Forte, Instável, talentosa, melancólica e triste, muito
triste. Impossível conseguir em uma palavra decifrar a força desta mulher tão
talentosa. A Piaf do Chile, a dama derrotada, defensora do cancioneiro e da
cultura popular chilena.
Sempre fiquei de conhecer um pouco mais de sua obra, graças
as versões antológicas de Milton Nascimento e Mercedes Sosa para “Volver a Los
Diecisiete” e “Gracias a La Vida” de Elis Regina. Se só por estas duas
obras-primas, eu achava sua obra extremamente forte. Esta é uma ótima
oportunidade neste precioso filme, dirigido por Andres Wood, do ótimo Machuca para comprovar o talento desta artista.
Numa cinebiografia não linear, conhecemos uma mulher que sangrou
através de sua obra. Mais do que a artista genial, o que vemos é a história de
uma mulher que trás em si o peso do mundo nas costas. Mesmo em seus momentos
alegres, a tristeza é sua companheira fiel, sua sombra que lhe trás o dom de
belas e tristes canções. É impressionante como em certas pessoas a tristeza se
acentua e segue dando o dom de uma vida nada fácil. Violeta sangrou até se
matar com um tiro. Matou-se por amor e desamor, por um conjunto de derrotas
vividas. Não aguentou o peso do mundo, mesmo que o traduzisse através de suas
músicas e obras plásticas que chegaram a ser expostas no Louvre de Paris. Sua
pátria e seu povo, que ela tanto amava e declamava em suas letras fortes, não
reconheceram sua genialidade.
Como em toda a biografia, o ator que interpreta o biografado
é que da o tom, e realmente impressiona a entrega de Francisca Gavilan como
Violeta, entre a fragilidade e a agressividade, mostrando não um ídolo a se por
num pedestal, mais acima de tudo, uma mulher intensa. A semelhança não é só
física, como vocal, ela também interpreta com maestria todas as canções do
filme.
A intensidade artística de Violeta dá o tom para o filme, e
as canções são uma melhor do que a outra. Uma cena chama a atenção, é quando já
no final do filme ela se vê abandonada pelo segundo marido – o gavião que
machuca a galinha - e seu local de shows se vê inundado pelas chuvas, ela canta
uma música tão forte, que dificilmente não doí nas pessoas que assistem.
Sangra.
Um filme para se ver e rever. Para corações fortes. Para
quem entende que a tristeza existe e que a vida não é uma cena de – felizmente ou infelizmente - comercial de
margarina. Um belíssimo filme, até agora a grande surpresa do ano, que veio lá
do Chile.
Cantora, artista plástica, poetisa, patriota, comunista, mãe
e mulher. Todas dentro de uma só, que tem uma obra e vida intensa, que precisa
ser mais bem apreciada, não só no seu
próprio país, mas pelo mundo inteiro.
Gracias, Violeta.
Violeta Foi Para o Céu – Andrès Wood