5 de dezembro de 2011

Uma Professora Muito Maluquinha – André Pinto e Cezar Rodrigues


“Meninos correndo perigo/No brilho do sol coração/Voando cabelos de mel/Pra me ensinar a sonhar/No meio do sono sorrir/As coisas menores que tem/Deixar os abrigos pra trás/Brincar de correr e cair/ Aprender, aprender” (Os Borges).
Sonhei, sonhei sim. Um dia eu era menino, solto pelas ruas de uma cidadezinha histórica mineira. Adoro Minas Gerais! Imensa pro meu tamanho de menino novo. Assombrado, corria pelas ruas de pedras, mirando sempre aquela montanha. Mas nunca ia sozinho, trazia os sonhos e os pés sujos de estrelas, colhendo o que eu tinha de novo, plantando o que eu era de velho. A companhia era de outros como eu , meninos novos, sonhos novos, éramos os Mosqueteiros, éramos heróis de nossas próprias aventuras. Tudo tão gostoso de ser e viver. Alegria de ser livre, de banhar cachoeira, de rodar o pião, de chutar a bola. Num instante, num instantinho só, nem olhava pras meninas, num outro já estava embriagado de paixão pela loirinha sardenta que até chegava a doer no peito. Tudo tão imenso, tudo tão rápido para um infante brilhante. Foi quando apaixonei também pela professora, tão diferente das outras professoras que mais pareciam estar em luto constante, em nome de Cristo. Os meninos queriam crescer logo para pedi-la em casamento, as meninas admiravam e queriam imita-la, tão diferente que era ela, tão alegre e espontânea. Um dia, me deu um beijo na face e do doce sonho – é pena – acordei. Hoje, já menino velho, penso como seria bom ter sido aquele menino novo, assim quem sabe, não teria os sonhos todos meus, pouco a pouco, caídos, perdidos no pó da estrada.
É pena, mas não tive esta infância mineira tão cheia de tesouros, cresci em meio à arranha-céus, num característico cinza paulistano onde o medo da violência e afins, nos obrigava a ficar engaiolados nos prédios. Será que esta infância contribuiu para este meu jeitinho por vezes tímido, acanhado e estranho? É claro que sim. Acredito piamente que quem tem uma infância livre, que é criado feito bicho solto, acaba acumulando pontos felizes para uma vida adulta. Bom é ter lembranças, histórias pra contar, não é à toa, os mineiros são tão bons nisso.
Bom exemplo é o menino velho, cartunista, jornalista e escritor Ziraldo, que há tempos encanta gerações e gerações com seus personagens de seus livros. Quem não leu e se divertiu com o “Menino Maluquinho”? Primeiro livro que ganhei bem novinho. Outro exemplo de bom mineiro a lembrar da infância é Fernando Sabino com o tantas vezes lido por mim “O Menino no Espelho”. É na infância que se encanta ou se desencanta com a vida, lá se faz o homem.
Neste pequeno e delicioso filme, terceiro baseado nos livros de Ziraldo e com roteiro do próprio, o que impera é a sensação de nostalgia. É um filme para crianças, mas não necessariamente, como facilmente se supõe. É, antes de qualquer coisa, para os meninos velhos, para aquelas crianças que ainda habitam e estão guardados no sentimento de muitos adultos. Lembranças daquilo que foi (como no caso de Ziraldo) ou que poderia ter sido (meu caso). Outra época, outro jeito de ser, mais inocente, menos efêmero.
Única exigência de Ziraldo para a produção deste filme: Paola Oliveira como a protagonista. Decisão mais que acertada, pois Paola carrega o filme com seu charme, beleza e- que bom – muito talento. Outro tipo de beleza, que não vemos mais por aí, já que a vulgaridade passa longe deste filme tão singelo e bonito. Um filme modesto, mineirinho, gostoso de ser e ver.  Que tem em Paola Oliveira e na recriação de Minas Gerais dos anos 50/60 seu grande trunfo. Passou quase que despercebido pelos cinemas, mas merece uma chance aos olhos de todos os meninos novos e meninos velhos que guardam (ainda) poesia dentro de si.


2 comentários:

  1. Fiquei com um pouco de arrependimento de não ter ido ver o filme. Ficou só uma semana em cartaz aqui e tchun! Foi-se. :(

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  2. Já caminhei muito por Minas, gosto daquele tempero.Perdeu, pois é um singelo e bem feito filme e a Paola está radiante.

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