3 de maio de 2006

Brasília 18% - Nelson Pereira dos Santos


Há muito tempo atrás, li o livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, e o capítulo que mais me impressionou , foi o da cadela Baleia. Anos depois, fui assistir ao filme dirigido por Nelson Pereira dos Santos, pensando em como ele conseguiria transpor aquela história mágica, mais especificamente, aquele capítulo para a tela. Ele me surpreendeu em todos sentidos, saí do cinema com as pernas bambas apesar da péssima qualidade da cópia do filme. Fora a sensação de angústia, que tomou conta de mim, quando assisti ao monumental “Memórias do Cárcere”, sem falar da sua trilogia a respeito do submundo do Rio de Janeiro. O homem é gênio, um verdadeiro monstro vivo e sagrado do cinema brasileiro, que merece toda a reverencia possível, a um cineasta que contribuiu tanto ao nosso cinema. Não é à toa, hoje ele está na Academia Brasileira de Letras, mesmo com nenhum livro escrito, pois o único lançado com seu nome, foi uma compilação de alguns de seus roteiros. Não importa, ele merece.

Mas não posso deixar de lamentar seus últimos três filmes de ficção . Lembro de eu e um amigo, sairmos do cinema nos xingando por termos assistido “A Terceira Margem do Rio”. E o que falar de Cinema de Lágrimas (não assisti “Raízes do Brasil”), que horror. Parece-me que o diretor perdeu a mão, suas idéias são ótimas, mas os filmes estão frouxos em suas direções.

Brasília 18% é o melhor dos três últimos de ficção, mas mesmo assim , para mim obviamente, contem muitos defeitos. Não entendi aonde Nelson Pereira dos Santos quis chegar com esse filme.

Se sua vontade era narrar um pouco do universo político de Brasília, lhe faltou aprofundamento, adentrar em suas questões mais escuras, estudar mais o território, a coisa ficou muito rasa. Talvez quisesse contar uma história meio-espírita, sobre um homem atormentado que vê sua esposa já morta, e depois passa a ver a própria vítima, à qual está fazendo a autópsia e, estudando suas fotos, se vê apaixonado por ela, e passa a vê-la nua (isso é legal, pois Karine Carvalho é linda demais) a todo o momento. Ou a simples história de um homem desanimado (morto vivo) com a vida, vagando no meio de um furacão, que é Brasília.

De qualquer forma, nada se sustenta, são muitas questões levantadas, sem seu devido apuro. Quando terminou o filme, eu não sabia o que o diretor quis com aquilo tudo. Muitos personagens aparecem e somem sem bem o porquê. Aquela japonesinha extremamente mal dirigida, ou simplesmente péssima mesmo, qual sua finalidade? E o final? Entendo que o personagem de Ricelli (Olavo Bilac) deva ser apático, mas é o ator que está apático.

Fui assistir ao filme pronto para gostar (pois realmente ele tem aquele clima de filme dos anos 80), mesmo com defeitos, pois só de sair daquele ciclo Globo Filmes já seria maravilhoso, mas me decepcionei. Tenho lido muito a respeito do filme. Outras pessoas mais gabaritadas do que eu, que enxergaram coisas que eu não vi. Pretendo assisti-lo de novo e ver se mudo essa péssima impressão.
ps. Carlos Vereza foi na segunda-feira falar sobre o filme e outras coisas como política e espiritualidade no Programa do Jô. Grande ator, grande ser humano, numa entrevista ( o Jô deixou ele falar) memorável.

4 comentários:

  1. Puxa, perdi a entrevista com o Vereza...

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  2. O Vereza sempre foi um cara de opiniões fortes, sem papas na língua, nem aquele jeitinho de simpático, comum aos artistas que querem ficar bem na foto. Foi uma bela entrevista de dois blocos em que o Jô mostrou respeito e admiração e deixou o cara se expressar a vontade

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  3. parabéns pelo blog! tah bem legal!
    vc jah visitou o site do skol beats? muito divertido: www.invasaobeat.com.br

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  4. Beto, primeiro respondendo ao seu comentário no meu blog: atualmente tenho postado mais filmes antigos por causa de uma gripe que custou a me abandonar e me afastou dos cinemas (mal esse já superado, em breve estarei postando filmes recentes). Quanto a Brasília 18%, como você mesmo disse, o grande Nelson Pereira dos Santos anda cometendo equívocos lastimáveis em seus últimos filmes. Espero profundamente que ele acerte na próxima. Abraços e obrigado pela visita.

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