21 de dezembro de 2012

Lista dos 12 maiores filmes nacionais dos últimos vinte anos.



Acaba de sair na revista Interlúdio, uma lista com os vinte maiores filmes nacionais dos últimos vinte anos. Votação feita por mais de 50 críticos, entre eles meu amigo Sérgio Alpendre. Olhando a lista, me vi impelido a fazer uma lista semelhante. Percebi que escolher estes filmes não seria tão simples, afinal de contas, amo o cinema nacional. Gosto até dos ditos filmes ruins, procuro assistir a quase tudo, que estreia no circuito comercial, privilegiando nossos filmes. Ao contrário de muitos, vejo com bons olhos a produção nacional. Obviamente, que esta lista vai mudar a qualquer momento, serve mais como uma singela homenagem de quem ama o cinema.
1 – Lavoura Arcaica – Luiz Fernando Carvalho
Cinema e Literatura em casamento pleno de beleza, imagem e poesia.
2 – O Príncipe – Ugo Georgetti
O retrato imperfeito de uma cidade chamada São Paulo, com seu passado e seu presente decadente.
3 – Terra Estrangeira – Walter Salles
Você pode se sentir um estrangeiro mesmo no seu quintal, aqui ou em qualquer lugar.
4 – Dois Corregos – Carlos Reichenbach
Cada vez que assisto a este filme, ele me parece uma sinfonia. Harmonia de imagens.
Não existe filme melhor sobre adolescentes.
O amor, a dor e a solidão, tudo junto e misturado.
7 – Jogo de Cena – Eduardo Coutinho
O real e a ficção se misturando e emocionando.
“Onde quer que eu esteja, eu não estou”
9 – Um Céu de Estrelas – Tata Amaral
Terror e angustia dentro de quatro paredes.
10 – O Invasor – Beto Brant
Bichos escrotos que saem dos esgotos. 
11 – O Homem que Copiava – Jorge Furtado
Deliciosa comédia com tutano.
12 – Garotas do ABC – Carlos Reichenbach
A periferia retratada sem estereótipos, e com muito amor.

14 de novembro de 2012

Gonzaga - De Pai Para Filho – Breno Silveira



“Estou entrando no sertão, sertão que era do meu pai. À minha direita tem a lua... Deve ser ele, o Velho Lua me olhando... Eu não conheci meu pai direito e, amanhã é o enterro dele”.
Este é um dos depoimentos gravados pelo carioca Gonzaguinha, em umas das muitas fitas cassetes que ele gravou sobre o pai, que Breno Silveira teve acesso, e daí surgiu a vontade de fazer este filme.
Lembro-me de Gonzaguinha no auge do sucesso, eu era um menino, e toda vez que eu via sua feição, seja na tv ou mesmo numa capa de vinil, achava ele triste, muito triste. Era como se ele fosse o exemplo máximo de uma pessoa assim. Esta impressão me acompanhando sempre, e mesmo nas suas músicas alegres, como “O que é, O que é”, eu enxergava esta tristeza perene. Tem pessoas que são assim, carregam a tristeza nos ombros, são até meio curvados, e se esmeram pelos cantos, evitando o encontro com o coro dos contentes e seu céu dourado. Uns nasceram assim, outros se fazem assim, com o pesar da vida e dos anos. Assim como existem os contentes, aqueles que a gente vê e logo percebe que tal pessoa tem aquele brilho especial, estes são bem assediados, todos o querem por perto. E isto é normal. Sempre gostei dos tristes, pois sempre me pareceram ser aqueles que carregam as dores e os questionamentos, enquanto os contentes curtem a vida. Ninguém está errado ou certo, cada um com sua dor, ou prazer. Como já disse o outro poeta “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Eu aqui do meu lado tento fugir da tristeza apesar dela me encontrar e não poucas vezes me tomar por seu escravo. Eu quero a euforia dos bobos alegres, e quem sabe afortunadamente o amor, que por vezes falta nos momentos mais insuspeitos, e causam estragos para a vida inteira, como se uma parte do corpo fosse roubada, naquele momento ainda criança, naquele momento incompreensível.
Já Gonzagão sempre foi o exemplo maior daquela alegria característica dos nordestinos. Aquele nordestino, que antes de tudo é um forte. Aquela coisa solar, sua sanfona, suas roupas características, sempre a levar a alegria, seu povo e cultura para as estradas. Que com a cara e coragem saiu pelo mundo, mostrando e inventando um gênero musical único, que infelizmente hoje em dia é difundido erroneamente. O forró de Gonzaga, não tem nada haver com estes abacaxis com rapaduras que empesteiam o mundo, e os ouvidos populares.  Assim como o Funk de James Brown não tem nada haver com “aquilo” que é feito no Rio de Janeiro.
Pai e filho, dois seres tão distantes em tudo um do outro, menos no talento musical. Dois gênios. Um de direita, outro de esquerda. Um solar, outro soturno. Um alegre, outro triste. Tudo contribuindo para a distância tão sentida e mostrada no olhar e no jeito de Gonzaguinha. O embate em vida de duas pessoas tão diferentes e próximas.
Fui assistir ao filme sabendo que iria ver um filme parecido na fórmula com o outro sucesso de Silveira “Dois Filhos de Francisco”, mas confesso que fiquei meio decepcionado. É que na verdade queria ver outro filme, pois enquanto assistia, sempre ficava esperando pela presença de Gonzaguinha -também pelo fato de Julio Andrade(Cão Sem Dono) estar ótimo no papel -, queria saber de suas tristezas e de sua obra. Mas o filme se foca mais na trajetória do pai.  E tudo acontecendo muito rápido. A verdade é que ali se tem muita história para contar. Cada período da história do próprio Gonzagão já daria um filme à parte. Como seu relacionamento fraternal e amoroso com Januário (seu pai) em contra plano com seu relacionamento com o filho.  A angústia do filho, que se acha bastardo e esquecido pelo   ausente pai famoso. Mas o problema sou eu - pois por mim, seria feito um filme só do Gonzaguinha e sua ótica triste - e não o filme, que no final das contas acaba se resolvendo muito bem e parece estar indo bem nas bilheterias, justamente por usar a formula e os clichês do sucesso anterior do diretor. Sucesso não alcançado com o- que comentei aqui no blog anteriormente - injustiçado “A Beira do Caminho”, filmaço que Breno Silveira lançou este ano também, em que o roteiro é inspirado em canções do rei “Roberto Carlos”, mas mesmo assim, naufragou nos cinemas. Alias, é preocupante o cinema nacional que esta fazendo sucesso, só as sequencias do programa “Zorra Total” – credo! – é que estão dando certo. Certo não, muito errado. Comparado a eles, este filme é uma obra-prima

