10 de outubro de 2011

Atraídos Pelo Crime – Anthony Fuqua


Não vai haver amor neste mundo nunca mais. Pelo menos no Brooklyn, em Nova York, segundo Anthony Fuqua. Neste filme, não há respiro ou alívio para qualquer um dos três policiais que conduzem a trama. É uma descida sem escala até o inferno, sem chance de redenção. Qualquer bairro violento aqui no Brasil parece a Disney, comparado ao que vemos neste filme. Bandido e mocinho se confundem em cores cinza, difíceis de digerir.
A começar pelo policial vivido por Ethan Hawke que – muito parecido com Di Caprio em Os Infiltrados – destila em cada segundo na tela uma urgência desesperada, como se estivesse sendo tragado por um tonel de areia movediça. De família italiana e extremamente católica, depois de realizar uma “justiça alternativa”, tenta se confessar e não se conforma apenas com o perdão de Deus, ele quer também sua ajuda. Mas suas atitudes o colocam cada vez mais distante das cruzes que o perseguem. Para tentar ajudar a família numerosa a melhorar de vida, se vê cada vez mais distante de Deus e próximo ao inferno. É um caminho sem volta.
Já o policial vivido por Don Cheadle se vê a tanto tempo infiltrado no crime organizado, que começa a questionar de que lado realmente esta. Conhecedor da burocracia e corrupção que toma de assalto à instituição para a qual trabalha e até então acreditava, se vê entre a cruz e a espada quando tem que entregar um amigo do crime vivido por Wesley Snipes. Sabe que mesmo não estando do lado certo – qual é o lado certo num mundo cheio de erros? – uma amizade sincera é um tesouro difícil de abrir mão. Mas acima de tudo, o que ele quer desesperadamente é sua vida de volta, talvez até tentar reconquistar seu casamento fracassado. Mas o tempo sem sua identidade verdadeira lhe cobrará um preço alto, talvez até seja tarde demais.
Já o terceiro policial vivido por Richard Gere, é tão ou mais complicado que os outros. Faltando apenas uma semana para a sua aposentadoria, ele mais parece uma pessoa sem emoção, sem alma. Os vinte e tantos anos dedicados a sua profissão, lhe foram tirando ano a ano, seu sangue, sua cor. E principalmente a crença na vida e nos outros seres humanos. É tido como covarde pelos outros policiais. É notório que os anos na corporação lhe tiraram a esperança de que algo ao alguém possa melhorar. Tanto faz estar vivo ou morto, pois já se sente morto em vida, e demonstra isso fazendo roleta-russa pelas manhãs junto a um copo de uísque. Mesmo que (sem querer) aos quarenta e cinco do segundo tempo, a vida lhe conduza a um ato heroico, que até pudesse lhe trazer algum alento, ele olha logo após diretamente para a câmera, dizendo com os olhos pesados: “E daí?” Como se o que acabará de fazer  é muito pouco diante do irreversível horror da vida. Sua alma perdida se confunde com o que presencia diariamente.
No seu filme anterior “Dia de Treinamento”, Fuqua conseguiu sucesso e reconhecimento, assim como Denzel Washington conquistou seu merecido Oscar por viver (também) um policial corrupto. Mais uma vez ele acerta a mão, se mostrando um grande diretor de atores, extraindo de seus protagonistas, grandes interpretações que por si só já valem o filme, com destaque para Ethan Hawke. Mas talvez o que explique o fato deste filme, superior ao anterior, não ter feito o sucesso merecido é o clima de desesperança e desalento que o permeiam. Corajosamente, não há concessões, nem esperanças de dias melhores. Um pouco demais para uma América em frangalhos economicamente. Uma América que aos poucos descobre que já não carrega mais o bastão da vitória, do primeiro lugar do pódio. Onde estão os velhos e bons heróis americanos? Certamente não estão no Brooklyn, nem na policia americana, segundo este talentoso diretor que consegue a proeza de fazer mais um filme policial, com seus clichês contumazes, mas com talento consegue fugir do lugar comum, com uma obra triste, mas acima da média.

4 comentários:

  1. é um filme interessante mesmo, acho q tão bom qt DIA DE TREINAMENTO, a atuação de RICHARD GERE é muito boa, mas ETHAN HAWKE entrega algo fora do comum para sua carreira. Gostei de ler um texto teu sobre um filme policial. Muito boa. Abração!

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  2. Um excelente diretor de atores. Para mim, melhor que "Dia de Treinameno" sem dúvida. Mas tão triste, hein.

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  3. Acabei de ler o teu texto de MELANCOLIA e está muito foda, Beto. Prosa poética. Parece Clarice Lispector. hehe

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  4. Pô, Ailton. Comparar a Clarice, não é elogio, é loucura, mas valeu, hehehe.

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