Este filme foi um dos primeiros que assisti em 2006, pois passou nos cinemas em janeiro deste ano. Mesmo assim, não perdeu seu posto (na minha modesta opinião) de melhor filme do ano, posição que agora divide com “O Céu de Suely”. Uma dobradinha de nacionais nas primeiras colocações, fato inédito, nas minhas listas de melhores do ano. Mania que tenho já há tempos, que se intensifica com o blog em atividade.
Um filme único, de um diretor espetacular (Beto Brant, o melhor diretor brasileiro na atualidade?), que se arriscou numa estória completamente diferente do que estava acostumado a fazer.
Quando assisti ao filme pela primeira vez, fiquei fascinado por uma cena em que o crítico teatral Antonio (Marco Ricca) é convidado para um jantar, pela atriz Maria Luiza (Maria Manoela), depois de ter assistido uma peça em que ela protagonizava.
Com o DVD, ficou fácil ver e rever esta cena, assim como o filme todo.Tenho a mania de sempre eleger uma cena de um filme como favorita. Assim como fiz com “Brilho Eterno”, uns meses atrás aqui no blog, reproduzo fielmente aqui este texto da cena do filme. E recomendo: quem não viu veja, e quem já viu reveja.
Antônio e Maria Luiza entram num desses restaurantes como o Pequi da Al.Santos, onde a turma teatral costuma se encontrar. Ela cumprimenta seus colegas. Sentam um de frente para o outro. Ele: whisky; Ela: vinho. Ela começa o papo:
“Você é sozinho?”.
O quê?
Você tem cara de solitário.
É mesmo...
Daqueles que precisam de cuidado.
Você entende muito sobre os homens, não é?
O suficiente...
Pra quê?
Pra cuidar deles.
Que bom.
Você já foi casado?
Tive umas amigas.
Duraram muitos tempos?
Vem cá, o que é isso? Um interrogatório pra revista de intimidades. O jornalista aqui sou eu.
Desculpa, desculpa... Só tava perguntando.
Pra quê?
Ué, não sei... Não é pra isso que a gente saí com as pessoas?
Não sei, eu saí porque você disse que tinha algumas coisas pra falar. Talvez você tenha, e eu acho que sei o que você quer dizer.
Você está querendo arrumar uma certa intimidade pra poder perguntar o que eu achei da sua peça, e com isso comprometer um pouco minha opinião. Se não pelo espetáculo, pelo menos sobre seu trabalho. Eu sei que isso deve ser difícil pra você, afinal de contas você vem batalhando um tempão nesta carreira, e vê em mim uma oportunidade de alavancá-la. Trazendo-me aqui, me expondo aos seus, como um troféu.(Maria Luiza olha rapidamente para câmera, desconcertada).
Talvez, você quisesse isso e talvez eu também quisesse um monte de coisas... E quem sabe a gente pudesse fazer uma troca.
Talvez você pudesse chupar lentamente meu pau, enquanto eu escrevo um artigo exclusivo sobre a grande revelação dos palcos desse momento.
Talvez você poderia até ser mais generosa. Encontrar-me vez ou outra, e se propor em tirar essa minha cara de solitário que você diz que eu tenho.
Talvez até eu pudesse me apaixonar por você, o que não seria difícil, e em pouco tempo eu perceberia que a paixão é realmente uma invenção da literatura burguesa.
E daí eu acho que você se arrependeria de ter me procurado, e perceberia que uma bosta de um elogio no jornal diário não significa mais que uma boa trepada numa noite fria. Que no dia seguinte não passa mais do que uma lembrança, sem desdobramento.
Talvez eu pudesse olhar nos seus olhos, como estou fazendo agora... Dizer que o mundo é tão óbvio! Que se a morte me tocasse neste momento, seria ainda assim previsível.”“.
Sensacional! Mas depois ela dá o troco, numa homenagem do diretor a Bunuel.
betôncio, vai ter a retrospectiva anual de cinema brasileiro no cinesesc. começa dia 11. oportunidade para rever vários filmes, incluindo crime delicado, e cobrir possíveis lacunas.
ResponderExcluirtudo certo com bowie?
Beto, não assisti a Crime Delicado, mas concordo com o que você disse sobre O Céu de Suely (nada se comparou a obra-prima de Karim Ainouz esse ano). Aliás, muita coisa me surpreendeu esse ano no cinema brasileiro. Até Cacá Diegues - com seu O Maior Amor do Mundo - estava acima da media. Abraços do crítico da caverna.
ResponderExcluirnão conhecia o filme...
ResponderExcluirbom saber, vou assistir com certeza.
abraços...
http://eco-social.blogspot.com/
Olha, tenho que admitir que odiei "Crime Delicado". Mas essa cena, com esse diálogo, é um absurdo de boa.
ResponderExcluirBeijo.
William, não perca o filme, ele perde muito em DVD, mas se for o jeito, né.
ResponderExcluirRoberto, são filmes bem diferentes um do outro. Enquanto um é pra lá de real. O outro se situa num mundo bem restrito.De qualquer forma ambos são muito bem dirigidos e valem a pena.
Serge, 7 X 3, e ainda com dó.Tá bom pra vc?
Alê, acho que "Crime" merece uma segunda chance, hein? O filme é bom demais, os diálogos são afiados. Se quiser, empresto o DVD.
beijo
Serge,Putz, na verdade 10 x 3. Já fez o T.Rex? Não esqueça do Zoombies.
ResponderExcluireu já te ganhei de 10 x 3 tb... mas no momento é só a lembrança que está do meu lado
ResponderExcluirBeto, você vai amanhã na sessão do Comodoro? Estou querendo ir. Se for, me avise pra gente se encontrar lá.
ResponderExcluirBeijo.
Putz, Alê! Queria ir sim,não pelo filme(que eu nem sei qual é)mas pra te conhecer pessoalmente. Mas acho que não vai dar...Sérios problemas(hospital) envolvendo uma familiar muito próxima.Você vai estar lá então... posso procurar uma moça de cabelos vermelhos? Juro, que farei o possível, viu.
ResponderExcluirOi, Beto.
ResponderExcluirAcabei não indo. Você foi?
Espero que os problemas de saúde na sua família já estejam superados.
Beijo.
Oi, Alê. Não pude ir não. As coisas aos poucos estão voltando ao normal. Andei frequentando muito hospital ultimamente, coisa chata pra burro.Mas tá beleza.Não faltarão outras oportunidades.
ResponderExcluirUm beijo,
Nossa, estava a procura desse diálogo. É otimo. O filme gostei tbm, tem uns diálogos bons, como esse, e diferentes, originais. Muito bom!
ResponderExcluirFoi a cena que mais gostei também, bem ritmado e condensado ao mesmo tempo. Discordo do "Céu de Suely", um dos piores que vi este ano. Ninguém precisa concordar comigo, apenas uma mera opinião.
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