26 de outubro de 2012

Aquele Querido Mês de Agosto – Miguel Soares



“Não é a toa que eles estão na crise que estão”. “Bem feito, agora eles que tiram piadas de nós, mandando um filme desses para a gente ver”. Frases escutadas, assim que o filme acabou. Cine Olido, Mostra, centro da cidade, preço popular.  Acho que não assistimos ao mesmo filme, pois eu estava besta com tamanho filme. Um filme imenso, deslumbrante. E a pergunta é: Como descrever um filme assim? Não sei... Eu que já vi todo tipo de filme, acho que talvez só Don Sebastião quando voltar de suas conquistas por mares  nunca  antes navegados, é que vai poder responder esta questão.
Como posso achar deslumbrante um filme que no começo me fez cochilar e até pensar em desistir de assisti-lo, como alias fizeram, mais que a metade da sala, que no inicio estava lotada? Documentário? Ficção? Cochilo? Deslumbre? Onde começa um e termina o outro? Um filme dentro de outro filme? Um documentário falso ou uma ficção real? Só sei que indico este filme para todas as pessoas que querem ver algo realmente diferente no cinema. O melhor mesmo é nem tentar decifrar, e apenas adentrar por este interior imenso das terras lusitanas. Em pensar que ainda tem outros dois filmes (“TABU” e “A Cara Que Mereces”) do mesmo diretor na Mostra.
O filme começa com um radialista narrando a visita da equipe de filmagens de “Aquele Querido Mês de Agosto” em sua rádio. Esta equipe percorre todo o interior do país filmando os festejos que acontecem sempre no mês de agosto, que é quando em pleno verão, as pessoas voltam do centro econômico e cultural do país, para visitarem seus parentes e suas terras da infância, aproveitando para curtir o calor do mês, sendo que o resto do ano é aquele frio europeu. Fica entendido e vemos isso acontecer mais ainda no final do filme, que a equipe do filme está inserida em todo contexto da história. Só o dialogo do diretor de som com o diretor do filme nos créditos finais já vale o filme.
Nestes lugares acontecem festas folclóricas com muita música popular (brega, se fosse por aqui), dança e comidas típicas. A tradição religiosa, a vida simples das comunidades é mostrada de forma simples, sem grandes arroubos, de forma singela. É a parte claramente  documental, que certamente causa estranheza –  (“afasto o que não conheço”), mas sem que se perceba, vai mudando seu contexto para outra coisa e vai nos ganhando. O ponto central é quando o diretor conversa com o produtor, para ele ir buscar mais dinheiro na capital, e que ele encontrará os atores para a história que pretende contar, tendo como ponto de partida um triangulo amoroso e incestuoso (será?) entre pai, filha e primo. Será que são atores de verdade? Será que aquilo tudo realmente aconteceu? Ou é tudo invenção?  Quando vemos, estamos como que por mágica, totalmente envolvidos na história desta família, que vive a sair pelas cidades do interior a cantar nas tais festas populares. Mas não só com esta família, mas com todos aqueles personagens (?!) e aquelas paisagens, fazendo um grande quadro imenso de um filme grandioso.
Daí o arrependimento de ter cochilado por poucos minutos. De ter cometido a heresia de pensar em ir embora, pois tudo ali se completa num quadro imenso de um cineasta em pleno domínio do que quer mostrar e que encanta. Algo que não sei explicar, novo, inquietante, que eu apenas um espectador,  não sei explicar. Mas quem disse que tudo tem que ser explicado? Melhor é ser mágico, ser poeta. E Miguel Soares se mostra diferenciado da nova safra de cineastas. Faz mágica e poesia na tela.

24 de outubro de 2012

Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo – Lorene Scafaria



“Esta tudo acabando, vamos morrer”
“Pois eu nunca me senti mais vivo”
Termina o filme e fico colado, sensível, pequeno, na poltrona do cinema. O mundo acabou de acabar no filme e nunca vi pessoas tão vivas, mas só duas. A cena final, a música linda, linda (This Guy´s In Love With You- Herb Alpert) que toca em seguida, nos letreiros, me enche o peito de uma espécie de angústia, daquela saudade do que não vivi. Impressionante, como em certos momentos, seja para o bem ou para o mal, alguns filmes mexem tanto com a gente. Para compensar o mal estar gerado por “Cosmópolis”, um pesadelo de duas horas.  Eu saí do cinema com a sensação gostosa de que a vida vale a pena, nem que seja só por aquele momento singelo, aquela ultima cena. Duas pessoas, o amor (coisa mais cafona, ainda existe isso?), tomando conta de tudo, e aquele sonhado conforto, que não se abala nem pelo eminente fim do mundo. Não existe mundo, existem dois rostos se entreolhando, existe o amor no ar. Pra que mais? Como você gostaria de passar seus últimos momentos? Eu queria daquele jeitinho. Dois ursinhos, de pelúcia? Não. Apenas Dodge e Penny sorrindo, se bastando.
“Quero injetar heroína e escutar Radiohead” diz um dos personagens em meio uma das várias festas, regadas a excessos. Já que tudo vai acabar mesmo, para que pudor? Enquanto uns resolvem abusar através das orgias, dos vícios e outras loucuras, vou sendo conquistado aos poucos pelos personagens de Steve Carell e Keira Knighttey, dois vizinhos que se encontram, quando falta apenas três semanas para o mundo acabar. Ela, extrovertida, depois de terminar um namoro, quer apenas encontrar sua família antes da morte, e ele introvertido, abandonado pela esposa, deseja encontrar uma ex-namorada dos tempos de colégio.  O fim do mundo é apenas uma consequência da vida para eles, e o importante mesmo é ir atrás do que realmente interessa, no tempo que é possível. Ir atrás daquele momento único, que não tem preço, a procura até o fim daquele afeto sonhado.
Talvez o filme não tenha agradado a muitos, justamente naquilo que ele mais me agradou, o fim é apenas um meio, e tratado como pano de fundo, para o encontro daquelas duas almas tão distantes, mas que pelo destino fatal, acabam se juntando, se encontrando um no outro. A tragédia é para os outros. E a coisa nunca vira um melodrama meloso, tudo é mostrado de forma despretensiosa, mesmo em outras cenas lindas, como quando o jornalista encerra as transmissões na tv e diz que vai passar os últimos momentos com a família, ou mesmo na cena linda em que Dodge se despede de Penny e coloca sua gaita de estimação no seu colo. Também a serenidade das pessoas na praia em comunhão celebrando o que viveram e com os quais estavam, ao invés do desespero, uma ode a natureza tão bela. Pequenos trechos de afeto, que se encontram esquecidos num mundo de banalidades, onde os valores se perderam. Não nos reconhecemos mais? Deus não nos reconhece mais?
Em todo o caminho dos dois, Penny segue carregando seus vinis de estimação, fazendo eu me lembrar da burrada que fiz, me desfazendo dos meus há muito tempo atrás, me fez lembrar o quanto era delicioso sentir e vivenciar aquele bonachão nas mãos. A nova geração não sabe o quanto isto era bom, deu para relembrar as várias vezes em que, assim como Dodge, eu me deitava no chão com aquele vinil encostado no peito a sonhar  ou a sofrer por um novo/velho amor não correspondido. A trilha sonora, recheada de canções de amor dos anos sessenta e setenta é um personagem à parte, é tão boa, que já vale o filme.
De mulherzinha? Não, de jeito nenhum. Apenas uma lembrança de que uma mão na mão é mais, muito mais do que a fúria louca das orbes ocas e modernas. Talvez eu não tenha sido feito para estes tempo. Talvez um pouco sensível. Só sei que adorei o filme e recomendo. Sonhando com aquele olhar da Penny da cena final, muito diferente do olhar de Kirsten Dunst no outro filme "Melancolia" em que a temática também se faz em torno do eminente fim do mundo. Mas aí já é um filme bem maior em todos os sentidos. Entre o fim dos mundos de ambos, prefiro o mais singelo, e de preferencia, ao som de um vinil antigo.

