12 de julho de 2011

Control – Anton Corbijn



Aconteceu na semana passada; dia mais frio do ano em Sampa, depois da terceira tentativa frustrada de assistir algum filme da mostra do Hitchcock (sempre lotada) e sem qualquer alternativa nos outros cinemas, me vejo adentrando no Cine Olido para assistir a este filme-biografia, que deixei escapar quando passou por aqui. Com ingressos a um Real, vejo algumas pessoas entrarem no cinema (me parece) mais para se protegerem do frio, ou mesmo para uma soneca, fato que se comprova, devido à sinfonia de roncos, assim que o filme começa. Mas nada que de fato atrapalhe a minha imersão numa Manchester fria, feia e sombria, que o preto e branco da película só faz acentuar.

São as cores de Ian Curtis, líder do Joy Division, banda do pós-punk inglês, cultuada até hoje, graças ao talento e carisma de seu líder, mas foi uma banda de vida curta, assim como ele, que se enforcou aos vinte e três anos. Em meio às tempestades constantes, precoce nos sentimentos, na dor e no casamento; em duas horas de filme, vemos a meteórica estrela de Ian Curtis brilhar e se apagar.

Não sou conhecedor da obra de Curtis, algumas vezes ouvi – assim como qualquer um que gosta de boa música e é curioso – seu disco mais famoso “Closer”, que sempre me passou uma sensação de angústia muito forte. Que habilmente é radiografado neste filme. Certamente, Ian Curtis não era adepto de uma vida a lá “comercial de margarina”, muito longe disso. Sua alma sangrava em dor e isso ficava claro em suas canções, em sua dança nervosa, alias, desconfio que em suas danças que Renato Russo se inspirou. Mesmo que não tivesse se matado, talvez não tivesse continuado na música. O sucesso, a fama, não lhe fazia a cabeça, ao contrário, lhe causavam ainda mais dor. Em uma das cenas, ele diz que não pode mais continuar, pois ninguém entendia a dor e o desgaste que lhe ia à alma, cada vez que subia ao palco para uma apresentação. Enquanto todos dançavam e se divertiam ao som da banda, ele sangrava internamente em cada interpretação. Quanto maior o sucesso, maior era seu abismo. Sua música não era para agradar, na maioria das vezes era para incomodar, como revelou em uma das entrevistas.

Nem todo mundo nasceu para ser feliz. Há pessoas que carregam em si um lado sombrio e triste, que se sobrepõe às tardes festivas de verão. Ian Curtis viveu intensamente seu inverno d alma. A falta de grana, a depressão, a epilepsia e a não adequação ao mundo, lhe tiraram precocemente a força da vida. Tudo isso aliado, ao não entendimento ao sentimento de amor/desamor/dependência que nutria por sua esposa. Quando se apaixonou por uma repórter e se viu obrigado a escolher entre as duas, foi seu ponto final. Não entendia como era escolher entre seus sentimentos e o que achava certo e, ao mesmo tempo, ter que amar e viver conforme o que as pessoas esperavam dele. Tudo se transformou num fardo muito duro de carregar.

Ele foi mais um exemplo de talento inato para sua obra, em contra ponto à falta de talento para lidar com a vida, com o cotidiano, o banal. É preciso ter coragem para viver, ou melhor, sobreviver, mas –talvez- mais coragem ainda para se matar.

Uma biografia bela e triste, onde o diretor Anton Corbijn não usa seu filme para fazer julgamentos, apenas mostra – e muito bem – como foi a vida de um ídolo seu, através da interpretação “mediúnica” de Sam Riley. Um filme para se ver e rever, mesmo sabendo que não haverá controle e muito menos encontrará um pote de ouro, ou um arco-iris no final.

2 comentários:

  1. Beto, seu texto ressaltou os principais pontos dessa obra, q se difere de muitas biografias por ser mais crua e cruel, sem enaltecer o estilo de vida do protagonista. Gostei bastante desse filme.

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  2. Eu gostei bastante tanbém, foi uma grata surpresa, Celo

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