21 de agosto de 2012

A Beira do Caminho – Breno Silveira


“Canções usavam formas simples pra falar de amor”.
Foi num tempo não muito remoto, na década de setenta, que o próprio Rei evocou sábias palavras para defender suas canções. Quem dera as coisas continuassem assim. Quem dera fosse assim também no cinema, não por acaso, Breno Silveira usa e abusa das canções dele, para tentar fazer um cinema (graças a Deus) simples e que fale diretamente ao coração das pessoas. O filme é dedicado ao Rei e nas canções dele é que foi inspirado o roteiro. Cinema tem que emocionar, por vezes fazer chorar, é o que diz o diretor. Assino embaixo. Difícil tirar da cabeça aquelas músicas, difícil não se emocionar com história tão humana e pulsante. Quando o filme termina com a canção “O Portão” tocando para os poucos corações que estavam presentes na sessão, escuto um choro sentido atrás de mim, me levanto e vejo um baita negão imenso chorando sem vergonha nenhuma. Que bom!
O que me entristece é ver que o filme não esta tendo a acolhida que merece e fico me perguntando o porquê disso. Se fosse nos anos setenta ou oitenta, as salas estariam lotadas. As pessoas ainda sofriam e acreditavam no amor, na fossa, na dor do amor, na saudade. Afinal, realmente é uma história de amor, de dor, como nas antigas e boas canções. Será que o público se desacostumou com o simples, e só quer saber de anabolizados e enlatados filmes estrangeiros, ou comédias rasas nacionais?
 Penso que os tchú-tchá e os “Aí Se Eu Te Pego” da vida, estão lobotizando as cabeças comuns. Não se ama, só se curte; não namora, apenas fica; não se faz amor, trepa. Não há tempo para a mão na mão, a troca de olhares. Vamos logo, meu camarada, a fila anda, e já tem outra festa pra ir, outro bailão, pancadão, outras bocas ocas pra beijar. Tudo rápido e sem sentimento. Não fui feito para estes tempos...
“Em toda esta saudade que ficou/ Tanta coisa já mudou/ Só eu não te esqueci”. Um bom exemplo para saber se vai se gostar do filme ou não, é só escutar “A Distância” antes do filme, que por sinal é a primeira a tocar no filme, dentre várias do Rei, pois talvez seja (a meu ver) a música síntese do João (João Miguel), na sua angustiante vida solitária pelas estradas do Brasil a carregar cargas no caminhão e cargas maiores ainda no coração cheio de culpas, mágoas e saudades. Depois de perder sua amada e se sentir culpado por isso, saí pela estrada da vida, fugindo inutilmente, das boas e más lembranças, que o cercam. Quanto mais  fora, mais dentro. Só as lembranças, a estrada e as garrafas lhe fazem companhia. Até que um anjo torto, em forma de guri, entra literalmente em sua caçamba de caminhão. Um garoto que acaba de perder a mãe, e que quer carona para chegar a São Paulo. Pensa ir atrás do pai, que nem conhece. Acontece, obviamente, o encontro no desencontro, entre os dois. E o afeto nasce entre eles, principalmente através dos silêncios. O garoto chamado Duda, vai aos poucos quebrando a barreira que João criou dentro de si, e assim ficamos sabendo aos poucos o porquê de tanta mágoa, até que ele decide ir atrás do que passou anos fugindo.
Talvez, num primeiro momento, o personagem de João Miguel seja de difícil empatia, e este seja um dos entraves do filme, pois o tempo todo ele está mal-humorado, fechado em si, se achando um covarde. “Nós somos tão modernos/ Só não somos sinceros/ Nos escondemos mais e mais...” Já dizia um outro poeta.
Independente do sucesso (Dois Filhos de Francisco) que o filme faça, ou não (Era Uma Vez...). É mais uma bola dentro do talentoso Breno Silveira. E olha que daqui a pouco tem o já aguardado Gonzagão.
Digno de uma música de Roberto. Seja para se escutar, ou para se ver e rever, com o coração e não com a razão