21 de agosto de 2012

A Beira do Caminho – Breno Silveira


“Canções usavam formas simples pra falar de amor”.
Foi num tempo não muito remoto, na década de setenta, que o próprio Rei evocou sábias palavras para defender suas canções. Quem dera as coisas continuassem assim. Quem dera fosse assim também no cinema, não por acaso, Breno Silveira usa e abusa das canções dele, para tentar fazer um cinema (graças a Deus) simples e que fale diretamente ao coração das pessoas. O filme é dedicado ao Rei e nas canções dele é que foi inspirado o roteiro. Cinema tem que emocionar, por vezes fazer chorar, é o que diz o diretor. Assino embaixo. Difícil tirar da cabeça aquelas músicas, difícil não se emocionar com história tão humana e pulsante. Quando o filme termina com a canção “O Portão” tocando para os poucos corações que estavam presentes na sessão, escuto um choro sentido atrás de mim, me levanto e vejo um baita negão imenso chorando sem vergonha nenhuma. Que bom!
O que me entristece é ver que o filme não esta tendo a acolhida que merece e fico me perguntando o porquê disso. Se fosse nos anos setenta ou oitenta, as salas estariam lotadas. As pessoas ainda sofriam e acreditavam no amor, na fossa, na dor do amor, na saudade. Afinal, realmente é uma história de amor, de dor, como nas antigas e boas canções. Será que o público se desacostumou com o simples, e só quer saber de anabolizados e enlatados filmes estrangeiros, ou comédias rasas nacionais?
 Penso que os tchú-tchá e os “Aí Se Eu Te Pego” da vida, estão lobotizando as cabeças comuns. Não se ama, só se curte; não namora, apenas fica; não se faz amor, trepa. Não há tempo para a mão na mão, a troca de olhares. Vamos logo, meu camarada, a fila anda, e já tem outra festa pra ir, outro bailão, pancadão, outras bocas ocas pra beijar. Tudo rápido e sem sentimento. Não fui feito para estes tempos...
“Em toda esta saudade que ficou/ Tanta coisa já mudou/ Só eu não te esqueci”. Um bom exemplo para saber se vai se gostar do filme ou não, é só escutar “A Distância” antes do filme, que por sinal é a primeira a tocar no filme, dentre várias do Rei, pois talvez seja (a meu ver) a música síntese do João (João Miguel), na sua angustiante vida solitária pelas estradas do Brasil a carregar cargas no caminhão e cargas maiores ainda no coração cheio de culpas, mágoas e saudades. Depois de perder sua amada e se sentir culpado por isso, saí pela estrada da vida, fugindo inutilmente, das boas e más lembranças, que o cercam. Quanto mais  fora, mais dentro. Só as lembranças, a estrada e as garrafas lhe fazem companhia. Até que um anjo torto, em forma de guri, entra literalmente em sua caçamba de caminhão. Um garoto que acaba de perder a mãe, e que quer carona para chegar a São Paulo. Pensa ir atrás do pai, que nem conhece. Acontece, obviamente, o encontro no desencontro, entre os dois. E o afeto nasce entre eles, principalmente através dos silêncios. O garoto chamado Duda, vai aos poucos quebrando a barreira que João criou dentro de si, e assim ficamos sabendo aos poucos o porquê de tanta mágoa, até que ele decide ir atrás do que passou anos fugindo.
Talvez, num primeiro momento, o personagem de João Miguel seja de difícil empatia, e este seja um dos entraves do filme, pois o tempo todo ele está mal-humorado, fechado em si, se achando um covarde. “Nós somos tão modernos/ Só não somos sinceros/ Nos escondemos mais e mais...” Já dizia um outro poeta.
Independente do sucesso (Dois Filhos de Francisco) que o filme faça, ou não (Era Uma Vez...). É mais uma bola dentro do talentoso Breno Silveira. E olha que daqui a pouco tem o já aguardado Gonzagão.
Digno de uma música de Roberto. Seja para se escutar, ou para se ver e rever, com o coração e não com a razão

