4 de julho de 2012

A Febre do Rato – Claudio Assis


Lembro de uma cena inesquecível no filme “Crime Delicado” de Beto Blant. A cena se passa em um boteco fuleiro da Vila Madalena, que por acaso conheço. Vemos um homem visivelmente bêbado discutindo com sua amada. Enquanto o personagem de Marco Ricca apenas observa os dois, fato contínuo no filme. Este bêbado, personificado por Claudio Assis, percebe que é observado e chama a atenção do observador, que pare de ficar olhando e vá viver, vá amar, vá se derramar por outros cantos. Grita, gesticula, que ama demais, que sofre demais e que tudo em sua vida é intenso demais. Ali esta Claudio Assis, praticamente fazendo um personagem de si mesmo. Sempre que assisto qualquer um de seus filmes, aquela cena volta a minha mente, pois acaba sintetizando toda a obra deste diretor pulsante, goste-se ou não de sua obra.
Neste seu terceiro filme não poderia ser diferente, lá esta ele novamente sendo desta vez, personificado pelo excelente Irhandir Santos, que faz às vezes de poeta anarquista, soltando sua verborragia pelas ruas feias de Recife. Um cartão postal ao contrário, em meio ao Rio Capibaribe, e as favelas e ratos que habitam suas margens. Recife, como numa ótima piada contada no filme, é uma espécie de ante-sala do inferno.
 Claudio Assis não quer passar impune, seus filmes podem ter todos os defeitos, mas ninguém saí ileso a experiência de um filme seu. Ou se gosta ou se odeia. Mas passa-se longe destes filmes de padrão Globo de qualidade. Ele quer radicalizar, bater na cabeça, nas sensações inodoras dos politicamente corretos. A liberdade da palavra não.
O poeta Zizo vive de seus fanzines, entre seus amigos, sendo seu melhor amigo, um coveiro vivido por Matheus Nasterghelle, que é casado com uma travesti, e suas velhas gordas amantes, até mesmo a própria mãe (não esqueçam que ele quer chocar) servem de válvula para sua mente inquieta. É no calor de seus suores na quente Recife que ele encontra inspiração para suas belas poesias. Tudo exala sexo e calor. Até que conhece Eneida, uma jovem estudante, vivida por Nanda Costa, que diz não a suas investidas. O poeta se apaixona e tudo muda com esta nova perspectiva. A liberdade e a anarquia é procurada o tempo todo, a todo custo. A um certo momento, percebemos que Eneida também quer o poeta, mas a perspectiva do não acaba sendo mais forte. O não para dizer sim, quando vemos na bela/ feia  cena da mijada, ou quando ela se masturba lendo o poema dedicado a ela.
Talvez, o problema do filme seja seu maior mérito. São tantos poemas lindos, que eles acabam se perdendo pela grande quantidade declamada. O pecado pelo excesso. Mas não é isso o que Claudio Assis quer? O excesso. Diz o diretor, que seus filmes não são brutos ou ásperos, são as pessoas que estão acostumadas só com a novela das oito. Goste-se ou não, vale a pena conferir.

2 comentários: