24 de junho de 2011

Namorados Para Sempre – Derek Cianfrance



 
“Sabe quando toca uma música e você precisa dançar”

Na cena mais bonita e singela deste filme, Dean (Ryan Gosling) toca uma canção para Cindy (Michelle Williams) no meio da rua, e ela toda desengonçada, tenta sapatear ao som enamorado de Dean. É bem o começo do amor entre eles e eu, na plateia, me enamoro do casal, torço por eles. É o inicio do amor, tudo é lindo, mesmo a música mal tocada, mesmo a dança mal feita. Está mesma canção – notem – é tocada nos créditos finais e daí parece ser outra canção, (assim como a outra música que toca no filme duas vezes), todo seu lamento fica explicito, pois os espinhos da rosa foram mais fortes e feriu fundo, o coração partido. Venceu o escuro. A sensação de amargor prevalece. Meu coração também fica partido, por eles, pois o amor virou dor.

Com um roteiro para lá de afiado (algo difícil nos tempos atuais) e dois atores em estado de graça – principalmente Gosling em sua melhor interpretação – é até injusto dizer qual a melhor cena. Em todas elas existem as entrelinhas, e o contexto de cada uma, pode ser interpretada de várias formas. Megan morreu, o copo transbordou, o amor morreu. Existem culpados? Nas idas e vindas do filme, entre o inicio e o fim (?) do romance, talvez se encontre a resposta.

Saiu do cinema meio atordoado. Como um vampiro, saiu satisfeito por finalmente, depois de muito tentar ultimamente, provar um sangue bom. Afinal, este ano esta difícil beber cinema. Geralmente, saiu do cinema e passa-se cinco minutos e nem lembro direito o que assisti.

Pouco ou nada sei do amor, mas da dor... Sou romântico - insisto em ser assim – e penso no filme após os letreiros finais, quando não assistimos mais, mas continua na nossa cabeça. Penso que na sua caminhada para o abismo escuro, meu amigo – sim, meu amigo – Dean vai ser chamado de volta por Candy, e eles irão se abraçar. Uma nova chance se fará, e tudo vai ficar bem, com promessas mútuas de melhoras... Mas não é assim, infelizmente.

Mas afinal, por que deu errado? Fácil seria condenar Candy. Em outra cena importante (qual não é?) ela expressa sua insatisfação no carro, a caminho do motel. Fala de uma pessoa que encontrou no caminho, mas na verdade, esta falando de Dean. Já no motel, enquanto “tentam” transar, se sente culpada por não querer mais seu casamento, e pede para ele bater nela, e ele (burro e amoroso) não segue os conselhos antigos -por não conhecer - de Nelson Rodrigues, e se recusa. Foi ali que definitivamente acabou. No dia seguinte, em outra discussão, ela diz ser “o homem da casa” e Dean se retrai mais ainda, apesar dela saber que o que ele fez por ela e pela filha, outros pouquíssimos fariam. Ele não queria uma família, mas a partir do momento que a tem, decide viver só para ela, só amar a família, só por ela se importar e se interioriza para a vida lá fora, praticamente se fechando para o mundo exterior, e perde as ambições, se é que por ventura, as teve anteriormente. Se ao mesmo tempo, essa dedicação à família é muito digna, diria até que seria o que muita mulher sonharia, para Candy vai se tornando insuficiente, e vai criando um abismo entre os dois, pois sabemos que ela tinha grandes ambições, é inteligente e frustrada por não ter conseguido ser médica como intencionava, e conseguiria se não tivesse a gravidez e consequentemente o casamento. Ela tem ambições na vida, ele não. Abismo.