15 de agosto de 2012

Este é o Meu Lugar – Paolo Sorrentino




“Tem alguma coisa errada aqui. Não sei o que é mais tem.” Esta frase repetida por Cheyenne (Sean Penn) diversas vezes no filme, reflete mais ou menos minha situação com o cinema (ou será com a vida?) de um modo geral. Acompanho alguns filmes, leio as críticas, comentários de pessoas que admiro e minha vontade é soprar ironicamente (como Cheyanne) a franja que não tenho. Ao contrário dele, o tempo foi me roubando as madeixas adoradas, sobrando apenas muita testa e tristeza.
Veja o caso do tal do Batman, que li não só em um lugar, que era a trilogia fantástica do cinema, o maior filme do mundo, até chegaram a comparar (Deus meu!) com a trilogia do  Poderoso Chefão. Sopro a franja de novo. Parece que estão trocando anabolizante, silicone e bunda grande por inteligência. Boa essa, tirando Heath Ledger como "Coringa" (fantástico) no segundo filme, toda essa parafernália chamada Batman me lembra de anabolizante. Será que estou entorpecido de depressão ao simplesmente tédio com relação ao cinema de modo geral (ou a vida?). Um risinho pequeno, igual de Cheyenne, é o que eu consigo exprimir em meio à risadaria toda que há por aí. Será que não estou sentindo nada?
 Mesmo este filme não me tocou na hora, mas agora cresce na minha memória. Que bom. Confesso que chorei, dentro do bar, vendo as meninas do vôlei receber a medalha. Que bom. Queria chorar mais, muito mais, fazer cachoeira de lágrimas, mas apenas o risinho de Cheyenne, no máximo. A vida é tão bela, tão forte, tão tediosa, tão ingrata , tão... Não é nada disso, sou só eu andando pela estrada errada novamente e sempre, procurando aquela ponta de partida, ou chegada onde me encontrar, e o espelho refletindo apenas o passado cheio de coisa tão lindas aguardadas para mim.Os amigos tentam me dar a mão, não consigo alcança-las. Como diz Cheyanne para a neta do carrasco de seu pai: “A vida consiste em ter planos para o futuro no inicio e viver apenas com o que temos depois”. Acho que era assim. Bonito de assistir, singela narrativa. Como na cena em que ele conversa com o mal-encarado tatuado e este fala sobre a coisa mais nobre da vida: generosidade.
Várias cenas lindas e o personagem vivido por Sean Penn (baita ator) nos conquistando pouco a pouco. Chega uma hora que nem seu visual causa estranheza. Nada de anabolizantes, apenas a estranheza da vida sendo colocada à mostra pelas estradas americanas.  Esta estrada me agradou bem mais do que a outra. Cheyenne acha que esta indo atrás do nazista para terminar uma procura obsessiva do pai, mas está atrás é de si mesmo. Atrás dos trinta anos que o separaram de sua essência, de seu pai, de seu país. Quanta coisa poderia ter sido e não foi. Não há mais tempo, o tempo já foi perdido. Quanta amargura mostrada apenas no olhar. Sorte de Cheyenne ter Jane (Frances MaDormand), sua esposa que o espera na Irlanda, onde mora e vive da renda de ações, depois de ser um astro de rock no passado. Percebemos que Jane (bombeira) conseguiu apaziguar as chamas depressivas dele.
Mas que bom poder perceber as buscas necessárias, e se tornar melhor com isso. Às vezes as coisas são tão simples, mas as complicamos por demais. Um só caminho em meio a tantos. Quem nunca esteve perdido numa encruzilhada da vida, e o pior e que às vezes aparecem não só uma, mas várias. Sorte de Cheyenne ter encontrado Jane, pelo menos isso. Não encontrei minha Jane. Acho que vou sair gritando feito o Tarzan, mas sou apenas o Beto. E lá me vou, escutar mais um daqueles rocks depressivos dos anos oitenta. Onde estão meus tamborins?

17 de julho de 2012

E aí... Comeu – José Joffoly


Pensei várias vezes antes de escrever sobre este filme, afinal de contas, pelo que tenho lido só se fala coisas ruins sobre ele, e eu não gostaria de cair na mesma vala comum. Afinal, a premissa é muito boa, que é a história de três amigos que se encontram quase que diariamente para bebericar e conversar – e olha que disso eu entendo - sobre seus problemas e principalmente sobre mulheres nestes novos tempos. Quando vi o trailer me animei, pois com uma bela sacada arrumaram a música certa como tema: “Sou Uma Criança não Entendo Nada” do Tremendão. Grande música, que delineia (para o bem) o arquétipo daqueles três homens meninões. Já havia assistido à peça no qual se baseou o filme, só que lá eram Felipe Camargo, Tato Gabus e Marcos Winter que atuavam. Grande peça, despretensiosa, e com um texto espirituoso.
Mas infelizmente, não se pegou o melhor da peça, e tudo ficou muito raso. Os diálogos dos três no bar deveria ser o mote do filme, mas tudo é muito raso, e não se chega a lugar algum. Pior mesmo, são os relacionamentos deles com suas respectivas mulheres. Tudo muito mal arrumado, em especial, o relacionamento do personagem de Bruno Mazzeo ( o filme melhoria muito com outro ator menos caricato) com a lindíssima ninfeta vivida por Laura Neiva, que não convence em nenhum momento. A cena de sexo entre os dois e tão fraquinha que chega a ser constrangedora. 
Mas o filme conseguiu a proeza de passar da marca do milhão de espectadores, e isso não deixa de ser bom (talvez fosse esse o intuito, não é mesmo?), apesar de vender a propaganda enganosa de que é engraçado, pois não é. Será que estou exigindo muito, ou o público que exige pouco? Não sei, mas que este filme poderia ser muito mais, isso poderia. Afinal, não só eu, mas muitos dos que conheço, quarentões como eu, vivem neste dilema moderno da eterna adolescência e isso poderia ser discutido com um pouco mais de esmero. A eterna pose entre os amigos de comilão, mas na verdade a insegurança a reinar, com a independência das mulheres e estes novos tempos. Mas daí seria outro filme, mas centrado na peça de Marcelo Rubens, e certamente não chegaria ao milhão. E olha que ao contrário de todos, até que gostei do outro filme do diretor ”Muita Calma Nesta Hora”, pois naquilo que lá ele se propôs a mostrar (praia, paqueras e adolescentes) até que conseguiu tirar certa graça da coisa toda. Mas neste filme, em vez de se passar um tema despretensioso, ficou tudo muito raso.
Certo esta o personagem de Seu Jorge, que no filme rouba a cena sempre que aparece, como na cena depois dos créditos finais, em que canta e encanta a morena com seu violãozinho malandro. Junto com o título, que é um achado e a música tema do Erasmo, acaba sendo pouco, muito pouco.

