cheios de vida. E além disso são extremamente carismáticos e engraçados, levando o cinema todo a gargalhadas deliciosas?

Elza e Fred são assim: deliciosos. Não tem como não adorar os dois protagonistas deste filme. Logo de cara, todos os amam e torcem por eles.

Fred se muda a um novo prédio, logo após ficar viúvo, no qual terá Elza como vizinha. Ela, muito atirada e comunicativa, tenta viver intensamente cada dia, enquanto Fred é um hipocondríaco e quieto senhor. Mesmo com essas diferenças, e pela insistência de Elza, essas diferenças são superadas, e nasce uma paixão nessa amizade tardia. Em meio a cenas sempre engraçadas, e diálogos a respeito da velhice afiados, acompanhamos esse amor tardio com um sorriso nos lábios.

Muito há que se louvar os atores, que certamente estão nos papeis de suas vidas, principalmente Manuel Alexandre, que dá um banho de interpretação com seu Fred, que pacato, vai se soltando.

Mas também daí começam os problemas, pois se os atores são ótimos, fica claro que o diretor deixou toda a carga do filme, na interpretação dos atores, e esqueceu de toda a estrutura e forma do filme.

Mesmo tendo gostado muito do filme, quando ele acaba, temos a sensação de que faltou algo, e isso é a forma, a construção das cenas. Tudo sempre é aquém do que se poderia. O maior exemplo é uma das cenas finais, na Fontana de Trevi em Roma. Poderia ser o ápice, a grande cena do filme, fazendo com que ele crescesse em imagem e emoção, mas fica tudo pequeno. Parece até que a famosa fonte é menor do que realmente o é.

Um belo filme de atores, que poderia ter sido melhor nas mãos de um outro diretor, mas que infelizmente se limitou no carisma de seus atores. Talvez, Carnevale tenha se preocupado excessivamente em não cair no piegas devido ao tema, e isso, justiça seja feita, ele consegue. Mas poderia ter feito mais com tão bom material.

24 de julho de 2006

Factótum Sem Destino – Bent Hamer


Dá para entender o fato de muitos não gostarem deste filme, apesar dos elogios recebidos. O filme mergulha no álcool e principalmente no tédio. Filme independente, de baixo orçamento.Com um enredo sobre um bêbado errante e entediado, consegue adentrar nessa atmosfera sem nunca exagerar na dose, é um filme sóbrio e simples, que narra a história de um bêbado e suas namoradas tão bêbadas quanto, personificadas, ora por Lilly Taylor, ora por Marisa Tomei. O personagem principal, vivido muito bem por (inacreditável) Matt Dillon , vive entre seus porres e um tédio imenso pela vida, que ele gosta de observar para suas escritas.

Acompanhamos a vida nada familiar de um bêbado, que vive entrando e saindo de empregos, às vezes ficando empregado por poucas horas até. Apenas para manter seu vício de bebidas, jogo de cavalos e sexo (não necessariamente nesta ordem), e se dedicar ao que realmente lhe interessa e no que acredita, que é a literatura, mais especificamente, sua própria escrita, já que numa determinada hora, ele declara que quando bate a insegurança, dá apenas uma olhada na escrita de outros escritores, para perceber que esta no caminho certo e a melhor escrita é a sua mesmo. O filme é sempre narrado em 1º pessoa, pelo seu protagonista Henry Chinaski, personagem de um dos livros de Bukovski (o qual o filme se baseia), que em certo momento comenta que quem quiser ser realmente um escritor, pense bem, pois irá ter de abrir mão de tudo, pois a escrita exige tudo de si. Não há meios termos.

O que mais chama a atenção é a determinação de Chinaski, todas as suas outras atividades parecem, e o são, base de observação para depois serem utilizadas em seus contos. Nada mais importa a ele. Mesmo passando o maior aperto, ele não liga, seu foco, seu objetivo já está pré-determinado.

Pessoas assim são admiráveis. Tenho uma amiga, que desde muito cedo, colocou em sua meta de vida ser atriz, e ainda hoje, depois de anos e ano, não ter conseguido de fato se firmar nesta profissão, continua lutando, ora com uma ponta aqui, ora com um comercial de TV ali, mas não importa, seu combate e sua maior ambição continua sendo sua meta de vida.Para uma pessoa como eu então, que parece nunca terminar algo de concreto, e se vê por vezes, perdido entre tantos quereres, isso tudo é mais que admirável.

