16 de abril de 2007

Ó Paí, Ó – Monique Gardenberg


Há muito tempo atrás,conheci uma turma de baianos que dividiam um apartamento aqui em São Paulo. Todos muito simpáticos e alegres, e muitos deles ligados ao teatro.Freqüentávamos o mesmo bar e criamos uma grande amizade que acabou resultando em uma viagem de mais de um mês que fiz à Bahia. Passei por várias cidades, entre elas Juazeiro, Itapetinga e Salvador. Em todas elas, fui muito bem recebido por parentes destes amigos, que (para minha total surpresa de paulistano) me tratavam como se fosse da família, e todos sinceramente me queriam muito bem.Eu, paulistano da gema - a tal cidade que segundo os poetas respira solidão - mais que admirado, fiquei comovido. Lembro de quando estava indo embora da casa de uma tia de um dos amigos, achei que ela iria dar graças à Deus pelo incomodo, fiquei bobo por ela chegar a chorar por minha partida. Não estava (e não estou) acostumado com tanto carinho, assim, assim, de graça.
Quanta generosidade e alegria eu enxerguei naquele povo! Por isso, guardo em mim a mais doce lembrança, e sincera simpatia pelo povo baiano.Infelizmente, hoje não tenho mais contato com aqueles doces amigos, pois a maioria já nem mora mais em São Paulo, e mais por culpa minha mesmo, que ao longo dos anos fui deixando escapar pelas mãos, vários tesouros adquiridos.Acho até que acabo fazendo isso com meus amigos, hoje em dia também.Muitos deles me cobram carinho e presença, achando que eu não gosto mais deles, não sabem eles que isso deriva realmente é da minha baixa estima e dificuldade de lidar com os problemas do dia a dia, não é culpa deles. Bom , mais isso é outro assunto, aqui o negócio é a Bahia, estação primeira do Brasil.

Obviamente, lembrei desses queridos baianos que passaram por minha vida quando assisti a este filme,independente da qualidade do filme. Enxerguei ali muito do que vi e vivi na minha saudosa e maravilhosa viagem, pois o que muito me chamou a atenção foi aquela alegria contagiante do baiano, mesmo no momento mais adverso. A música, o axé e MPB (muito antes destes outros axés), o candomblé e o sexo andam juntos e se completam numa mistura deliciosa. Assim eram os baianos que conheci aqui, assim eram os baianos que conheci lá. Tudo era motivo para festa e celebração à vida. Não sei se tive sorte de conhecer pessoas bacanas, mas o interessante era que toda essa celebração à vida, essa vontade de dançar, cantar e se divertir vinham sempre acompanhadas de bom gosto e responsabilidade social e cultural. Etâ povo legal! Lembro das rodinhas de violão a beira do Rio São Francisco ( “O Melhor lugar do Mundo é Aqui, e Agora...), a carne de bode, o cuzcuz pela manhã, foi bom.

Muitos dos personagens que passam pelo filme me fizeram lembrar certas pessoas que conheci: o homem casado que adorava uma festa e dar uma escapadinha com a bichinha engraçada da turma; a crente simpática que guardava um “fogo” escondido e era alvo de risadas; a cartomante picareta; a lésbica brava, mais gente fina. Pessoas e personagens riquíssimos, de uma Bahia pobre e violenta. Melhor dizer, de um país pobre e cada vez mais violento. Mas muito rico em encanto e espontaneidade.

Talvez o filme devesse trabalhar de melhor forma seus personagens, que são muitos e por isso (talvez) pouco aprofundados. Talvez, muitos achem que aquilo tudo é um estereotipo do baiano, talvez. Mas mesmo assim o filme vale muito à pena. Eu que detestei os dois primeiros filmes de Gardenberg e fui pronto para não gostar deste também, tive uma grata surpresa. E de quebra tem mais uma vez Lazaro Ramos excepcional e a beleza de Emanuelle Araújo que já vale o filme.

5 comentários:

  1. Também fui pronto pra detestar, já que os outros filmes da Monique são medonhos, mas acabei me surpreendendo com esse. É de uma simpatia cativante. E qualquer filme que tenha Dira Paes no elenco não pode ser de todo ruim :)

    ResponderExcluir
  2. É verdade Sérgio. Esqueci de mencionar isso. A Dira Paes é uma das minhas atrizes preferidas. O filme é realmente muito simpático, basta tirar o preconceito de lado e curtir.

    ResponderExcluir
  3. Velhão, passei pela mesma experiência. Entrei no cinema para assistir a esse filme por absoluta falta de opção, porque no horário só tinha esse, já esperando por outra bomba da Monique. Mas não é que o filme é simpático, cativante e acerta ao deixar a turma do teatro do Olodum protagonizar a espontânea alegria das cenas?

    Me lembro desses seus amigos da Bahia. Muito alegres mesmo.

    ResponderExcluir