Fim de ano conturbado, cheio de serviço, não tenho tido
tempo de ir ao cinema o mínimo possível que gostaria, mas dei uma escapulida e
fui conferir este novo e aguardado filme documentário. Sem surpresa nenhuma,
saiu do cinema com os olhos encharcados pela emoção e pelas lagrimas.
Muito esperto este Coutinho, pois percebeu que tanto em “Edificio
Master” naquela cena em que um senhor destila emoção de uma vida inteira
cantando “My Way”, quanto no fantástico “Jogo de Cena” quando uma senhora chora
cantando “Se Essa Rua Fosse Minha” relembrando o pai saudoso. Meio que sem
querer, fez ali um gancho para outro
filme em que uma simples música traduziria toda uma vida. Procuro em minha
memória uma música assim, mas infelizmente ainda não a tenho, ou tenho várias,
sei lá...
Com uma ideia simples e original, o diretor
mostra neste documentário, dezoito pessoas “comuns” relembrando e cantando a
música de suas vidas. Mas o talento do diretor se mostra quando ele consegue
arrancar confissões delicadas, doídas e deliciosas de pessoas aparentemente
comuns. Falo pessoas comuns, porque a sensação que tenho depois de ouvir cada
confissão é de que cada uma delas é extremamente especial, o cenário tosco de
uma cadeira e mais nada nem aparece mais, o que vale é suas feições, seus
olhos, ao falarem de suas emoções. Quanta riqueza em cada gesto, em cada olhar!
Dá vontade de abraçar um a um, e dizer sim, eu te compreendo, meu amigo, minha
amiga. “Se chorei ou se sorri/ O importante é que emoções eu vivi”. E dá-lhe Roberto Carlos! Fico imaginando o dia
em que ele for morar com outros anjos, a comoção que tomará conta deste Brasil.
Neste filme podemos perceber o quanto este homem é amado! Mas isso é outra
história.
Um amigo costuma tirar sarro de mim, dizendo que gosto de
filme de “pessoas”, e é bem verdade, portanto me deliciei com cada uma das
músicas-histórias contadas e pude perceber para meu grato espanto que as
pessoas continuam românticas e apaixonadas, afinal a maior parte das histórias
contadas falam de amores perdidos, e principalmente, de um tempo perdido. É o
tal do saudosismo que sempre me aflige, e que sempre procuro mostrar em demasia
nas minhas escritas aqui neste mesmo blog. Pois descobri que não sou o único e
que isso não tem nada demais, é até bom, mostra que estou vivo, muito vivo.
“Sempre quando eu venho aqui/Só escuto de você/ Frases tão
vazias que pretendem dizer/Que já não preciso mais seus carinhos procurar”.
Difícil escolher uma história que tenha me tocado mais, mas a mulher que canta
esta música, de forma tão sentida, que confessa que tentou matar o amante, saí
de cena e começa a chorar atrás da cortina, fez com que eu chorasse junto com
ela. É uma teia de sentimentos difícil de escapar.
Pessoas aparentemente comuns, mas riquíssimas de amor, de
sentimento. Mostradas a nós por um diretor acima da média, que está se
especializando cada vez mais em buscar, em investigar a fundo a complexidade de
sentimentos do ser humano. Coutinho mais uma vez celebra a as pessoas, celebra
a vida e procura cada vez mais entender o ser humano, e em pouco ao grande
grau, usa a tela do cinema como espelho de nós mesmo. É o cinema
brasileiro no seu apogeu. Mil vezes
viva!