Factótum é simples e direto, não há frescuras em sua fotografia (sua câmera parece sempre estar parada), e muito menos em seu enredo que, sem glamour nenhum, conta a história de uma pessoa, que não tem e nem quer ter uma história, pois se vê como um observador, que à base de álcool e cigarros, nasceu para ver e escrever o que vê no mundo, e quem sabe tirar algo que preste de vidas tão mundanas e pequenas. Mas será que são pequenas? E o filme será realmente tedioso?

20 de julho de 2006

Transamérica – Duncan Tucker


No meu modo de entender, o título deste filme é uma grande sacada, pois nos leva a aquilo que não é considerado da América, ou do dito estilo de vida genuinamente americano. É o que está fora do contexto, que esta escondida nas sombras, atrás da aparente maneira rica e puritana dos grandes centros urbanos e ricos da América. Olhando desta forma, até nós, brasileiros fazemos parte destas sombras. Afinal de contas, se os EUA se denominam e são chamados erroneamente de América, o que somos nós, parte restante deste continente? Restos de uma América idealizada e rica da qual não fazemos parte?

Neste filme do estreante Tucker, restos de uma América não idealizada são mostrados a nós, personagens inadequados ao modo de vida americana, a começar pelo personagem principal, um homem que tem alma de mulher, um transexual. Também seu filho,um acidente de percurso, adolescente michê e ator pornô. Uma irmã alcoólatra. Um pai judeu. Uma mãe descendente de alemães e incrivelmente chata. Um paquera indígena (estranhamente o único homem que dá atenção a ela/ele). Uma terapeuta descendente de mexicanos.Numa história que se passa pelo interior deste grande país. Exemplos de não enquadrados, que procuram se achar. Mesmo que seja a si mesmos.

Prestes a fazer a cirurgia que sempre sonhou fazer, ou seja sua mudança de sexo, o personagem de Felicity Huffman descobre que tem um filho, de uma relação acidental da época da faculdade. O encontro com este filho e o convívio com ele é o que nos é mostrado, neste filme simples e leve, em que o grande peso, é a interpretação magistral da atriz principal. Ela é a razão do filme.

Não me atentando muito para o filme, o contexto político é que me chama mais a atenção neste filme, e me leva de volta ao Oscar deste ano. Pois não tendo assistido ainda ao filme, sabia-se que Felicity era a favorita, e pelo histórico do Oscar, parecia barbada, como foi o Oscar dado as atrizes Charlize Theron e Hilary Swank, cujos personagens eram marginalizados por suas opções sexuais, assim como deste filme. Acontece que nos outros casos premiados, seus personagens eram marginais ou marginalizados, mostrando a nós o quanto era “ruim” aquela opção de vida. Já no caso de Transamérica, o caso é bem diferente. O filme foi construído em cima de um personagem transexual, só que gente boa, que em nenhum momento culpa o mundo, ou as pessoas ao seu redor, por seus problemas ou opções, esse é um problema só dele/dela. Não há revolta ou amargura, é apenas a sua procura pela afirmação de vida, sua verdade incontestável, e nisso, acabamos todos gostando dele/dela e torcendo pelo sua sorte. Essa é a grande sacada do filme, mas também seu erro, pois acaba dependendo apenas de sua atriz, que por sinal, dá conta do recado.

Ops, pera aí (disseram os moralistas do Oscar), aí não pode não. Então... Tchau, tchau, Oscar, assim como os cawboys gays bonitinhos, do mais que favorito ainda, a melhor filme, que também saiu a ver navios, um pouco depois,na mesma cerimônia justa e democrática (!?). Ecos de uma “América” que não engana ninguém, comandada pelo palhaço Bush.

18 de julho de 2006

O Buda – Diego Rafecas


Logo após terminar a sessão no Frei Caneca Alteplex, onde eu tinha acabado de assistir a este filme, uma longa fila para outro filme, da sala ao lado, estava formada, e uma mulher me perguntou que filme eu tinha assistido,já que estava com os olhos marejados, e não fazia questão nenhuma de escondê-los. Respondi, e ainda acrescentei que o filme era maravilhoso. Ela falou para a amiga: “Tá vendo, tá vendo, vamos já tentar trocar os ingressos” e saíram apressadas em direção à bilheteria.

