“E você ia tirar isso dele?!” Na cena mais impactante do filme, um dos três personagens de Wagner Moura, fala isto para seu outro eu, o outro “Zero”. Quando ambos assistem ao longe, o terceiro “Zero” no palco cantando em êxtase “Tempo Perdido” da Legião Urbana. E eu na platéia do cinema, olhos marejados, não pude deixar de lembrar o quando escutei a dita canção pela primeira vez. Pois a canção havia tocado fundo na minha alma, novamente, como naquela primeira vez, vinte e tantos anos antes. De outra forma, é claro. Não sou mais tão jovem, pelo menos na idade.
Vale lembrar (acho eu) esta historinha. Estávamos na oitava série, e não era fácil escutar uma música nova como é hoje em dia. Era só rádio, e olha lá.Só os mais antigos, sabem a delícia de pegar um vinil novo nas mãos e senti-lo, namorá-lo. Tínhamos que realmente esperar sair o vinil. Lembro que eu e mais uns dois ou três malucos espinhudos, cabulamos aula naquele dia, e fomos para a porta da “Hi-Fi” da Rua Augusta. Fomos os primeiros a entrar na loja atrás do segundo e tão aguardado novo disco da Legião Urbana. Cada um comprou o seu exemplar, e fomos imediatamente para uma casa vazia (pais trabalhando) escutar aquela jóia tão aguardada. Uma, duas, cinco vezes o vinil rodou e obviamente “Tempo Perdido” causou impacto profundo em todos, principalmente em mim. Lembro como se fosse ontem. Nada seria como antes. A inocência se perdia de vez, ali com aquele monte de canções doídas de um louco chamado Renato Russo. Impacto parecido como quando escutei, anos depois, contra a vontade, devido a insistência de um amigo em um disc-man em frente a uma cachoeira em Visconde de Mauá, o “Clube da Esquina 2” do até então “Coração (chato) de Estudante”, mas depois disso (abre-se a caixa de Pandora, ou melhor, da MPB), genial Milton Nascimento. Ou então quando descobri maravilhado que “Twist and Shout” era de longe, muito longe, a pior música do Please, Please Me (63), dos quatro gênios de Liverpool. Tempo passado, tempo vivido, tempo perdido, reminiscências, lembranças, momentos que não tem preço... O que você estava fazendo quando escutou pela primeira vez uma música marcante como essa?
Esta música da Legião tem papel fundamental neste filme delicioso de Claudio Torres. Permeia a historia de Zero, um cientista maluco que inventa - meio que sem querer -, uma maquina do tempo para voltar vinte anos antes, na hora e no momento mais feliz e mais triste de sua vida, ele volta ao momento exato em que a paixão de sua vida, Helena, entra e saí de sua vida em uma festa da faculdade. Momento xis para seus caminhos e descaminhos futuros. Penso que se tivesse nas mãos este poder de voltar no tempo, e pudesse mudar algumas coisas, algumas atitudes, todas elas estariam relacionadas a paixões antigas. Eu que sempre fui tão desengonçado para estas coisas do coração, avançando quando é necessário recuar. Recuando quando necessário avançar...
Mas será que se eu conseguisse modificar certos momentos, as coisas seriam melhores do que de fato foram? Meus conceitos espiritualistas me dizem que não, assim como eu entendo que também é mostrado, por outro meio no filme. Mas meus conceitos não cabem aqui. Este é um filme deliciosamente pop, e Claudio Torres o conduz muito bem, mesmo que acabe derrapando um pouco, acho eu, nas cenas finais, mas vale muito à pena. Afinal, o que vale é o percurso e não a chegada.
Confesso que estava desanimado para assistir este filme (assim como os outros em cartaz) e o trailer não havia me animado pelo fato de eu ver Wagner Moura novamente num trailer cantando música da Legião. Ele fez a mesma coisa com “Será” em seu penúltimo filme: “Vips”. Que por sinal, me causou péssima impressão quando assisti. Naquele filme em que ele também interpretava vários “eus”, estava bem exagerado na atuação, e logo pensei que cairia no mesmo erro. Engano meu, ele esta perfeito desta vez, e empresta credibilidade para seus três personagens “iguais e diferentes”. Melhor ainda é sua química com Aline Moraes, que para minha surpresa, esta muito bem como Helena, assim como Fernando Saylão e Maria Luisa Mendonça como os bons amigos de Zero. Ponto para o diretor, que mostrou que sabe dirigir seus atores, neste que é seu melhor filme, apesar do grande sucesso anterior de “A Mulher Invisível”.
O cinema nacional esta vivendo um “boom” de produção e público. Mas quantidade não está ligada a qualidade. Entre ciladas e vira-latas, Torre faz um filme pop, mas não popularesco. Não é “cabeça” ou profundo, mas o mais importante é que não é raso. Cópia do cinema americano? Neste caso... Que bom!
Gostei do blog, Beto. Já sou seguidor.
ResponderExcluirCumprimentos cinéfilos!
O Falcão Maltês
Beto, texto maravilhoso, na minha adolescencia não era tão fã de Legião como hj, sabe aquelas descobertas tardias, enfim, mas lembro qd escutei Smells Like teen Spirits do Nirvana a primeira vez, tinha uns 15 anos e mudou minha vida. Bom, cada um tem sua musica q toca, mesmo q seja pesada...hehehe....o filme é muito bom mesmo, sabor delicioso de sessão da tarde. Abração!
ResponderExcluirPô, que texto bacana, Beto!! Eu não lembro a primeira vez que ouvi "Tempo Perdido". Só fui me tornar fã da banda já na era do cd, já com o disco V. Aí fui me aprofundando e me tornando fã de Renato Russo. Tanto que até prefiro os discos noventistas da banda, sendo meu preferido o depressivo "A Tempestade". Quanto ao filme, ele mexe mesmo com essa imaginação de possibilidades e nos faz recuar no tempo em momentos em que poderíamos ter agido melhor. Como: por que não beijei aquela menina no momento em que ela se declarou pra mim? Coisas do tipo...
ResponderExcluirPois é Ailton, como eu disse, tinha uns quatorze ou quinze anos e era difícil escutar músicas novas, só com o disco, já que mais difícil, acho que tambem mais prazeroso, eu e a turminha da época idolatrávamos os primeiros discos da Legião, Plebe, Capital, IRA!, etc. Foi um acontecimento.Tua história do beijo aconteceu comigo várias vezes, sempre fui vacilão e sempre achei as meninas sempre mais espertas que os meninos (até hj).
ResponderExcluirPois é Celo, eu curti Legião quando estava realmente acontecendo, assisti os dois shows que fizeram aqui em SP, foi marcante.
Benvindo Antonio, irei prestigiar seu blog também, valeu!
Eu, de besta, não fui para o último show que a Legião fez em Fortaleza, se não me engano em 1989 ou 1990, da turnê As Quatro Estações. E olha que duas pessoas me convidaram. Inclusive uma menina por quem eu tinha atração. Mas eu era muito jovem, muito imaturo para as coisas do mundo. Ah, uma máquina do tempo... hehehe
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