Esta é a história de dois jovens excluídos. Sônia (Debora François) e Bruno (Jerémie Ranier), namorados que vêem suas vidas modificadas pela chegada de um filho, a criança do título do filme.
Em umas das primeiras cenas, vemos Sônia e Bruno namorando/brincando entre eles de uma forma que lembra muito, para mim, a forma como os bichos , mais precisamente os cachorros, se tocam e se relacionam. Dois jovens, espúrias, verdadeiros vira-latas, de uma sociedade rica e arrogante. Vivem à margem. De pequenos furtos e seguro social concedido pelo governo.
Eis que surge a Criança, filho dos dois, e que comprometera de forma imensa o convívio entre o casal de jovens. Para Bruno, aquela criança serve como mais um produto a ser negociado. Em certo momento, quando ele negocia a criança, vai dizer para a namorada: “Esse eu vendi, a gente faz outro”. Não a culpa em seu procedimento, tudo para ele é negociável, dinheiro é o que importa.Acontece que em Sonia a coisa é diferente, e como um bicho que quer defender sua cria, seu instinto materno fala mais alto.
São duas crianças, com outra criança menor. Mas Sonia cresce com seu instinto materno aflorado, tornando-se mãe e mulher. Já Bruno continua com seu jeito irresponsável, que acompanhamos ao longo do filme. Seu envolvimento com mafiosos e sua solidão o farão perceber que nem tudo é negociável. Seu sofrimento físico e finalmente moral, fará ele se ver num abismo em que se envergará (talvez) um homem, como na última e extremamente tocante cena final.
Os irmãos Dardenne contam a historia dos dois de forma seca e direta, sem direito à música ou comiseração aos seus anti-heróis. E nos brincam com uma pequena obra-prima sobre estes jovens excluídos de uma Europa atormentada pelas suas culpas. Como é mostrado no também francês, e ótimo Caché, mais isso é para outro dia.