Este filme vai dividir opiniões. Acredito que céticos vão detestá-los, outros como eu, que adoram a temática dele, o assunto abordado, vão amá-lo, apesar do ritmo, por vezes arrastado, e alguns cortes, por vezes, abruptos. Nos leva a história de dois irmãos que perderam os pais de forma abrupta (via ditadura, fato abordado em quase todos os bons e recentes filmes argentinos) quando meninos, e foram criados pela avó. Rapidamente o filme já vai para a fase adulta deles, e vemos um irmão, o mais velho, interpretado pelo próprio diretor, se tornar um cético e racional professor de filosofia, enquanto paralelamente, vemos o irmão mais novo, praticando e, se aprofundando na meditação zen-budista. Suas meditações fazem com que ele não se firme em trabalho nenhum e cada vez mais perca a convívio em sociedade. A partir daí, vemos o embate de ambos, atrás de novas descobertas, e de si mesmos, cada um a seu jeito, até que o mais novo vai junto com a namorada a um templo budista, procurar um mestre para se aprofundar nos mistérios e das suas transcendências. Enquanto isso, o mais velho começa a se questionar, a se abrir a um “novo” amor. Logo depois vai atrás do irmão, no templo onde o outro se encontra. Vemos , às vezes até didaticamente, (o que pode ser chato para alguns), lições e filosofia budista, através do monge. A rotina de um templo budista, e a reação de cada um naquele lugar.

Interessante notar que depois de ter assistido o filme, fui ler sobre ele, e descobri que o próprio diretor é formado em filosofia, e também é monge budista. Fato interessante, pois mostra que na verdade, cada irmão do filme, acaba sendo uma metade do próprio diretor. A eterna luta entre a espiritualidade e racionalidade, aqui mostrada de modo muito pessoal pelo diretor, que faz aqui sua estréia num longa-metragem.

Assim como os budistas, que têm uma filosofia muito parecida com a doutrina espírita, acredito que somos grãos de areia, num universo imenso e cheio de mistérios “ainda” não conhecidos por nós, pobres mortais. O tempo é uma ilusão, e o homem nunca morre, apesar de morrer várias vezes. Este filme já é imenso pelo que trás de mensagem a quem estiver disposto a ver e ouvir, apesar de não trazer perguntas e muitas menos respostas, trás consigo o dom do questionamento da alma. Como diz o monge em um certo momento do filme: “A racionalidade e uma sala grande e arejada, em que parece que estamos confortáveis e que lá temos tudo o que precisamos”. Mas o que será que há depois da sala?

Mais uma vez, palmas para o cinema argentino, que está nos dando uma goleada no cinema.

14 de julho de 2006

O Libertino – Laurence Dunmore


Caro Conde de Rochester,

Peço um mínimo de sua atenção para lhe falar sobre o filme que está passando nos cinemas, baseado na sua vida,do diretor estreante L. Dunmore. Ontem, tive o prazer de assistir, e assim, me vi no direito de comentar sobre o mesmo, e sobre algumas cenas, desta sua breve, mas pulsante vida.

O filme em si, não foi muito bem recebido pela crítica e público. Mesmo tendo Johnny Depp, praticamente lhe encarnando com maestria, acho que o senhor deve ter gostado e muito da atuação dele.Mas cá pra nós, o filme tem realmente muitos problemas, principalmente na metade para o final, muitas coisas não ficam bem desenvolvidas, e sinceramente fiquei sem entender sua atitude tão covarde, quando seu amigo e companheiro de boemia foi assassinado, ou mesmo suas razões para favorecer o Rei Charles II (John Malkovich) no parlamento. Alias, nesta cena especificamente, a fotografia estava bem esquisita não acha?

Mas o que mais me chamou a atenção, e é a isto que eu quero me ater, foi seu relacionamento amoroso e artístico com a atriz e prostituta Elizabeth (Samantha Morton). Sempre que aparece os dois na tela, o filme cresce muito. Adorei em especial, e pra mim já vale o filme, o momento em que o senhor vai oferecer seus préstimos à atriz, para ajudá-la a melhorar como atriz e conseguir o respeito do público.Tocou-me muito aquele dialogo dos dois- e digo com certeza que o texto, por vezes tenso e difícil, é o melhor do filme – em que o senhor declara que o teatro é sua válvula de escape, onde o senhor conseguia encontrar um pouco de si mesmo, seu porto, seu conforto, no meio do tédio e de um vazio existencial imenso, mesmo estando o tempo todo em meio a bebedeiras e orgias sexuais de dar inveja ao Marques de Sade. Alias, não querendo ser carola, ou chato, (até porque às vezes exagero na bebida, pena que não no sexo), quem geralmente comete excessos, tem um vazio dentro de si, talvez maior.Mas naquele momento, me vi – claro que em menor grau- tendo a mesma espécie de sentimento, só que com relação ao cinema. Só que de uma maneira mais solitária.

