29 de dezembro de 2006

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança – Michel Gondry- parte 3


Acho que desacostumei de carinho, como diz uma canção. Não por vontade própria (será?), mas pelos percalços que a vida me levou. Vejo meus amigos na mesma faixa etária que eu, dando ritmo em suas vidas. Uns com filhos, outros marcando casamento, e eu aqui, nesta vidinha besta.Pareço um eterno adolescente, esperando a hora em que as coisas realmente vão acontecer. Não existe nada tão importante quanto o amor. As outras coisas são restos.A solidão é um troço complicado, viciante e estagnário. Tem vezes em que até gosto dela, principalmente em meio a festas e pessoas chatas. E sem perceber, boas chances vão escapando, por uma timidez criminosa de tão vulgar (no meu caso), acompanhada de um “deixa estar” difícil de largar. Outras vezes, me vejo não querendo arriscar, na falsa ilusão de manter intacto o pouco que tenho. Mas o que eu tenho?

A última vez que me vi apaixonado - coisa rara, ao contrário da mocidade - foi um verdadeiro caos. Acho que até tinha chances, mas recuava na hora de avançar. Avançava, ou melhor, atropelava, na hora de recuar. O resultado foi um zero a zero, aliado ao medo e à insegurança. Coisas da vida... Alguém tem que ser assim, calhou de ser eu.Outrora fogoso. Hoje...Fogo quase morto. Eu disse quase (melodrama demais também cansa), pois sei que tem algo dentro de mim, pronto para explodir. Algo bom, muito bom. Apesar dos meus descaminhos, trago dentro do peito, num cantinho escondido, fagulhas de esperança e amor, prontos para entrarem em erupção.

Lembro de uma cena (de novo este filme) de “Brilho Eterno” em que Clementine diz a Joel Barish em uma livraria, que se ele quer ficar com ela, tem que saber que ela não está ali para ser a salvadora de ninguém, pois também é carente e cheia de defeitos. Ele, mais tarde conclui, que ela descobriu a vontade de todo mundo, quando “encontra” alguém. Ou seja, que este alguém o salve. Será que encontrarei alguém que me salve? Às vezes me acho muito sem graça, mas me pego olhando para a quantidade imensa de babacas por aí, e acabo me achando legal. O problema é que me escondo num poço escuro, que a solidão egoísta e companheira me jogou. E me vejo invisível aos outros, a mim mesmo também. Porquê a gente complica tanto?

E minhas contradições me perseguem. Agora mesmo, escrevendo este texto para o blog, me pego pensando se terá alguém interessado nesta baboseira toda. Todos têm tanta coisa interessante para fazer, para que ficar lendo este texto, minhas lamurias? Mas também, vejo esta cidade em que moro, e pela qual nutro amor e ódio. Em meio a tantas pessoas, prédios e fumaças poluidoras de corpo e mente, penso que não existe lugar mais solitário no mundo do que São Paulo. Basta um olhar mais atento para se perceber. Lembro da música do Zeca Baleiro em que em um jogo de comparações, se diz mais solitário que um paulistano, se eu não me engano a música se chama “Telegrama”.

Revi ontem este filme, uma espécie de prévia, para o novo filme em que Kate Winslett atua, que se chama “O Amor Não Tira Férias”. Nutro uma paixão platônica por ela, e sou fiel, é só por ela, de todas as atrizes que conheço (que bobagem).E sempre que assisto a este filme, meus olhos não perdem cada movimento seu. Mas o legal nesta releitura, é que desta vez prestei mais atenção no personagem de Jim Carrey. Acho que Joel e eu temos muitas coisas em comum, na maneira de ser, e na timidez imbecil. O que não seria dele se não aparece Clementine para salva-lo.E olhando mais atentamente, o que não seria dela, se ele não a salvasse. Isso fica claro na singela e maravilhosa cena final.

Bom, agora vou assistir ao filme da Kate Winslet, depois comento aqui, pois já faz um tempinho (devido ao trabalho) que não vou ao cinema. Nada melhor do que um filme com ela, para retornar ao cinema.



