Você assistiria a um filme pornô, e ao mesmo tempo, comeria um prato de comida caseira enquanto assiste ao dito filme? Fiz-me está pergunta enquanto apreciava a um piratinha pornô da Bruna Surfistinha, a verdadeira. Na realidade acho filme pornô muito triste. Sério. Uma punheta mal dada. Fico imaginando, quando o diretor diz: “Goza!”, ou melhor, diz: “Corta!”. Deve dar uma sensação de vazio naquele povo... Bem, coisas bobas de um romântico antiquado solitário, que sou sim, e ponto. Mas estou fugindo do assunto. Fiz questão de assistir ao filme da Bruna real, para depois assistir ao tão afamado, e já sucesso comercial que é o filme estrelado pela corajosa Débora Secco. Existe uma coisa em comum entre os dois filmes. Tem aquela cena em que Débora olha diretamente para a câmera, na sua primeira relação amorosa do filme, e parece estar alheia, em outra dimensão, com aquilo que está acontecendo. O mesmo acontece com a Bruna real, quando está em plena orgia em suas cenas explícitas. Nós a vemos, mas parece que não está ali, naquele corpo suado, uma espécie de piloto automático. Só falta fazer as unhas, enquanto alguns rapazes preenchem todos seus orifícios disponíveis. Incríveis em como as pessoas conseguem chegar a tais níveis em suas vidas.
Mas logo acima falei da coragem de Débora Secco, mas apesar de sua entrega ao papel e reconhecido talento e beleza, não foi preciso tanta coragem assim, afinal de contas, logo quando eu soube que seria ela que estrelaria ao filme, pensei que o mesmo não seria tão “quente” quanto acho que deveria ser que eu gostaria. Seria outro tipo de coragem. De quebrar as regras do já viciado novo cinema nacional, com sua patente Globo Filmes, tão marcada entre as novas produções. É o preço do sucesso comercial, que obviamente o filme está tendo de sobra. Mas cadê a ousadia? Cadê o frescor e o peso, de uma obra que se mostra menor do que de fato poderia ser. Uma grande história, num filme menor do que ela, para agradar a todo o público e não indignar as moçoilas de família. Faz me rir.
A história é até bem contada, tudo é limpo, higienizado. Tudo certinho. E quando parece que alguma cena vai nos arrebatar, lá vem o diretor (de publicidade, é claro, em seu primeiro longa-metragem) e bota tudo nos eixos. Afinal, não se pode assustar o grande público. Uma cena em especial, me chama a atenção, é quando Bruna está em plena decadência e aceita transar por qualquer 10 paus (literalmente) num puteiro de décima categoria. Faltou coragem para ali, Débora expor seu corpo, ou mesmo o diretor mostrar um pouco da podridão emocional de um lugar como aquele, mesmo ali é tudo bonitinho no filme. Quem já esteve (como eu) num daqueles inferninhos da Rua Augusta - estão acabando aos poucos com eles, em nome dos bares modernetes, já repararam?- sabe como é o ambiente moribundo desses locais, o ar é pesado, quase dá para pegar, e há um cheiro de porra e eucalipto em tudo, que pega na gente por dias. Uma espécie de umbral sexual, que caras, ou garotos na puberdade (como eu há anos atrás) acham até charmoso. Mas na verdade, deve ser, e é tudo muito triste.
Parabéns Débora Secco, parabéns diretor e produtores desse sucesso cinematográfico nacional. Agora é só esperar para assistir ao filme novamente na televisão. Quem sabe até, daqui a uns três ou quatro anos, poderemos assistir Bruna Surfistinha nas reprises das tardes, ou melhor, na sessão da tarde da Rede Globo. Sim, logo, logo, vou rever este filme na sessão da tarde. Tá faltando coragem no cinema nacional.