4 de julho de 2012

A Febre do Rato – Claudio Assis


Lembro de uma cena inesquecível no filme “Crime Delicado” de Beto Blant. A cena se passa em um boteco fuleiro da Vila Madalena, que por acaso conheço. Vemos um homem visivelmente bêbado discutindo com sua amada. Enquanto o personagem de Marco Ricca apenas observa os dois, fato contínuo no filme. Este bêbado, personificado por Claudio Assis, percebe que é observado e chama a atenção do observador, que pare de ficar olhando e vá viver, vá amar, vá se derramar por outros cantos. Grita, gesticula, que ama demais, que sofre demais e que tudo em sua vida é intenso demais. Ali esta Claudio Assis, praticamente fazendo um personagem de si mesmo. Sempre que assisto qualquer um de seus filmes, aquela cena volta a minha mente, pois acaba sintetizando toda a obra deste diretor pulsante, goste-se ou não de sua obra.
Neste seu terceiro filme não poderia ser diferente, lá esta ele novamente sendo desta vez, personificado pelo excelente Irhandir Santos, que faz às vezes de poeta anarquista, soltando sua verborragia pelas ruas feias de Recife. Um cartão postal ao contrário, em meio ao Rio Capibaribe, e as favelas e ratos que habitam suas margens. Recife, como numa ótima piada contada no filme, é uma espécie de ante-sala do inferno.
 Claudio Assis não quer passar impune, seus filmes podem ter todos os defeitos, mas ninguém saí ileso a experiência de um filme seu. Ou se gosta ou se odeia. Mas passa-se longe destes filmes de padrão Globo de qualidade. Ele quer radicalizar, bater na cabeça, nas sensações inodoras dos politicamente corretos. A liberdade da palavra não.
O poeta Zizo vive de seus fanzines, entre seus amigos, sendo seu melhor amigo, um coveiro vivido por Matheus Nasterghelle, que é casado com uma travesti, e suas velhas gordas amantes, até mesmo a própria mãe (não esqueçam que ele quer chocar) servem de válvula para sua mente inquieta. É no calor de seus suores na quente Recife que ele encontra inspiração para suas belas poesias. Tudo exala sexo e calor. Até que conhece Eneida, uma jovem estudante, vivida por Nanda Costa, que diz não a suas investidas. O poeta se apaixona e tudo muda com esta nova perspectiva. A liberdade e a anarquia é procurada o tempo todo, a todo custo. A um certo momento, percebemos que Eneida também quer o poeta, mas a perspectiva do não acaba sendo mais forte. O não para dizer sim, quando vemos na bela/ feia  cena da mijada, ou quando ela se masturba lendo o poema dedicado a ela.
Talvez, o problema do filme seja seu maior mérito. São tantos poemas lindos, que eles acabam se perdendo pela grande quantidade declamada. O pecado pelo excesso. Mas não é isso o que Claudio Assis quer? O excesso. Diz o diretor, que seus filmes não são brutos ou ásperos, são as pessoas que estão acostumadas só com a novela das oito. Goste-se ou não, vale a pena conferir.

25 de junho de 2012

Violeta Foi Para o Céu – Andrès Wood



Forte, Instável, talentosa, melancólica e triste, muito triste. Impossível conseguir em uma palavra decifrar a força desta mulher tão talentosa. A Piaf do Chile, a dama derrotada, defensora do cancioneiro e da cultura popular chilena.

Sempre fiquei de conhecer um pouco mais de sua obra, graças as versões antológicas de Milton Nascimento e Mercedes Sosa para “Volver a Los Diecisiete” e “Gracias a La Vida” de Elis Regina. Se só por estas duas obras-primas, eu achava sua obra extremamente forte. Esta é uma ótima oportunidade neste precioso filme, dirigido por Andres Wood, do ótimo Machuca  para comprovar o talento desta artista.

Numa cinebiografia não linear, conhecemos uma mulher que sangrou através de sua obra. Mais do que a artista genial, o que vemos é a história de uma mulher que trás em si o peso do mundo nas costas. Mesmo em seus momentos alegres, a tristeza é sua companheira fiel, sua sombra que lhe trás o dom de belas e tristes canções. É impressionante como em certas pessoas a tristeza se acentua e segue dando o dom de uma vida nada fácil. Violeta sangrou até se matar com um tiro. Matou-se por amor e desamor, por um conjunto de derrotas vividas. Não aguentou o peso do mundo, mesmo que o traduzisse através de suas músicas e obras plásticas que chegaram a ser expostas no Louvre de Paris. Sua pátria e seu povo, que ela tanto amava e declamava em suas letras fortes, não reconheceram sua genialidade.

Como em toda a biografia, o ator que interpreta o biografado é que da o tom, e realmente impressiona a entrega de Francisca Gavilan como Violeta, entre a fragilidade e a agressividade, mostrando não um ídolo a se por num pedestal, mais acima de tudo, uma mulher intensa. A semelhança não é só física, como vocal, ela também interpreta com maestria todas as canções do filme.

A intensidade artística de Violeta dá o tom para o filme, e as canções são uma melhor do que a outra. Uma cena chama a atenção, é quando já no final do filme ela se vê abandonada pelo segundo marido – o gavião que machuca a galinha - e seu local de shows se vê inundado pelas chuvas, ela canta uma música tão forte, que dificilmente não doí nas pessoas que assistem. Sangra.

Um filme para se ver e rever. Para corações fortes. Para quem entende que a tristeza existe e que a vida não é uma cena de  – felizmente ou infelizmente - comercial de margarina. Um belíssimo filme, até agora a grande surpresa do ano, que veio lá do Chile.

Cantora, artista plástica, poetisa, patriota, comunista, mãe e mulher. Todas dentro de uma só, que tem uma obra e vida intensa, que precisa ser mais bem  apreciada, não só no seu próprio país, mas pelo mundo inteiro.

 Gracias, Violeta.