21 de dezembro de 2006

Meu Tio Matou um Cara – Jorge Furtado


Meio que num impulso, comprei este DVD, mesmo sem ter gostado muito do filme, quando assisti no cinema. Lembro que achei este terceiro filme de Furtado decepcionante, depois de seus dois primeiros (“Houve Uma Vez Dois Verões” e “O Homem que Copiava”), serem ao meu ver, pequenas obras-primas. Mas numa segunda (e terceira) revisão tudo mudou. Achei na verdade, que o filme foi muito subestimado. É um filme simples, pequeno na duração, mas com grande conteúdo.

O diretor usa sua experiência como pai (seu filho Pedro, foi protagonista do primeiro filme do diretor), para fazer como ninguém, um quadro dos adolescentes brasileiros, e porque não dizer do mundo. Os americanos fazem filmes assim aos montes, mas tratam os meninos e meninas como retardados, deviam ter umas aulas com Jorge Furtado.

O filme tem uma ligação muito forte com sua trilha sonora, é como se um não funcionasse sem a outra. Parece até que Caetano Veloso estava esquentando os tamborins com sua excelente trilha sonora juvenil, para adentrar no rock com sua obra-prima (em anos) Ce, lançado este ano. Mas este assunto é para outra hora.

O filme é centrado num trio de amigos: Duca (Darlan Cunha); Isa (Sophia Reis, muito gracinha) e Kid (Renan Gioelli, de Bens Confiscados). Estes estudam juntos e são grandes amigos. E resolvem se aventurar na solução do caso do tio de Duca, um imbecil chamado Éder (Lazaro Ramos) que é acusado de matar o marido de sua namorada Soraya (Débora Secco), mulher muito, muito “perigosa”.

Duca é um garoto de quinze anos muito esperto, único negro de seu colégio, que não acredita na culpa do tio. E enquanto ele procura nas falsas pistas, a inocência do tio, ainda sofre por seu primeiro amor que é a Isa, que por sinal é apaixonada por seu melhor amigo, o Kid. E é aí que se concentra o grande barato do filme, seu ponto crucial.

O filme já vale ser visto ou revisto por duas cenas maravilhosas que rolam com o Duca e a Isa, sendo a música essencial para o andamento das cenas.

Uma delas é bem interessante, por causa da música que Caetano compôs para a cena, que deu todo um tempero. Duca e Isa resolvem visitar Éder na prisão. Conseguem a autorização dos pais e vão de ônibus - o dinheiro do táxi é usado para comprar uns cd´s piratas – para o presídio. O ônibus vai passando por Porto Alegre, que no começo é mostrada onde eles moram, a zona sul, seus prédios e belezas naturais, enquanto ao fundo Luciana Melo canta docemente (se essa rua fosse minha/Eu mandava muito bem/Se essa rua fosse nossa/Nossa!Que parada irada/Se a cidade fosse amada por cada um e cada). Aos poucos, a beleza é substituída por uma cidade pobre e feia, de favelas e esgoto ao céu aberto, aí entra Rappin`Hood na mesma música de Caetano, com um rap feroz a respeito da mesma cidade, mas com outra realidade, uma letra dura, seca (Mais se a rua fosse minha, mina/Se a lua fosse minha/Eu te pegava/Com gana,com ódio,com raiva/E te furava, te furava,mina/Te amava, te amava). Vendo os extras, descobrimos que nesta cena havia muitos diálogos, mas como a música de Caetano simplesmente falou tudo e mais um pouco, imagens são mostradas, até a chegada no presídio, onde a câmera passeia por uma fila real, de pessoas visitando os detentos, até chegar em Duca e Isa no final da fila, sem uma palavra sequer.

Outra cena linda, é quando Duca abre mão das armadilhas que havia preparado para que Isa e Kid não ficassem juntos em uma festa. Mas vendo o sofrimento de Isa, e a conversa linda que eles têm a respeito de ficarem adultos, abre mão do seu próprio amor, por amor a ela, e os une de novo,sofre horrores vendo sua amada aos beijos com Kid. Ele passa horas e horas escutando a mesma música (mais uma vez Caetano). Dá a maior dó dele, quando passa no corredor do colégio sozinho, e sofrendo por seu primeiro e belo amor. Seu rosto passa um sofrimento intenso.Sofre calado, na solidão feroz, para um rapaz de 15 anos. Lembro-me com meus quinze anos (ou menos) também, apaixonado por uma garota do colégio, ficava escutando repetidamente “Romance Ideal” do Paralamas, novidade na época.