Gostei também das duas vezes que o senhor fala diretamente à câmera, pedindo para não gostarmos do senhor. Funcionou, lhe garanto. Ou melhor, me é indiferente. Afinal de contas, para que tantos excessos? Para se descobrir inútil, vazio e só. Para isso não é preciso tantos excessos, eu lhe garanto, pois conheço bem isso.

A propósito, seria o senhor, ou um parente muito próximo, o famoso escritor de livros espíritas? Depois que o senhor passou para o outro lado, mudou muito, hein.

11 de julho de 2006

Beijos e Tiros – Shane Black


Eis um filme que tinha tudo para virar um “cult”. Um festejado roteirista , e atores inspirados. A começar , pela ótima sacada de o filme ser narrado em 1º pessoa, mais especificamente, pelo personagem de Robert Downey Jr., um ladrão pé-de-chinelo, que se vê literalmente no mundo do cinema, pois caí de pára-quedas em um teste de atores , numa fuga, e passa neste teste. Para melhor compor seu personagem, que será um detetive, conhece um de verdade, que é o personagem gay de Val Kilmer. E aí começam os problemas dos dois, que vão se ver envolvidos em uma trama de assassinatos, onde os principais suspeitos, serão eles mesmos.

Downey e Kilmer, meio que em baixa em Hollywood, estão muito bem em seus personagens e, junto com o roteiro, claramente inspirado no cinema noir. São o que há de melhor no filme. Downey e Kilmer estão em perfeita sintonia. Alias, nem parece que Downey, estava na época, passando por uma barra pesada, de desintoxicação, que fez com que bebidas alcoólicas fossem proibidas no set de filmagem por causa de seu problema com álcool e drogas.

Então porquê deu errado? Nisso tudo ficou faltando o mais importante, que é a direção. Shane Black se perde no meio de seu próprio roteiro, e cria um filme confuso, incompreensível do meio para frente até. A impressão que se tem a cada cena que vemos, é que ela poderia ser mais bem explorada nas mãos de outro diretor. Black fica no meio do caminho, deveria ter dado o roteiro para outro diretor, invés de se aventurar em sua primeira direção de um filme. De qualquer forma, o clima do filme é muito bom, e as intervenções do personagem de Downey são sempre engraçadas, como quando ele comenta sobre a atriz Drew Barrymore, ou sobre as garotas problemáticas que vão tentar a carreira de atriz em Los Angeles. Boas sacadas de um bom roteiro, que o próprio criador estragou com sua direção pouco inspirada. Mas o filme vale a pena de ser assistido, pelos atores.

7 de julho de 2006

Herois Imaginários – Dan Harris



A uma certa altura deste filme um personagem, em um hospital, depois de uma tentativa de suicídio, comenta com um outro: “Quando se conhece seu herói, existem duas possibilidades, ou eles são uns babacas ou são iguais a você, de qualquer jeito você perde”.

Em meio a uma atmosfera pessimista,na tela, passam por nós , pessoas comuns, de famílias comuns, típicas americanas, mas poderia ser da nossa própria família, com suas angústias e dores escondidas em meio a sorrisos forçados. A um vazio pairando em cada personagem, e em qualquer um deles, podemos ver semelhanças com qualquer um que conhecemos.

Esta estréia promissora de Dan Harris nos leva a uma família que passa por um drama e baque em sua estrutura. Um dos filhos, um gênio da natação, aparentemente, sem mais nem menos, se suicida. E isso leva cada um a se isolar mais ainda dentro de si, e de forma bem diferente, seja o filho mais novo, o calado Tim (Emile Hirsch), a filha ausente Penny (Michelle Willians), o pai que se sente culpado Bem (Jeff Daniels), ou a mãe Sandy (Sigourney Weaver),que vê na maconha um alento, ou talvez, uma procura desesperada, pela juventude perdida.

De qualquer forma, vemos a história de uma família e seus adjacentes, muito bem contada e estruturada por este diretor iniciante. O suicídio físico e, porque não dizer, mental, transita entre todos estes personagens, como quando Sandy fala ao filho mais novo, que só não o pratica, por sua causa. Mas a trama nunca caiu no piegas. Ao contrario, os personagens são riquíssimos, especialmente Sandy, que dá oportunidade a Sigourney brilhar como há tempos não víamos.

Se a morte, o suicídio, paira no ar naquela família, é justamente porque eles estão desesperados por vida, por pulsação. São peças desencontradas que querem se adequar e não sabem como, seja na afetividade familiar, seja na questão sexual mal resolvida de Tim. Até que uma doença inesperada surge, e segredos guardados e amargurados são mostrados e esclarecidos, dando uma nova esperança, talvez uma nova chance para aquela família, que até então era incomunicável. Seria um alento, uma chance de recomeçar?