Violeta Foi Para o Céu – Andrès Wood


 

9 de maio de 2012

Paraísos Artificiais – Marco Dutra



-Vá numa Rave, mas não me chame!
Tem certas coisas que não consigo aguentar, e não importa se com isso estou sendo velho, burro ou antiquado. Eu me imaginar numa festa destas com aquele “putz-putz”  por mais de cinco minutos no meu ouvido, me parece até pior do que um “Segura peão!” interminável. Odeio música eletrônica. Aquela historinha de que tal dj vai tocar em tal lugar, faz-me rir. Ou seja mesmo uma hora, escutando aqueles tais funks cariocas (funk para mim é outra coisa) é impensável. Não é questão de ser velho, é questão de bom senso. E nem me venham dizer que funk carioca é a personificação dos morros, é a voz do povo e tal. É sim a mistura de grosseria, ignorância e vulgaridade, enfim...
Mas o cinema acaba abrindo portas para você conhecer coisas que por vezes, por si só, você não abriria ou conheceria. Quando vi o trailer deste filme, sua temática e atores. Achei que iria passar longe, muito longe da sala de cinema. Mas lendo um negócio a respeito aqui, outro ali, acabei achando que deveria assistir ao filme, o que acabou se revelando uma boa surpresa. É bom quando você não espera nada e saí surpreendido.
Gostei do filme, precisava mesmo de um filme que retratasse este mundo. Achei bem conduzido e me fez conhecer um pouco deste lado do mundo da música eletrônica, dos jovens que curtem estas baladas e tal. Aquela história de drogas sintéticas, eu já imaginava que era aquilo tudo mesmo. Eu ainda sou do tempo dos baseadinhos. Mas na verdade a história sempre se repete, só mudam os estilos, não é? Ou seja, jovens a procura de rumo na vida, querendo abraçar com toda a volúpia e vontade o mundo. Experimentar sem medo, com intensidade. Mas é claro que como antes ou hoje, tudo tem seu preço, basta saber se queremos pagar o que a coisa toda pode pedir. Toda a história do filme, é permeada pelas drogas, e todos de um modo geral, acabam perdendo muito pelo envolvimento com as mesmas. Mas o legal do filme, que mesmo assim ele não quer passar nenhum tipo de lição de moral.
O tempo no filme se  passe em três períodos distintos, cada um tendo como pano de fundo uma cidade (Rio, Amsterdã e Litoral Pernambucano) diferente. É a história do envolvimento de Erika (Nathalia Dill) e Nando (Luca Bianchi) e o que acontece com eles em cada tempo e cidade. As idas e vindas no tempo são muito bem editadas no filme e serve para deixa-lo agradável de assistir, apesar da insistente música eletrônica, mas até aí tem quem goste. O ponto alto é a presença marcante de Nathalia Dill, que destoa com sua beleza e talento de um grupo irregular de atores. E, deus meu, que seios!

4 de maio de 2012

Raul- O Inicio o Fim e o Meio – Walter Carvalho



Assistir a este filme me fez lembrar a minha relação com Raul, com meu pai, da minha infância já distante e como tudo se confunde na minha cabeça.
Desconfiado, fui a casa daquele que seria meu padrasto e o grande homem de minha vida. Ele queria me agradar, me conquistar, pois era eu, o filho de sua futura mulher, e eu moleque de tudo, só estava acostumado a escutar os discos do Roberto Carlos e no máximo, trilhas de novela. Mas eis que ele me surge com sua coleção de bolachões do Raul, e com um disco novinho em folha com o dizer “censurado”, era  o rock das aranhas que acabará de sair.” Fecha a porta, abre a porta, abre-te sésamo”, literalmente. Hoje, arrependido é claro, só guardo da minha vasta coleção de discos que um dia eu tive, aqueles mesmos vinis, tesouros afetivos que herdei, maltratados pelo uso contínuo de um moleque querendo descobrir o mundo com suas metamorfoses. Um belo dia, adolescente de tudo, época  “DaLata”, eu já espinhudo, sou chamado no quarto por este mesmo pai, que encontrará, num casaco que achei ser meu, mas na verdade era dele, um presentinho que havia ganho de um amigo. “É sempre a mesma batalha por um cigarro de palha/Navio de cruzar deserto”. Conversa difícil, onde fiquei por um bom tempo versando ditos e letras de Raul, para me explicar, mas no final com a promessa de não aparecer mais com “aquilo” em casa e na minha vida, acabei convencendo ele (será?) que ele até que era o culpado (veja só), pois tinha me apresentado o tal “Maluco Beleza” com suas filosofias hippies alternativas, que aquilo era contestador e tal e coisa. Balela que ele fingiu acreditar e eu fingi que tinha razão. Outros tempos, outras formas de ver as coisas. Mas algo inesquecível, pois foi uma de nossas conversas mais interessantes.

Tempos depois, me vejo na casa de shows Olímpia, onde Raul Seixas, juntamente com Marcelo Nova, fez aquele que seria seu último show em São Paulo. Casa lotada de “adoradores” que a cada gemido emitido por Raul entravam em delírio, mas eu que fiquei bem próximo ao palco, fiquei foi muito triste, por ver de perto aquele declínio de homem totalmente inchado pela bebida e pela vida que se esvaía a olho nu. Raul não cantava, só balbuciava palavras, enquanto Marcelo Nova segurava as pontas como podia, com sincera admiração e respeito pelo “mestre” que dividia o palco com ele. Alias, sou da turma que acha que Marcelo Nova, fez bem ao Raul,  ele não quis se aproveitar, mas sim ajudar Raul a ter uma sobrevida, conseguida com aquele disco “Panela do Diabo” e turnê em conjunto. Ganhou com isso, é claro que sim, mas a impressão que tive foi de quem mais ganhou foi o próprio Raúl que estava encostado, esquecido e sem contrato com gravadora alguma, já quase morto, isso é fato. Algum tempo depois, tive mais um “encontro” com Raul Seixas, coisa de dias antes de sua morte, estava eu e mais um amigo - acho que era o Cássio - subindo a Rua Augusta, quando paramos na lanchonete Aldeia (reformada, existe até hoje) e lá estava aquele trapo de gente encostado tomando seu uísque, quase não reconheci, mas nem quis ficar olhando, pois aquele não era, nem de longe o “Moleque Maravilhoso”. Dias depois que ele morreu, fiquei sabendo que de fato ele sempre estava naquele bar, pois morava na Rua Frei Caneca, bem próximo aquele local. Onde morreu inchado, sem fãs e sozinho.
Portanto, é difícil falar sobre este filme, que por trazer imagens inéditas e se dedicar a homenagear “Rauzito” já ganha todos os méritos possíveis. Mas algumas coisas no filme chamam a atenção por mal ou por bem. Surpresa boa foi o “arroz de festa” Caetano Veloso, prestar uma bela homenagem declarando “Ouro de Tolo”. Ou mesmo a bem humorada entrevista de Paulo Coelho. Acho que deveriam dar mais atenção ao outro grande parceiro Claudio Roberto ( na foto acima com Raul), pois se percebe claramente que continua sendo o “Maluco Beleza” que escreveu a letra de outro clássico. Por outro lado, a cenas dispensáveis, como a empregada sobe ao apartamento em que Raul morreu, ela falando que nunca tinha visto ele bêbado, chega até a ser engraçado. Como dizia Raúl: Quando acabar o maluco sou eu! Faltou também um musical inteiro com ele em plena forma, Walter Carvalho não deixa uma música sequer tocar inteira, privilegiando o tempo todo os depoimentos, uma pena.
Conheço muita gente que torce o nariz para ele, e chega a gemer de raiva, quando em algum lugar, seja bar, praia ou praça escuta: Toca Raul! Mas mesmo estes, se derem oportunidade a si mesmos, de assistirem a este documentário, darão conta da genialidade que havia por trás daquele homem indecifrável. Uma verdadeira metamorfose ambulante, sempre a caminho do caos, do amor e da dor, enquanto esperava pelo trem das sete horas, o último do sertão.
Com carinho, de mais um Cachorro Urubu.