O final do filme também é um achado, por ser tão simples. Duca e Isa estão no quarto dele, começa a tocar uma guitarra. Caetano faz a junção da voz de Gal no inicio da carreira, cantando “Barato Total” com todo o suinge moderno e maravilhoso da banda Nação Zumbi. O filme termina, e nas duas vezes que assisti, fiquei dançando feliz na poltrona,pela música e pelos lindos Duca e Iza.

O Brasil seria um país muito bacana, se nosso futuro fosse feito de rapazes bacanas como Iza, Kid e Duca.

12 de dezembro de 2006

Veludo Azul – David Lynch


Bela manhã numa cidade do interior. O caminhão de bombeiros passa pela rua, roseiras lindas são mostradas, enquanto ao fundo Blue Velvet toca , numa versão anos 50.Ah! Como é bela e pacata a vida na América! Um gigantesco comercial de margarina.Uma mangueira d` água enguiça,seu dono tem um colapso, o cachorro se esbalda com a água que jorra, o homem no chão. Não nos enganemos, este é um filme de Lynch.A aparente vida perfeita passa... Vemos Jeffrey (Kyle MacLachlan) caminhando , ele acha uma orelha no gramado, próximo à sua casa. Dia claro e belo na vida do rapaz.Logo virão as escuridões...

Como é bom rever um filme como este, que completou, por incrível que pareça, vinte anos, e permanece atual. Lembro de tê-lo assistido muito jovem e ter ficado excitado com a carga erótica e violenta do filme. Passado todos estes anos, o filme melhorou, e muito, na revisão. Uma obra-prima total, mesmo em DVD. Talvez até, o melhor Lynch, depois da revisão (vou ser obrigado a rever tudo).

Jeffrey é um curioso, procura a policia. Numa noite, saí do seu quarto claro e confortável, e vai à casa do Detetive Willians (George Dickerson), saber sobre o caso da orelha. Na saída da casa, alguém aparece da mais total escuridão... Sandy (Laura Dern)! Aparece toda loira e linda,e enche a noite com sua candura. Logo, ambos se vêem envolvidos num caso de tráfico, sexo,assassinado e seqüestro. Coisas que não habitavam o mundo perfeito e inocente dos jovens.

Sandy e Jeffrey decidem investigar o caso da orelha, por conta própria, afins de aprenderem mais sobre a vida. Não sabem que a partir de então, tudo mudará radicalmente em suas vidas. Ele entra no apartamento de Doroth Vallens, cantora de cabaré. Logo se vê envolvido numa situação inédita, entre o medo e o sexo, numa relação sadomasoquista. Eis que chega Frank Booth (Denis Hopper, fantástico), com toda sua carga escura e perigosa. Jeffrey, escondido no armário, não acredita no que vê. Uma outra vida lhe é mostrada, através das frisas do armário. Frank toma Doroth igual a um animal (“Mamy, baby quer trepar”) e transa com ela, entre porradas e berros, que ela claramente parece gostar.

Frank vive na escuridão (“está escuro aqui”), uma alma perdida em meio a seus próprios demônios, Cada ação importante sua é precedida por uma dose de oxigênio, que ele carrega em sua cintura junto a uma máscara. É como se ele não conseguisse respirar mais, no mundo fétido, que ele próprio ajudou a criar.No abismo que ele próprio criou para si, só encontra alento, quando escuta suas canções preferidas, sendo uma delas, a música que dá nome ao filme: Blue Velvet, interpretada pela própria Doroth Vallens, e a outra é um clássico de Roy Orbison que, numa cena antológica, é dublada por Bem (Dean Stockwell) um amigo gay de Frank. É impressionante o trabalho de Dennis Hopper nesta cena, enquanto a música é dublada, Frank sente cada acorde, cada palavra da música, lhe penetrar as profundezas de sua alma.É a pureza das doces palavras da canção lhe remetendo a algo que ele já há muito perdeu, em conflito com sua alma em decomposição. Em certo momento ele diz a Jeffrey: “Você é igual a mim”. Ele, mas do que ninguém, sabe até que ponto escuro um homem pode descer. Na sua loucura e criminalidade, ele vive em pleno umbral na terra.

