Meio que num impulso, comprei este DVD, mesmo sem ter gostado muito do filme, quando assisti no cinema. Lembro que achei este terceiro filme de Furtado decepcionante, depois de seus dois primeiros (“Houve Uma Vez Dois Verões” e “O Homem que Copiava”), serem ao meu ver, pequenas obras-primas. Mas numa segunda (e terceira) revisão tudo mudou. Achei na verdade, que o filme foi muito subestimado. É um filme simples, pequeno na duração, mas com grande conteúdo.
O diretor usa sua experiência como pai (seu filho Pedro, foi protagonista do primeiro filme do diretor), para fazer como ninguém, um quadro dos adolescentes brasileiros, e porque não dizer do mundo. Os americanos fazem filmes assim aos montes, mas tratam os meninos e meninas como retardados, deviam ter umas aulas com Jorge Furtado.
O filme tem uma ligação muito forte com sua trilha sonora, é como se um não funcionasse sem a outra. Parece até que Caetano Veloso estava esquentando os tamborins com sua excelente trilha sonora juvenil, para adentrar no rock com sua obra-prima (em anos) Ce, lançado este ano. Mas este assunto é para outra hora.
O filme é centrado num trio de amigos: Duca (Darlan Cunha); Isa (Sophia Reis, muito gracinha) e Kid (Renan Gioelli, de Bens Confiscados). Estes estudam juntos e são grandes amigos. E resolvem se aventurar na solução do caso do tio de Duca, um imbecil chamado Éder (Lazaro Ramos) que é acusado de matar o marido de sua namorada Soraya (Débora Secco), mulher muito, muito “perigosa”.
Duca é um garoto de quinze anos muito esperto, único negro de seu colégio, que não acredita na culpa do tio. E enquanto ele procura nas falsas pistas, a inocência do tio, ainda sofre por seu primeiro amor que é a Isa, que por sinal é apaixonada por seu melhor amigo, o Kid. E é aí que se concentra o grande barato do filme, seu ponto crucial.
O filme já vale ser visto ou revisto por duas cenas maravilhosas que rolam com o Duca e a Isa, sendo a música essencial para o andamento das cenas.
Uma delas é bem interessante, por causa da música que Caetano compôs para a cena, que deu todo um tempero. Duca e Isa resolvem visitar Éder na prisão. Conseguem a autorização dos pais e vão de ônibus - o dinheiro do táxi é usado para comprar uns cd´s piratas – para o presídio. O ônibus vai passando por Porto Alegre, que no começo é mostrada onde eles moram, a zona sul, seus prédios e belezas naturais, enquanto ao fundo Luciana Melo canta docemente (se essa rua fosse minha/Eu mandava muito bem/Se essa rua fosse nossa/Nossa!Que parada irada/Se a cidade fosse amada por cada um e cada). Aos poucos, a beleza é substituída por uma cidade pobre e feia, de favelas e esgoto ao céu aberto, aí entra Rappin`Hood na mesma música de Caetano, com um rap feroz a respeito da mesma cidade, mas com outra realidade, uma letra dura, seca (Mais se a rua fosse minha, mina/Se a lua fosse minha/Eu te pegava/Com gana,com ódio,com raiva/E te furava, te furava,mina/Te amava, te amava). Vendo os extras, descobrimos que nesta cena havia muitos diálogos, mas como a música de Caetano simplesmente falou tudo e mais um pouco, imagens são mostradas, até a chegada no presídio, onde a câmera passeia por uma fila real, de pessoas visitando os detentos, até chegar em Duca e Isa no final da fila, sem uma palavra sequer.
Outra cena linda, é quando Duca abre mão das armadilhas que havia preparado para que Isa e Kid não ficassem juntos em uma festa. Mas vendo o sofrimento de Isa, e a conversa linda que eles têm a respeito de ficarem adultos, abre mão do seu próprio amor, por amor a ela, e os une de novo,sofre horrores vendo sua amada aos beijos com Kid. Ele passa horas e horas escutando a mesma música (mais uma vez Caetano). Dá a maior dó dele, quando passa no corredor do colégio sozinho, e sofrendo por seu primeiro e belo amor. Seu rosto passa um sofrimento intenso.Sofre calado, na solidão feroz, para um rapaz de 15 anos. Lembro-me com meus quinze anos (ou menos) também, apaixonado por uma garota do colégio, ficava escutando repetidamente “Romance Ideal” do Paralamas, novidade na época.
O final do filme também é um achado, por ser tão simples. Duca e Isa estão no quarto dele, começa a tocar uma guitarra. Caetano faz a junção da voz de Gal no inicio da carreira, cantando “Barato Total” com todo o suinge moderno e maravilhoso da banda Nação Zumbi. O filme termina, e nas duas vezes que assisti, fiquei dançando feliz na poltrona,pela música e pelos lindos Duca e Iza.
O Brasil seria um país muito bacana, se nosso futuro fosse feito de rapazes bacanas como Iza, Kid e Duca.
ENQUETE: MELHOR ATRIZ DE 2006: Quem foi a melhor atriz de 2006? Participe deixando seu comentário. As finalistas são: HERMILA GUEDES, de O Céu de Suely; IVANA BAQUERO, de O Labirinto do Fauno; KEIRA KNIGHTLEY, de Orgulho e Preconceito; MERYL STREEP, de O Diabo Veste Prada; PENÉLOPE CRUZ, de Volver
ResponderExcluirNão entendi Ailton, mas vamos lá:
ResponderExcluirHermila Guedes é a grande revelação do ano.
Maryl Streep é a melhor coadjuvante.
Penelope Cruz acaba recebendo meu voto, ok.
Gosto muito de "Meu Tio Matou Um Cara", mas gosto mais ainda dos dois primeiros filmes do Jorge Furtado.
ResponderExcluirBeijo.
Não assisti Meu Tio matou um Cara, mas gosto muito da filmografia de Jorge Furtado. É um dos poucos caras atualmente no mercado nacional que ainda tenta fazer alguma coisa boa realmente pelo cinema brasileiro. O homem que Copiava - que passou no Festival Nacional da Rede Globo - me deixou deslumbrado. Como alguém consegue transformar uma história tão simples em algo tão genial! Abraços do crítico da caverna.
ResponderExcluirExatamente, Roberto. Não perca o primeiro dele, que para mim é o melhor filme de adolescentes que assisti.Acho incrível ter gente que ainda fala mal do cine brasil: Furtado, Brant, Ainouz, Meirelles e Salles. Fora outros.
ResponderExcluirOlha quanto diretor de talento, e com filmes maravilhosos.
Alê, Cadê Você? Me acostumei a ler seus comentários no seu blog. Tô sentindo falta...
Ai, menino, andei sumida mesmo, né? É que estava curtindo adoidado os últimos dias de 2006. Mas aos pouquinhos estou voltando. ;)
ResponderExcluirAproveitando, feliz 2007 pra você, querido!
Beijo.