14 de novembro de 2012

Gonzaga - De Pai Para Filho – Breno Silveira



“Estou entrando no sertão, sertão que era do meu pai. À minha direita tem a lua... Deve ser ele, o Velho Lua me olhando... Eu não conheci meu pai direito e, amanhã é o enterro dele”.
Este é um dos depoimentos gravados pelo carioca Gonzaguinha, em umas das muitas fitas cassetes que ele gravou sobre o pai, que Breno Silveira teve acesso, e daí surgiu a vontade de fazer este filme.
Lembro-me de Gonzaguinha no auge do sucesso, eu era um menino, e toda vez que eu via sua feição, seja na tv ou mesmo numa capa de vinil, achava ele triste, muito triste. Era como se ele fosse o exemplo máximo de uma pessoa assim. Esta impressão me acompanhando sempre, e mesmo nas suas músicas alegres, como “O que é, O que é”, eu enxergava esta tristeza perene. Tem pessoas que são assim, carregam a tristeza nos ombros, são até meio curvados, e se esmeram pelos cantos, evitando o encontro com o coro dos contentes e seu céu dourado. Uns nasceram assim, outros se fazem assim, com o pesar da vida e dos anos. Assim como existem os contentes, aqueles que a gente vê e logo percebe que tal pessoa tem aquele brilho especial, estes são bem assediados, todos o querem por perto. E isto é normal. Sempre gostei dos tristes, pois sempre me pareceram ser aqueles que carregam as dores e os questionamentos, enquanto os contentes curtem a vida. Ninguém está errado ou certo, cada um com sua dor, ou prazer. Como já disse o outro poeta “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Eu aqui do meu lado tento fugir da tristeza apesar dela me encontrar e não poucas vezes me tomar por seu escravo. Eu quero a euforia dos bobos alegres, e quem sabe afortunadamente o amor, que por vezes falta nos momentos mais insuspeitos, e causam estragos para a vida inteira, como se uma parte do corpo fosse roubada, naquele momento ainda criança, naquele momento incompreensível.
Já Gonzagão sempre foi o exemplo maior daquela alegria característica dos nordestinos. Aquele nordestino, que antes de tudo é um forte. Aquela coisa solar, sua sanfona, suas roupas características, sempre a levar a alegria, seu povo e cultura para as estradas. Que com a cara e coragem saiu pelo mundo, mostrando e inventando um gênero musical único, que infelizmente hoje em dia é difundido erroneamente. O forró de Gonzaga, não tem nada haver com estes abacaxis com rapaduras que empesteiam o mundo, e os ouvidos populares.  Assim como o Funk de James Brown não tem nada haver com “aquilo” que é feito no Rio de Janeiro.
Pai e filho, dois seres tão distantes em tudo um do outro, menos no talento musical. Dois gênios. Um de direita, outro de esquerda. Um solar, outro soturno. Um alegre, outro triste. Tudo contribuindo para a distância tão sentida e mostrada no olhar e no jeito de Gonzaguinha. O embate em vida de duas pessoas tão diferentes e próximas.
Fui assistir ao filme sabendo que iria ver um filme parecido na fórmula com o outro sucesso de Silveira “Dois Filhos de Francisco”, mas confesso que fiquei meio decepcionado. É que na verdade queria ver outro filme, pois enquanto assistia, sempre ficava esperando pela presença de Gonzaguinha -também pelo fato de Julio Andrade(Cão Sem Dono) estar ótimo no papel -, queria saber de suas tristezas e de sua obra. Mas o filme se foca mais na trajetória do pai.  E tudo acontecendo muito rápido. A verdade é que ali se tem muita história para contar. Cada período da história do próprio Gonzagão já daria um filme à parte. Como seu relacionamento fraternal e amoroso com Januário (seu pai) em contra plano com seu relacionamento com o filho.  A angústia do filho, que se acha bastardo e esquecido pelo   ausente pai famoso. Mas o problema sou eu - pois por mim, seria feito um filme só do Gonzaguinha e sua ótica triste - e não o filme, que no final das contas acaba se resolvendo muito bem e parece estar indo bem nas bilheterias, justamente por usar a formula e os clichês do sucesso anterior do diretor. Sucesso não alcançado com o- que comentei aqui no blog anteriormente - injustiçado “A Beira do Caminho”, filmaço que Breno Silveira lançou este ano também, em que o roteiro é inspirado em canções do rei “Roberto Carlos”, mas mesmo assim, naufragou nos cinemas. Alias, é preocupante o cinema nacional que esta fazendo sucesso, só as sequencias do programa “Zorra Total” – credo! – é que estão dando certo. Certo não, muito errado. Comparado a eles, este filme é uma obra-prima

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