Já Doroth, totalmente dominada por Frank, parece buscar na dor física, um alento para a dor que lhe toma por dentro. Como se a dor das porradas lhe anestesiasse, para a verdadeira dor que sente. Isso fica claro, quando ela e Jeffrey pretendem transar (“Toque em mim... Toque em mim... Bata em mim!”)e ela só consegue isso mediante uns tabefes.Mesmo o amor que ela almeja, tem que ser punido.Uma linha tênue que separa a dor e o prazer.

Já Sandy é a ponta ingênua (mas não burra), desta teia em que se amarram todos os personagens. Quando Jeffrey lhe conta tudo o que presenciou no apartamento de Doroth (“Sandy, porquê existem pessoas como Frank no mundo?”), ela ainda conta dos seus sonhos com pintassilgos e outros pássaros. Até então, ela ainda sonha. Para logo adiante, já no final do filme dizer: “ O que foi feito dos meus sonhos”. Não existe comiseração nos sonhos (filmes) malucos de Lynch, nem a mocinha escapa.
Mas depois do terremoto e do mal que passa pela vida deles. Tudo volta aparentemente ao normal. Os bombeiros passam sorrindo pela vizinhança. E até um pintassilgo pousa na janela da casa do novo casal num dia ensolarado de domingo. Até que apareçam outras escuridões e outros Franks, para abalar o frágil sonho americano de ser,

Um filmaço, uma obra-prima! Val Kilmer deve estar se remoendo até hoje por não ter feito o filme, já que Lynch havia feito o papel de Jeffrey para ele.Um daqueles filmes que, quando terminam, você já tem vontade de rever, tamanha originalidade e talento desse diretor único. Até parece ser outro filme, muito melhor, depois de anos. Sorte a minha ter o DVD.
ps: Acho que é a primeira vez em anos, que passo mais de uma semana sem ir ao cinema. Muito serviço e muitos problemas... Tá começando a dar tremedeira.

8 de dezembro de 2006

Crime Delicado – Beto Brant – 2ºparte (uma cena)


Este filme foi um dos primeiros que assisti em 2006, pois passou nos cinemas em janeiro deste ano. Mesmo assim, não perdeu seu posto (na minha modesta opinião) de melhor filme do ano, posição que agora divide com “O Céu de Suely”. Uma dobradinha de nacionais nas primeiras colocações, fato inédito, nas minhas listas de melhores do ano. Mania que tenho já há tempos, que se intensifica com o blog em atividade.

Um filme único, de um diretor espetacular (Beto Brant, o melhor diretor brasileiro na atualidade?), que se arriscou numa estória completamente diferente do que estava acostumado a fazer.

Quando assisti ao filme pela primeira vez, fiquei fascinado por uma cena em que o crítico teatral Antonio (Marco Ricca) é convidado para um jantar, pela atriz Maria Luiza (Maria Manoela), depois de ter assistido uma peça em que ela protagonizava.

Com o DVD, ficou fácil ver e rever esta cena, assim como o filme todo.Tenho a mania de sempre eleger uma cena de um filme como favorita. Assim como fiz com “Brilho Eterno”, uns meses atrás aqui no blog, reproduzo fielmente aqui este texto da cena do filme. E recomendo: quem não viu veja, e quem já viu reveja.



Antônio e Maria Luiza entram num desses restaurantes como o Pequi da Al.Santos, onde a turma teatral costuma se encontrar. Ela cumprimenta seus colegas. Sentam um de frente para o outro. Ele: whisky; Ela: vinho. Ela começa o papo:

“Você é sozinho?”.

O quê?

Você tem cara de solitário.

É mesmo...

Daqueles que precisam de cuidado.

Você entende muito sobre os homens, não é?

O suficiente...

Pra quê?

Pra cuidar deles.

Que bom.

Você já foi casado?

Tive umas amigas.

Duraram muitos tempos?

Vem cá, o que é isso? Um interrogatório pra revista de intimidades. O jornalista aqui sou eu.

Desculpa, desculpa... Só tava perguntando.

Pra quê?

Ué, não sei... Não é pra isso que a gente saí com as pessoas?

