“Não é a toa
que eles estão na crise que estão”. “Bem feito, agora eles que tiram piadas de
nós, mandando um filme desses para a gente ver”. Frases escutadas, assim que o
filme acabou. Cine Olido, Mostra, centro da cidade, preço popular. Acho que não assistimos ao mesmo filme, pois
eu estava besta com tamanho filme. Um filme imenso, deslumbrante. E a pergunta
é: Como descrever um filme assim? Não sei... Eu que já vi todo tipo de filme,
acho que talvez só Don Sebastião quando voltar de suas conquistas por
mares nunca antes navegados, é que vai poder responder
esta questão.
Como posso
achar deslumbrante um filme que no começo me fez cochilar e até pensar em
desistir de assisti-lo, como alias fizeram, mais que a metade da sala, que no
inicio estava lotada? Documentário? Ficção? Cochilo? Deslumbre? Onde começa um
e termina o outro? Um filme dentro de outro filme? Um documentário falso ou uma
ficção real? Só sei que indico este filme para todas as pessoas que querem ver
algo realmente diferente no cinema. O melhor mesmo é nem tentar decifrar, e
apenas adentrar por este interior imenso das terras lusitanas. Em pensar que
ainda tem outros dois filmes (“TABU” e “A Cara Que Mereces”) do mesmo diretor
na Mostra.
O filme
começa com um radialista narrando a visita da equipe de filmagens de “Aquele
Querido Mês de Agosto” em sua rádio. Esta equipe percorre todo o interior do
país filmando os festejos que acontecem sempre no mês de agosto, que é quando
em pleno verão, as pessoas voltam do centro econômico e cultural do país, para
visitarem seus parentes e suas terras da infância, aproveitando para curtir o
calor do mês, sendo que o resto do ano é aquele frio europeu. Fica entendido e
vemos isso acontecer mais ainda no final do filme, que a equipe do filme está
inserida em todo contexto da história. Só o dialogo do diretor de som com o
diretor do filme nos créditos finais já vale o filme.
Nestes
lugares acontecem festas folclóricas com muita música popular (brega, se fosse por
aqui), dança e comidas típicas. A tradição religiosa, a vida simples das
comunidades é mostrada de forma simples, sem grandes arroubos, de forma
singela. É a parte claramente
documental, que certamente causa estranheza – (“afasto o que não conheço”), mas sem que se
perceba, vai mudando seu contexto para outra coisa e vai nos ganhando. O ponto
central é quando o diretor conversa com o produtor, para ele ir buscar mais
dinheiro na capital, e que ele encontrará os atores para a história que
pretende contar, tendo como ponto de partida um triangulo amoroso e incestuoso
(será?) entre pai, filha e primo. Será que são atores de verdade? Será que
aquilo tudo realmente aconteceu? Ou é tudo invenção? Quando vemos, estamos como que por mágica, totalmente
envolvidos na história desta família, que vive a sair pelas cidades do interior
a cantar nas tais festas populares. Mas não só com esta família, mas com todos
aqueles personagens (?!) e aquelas paisagens, fazendo um grande quadro imenso
de um filme grandioso.
Daí o
arrependimento de ter cochilado por poucos minutos. De ter cometido a heresia
de pensar em ir embora, pois tudo ali se completa num quadro imenso de um
cineasta em pleno domínio do que quer mostrar e que encanta. Algo que não sei
explicar, novo, inquietante, que eu apenas um espectador, não sei explicar. Mas quem disse que tudo tem
que ser explicado? Melhor é ser mágico, ser poeta. E Miguel Soares se mostra
diferenciado da nova safra de cineastas. Faz mágica e poesia na tela.
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