O dilema de Candy, e o pedido dos tabefes, na cena do motel, se fazem quando ela vê que precisava de mais dele, da vida, enfim. Apesar de saber que ninguém daria tanto a ela como Dean lhe dá. Que é um amor infinito para ela e principalmente para Frankie, a filhinha. Mesmo insatisfeita, sabe que o que tem é algo raro. Mas Dean não é santo não, e esconde suas insatisfações (e ambições) nos muitos cigarros e no álcool matinal. A enfermaria de Candy, a nevoa da fumaça, o cheiro da bebida; ingredientes fortes para o fim do amor dos dois. Ambos, filhos de famílias disformes, problemáticas, se agarram um no outro, mas não é o suficiente.

Entendo Candy, mas, sobretudo entendo Dean, provavelmente agiria como ele na mesma situação. Na bebida e no cigarro, já o faço, modestamente.

Os fogos de artifício pululam na cena final e Dean caminha para o nada, para o abismo. E eu caminho em meio às luzes festivas da Avenida Paulista, no frio, sozinho.

13 de junho de 2011

Minhas Tardes com Margueritte - Jean Becker


Não sou de muita curiosidade para com a internet, vídeos e textos que são muito comentados eu passo batido. Mas sou um curioso nos ônibus e trens de metrô da cidade em que vivo. Sobre o que as pessoas lêem a bordo. Procuro nos acentos, assim que adentro uma pessoa que esteja com um livro na mão e me sento próximo a ela, a fim de descobrir o que esta pessoa esta lendo, ou mesmo ficar só do seu lado, com a satisfação de estar próximo a uma pessoa do mesmo “clube do livro”. Mesmo sem ela saber, e por vezes até, me achar estranho, enxerido, procuro saber o que esta sendo lido e ficar ao seu lado. Tenho vontade de dizer que estamos “irmanados” pelo gosto à leitura e fazemos parte de um seleto grupo super fantástico. Faço isso desde menino, quando o “bicho” da leitura me mordeu. Pois bem, o que deu para perceber, que na maioria das vezes, são livros espíritas ou de alto-ajuda. Mas isso não importa, pois assim como pizza e sexo, qualquer livro mesmo ruim é bom. Como declarou Tony Ramos numa recente e ótima matéria na revista Veja a cerca de um mês: “A leitura forma e informa o homem”.

Sendo assim, fui assistir a este filme com especial atenção, pronto para gostar, pois conta a história de um homem com dificuldades na leitura, que começa a se encontrar com uma senhorinha idosa e deste encontro inusitado, sempre as tardes num banco de praça, ela começa a ler seus livros para ele, que assim começa a descobrir o maravilhoso e rico mundo imaginário dos livros, com isso, tudo se modifica no seu modo de ver a vida, o mundo ao seu redor.

Mas, talvez por esperar tanto deste filme, achando encontrar a tal irmandade com o tema, acabei me decepcionando com o filme. Achei que foi conduzido de forma rasa, tanto na abordagem dos livros mostrados, como em todo o restante que cerca os personagens, muito simpáticos, diga-se de passagem. Até parece outra França, e não aquela na qual lemos e vemos a respeito nos jornais impressos e na TV, cada vez mais direitista e xenófoba. Neste filme, franceses e estrangeiros convivem harmoniosamente. Ok! Talvez a uns sessenta ou cinqüenta anos atrás, mas não nos tempos atuais. Enfim, um belo argumento e bons atores, que poderiam ser muito melhor explorados com um roteiro e direção melhor.

Logo após este filme, acabei entrando em outra sessão, com outro filme francês: “Como Agarrar um Coração”, que apesar do cenário belo, feito em varias cidades francesas, não passa de uma cópia mal feita daquelas comédias americanas, que a gente ousa perder tempo em DVD , talvez, num dia chuvoso, quando não tem coisa melhor para se assistir.

Li nos jornais, que estes dois filmes, foram os dois maiores sucessos do ano, nos cinemas franceses, batendo recorde de bilheteria. Terra da Nouvelle Vague, Rhomer, Truffaut, Godart Chabrol, Malle e outros. Bem mediano, o gosto desta nova geração francesa, hein?