“Estou entrando no sertão, sertão que era do meu pai. À minha
direita tem a lua... Deve ser ele, o Velho Lua me olhando... Eu não conheci meu
pai direito e, amanhã é o enterro dele”.
Este é um dos depoimentos gravados pelo carioca Gonzaguinha,
em umas das muitas fitas cassetes que ele gravou sobre o pai, que Breno
Silveira teve acesso, e daí surgiu a vontade de fazer este filme.
Lembro-me de Gonzaguinha no auge do sucesso, eu era um
menino, e toda vez que eu via sua feição, seja na tv ou mesmo numa capa de
vinil, achava ele triste, muito triste. Era como se ele fosse o exemplo máximo
de uma pessoa assim. Esta impressão me acompanhando sempre, e mesmo nas suas
músicas alegres, como “O que é, O que é”, eu enxergava esta tristeza perene. Tem
pessoas que são assim, carregam a tristeza nos ombros, são até meio curvados, e
se esmeram pelos cantos, evitando o encontro com o coro dos contentes e seu céu
dourado. Uns nasceram assim, outros se fazem assim, com o pesar da vida e dos
anos. Assim como existem os contentes, aqueles que a gente vê e logo percebe
que tal pessoa tem aquele brilho especial, estes são bem assediados, todos o
querem por perto. E isto é normal. Sempre gostei dos tristes, pois sempre me
pareceram ser aqueles que carregam as dores e os questionamentos, enquanto os
contentes curtem a vida. Ninguém está errado ou certo, cada um com sua dor, ou
prazer. Como já disse o outro poeta “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o
que é”. Eu aqui do meu lado tento fugir da tristeza apesar dela me encontrar e
não poucas vezes me tomar por seu escravo. Eu quero a euforia dos bobos alegres,
e quem sabe afortunadamente o amor, que por vezes falta nos momentos mais
insuspeitos, e causam estragos para a vida inteira, como se uma parte do corpo
fosse roubada, naquele momento ainda criança, naquele momento incompreensível.
Já Gonzagão sempre foi o exemplo maior daquela alegria característica
dos nordestinos. Aquele nordestino, que antes de tudo é um forte. Aquela coisa
solar, sua sanfona, suas roupas características, sempre a levar a alegria, seu
povo e cultura para as estradas. Que com a cara e coragem saiu pelo mundo,
mostrando e inventando um gênero musical único, que infelizmente hoje em dia é
difundido erroneamente. O forró de Gonzaga, não tem nada haver com estes
abacaxis com rapaduras que empesteiam o mundo, e os ouvidos populares. Assim como o Funk de James Brown não tem nada
haver com “aquilo” que é feito no Rio de Janeiro.
Pai e filho, dois seres tão distantes em tudo um do outro,
menos no talento musical. Dois gênios. Um de direita, outro de esquerda. Um solar,
outro soturno. Um alegre, outro triste. Tudo contribuindo para a distância tão
sentida e mostrada no olhar e no jeito de Gonzaguinha. O embate em vida de duas
pessoas tão diferentes e próximas.
Fui assistir ao filme sabendo que iria ver um filme parecido
na fórmula com o outro sucesso de Silveira “Dois Filhos de Francisco”, mas
confesso que fiquei meio decepcionado. É que na verdade queria ver outro filme,
pois enquanto assistia, sempre ficava esperando pela presença de Gonzaguinha -também pelo fato de Julio Andrade(Cão Sem Dono) estar ótimo no papel -,
queria saber de suas tristezas e de sua obra. Mas o filme se foca mais na trajetória
do pai. E tudo acontecendo muito rápido.
A verdade é que ali se tem muita história para contar. Cada período da história
do próprio Gonzagão já daria um filme à parte. Como seu relacionamento fraternal
e amoroso com Januário (seu pai) em contra plano com seu relacionamento com o
filho. A angústia do filho, que se acha
bastardo e esquecido pelo ausente pai famoso. Mas o problema sou eu -
pois por mim, seria feito um filme só do Gonzaguinha e sua ótica triste - e não
o filme, que no final das contas acaba se resolvendo muito bem e parece estar
indo bem nas bilheterias, justamente por usar a formula e os clichês do sucesso
anterior do diretor. Sucesso não alcançado com o- que comentei aqui no blog
anteriormente - injustiçado “A Beira do Caminho”, filmaço que Breno Silveira
lançou este ano também, em que o roteiro é inspirado em canções do rei “Roberto
Carlos”, mas mesmo assim, naufragou nos cinemas. Alias, é preocupante o cinema
nacional que esta fazendo sucesso, só as sequencias do programa “Zorra Total” –
credo! – é que estão dando certo. Certo não, muito errado. Comparado a eles,
este filme é uma obra-prima
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