23 de abril de 2007

Batismo de Sangue – Helvécio Ratton


Tem certos filmes que assisto, que fico com raiva do diretor, por achar que ele perdeu uma grande oportunidade de fazer um grande filme. Ter uma boa história nas mãos, a ser contada, e desperdiça-la é um pecado. É exatamente o que acontece com esta adaptação do livro autobiográfico de Frei Beto. O excesso de didatismo com que o diretor leva a história, incomoda demais, as cenas parecem não se encaixar, e o filme não consegue manter um mínimo de ritmo, não flui. Por vezes, parece até panfletário, como se quisesse mostrar para a nova geração, o horror da ditadura, e ninguém houvesse lido ou assistido qualquer coisa, a respeito deste período negro no Brasil. Li algumas críticas a respeito do filme, e ao contrário do muito que li, não acho que o assunto está saturado, é um período que deve e pode ser falado se assim alguém achar preciso. Voltar ao período para mostrar o envolvimento de padres na luta contra a ditadura, é no mínimo interessante. Pena que Ratton se levou a sério demais, é fez um filme quadrado. Parece mais um filme dirigido por Sérgio Rezende.



O resultado poderia ter sido muito melhor, se o diretor buscasse se aprofundar no porquê do envolvimento dos padres na luta armada. E focasse o filme na interessante história de cada um, seus propósitos e questionamentos. Mas Ratton preferiu mostrar (sem nenhuma necessidade) muita violência, cenas sucessivas de tortura. Algo que já vimos em vários filmes. Só faltou colocar dois chifres no delegado Fleury (Cássio G. Mendes).

O filme tem duas cenas muito bonitas, sendo uma delas a missa celebrada com k-suco e bolachas Maria na prisão. E a outra e quando os padres assistem a chegada do homem na lua e Frei Tito canta no violão uma música linda de Gil a respeito do acontecimento (“A lua foi alcançada afinal/ Muito bem/ Confesso estou contente também/ Aqui me resta uma pergunta só/ Talvez não haja mais luar/ Para iluminar o meu sertão/O que será do verso sem luar/ O que será da flor/ Do Beija-flor/ do Violão?").

A raiva que digo sentir do diretor - neste filme especificamente - se faz pelo não aprofundamento no sofrimento de Frei Tito, que é magistralmente interpretado por Caio Blat. Enquanto Daniel de Oliveira é correto com seu Frei Beto.O personagem de Blat é de longe o mais interessante, é o diretor não consegue mostrar de maneira sensível, toda a gana de sentimentos e sofrimentos pelo qual o Frei Tito passou, e ele tinha ator inspirado para isso. Tenho até vontade de ler o livro por causa deste padre tão delicado, que morreu no exílio. Em uma cena do filme ele declara que é melhor morrer do que viver morto (isto é forte demais, me põe a pensar sobre a morte da minha).Suicídio no frio de Paris, literalmente doido, pelas torturas que passou, e brutal saudade do luar do seu sertão, que lhe foi tirado tão violentamente. Saudades do luar.

Ao menos o filme serviu para eu correr para casa e escutar o disco “Louvação” que fazia anos eu não ouvia. Uma obra-prima do outrora genial Gilberto Gil.

“Poetas, Seresteiros, Namorados correi.
É Chegada a hora de escrever e cantar.
Talvez as derradeiras noites de luar”

4 comentários:

  1. Muito bom o conteúdo do teu blog!
    xD
    "Batismo de Sangue" é um filme que quis se destacar, mas não consegue e tudo por detalhes!
    Como vc disse, uma estória boa pouco explorada!
    Abraçoooo

    Meu blog de cine:
    http://eco-social.blogspot.com/

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  2. Oi, Beto!
    Saudades de você, menino! Desculpe a ausência.
    Pretendo ver "Batismo de Sangue" hoje. Depois te digo o que achei.
    Beijo.

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  3. É incrível como aqui no Brasil a direção de atores muitas vezes alcança o embaraço, de tão primitivo e juvenil. O que Babenco fez no Carandiru é impressionante, deveria servir como aula de 'como não fazer'

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  4. Grande Wilian, é verdade. Como eu disse o diretor deixou escapar uma grande interpretação do Caio Blat.

    Não concordo com vc, João Miguel. Vc tem blog? Acho que só no Carandiru tem grandes interpretações, como exemplo: Airton Graça, Larazo Ramos e Wagner Moura entre outros, que estão muito bem.

    O Alê, que bom que voltou. Parabéns pelo apto. Ainda não li "Morangos Mofados" por me achar um pouco mofado também, hehehe. Mas vou ler com certeza depois das suas citações ótimas no seu blog. Volte sempre.

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