15 de agosto de 2012

Este é o Meu Lugar – Paolo Sorrentino




“Tem alguma coisa errada aqui. Não sei o que é mais tem.” Esta frase repetida por Cheyenne (Sean Penn) diversas vezes no filme, reflete mais ou menos minha situação com o cinema (ou será com a vida?) de um modo geral. Acompanho alguns filmes, leio as críticas, comentários de pessoas que admiro e minha vontade é soprar ironicamente (como Cheyanne) a franja que não tenho. Ao contrário dele, o tempo foi me roubando as madeixas adoradas, sobrando apenas muita testa e tristeza.
Veja o caso do tal do Batman, que li não só em um lugar, que era a trilogia fantástica do cinema, o maior filme do mundo, até chegaram a comparar (Deus meu!) com a trilogia do  Poderoso Chefão. Sopro a franja de novo. Parece que estão trocando anabolizante, silicone e bunda grande por inteligência. Boa essa, tirando Heath Ledger como "Coringa" (fantástico) no segundo filme, toda essa parafernália chamada Batman me lembra de anabolizante. Será que estou entorpecido de depressão ao simplesmente tédio com relação ao cinema de modo geral (ou a vida?). Um risinho pequeno, igual de Cheyenne, é o que eu consigo exprimir em meio à risadaria toda que há por aí. Será que não estou sentindo nada?
 Mesmo este filme não me tocou na hora, mas agora cresce na minha memória. Que bom. Confesso que chorei, dentro do bar, vendo as meninas do vôlei receber a medalha. Que bom. Queria chorar mais, muito mais, fazer cachoeira de lágrimas, mas apenas o risinho de Cheyenne, no máximo. A vida é tão bela, tão forte, tão tediosa, tão ingrata , tão... Não é nada disso, sou só eu andando pela estrada errada novamente e sempre, procurando aquela ponta de partida, ou chegada onde me encontrar, e o espelho refletindo apenas o passado cheio de coisa tão lindas aguardadas para mim.Os amigos tentam me dar a mão, não consigo alcança-las. Como diz Cheyanne para a neta do carrasco de seu pai: “A vida consiste em ter planos para o futuro no inicio e viver apenas com o que temos depois”. Acho que era assim. Bonito de assistir, singela narrativa. Como na cena em que ele conversa com o mal-encarado tatuado e este fala sobre a coisa mais nobre da vida: generosidade.
Várias cenas lindas e o personagem vivido por Sean Penn (baita ator) nos conquistando pouco a pouco. Chega uma hora que nem seu visual causa estranheza. Nada de anabolizantes, apenas a estranheza da vida sendo colocada à mostra pelas estradas americanas.  Esta estrada me agradou bem mais do que a outra. Cheyenne acha que esta indo atrás do nazista para terminar uma procura obsessiva do pai, mas está atrás é de si mesmo. Atrás dos trinta anos que o separaram de sua essência, de seu pai, de seu país. Quanta coisa poderia ter sido e não foi. Não há mais tempo, o tempo já foi perdido. Quanta amargura mostrada apenas no olhar. Sorte de Cheyenne ter Jane (Frances MaDormand), sua esposa que o espera na Irlanda, onde mora e vive da renda de ações, depois de ser um astro de rock no passado. Percebemos que Jane (bombeira) conseguiu apaziguar as chamas depressivas dele.
Mas que bom poder perceber as buscas necessárias, e se tornar melhor com isso. Às vezes as coisas são tão simples, mas as complicamos por demais. Um só caminho em meio a tantos. Quem nunca esteve perdido numa encruzilhada da vida, e o pior e que às vezes aparecem não só uma, mas várias. Sorte de Cheyenne ter encontrado Jane, pelo menos isso. Não encontrei minha Jane. Acho que vou sair gritando feito o Tarzan, mas sou apenas o Beto. E lá me vou, escutar mais um daqueles rocks depressivos dos anos oitenta. Onde estão meus tamborins?