Não sei, eu saí porque você disse que tinha algumas coisas pra falar. Talvez você tenha, e eu acho que sei o que você quer dizer.
Você está querendo arrumar uma certa intimidade pra poder perguntar o que eu achei da sua peça, e com isso comprometer um pouco minha opinião. Se não pelo espetáculo, pelo menos sobre seu trabalho. Eu sei que isso deve ser difícil pra você, afinal de contas você vem batalhando um tempão nesta carreira, e vê em mim uma oportunidade de alavancá-la. Trazendo-me aqui, me expondo aos seus, como um troféu.(Maria Luiza olha rapidamente para câmera, desconcertada).
Talvez, você quisesse isso e talvez eu também quisesse um monte de coisas... E quem sabe a gente pudesse fazer uma troca.
Talvez você pudesse chupar lentamente meu pau, enquanto eu escrevo um artigo exclusivo sobre a grande revelação dos palcos desse momento.
Talvez você poderia até ser mais generosa. Encontrar-me vez ou outra, e se propor em tirar essa minha cara de solitário que você diz que eu tenho.
Talvez até eu pudesse me apaixonar por você, o que não seria difícil, e em pouco tempo eu perceberia que a paixão é realmente uma invenção da literatura burguesa.
E daí eu acho que você se arrependeria de ter me procurado, e perceberia que uma bosta de um elogio no jornal diário não significa mais que uma boa trepada numa noite fria. Que no dia seguinte não passa mais do que uma lembrança, sem desdobramento.
Talvez eu pudesse olhar nos seus olhos, como estou fazendo agora... Dizer que o mundo é tão óbvio! Que se a morte me tocasse neste momento, seria ainda assim previsível.”“.

Sensacional! Mas depois ela dá o troco, numa homenagem do diretor a Bunuel.

5 de dezembro de 2006

O Céu de Suely – Karin Ainouz – 3º parte


Tenho sempre a mania de associar uma música a um filme, mesmo que esta música - que fica tocando desesperadamente na minha cabeça- não tenha nada haver com o filme. É uma coisa meio maluca, sei bem. Mas também é prazeroso. Esta associação entre filme e música que faço, tem como critério, a emoção que ambos me passam, e que de alguma forma, me passam sensações equivalentes. Assim que saí do cinema, meio atordoado pelo filme, “Dona Maria de Lourdes” automaticamente começou a tocar na minha mente. Quando cheguei em casa, escutei várias vezes. O que foi bom, pois acabei escutando o disco inteiro do “maldito mor” da MPB.

Sérgio Sampaio ficou marcado apenas por uma música: “Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua”, que dá nome ao seu primeiro disco -que por sinal esta música também faz parte - nos idos dos anos 70, muito pouco para tamanha genialidade incompreendida. Mas na verdade ele era realmente uma pessoa difícil, mas sua obra é única, e seu talento também. Quem conhece sabe do que estou falando. Suas músicas sangram dor e amor na mesma proporção.

Podem me xingar e dizer que sou uma besta, mas associo totalmente (na minha loucura) este filme com esta música, e por que não dizer, com o disco inteiro.Ambos, pérolas para poucos.




Dona Maria de Lourdes – Sérgio Sampaio

Os automóveis estão invadindo a simples cidade
Enquanto a gente se arrasta eu prefiro isto aqui
Os automóveis são livres
E agora é preciso coragem
Olho meu rosto no espelho e depois vou dormir.

Entre as flores escondidas no riacho
Por debaixo do que der
Do que vier
Escondido nas notícias entre as feras
Nas revistas sem assunto
Meu amor

O auditório aplaudiu a canção e eu cantei novamente
Fique de olho na vida
O sinal vai abrir
O auditório aplaudiu, mas cuidado com a porta da frente
Dona Maria de Lourdes não espere por mim.

Que eu estou no paradeiro desta gente
Quem morreu, quem teve medo, quem ficou?
Eu estou no bar do Auzilio
Ou na igreja
E onde quer que eu esteja eu não estou.
Eu não estou.

4 de dezembro de 2006

O Céu de Suely – Karin Ainouz – parte II

É raro, mas acontece comigo, de um ou outro filme abalar minha estrutura (já frágil). Ainda bem que não assisti a este filme na mostra, seria impossível outra sessão logo em seguida, não conseguiria me concentrar em outro filme, e olha que eu tentei no mesmo Unibanco, mas a sessão já estava lotada.

