15 de abril de 2006
Tapete Vermelho - Luiz Albert Perreira
Que delícia de filme! Em uma aberta homenagem à Mazzaropi, o diretor conseguiu evocar o filme de interior, e o fez com maestria.
E isso se deve à interpretação espetacular de Matheus Nachtergaele. Este ator fantástico que já nos brindou em sua curta carreira(seu primeiro filme foi O Que é Isso, Companheiro) com papéis memoráveis,como em " O Primeiro Dia" em que interpretava um ladrão pé-de-chinelo, ou o inesquecivel sertanejo de "O Auto da Compadecida", ou a bichinha de "Amarelo Manga", conseguiu se superar ao dar vida ao "Jeca-tatu" Quinzinho. Matheus vive seu melhor momento e leva praticamente o filme nas costas, tanto é que ele praticamente não saí de cena durante o filme todo. Mesmo tento todos os trejeitos do homenageado, com seu jeca ingênuo, mas esperto,consegue impor seu próprio estilo.
Um filme para um público esquecido, para o povão. Aqueles saudosos de Mazzaropi, que lotavam os cinemas na década de 60 e 70.
Conta a história de um pai (quinzinho) que quer pagar uma promessa feita ao seu falecido pai, que quando tivesse um filho e esse fosse completar 10 anos de idade, levaria o menino para assistir a um filme do Mazzaropi, igual o avô fez com o pai. Mas os tempos são outros, não existe mais cinemas no interior, e a jornada desse pai, o filho e sua esposa (Gorete Milagres) se torna cada vez mais difícil. A cada lugar que ele chega, o cinema que existia, ora virou igreja, ora supermecado, e sua caminhada se torna mais longa, até acabarem, por força das circunstântacias, chegando à São Paulo.
Até um pouco depois da metade do filme, o filme flui que é uma beleza, passeando pelos folclores do interior e se concentrando na família em sua jornada. Mas perde sua força,quando eles se deparam com um grupo de sem terras, daí o que se segue são soluções rápidas e mal resolvidas, mas mesmo assim o filme continua a encantar por causa de Matheus que arrasa.
Interessante notar que o cinema onde Quinzinho consegue finalmente seu Tapete Vermelho, é o velho e infelizmente inativo cine Paissandú, do centro da cidade. Onde eu ia menino nos finais de semana assistir às matines. Tempo esse, que os cinemas do centro da cidade viviam lotados, a grande maioria nem existe mais, pois viraram igrejas e estacionamentos, assim como no filme, só restanto os shoppings. Triste, triste...
Tapete Vermelho invoca um cinema que também não existe mais, uma ingenuidade e um público que não existe mais, e isso não é pouco. Pois o povo mesmo, que assistia aos filmes de Mazzaropi (bons tempos) não vai mais ao cinema, pois o mesmo não é acessível como há trinta ou vinte anos atrás. Hoje, só uma espécie de elite vai ao cinema, tanto é que eles estão concentrados nos shoppings.
Mesmo com seus defeitos, é um filme obrigatório por evocar um humor de interior que já havia sido esquecido, fora que é muito divertido graças ao show de Nachtergaele.
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