3 de janeiro de 2009

Um Homem Bom - Vicente Amorin


Sempre tive curiosidade sobre o período em que houve o golpe militar no Brasil, principalmente na sua fase mais dura após o AI-5. São incontáveis filmes que falam sobre esta época macabra da história brasileira, mas sempre pela ótica da esquerda, de quem sofreu torturas através dos militares. Lembro do primeiro filme que assisti sobre o assunto, se não me engano era "Pra Frente Brasil" em que Reginaldo Farias era confundido com um "terrorista" pelos milicos e era duramente torturado.Uma cena não me saí da cabeça que é quando Carlos Zara enfiava um cacetete "lá",no personagem de Reginaldo, que estava num pau de arara, e dizia que essa era a hora em que eles mais gostavam.Extremamente cruel.
Este filme, assim como outros tantos como o
recente "Batismo de Sangue", sempre pintaram os militares como loucos sádicos. Não duvido nem um pouco, pois existem provas concretas sobre a tal época absurda. O problema é que até hoje (se não estiver enganado) nunca vi ou li qualquer relato sobre alguém do lado de lá, isto é, algum militar, que resolveu relatar o que de fato acontecia, seja por arependimento, ou mesmo sadismo. Não é possível que todos concordassem, entre eles. Será que não havia algum militar que percebia que eles estavam passando do ponto? Que de repente se viu numa roubada, e pelos códigos de conduta praticados dentro da corporação, teve que se calar mesmo não concordando com as atitudes extremas? Seria muito interessante assistirmos algum filme que mostrasse o outro lado.

Digo isso tudo porque Vicente Amorim foi tratar de uma ferida desse tipo, mas não de caráter nacional, e sim mundial, pois o nazismo de certa forma, afetou não só os alemães, mas o mundo inteiro. O nazismo, com seu extermínio aos judeus, e sua procura pela pura raçã alemã, é talvez, a fase mais inacreditável da história mundial. Vendo os vários filmes a respeito dessa época, sempre me fiz a mesma pergunta quanto aos oficiais do exercito alemão. Será que não tinham pessoas lá dentro, que enxergassem a grande loucura que Hitler produzia? Será que eles utilizavam metodos de hipnoze, como às vezes me parece, quando vejo estes pastores picaretas na televisão? É tudo tão incrível.

Como uma bactéria, ou melhor, uma epidemia, o nazismo foi se alastrando na Alemanha e modificando a vida das pessoas. Este filme conta a história de dois amigos, sendo que um é professor universitário, vivido por Viggo Mortensen e o outro um psiquiatra rico e prestigiado, vivido por Isaacs. O personagem de Viggo vive uma pacata vida de professor em volta a uma mulher depressiva e uma mãe com demência, quando um livro seu sobre eutanásia caí nas mãos e nas graças de Hitler. Isso serve para sua mudança e escalada social na vida, enquando que com seu amigo judeu, ocorre exatamente o oposto, a descida aos infernos, pela perseguição que começa a sofrer e suas consequências. Quando o professor realmente caí em si, e percebe o que seu envolvimento com o partido nazista traz, e suas reais consequencias, percebe que é tarde demais para seu amigo e para si mesmo.

Gostei muito do primeiro filme de Amorim, lembro com carinho de Claudia Abreu cantando as músicas de Roberto Carlos, numa interpretação maravilhosa, assim como seu par no filme, Wagner Moura. No seu segundo filme, Amorim quis voar mais alto, e foi fazer um filme com produção e língua inglesa e com atores do porte de Viggo Mortensen e Jason Isaacs.E é neste dois atores fantásticos que o filme todo se equilibra, pois sabiamente Amorim dirige o filme com descrição e deixa os dois atores brilharem com interpretações perfeitas, pois na verdade, a história central do filme e sobre a amizade entre os dois tendo o nazismo como pano de fundo, ou melhor, como a bactéria que destruiu a Alemanha.Destruiu a amizade perfeita e a vida de dois bons homens.

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