É nessas horas que sinto falta de ter um melhor conhecimento sobre a sétima arte, para poder melhor discorrer sobre esta obra-prima, mas não sei... O que mais me impressionou foi a forma natural e realista como a coisa foi mostrada, a começar pelos personagens terem o mesmo nome de seus atores.Como se o distanciamento entre ator/personagem fosse o mínimo possível, e este é o grande feito de Ainouz. Não lembro de ter assistido um filme em que me senti tão próximo da estória, é como se realmente aquilo fosse real, verdadeiro e intenso. Tanto é que os atores realmente “viveram” aquela estória e moraram na pequena cidade de Iguatú – CE, durante meses, mesmo antes de começarem as filmagens.

Se no seu primeiro e ótimo filme, Ainouz se inspirou em um personagem real e “vamos dizer” excêntrico. Apresentando e presenteando ao Brasil e ao mundo, uma interpretação arrebatadora de Lázaro Ramos. Neste filme, Hermina Guedes já faz diferente.Seu personagem é mais interiorizado, suas dores são escondidas. Tanto ela como os outros personagens do filme são “gente como a gente”, com suas dores, seus defeitos e frustrações.Todos os personagens são coadjuvantes do mundo E aquela eterna falta de grana a permear a vida de todos.

Logo no inicio do filme, quando aparece uma versão brega de uma canção do Bread, senti que o filme iria me pegar de jeito e assim foi num crescente até o final . Pequenas sutilezas de um mundo mais que real. O verdadeiro Brasil, aquele onde 87% das pessoas nunca acessaram internet e menos do que 60% mexeram num computador.Mas Hermina não quer o pouco que têm. A estrada é imensa e o céu também, e lindo, de um azul perfeito, a cor mais linda do mundo. Debaixo daquele céu imenso, tem de haver um lugar onde Hermina se ache, ou melhor se encaixe. Acho que todos procuram isso.

Partindo do principio de vender numa rifa “uma noite no paraíso”, Hermina inventa um pseudônimo para si, mas sua Suely pouco resiste a tal noite, o preço é caro para partir para o local mais longe possível, no caso Porto Alegre, de sua cidade natal no sertão do Ceará. Lá, ela não se vê, não se enxerga, mesmo amando por demais seus familiares. Isso é nítido no último jantar, numa cena impressionante, em que não há palavras, só um choro sufocado, preso, em meio a um prato de macarrão queimado. Ou mesmo na cena em que Hermina tem que pedir desculpas à avó, uma desculpa difícil de sair, sufocada, guardada entre todas as suas mágoas da vida e do mundo.

Tudo muito real,muito intenso e natural, num filme de poucos diálogos. Onde os sentimentos são privilegiados e mostrados através do silêncio doído de sua personagem principal. É preciso ter coração de pedra para não se comover com “O Céu de Suely”. E o meu coração de vidro, quase se quebrou.

Obs: Agradeço aos amigos que leram e se impressionaram com o texto anterior.Alguns, que eu nem imaginava que navegassem no blog, me ligaram achando que eu estava por um triz.Nem tanto, apenas um esforço danado para me sentir vivo, mas é bom saber que tem gente que se importa.

1 de dezembro de 2006

Relação de filmes - Novembro de 2006

Relação de filmes assistidos em novembro de 2006 por ordem de preferência.

Acho que foi o mês do ano em que menos filmes foram vistos no cinema, mas vi neste mês a obra-prima do ano.Em compensação, nunca fiquei tanto tempo na frente do DVD. Culpa dessas séries americanas maravilhosas.

1 – O Céu de Suely – Karin Ainouz * * * * *

2 – O Ano em Que Meus Pais Sairam de Férias – Cao Hamburguer * * * *

3 – Pequena Miss Sunshine – Jonathan Dayton e Valéria Faris * * * *

4 – Volver – Pedro Almodovar * * * *

5 – Os Infiltrados – Martin Scorsesse * * * *

6 – Desperate Housewives (1º temporada completa-DVD) * * * *

7 – Desperate Housewives (2º temporada completa-DVD) * * * *

8 – A Última Noite – Robert Altmann * * * *

9 – O Grande Truque – Christopher Nolan * * *

10- Assunto de Meninas – Léa Pool (DVD) * * *

11- Amigas com Dinheiro – Nicole Holofcener * *

12- Uma Vida Iluminada - Liev Schreiber (DVD) * *

13- Todo Mundo Em Pânico 4 – David Zucker (DVD) * *

14- Três Vidas e Um Destino – John Duigan (DVD) *

15- Vestido de Noiva – Jofre Soares *

16- Fica Comigo Esta Noite – João Falcão *