21 de abril de 2012

Um Método Perigoso - David Cronenberg



Logo a primeira cena do filme me faz divagar e imaginar outras cenas. Isso acontece porque uma paciente aparentemente maluca chega em uma clinica, ela é Sabina (Keira Knightley) que é prontamente atendida por Jung (Michael Fassbender,  de novo) que procura novos métodos para tratar pessoas com problemas, digamos, mentais. Ela urra , se contorse, grita. Quando começa a falar, se percebe que seu interior, suas dores, são tão disformes quantos aqueles espasmos corporais. Penso que aqueles exagerados movimentos são uma forma de botar a dor mental para fora, se extravasar. Logo imagino se todos fizessem a mesma coisa que ela, e começássemos um  dia a botar pra fora corporalmente nossas angústias, nossas dores. Já pensou se - imagino a cena -  um belo dia as pessoas começassem de uma hora para outra, a se expressar, mesmo que sem querer, pondo suas “coisas” pra fora. Meio-dia na Av. Paulista, homens engravatados, mulheres em seus vestidos, se contorcendo, gritando, urrando e alguns outros felizes e calmos ( muito poucos , é obvio), tentando arrumar aquela situação sem solução. Será que voltaríamos para a época das cavernas?  Ou toda a gritaria e caos seriam precedidos depois de um tempo por uma calma e serenidade que chegaria aos poucos juntamente com uma sensação de paz e leveza interior? Não sei não, mas acho que guardamos muito lixo existencial dentro de nós, isto é obvio, e temos que arrumar um modo de botar toda esta carga negativa pra fora. Daí nasceu a psicanalise, num processo lento e gradual.
 O grande Cronenbeng genialmente tenta com este filme nos mostrar um fragmento do que homens como Freud (Viggo Mortensen) e Jung iniciaram no começo do século vinte. A psicanalise e seus primeiros embates, já que no começo ambos se juntaram para depois discordarem dos métodos um do outro. O grande feito de Cronenberg neste filme é não tentar em nenhum momento decifrar a psicanalise, e sim mostrar habilmente como foi o relacionamento dos dois gênios da matéria, e a influencia de Sabina na carreira de ambos, pois como é sabido, ela surgiu como paciente e depois se tornou uma brilhante psicóloga até morrer absurdamente junto com as duas filhas num campo de concentração nazista.
“Somos judeus, nunca confie em um alemão” diz Freud certa hora para Sabina, que aquela altura era amante do alemão Jung, isto antes até da primeira guerra mundial,  Freud parecia prever o que futuramente iria acontecer a judeus como ele, que pelo menos conseguiu fugir de Viena, feita não conseguido por Sabina.
A caracterização de Viggo Mortensen como Freud é um caso à parte, em sua terceira parceria com Cronenberg, o ator esta soberbo, é até uma pena que entre os três seja o que menos aparece, pois dá vontade de assistir mais cenas com ele.
Dizem que Cronenberg esta mais contido nos seus últimos filmes, afinal não vemos mais homens se transformarem em moscas, crânios estourarem e outras estranhezas tão características na obra ímpar deste diretor, mas discordo totalmente, ele só esta mais sutil. Afinal de contas não é terrivelmente maravilhoso e até mais absurdo ainda quando uma mulher goza em pleno vestido por ver um casaco ser batido para se tirar o pó dele, ou mesmo sentir prazer sexual ao apanhar do pai como acontece com Sabine?
 As pessoas são uns lindos problemas. E Cronenberg explora cada vez melhor as estranhezas humanas na sua obra que cada vez fica melhor. Sorte a nossa, quem gosta de cinema adulto agradece.

