26 de junho de 2008

Fim dos Tempos – M. Night Shyamalam


Noite fria em São Paulo. Caminho pela Av. Paulista, todos estão com muito frio, encobertos de blusas e solidão, caminham rapidamente, muita gente bonita. Entro no cinema para assistir a nova aventura criativa de Shyamalan, desta vez sem a expectativa que havia imposto para o último do Spielberg do qual saí decepcionado. Lembro que toda a vez que Wood Allen estréia um novo filme, um crítico qualquer sempre (mesmo, reparem na Folha por exemplo) declara que “ um Allen mediano é melhor que a maioria das coisas em cartaz”.Como não tenho gostado muito dos últimos filmes de Allen, acho o mesmo, mas para a obra - ainda pequena- de Shyamalan.



É impressionante como a capital do cinema americano tem sido idiota com o cineasta. Alçado aos céus por seus dois primeiros filmes, já o mandaram aos infernos pelo fracasso de bilheteria da fábula maravilhosa “A Dama da Água”.Parece que estão fazendo o mesmo com este seu último filme. Acho que eles se acostumaram às franquias, adaptações e continuações de filmes, e se esqueceram de glorificar cineastas originais, idéias originais, como se isto sim, fosse uma aberração. Criatividade é palavrão em Hollywood. Não é à toa que o melhor que se assiste hoje em dia são as séries televisivas - quem dúvida, tente acompanhar algumas delas e veja se consegue se desgrudar da tela - tanto é que muitos atores se voltam para as mesmas, já que não encontram (incrível) roteiros empolgantes, enquanto na TV acontecem maravilhas como LOST, Prison Break, À Sete Palmos, House, etc. Lamentável.

Shyamalan se arrisca, não tem medo do novo e da eventual derrota nas bilheterias. Talvez os mesmos que hoje o critiquem, num futuro não muito distante iram considerá-lo genial. A verdade é que diante da mediocridade artística em Hollywood, ele realmente se destaca, e isso evidentemente incomoda. Alguns executivos da meca do cinema devem pensar: “ O que este indiano pensa que é?” Senhores, este será ( ou já é?) um dos cinco cineastas do mundo.

Acho que com exceção de “ O Sexto Sentido” , todos os outros filmes de Shyamalan são de lenta digestão. O último não é exceção. Saí do cinema confuso, sem saber qual o seu sabor. Acho que estranhei seu evidente pessimismo, mas este mesmo pessimismo não esta perene em seus outros filmes? Passados três dias, ele foi se tornando imenso, e com certeza, a exemplo dos outros filmes, irei degustá-lo melhor na segunda vez.

Me pareceu no primeiro momento – que me desagrada – que o cineasta queria passar um alerta ambiental, uma prestação de contas. A natureza cobrando o estrago causado pelo homem. Sim, mas não é só isso.

Velhos questionamentos de Shyamalan estão lá presentes, como a xenofobia americana sob forma de terrorismo; a violência armamentista – o assassinato dos dois garotos é incrível - a perda de valores antigos como a união familiar – o suposto adultério em nome do tédio e da falta de diálogo logo no início – a sociedade globalizada, rápida e consumista em que, quem não se enquadra rapidamente se exclui – como a mulher enlouquecida na casa isolada. De tanto procurarmos fazer parte desta tal globalizarão tecnológica e extremamente urbana, perdemos nosso próprio universo interno, e viramos zumbis de nós mesmos, como na cena chocante em que um homem, totalmente alheio e abobalhado, oferece seus braços para os tigres, que se fartão. Na época do Império Romana, lá na arena, pelo menos,ainda se lutava pela vida, agora temos a tv à cabo e as cercas de segurança. O cineasta parece querer mostrar que estamos matando a natureza e nos matando individualmente. Pode ser.

No final do filme, volto a caminhar pela fria Av. Paulista, olho para as pessoas em volta e penso em quantas delas caminham como as pessoas do filme que antes de se suicidarem virão zumbis. Quantas não estariam naquele exato momento pulando dos edifícios suntuosos dali como verdadeiros mortos-vivo. Eu, ali também. Como um morto-vivo direto de um filme de Romero.
Goste-se ou não, Shyamalan faz mais um filme criativo e atípico, cheio de imagens fortes. Talvez o ponto negativo do filme esteja na escalação de Mark Wahberg e Zooey Deschanel como os protagonistas, que não me convencem. Mas é mais um detalhe perante tão grande – e injustiçado – cineasta.

Minhas notinhas para a pquena e grande obra do diretor:

A Vila * * * * *
Sexto Sentido * * * * *
Corpo Fechado * * * * *
A Dama da Água * * * * *
Fim dos Tempos * * * *
Sinais * * * *

8 comentários:

  1. Não consigo dar quatro estrelas para A Dama na Água, mas vá lá, como diria o sábio poeta das ruas "opiniões são como bocas". Quanto a Fim dos Tempos, algo ficou faltando pelo meio do caminho. Não sei exatamente o quê... Ainda fico com A Vila (meu favorito do diretor) e Corpo Fechado.

    Discutir a imprensa? Acesse
    http://robertoqueiroz.wordpress.com

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  2. Ainda não vi, mas tenho verificado que é um filme que tem dividido, e em muito, opiniões. Vou verificar entretanto... :)

    Abraço.

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  3. Pô, voltou e não avisou?

    Cara, gostei muito do filme pela semelhança descarada com produções B, filmes de terror feitos com mais criatividade que recursos (embora grana não seja problema para o Shyamalan). Longas cenas de árvores balançando com o vento, uma trilha angustiante e, pronto, o clima estava formado. Até a canastrice do ator principal, que chega a ser ridícula em muitas seqüências, acaba se encaixando bem na proposta. Muito bom!

    Mas, diferentemente de você, acho que a filmografia do Shyamalan tem altos e baixos... sendo esses baixos beeeeem baixos.

    Minhas notas:

    Sexto Sentido - ****
    Corpo Fechado - ****
    A Vila - *
    Sinais - mico
    A Dama na Água - mico total
    Fim dos Tempos - ***

    Abração.

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  4. os melhores são A Vila, Corpo Fechado e Fim dos Tempos. os piores são Sinais e A Dama na Água. mas sempre tem algo de interessante nos filmes dele

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  5. Voltei Alê, apesar de continuar sem computador em casa, o que dificulta bastante a escrita. Mas vá lá. Véio, A Vila é demais e a Dama da Agua - mico total, o que é isso? - é um dos filmes mais injustiçados do mundo. Dê uma segunda chance pra eles.

    Grande Serge, salve, salve!Já comprou, alugou, roubou, sei lá... LOST? Demorou, hein.

    Red Dust diretamente de Portugal, que legal hein. Valeu a visita, volte sempre.


    O Roberto, dá mais uma chance para A Dama da Agua, cara! Valeu!

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  6. Cara, Sinais é uma bosta completa!
    Saudade de você, bonitão.
    beijocas

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  7. Fim dos Tempos é um filmaço.

    Já se informou sobre a iniciativa da Moviemobz na qual o espectador escolhe o filme e a sala?

    Acho um assunto legal para ser debatido.

    Saiu uma boa matéria sobre o tópico hoje: http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2008/07/07/comunidade_virtual_permite_cinefilos_marcarem_sessoes_de_filmes_independentes_favoritos_de_classicos_producoes_em_cartaz-547126144.asp

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