O que mais impressiona neste filme independente é a direção de Harris, segura como de um bom veterano do cinema. Esperemos sua próxima empreitada, depois desta grata surpresa.

ps.: Saiu hoje no blog http://balaiovermelho.blogger.com.br do Moacy, minha lista com os 20 maiores filmes da minha vida.Claro que há algum esquecimento ou injustiça, mas quem quiser dar uma conferida, eu recomendo.

5 de julho de 2006

Separados Pelo Casamento – Peyton Reed


Em todos os cartazes e anúncios deste filme,vem o lembrete de que este filme esta sendo a comédia do ano, que ultrapassou os 100 milhões de dólares, praticamente atropelando as grandes produções do ano. Pode-se considerar isso uma surpresa, mas nem tanto. Afinal de contas, foi lá nos EUA, local onde se disseminou, como sempre, à todo canto do mundo, o culto às celebridades, e uma absurda necessidade de bisbilhotar a vida até onde der, de qualquer famoso. Imagine só, quando estes famosos, são astros do quilate de Brad Pitt, Angelina Jolie e Jennifer Aniston, todos envolvidos num triangulo amoroso, que acabou pesando para o lado da traída Aniston. Acontece que o chapa e amigo de Pitt, que estava na época filmando junto com o amigo e acompanhando de perto os acontecimentos, era um ator chamado Vince Vaughn, que estava na filmagem de Sr. E Sra Smith, em que Pitt e Jolie, começaram um relacionamento que extrapolou o romance do filme. Adivinha quem consolou a traída, e tirou um baita proveito da situação? Vince viu que o amigo estava abandonando o casamento, e partindo para outro , não perdeu tempo, consolou a “friend” chifrada e achou um jeito de faturar com isso, produzindo um filme para os dois atuarem. Decisão acertada e estouro de bilheteria.Acontece que tudo isso aconteceu com a mídia das fofocas acompanhando tudo, e conseqüentemente, o mundo inteiro soube passo a passo de tudo.Talvez isso explique o grande sucesso do filme, que foi visto com grande curiosidade pelos americanos, ávidos por mais detalhes à respeito do novo casal.

O filme em si, é muito simpático. Conta a história de um casal, que há dois anos juntos, sente chegar o desgaste do relacionamento, e então começa uma verdadeira guerra de sexos, pois os dois se sentem no direito de ficar com o apartamento. As coisas mais legais do filme acontecem logo no inicio, que é quando mostra de forma rápida como o casal se conhece e logo depois entra os créditos com uma belíssima música do Queen. A cena que já vale o filme é também no inicio, quando o casal oferece um jantar a seus familiares, para depois começar a briga. O final pode decepcionar alguns, mas é o maior acerto do filme, que tenta e consegue fugir dos clichês. Mas um dos erros do filme, foi trabalhar pouco seus coadjuvantes, que poderiam ser mais bem explorados.

Pode ser impressão minha, mas senti Jennifer Aniston , muito apagada e triste. Faltou uma coisa mais sexy. Ela parece muito pequena perto do grandão Vaughn. Reflexos da vida pessoal? Mas a verdade é que este filme você assiste e quinze minutos depois já o esquece. Pipoca de domingo à tarde.

4 de julho de 2006

Relação de filmes - Junho de 2006

Lista dos Filmes vistos em Junho de 2006.

1 - Eu, Você e Todos Nós - Miranda July * * * *

2 - Heróis Imaginários - Dan Harris (DVD) * * * *

3 - Dois Anjos - Marad Haghighat * * * *

4 - Buenos Aires 100 Kilometros- Pablo José Meza* * *

5 - Contra Corrente - David Gordon Green (DVD) * * *

6 - Amor em Cinco Tempos - François Ozon * * *

7 - A Noiva Síria - Eran Riklis * * *

8 - Beijos e Tiros - Shane Black (DVD) * * *

9 - Separados Pelo Casamento - Peyton Reed * *

10 - Pergunte ao Pó - Robert Towme * *

11 - No Meio da Rua - Antonio Carlos da Fontoura * *

12 - Incidente em Antares - Paulo José (DVD) * *

13 - A Profecia - John Moore * *

14 - Poseidon - Wolfgang Petersen * *

15 - Coisa de Mulher - Eliana Fonseca (DVD) *

16 - Sal de Prata - Carlos Gerbase (DVD) *