Logo a primeira cena do filme me faz divagar e imaginar
outras cenas. Isso acontece porque uma paciente aparentemente maluca chega em
uma clinica, ela é Sabina (Keira Knightley) que é prontamente atendida por Jung
(Michael Fassbender, de novo) que
procura novos métodos para tratar pessoas com problemas, digamos, mentais. Ela
urra , se contorse, grita. Quando começa a falar, se percebe que seu interior,
suas dores, são tão disformes quantos aqueles espasmos corporais. Penso que
aqueles exagerados movimentos são uma forma de botar a dor mental para fora, se
extravasar. Logo imagino se todos fizessem a mesma coisa que ela, e começássemos
um dia a botar pra fora corporalmente nossas
angústias, nossas dores. Já pensou se - imagino a cena - um belo dia as pessoas começassem de uma hora
para outra, a se expressar, mesmo que sem querer, pondo suas “coisas” pra fora.
Meio-dia na Av. Paulista, homens engravatados, mulheres em seus vestidos, se contorcendo,
gritando, urrando e alguns outros felizes e calmos ( muito poucos , é obvio),
tentando arrumar aquela situação sem solução. Será que voltaríamos para a época
das cavernas? Ou toda a gritaria e caos seriam
precedidos depois de um tempo por uma calma e serenidade que chegaria aos
poucos juntamente com uma sensação de paz e leveza interior? Não sei não, mas
acho que guardamos muito lixo existencial dentro de nós, isto é obvio, e temos
que arrumar um modo de botar toda esta carga negativa pra fora. Daí nasceu a
psicanalise, num processo lento e gradual.
O grande Cronenbeng
genialmente tenta com este filme nos mostrar um fragmento do que homens como
Freud (Viggo Mortensen) e Jung iniciaram no começo do século vinte. A
psicanalise e seus primeiros embates, já que no começo ambos se juntaram para
depois discordarem dos métodos um do outro. O grande feito de Cronenberg neste
filme é não tentar em nenhum momento decifrar a psicanalise, e sim mostrar
habilmente como foi o relacionamento dos dois gênios da matéria, e a influencia
de Sabina na carreira de ambos, pois como é sabido, ela surgiu como paciente e
depois se tornou uma brilhante psicóloga até morrer absurdamente junto com as
duas filhas num campo de concentração nazista.
“Somos judeus, nunca confie em um alemão” diz Freud certa
hora para Sabina, que aquela altura era amante do alemão Jung, isto antes até
da primeira guerra mundial, Freud
parecia prever o que futuramente iria acontecer a judeus como ele, que pelo
menos conseguiu fugir de Viena, feita não conseguido por Sabina.
A caracterização de Viggo Mortensen como Freud é um caso à
parte, em sua terceira parceria com Cronenberg, o ator esta soberbo, é até uma
pena que entre os três seja o que menos aparece, pois dá vontade de assistir
mais cenas com ele.
Dizem que Cronenberg esta mais contido nos seus últimos
filmes, afinal não vemos mais homens se transformarem em moscas, crânios
estourarem e outras estranhezas tão características na obra ímpar deste
diretor, mas discordo totalmente, ele só esta mais sutil. Afinal de contas não
é terrivelmente maravilhoso e até mais absurdo ainda quando uma mulher goza em
pleno vestido por ver um casaco ser batido para se tirar o pó dele, ou mesmo
sentir prazer sexual ao apanhar do pai como acontece com Sabine?
As pessoas são uns
lindos problemas. E Cronenberg explora cada vez melhor as estranhezas humanas
na sua obra que cada vez fica melhor. Sorte a nossa, quem gosta de cinema adulto
agradece.
Beto, parabéns pelo texto. Um Método Perigoso é um ótimo filme mesmo. Concordo com vc, Cronenberg só refinou seu cinema. Desde sempre procurou explorar as transformações, evoluções/involuções do ser humano. Aqui, ele foi direto ao assunto. Viggo poderia ter aparecido mais mesmo. Tb gostei muito do personagem de Vincent Cassel, ele aparece pouco, mas é substancial para a trama do filme.
ResponderExcluirUm grande abraço!
Achei seu primeiro parágrafo genial! hehehe (Não que não tenha gostado dos outros, também.)
ResponderExcluirÉ Celo, acabei esquecendo de mencionar o personagem do Cassel. Ele acaba sendo uma especie de diabinho sexual na orelha de Jung, impressionante que tão inteligente, tenha morrido de fome nas ruas, né.
ResponderExcluirÉ isso aí, Ailton. Todos urrando feitos macacos em plena Av. Paulista (SP) ou Av. Atlantica (RJ), né Celo. Qual grande avenida aí em Fortaleza?
Aqui, acho que a maior avenida é a Santos Dumont. Mas não tem o mesmo glamour da Paulista ou da Atlântica. Tem também a Av. Beira Mar, que é legal por causa do mar e tal, mas é um trecho pequeno.
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