20 de abril de 2012

Shame - Steve McQueen



Alguma coisa está errada, muito errada. Saiu do cinema com uma sensação esquisita, noite de domingo é um porre, última sessão e apesar do calor intenso do lado de fora do carro, é frio na minha alma. Faz tempo que não escrevo no blog, nem mesmo sei ao certo dizer o porquê do recesso, como tantas outras coisas que sei menos ainda, e essa sensação ruim no peito. Queria escrever coisas alegres, depois de tanto tempo. Dizer, escrever, gritar que a vida é boa! Mas é que de fato este filme me causou um desconforto muito grande. Inadequação, esta deve ser a palavra. Inadequação dos personagens, inadequação minha para com a vida. Será? É nisso que nos ligamos eu, Brandon (Michael Fassbender) e Sissy (Carey Mulligan). Cada um a seu modo, desafinando o coral dos contentes. Mas me desculpem, tenho esta mania de me personificar no drama.
O que acontece com certas pessoas que tem tudo (bom trabalho, casa, beleza e conforto) para se enquadrar e viver de acordo com os ditames sociais, mas não consegue? Michael só consegue se perfazer no jorro da sua porra, seu vício é o sexo, sem carinho, sem afeto, como num filme gonzo terrível de sexo explicito. Alias, quem conseguiria assistir um filminho desses e ao mesmo tempo se alimentar de  um delicioso almoço ou jantar, hein? Sua vida consiste em se acabar e se consumir através do sexo, seja com uma garota abordada na rua , seja na punheta no banheiro do serviço, ou seja, com a garota de programa a domicilio, tudo é uma consumação desmedida de si mesmo, através do sexo, que como vemos no decorrer do filme, nem chega a ser mais um prazer, mas sim uma compulsão, o prazer que virou dor. A banalização do sexo fácil nestes tempos modernos. O que era para ser lúdico e inesquecível vira esmola vulgar de um corpo qualquer. Na única vez que vemos tentar se relacionar - em duas cenas memoráveis- com uma colega de trabalho, sua libido se esconde. Afeto e sexo não se misturam em sua vida.
Eis que um dia surge sua irmã querendo conviver com Michael, querendo conquista-lo, e tenta invadir seu espaço. Interessante notar, que ambos nos são apresentados nus, cada qual a seu tempo, e cada nudez tem sua forma de se interpretar, a dele é viril e a dela é a fragilidade. Talvez seja o personagem dela, o que mais me fascina. Ela é o contrário do irmão, pois é dependente de afeto, de carinho. Ele é só sexo, ela é carência levada às últimas consequências. É uma daquelas pessoas que necessitam o tempo todo de atenção e mimo, que não conseguem de maneira nenhuma aguentar a solidão. Seu personagem – para mim- é mais comum e fácil de se encontrar por aí. Eu mesmo tenho uma amiga mais velha e que não vejo há tempos que é assim, não consegue ficar só, e quando fica se apaixona (mesmo!) pela primeira pessoa que ela julga disponível e vai à luta. Lembro de uma vez que ela tentou se matar depois de um dos muitos abandonos que sofreu, eu era muito jovem e não conseguia entender aquilo, aquela história de pílulas, aquelas crises. Mas de certa forma, acho que até senti um pouco de inveja deste jeito de ser, de se jogar para a vida, eu mesmo fui pedido (desesperadamente) em namoro por ela, tudo muito louco. É a solidão destas cidades grandes, que levam as pessoas aos estremos que são capazes. Parece que esta tudo certo, mas não esta, são apenas sorrisos amarelos de aparente sucesso.
O embate entre os irmãos é frequente, só em um momento eles parecem se encontrar que é quando Sissy se apresenta numa boate e canta “New York, New York” de uma forma tão singular que lágrimas do homem – e de quem assiste ao filme - sem alma brotam quase sem querer. A cena por si só já vale o filme e deve ser uma das cenas do ano. Imagine “Aquarela do Brasil” ou mesmo “O Que é, o Que é” viradas do avesso, aquelas palavras ufanistas, alegres a serviço da tristeza, da inadequação, da derrota. Um achado poético.
Depois do filme desço a baixo Augusta, pensando nos dois personagens tão fascinantes e me questionando o porquê de me perturbarem tanto. Olho a rua e me lembro de que até algum tempo atrás a Rua Augusta era povoada de prostitutas e me pergunto aonde elas foram parar? Preferia a Augusta de antigamente, me parecia mais real. Agora a rua está tomada de jovens, bem jovens, meninos e menininhas moderninhas que não me agradam, assim como sei que eu não as agradaria. Volta pra casa escandalosamente só, sem o sexo que Brandon tanto precisa e sem o cafuné que Sissy tanto precisa. Ou será que sou eu que preciso?  

15 de fevereiro de 2012

Os Melhores de 2011

Melhores Filmes do Ano de 2011

1 - Além da Vida - Clint Eastwood




3- Namorados Para Sempre - Derek Cianfrace
4- Contra Corrente - Javier Fuentes
5 - O Palhaço - Selton Mello
6 - O Vencedor - David D. Russel

7 - Trabalhar Cansa - Juliana Rojas e Marco Dutra

8 - Tudo Pelo Poder - George Clooney

9 - As Canções - Eduardo Coutinho

10 - Meia Noite em Paris - Wood Allen

Melhor Direção

1 - Pedro Almodovar - A Pele Que Habito
2 - Clint Eastwood - Além da Vida
3 - David d. Russel - O Vencedor
4 - Manoel de Oliveira - Singularidades de Uma Rapariga Loira
5 -Javier Fuentes - Contra Corrente

Melhor Ator
1 - Ryan Gosling - Namorados Para Sempre
2 - Ryan Gosling - Tudo Pelo Poder
3 - Mark Walberg - O vencedor
4 - Michael Fassbinder - X - Men
5 - Wagner Moura - O Homem do Futuro

Melhor Atriz
1 -  Michelle Williams - Namorados Para Sempre
2 - Helen Mirren - A Última Estação
3 - Pilar Lopez de Ayala - Medianeiras
4 - Kirsten Dunst - Melancolia
5 - Helena Albergaria - Trabalhar Cansa

Melhor Ator Coadjuvante



1- Cristian Balle - O Vencedor
2 - Philip Seymour Hoffman - Tudo Pelo Poder
3 - Geoffrey Rush - O Discurso do Rei
4 - Paulo José - O Palhaço
5 - George Clonney - Tudo Pelo Poder

Melhor Atriz Coadjuvante
1 - Amy Addams - O Vencedor
2 - Elle Fanning - Super 8
3 - Melissa Léo - O Vencedor
4 - Mila Kunis - Cisne Negro
5 - Cassia Kiss - Broder

Melhor Elenco

1 - O Vencedor
2 - O Palhaço
3 - Tudo Pelo Poder
4 - Meia Noite em Paris
5 - X-Men Primeira Classe

Pior Filme
1 - Qualquer Gato Vira Lata - Tomas Portella
2 - A Alegria - Felipe Bragança e Marina Meliande
3 - Amor ? - João Jardim
4 - Não Se Pode Viver Sem Amor - Jorge Duran
5 - 180º - Eduardo Vaisman

Melhor Cena do Ano

1 - Mãe e Filho cantam Bee Gees no carro - O Vencedor
2 - O Tsunami - Além da Vida
3 - O grito do homem macaco - Trabalhar Cansa
4 - Pai e Filho se reencontram no picadeiro e se olham - O Palhaço
5 - Banho de lua nua - Melancolia

Roteiro Original

1 - Alem da Vida
2 - Contra Corrente
3 - Meia Noite em Paris
4 - Namorados Para Sempre
5 - O Vencedor

Roteiro Adaptado

1 - A Pele Que Habito
2 - Tudo Pelo Poder
3 -  Singularidades de uma Rapariga Loira
4 - A Última Estação
5 - Gainsbourg - O Homem Que Amava as Mulheres

Filme de Estréia
1 - Contra Corrente
2 -  Trabalhar Cansa
3 - Filhos de João
4 - Gainsbourg - O Homem Que Amava as Mulheres
5 - Medianeiras

Filme Nacional

1 - O Palhaço
2 -  Trabalhar Cansa
3 - As Canções
4 - Filhos de João - Admirável Mundo Novo Baiano
5 - O Homem do Futuro

Musas do Ano

1 - Pilar Lopez de Ayala - Medianeiras
2 - Amy Adams - O Vencedor
3 - Elena Anaya - A Pele Que Habito
4 - Paola Oliveira - Uma Professora Muito Maluquinha
5 - Michelle Williams - Namorados Para Sempre