20 de julho de 2006

Transamérica – Duncan Tucker


No meu modo de entender, o título deste filme é uma grande sacada, pois nos leva a aquilo que não é considerado da América, ou do dito estilo de vida genuinamente americano. É o que está fora do contexto, que esta escondida nas sombras, atrás da aparente maneira rica e puritana dos grandes centros urbanos e ricos da América. Olhando desta forma, até nós, brasileiros fazemos parte destas sombras. Afinal de contas, se os EUA se denominam e são chamados erroneamente de América, o que somos nós, parte restante deste continente? Restos de uma América idealizada e rica da qual não fazemos parte?

Neste filme do estreante Tucker, restos de uma América não idealizada são mostrados a nós, personagens inadequados ao modo de vida americana, a começar pelo personagem principal, um homem que tem alma de mulher, um transexual. Também seu filho,um acidente de percurso, adolescente michê e ator pornô. Uma irmã alcoólatra. Um pai judeu. Uma mãe descendente de alemães e incrivelmente chata. Um paquera indígena (estranhamente o único homem que dá atenção a ela/ele). Uma terapeuta descendente de mexicanos.Numa história que se passa pelo interior deste grande país. Exemplos de não enquadrados, que procuram se achar. Mesmo que seja a si mesmos.

Prestes a fazer a cirurgia que sempre sonhou fazer, ou seja sua mudança de sexo, o personagem de Felicity Huffman descobre que tem um filho, de uma relação acidental da época da faculdade. O encontro com este filho e o convívio com ele é o que nos é mostrado, neste filme simples e leve, em que o grande peso, é a interpretação magistral da atriz principal. Ela é a razão do filme.

Não me atentando muito para o filme, o contexto político é que me chama mais a atenção neste filme, e me leva de volta ao Oscar deste ano. Pois não tendo assistido ainda ao filme, sabia-se que Felicity era a favorita, e pelo histórico do Oscar, parecia barbada, como foi o Oscar dado as atrizes Charlize Theron e Hilary Swank, cujos personagens eram marginalizados por suas opções sexuais, assim como deste filme. Acontece que nos outros casos premiados, seus personagens eram marginais ou marginalizados, mostrando a nós o quanto era “ruim” aquela opção de vida. Já no caso de Transamérica, o caso é bem diferente. O filme foi construído em cima de um personagem transexual, só que gente boa, que em nenhum momento culpa o mundo, ou as pessoas ao seu redor, por seus problemas ou opções, esse é um problema só dele/dela. Não há revolta ou amargura, é apenas a sua procura pela afirmação de vida, sua verdade incontestável, e nisso, acabamos todos gostando dele/dela e torcendo pelo sua sorte. Essa é a grande sacada do filme, mas também seu erro, pois acaba dependendo apenas de sua atriz, que por sinal, dá conta do recado.

Ops, pera aí (disseram os moralistas do Oscar), aí não pode não. Então... Tchau, tchau, Oscar, assim como os cawboys gays bonitinhos, do mais que favorito ainda, a melhor filme, que também saiu a ver navios, um pouco depois,na mesma cerimônia justa e democrática (!?). Ecos de uma “América” que não engana ninguém, comandada pelo palhaço Bush.

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