Eu me lembro também de um caso de minha infância, que bem menino, quando devia ter no máximo uns três anos, em Piraju, cidade do interior paulista, de onde era meu pai, já falecido. Tínhamos vários parentes, e ele tinha várias primas que me adoravam. Até porque é difícil não gostar de um menino bonitinho e serelepe, pedindo colo a toda prima bonita.Pois bem; lembro uma vez que enquanto uma delas dormia, eu subi em cima do seu corpo, e descobrindo um mundo novo, desamarrei sua blusa preta de laço, deixando seus seios à mostra, e toquei-os (não) sabendo que aquilo que eu fazia era estranho, novo e fascinante para mim, menino que ainda usava fraldas. Acabava de ultrapassar um limite, proibido e profano, que eu não entendia o porquê, me era tão louco. Instinto sexual aflorado? Mera curiosidade infantil? Não sei... Só sei que é umas das minhas lembranças mais remotas. O início de tudo. E o sexo permeando estas lembranças. Acho que esqueci de quase tudo, menos das coisas ligadas ao sexo.Estranho...
Dou este exemplo, por ter lembrado disto assistindo ao filme autobiográfico de Edgar Navarro. Neste autoral, e já por isso, mais que louvável filme, o diretor nos empresta suas lembranças de menino baiano, para nos mostrar sua Bahia e mesmo o Brasil, e suas mudanças efervescentes e radicais em tão curto tempo, que vai do final dos anos 50 (anos dourados) até meados dos anos 70 (militarismo).
O que mais gostei no filme, foi sua primeira metade. Que narra a infância do diretor e de sua família típica baiana, através de lembranças de um menino, ou seja, o próprio diretor. Vemos seu crescimento e descobertas sexuais em meio a uma família grande e problemática. Família deliciosa, de uma outra época, que não volta mais.
Mas é na sua segunda metade que o filme perde o vigor, por tentar em pouco tempo, contar através do menino (que já cresceu) toda uma época de transformações. Em pouco tempo, vemos seu envolvimento com a guerrilha, a perda de amigos, sua depressão. E logo em seguida seu envolvimento com uma comunidade hippie, assim de um extremo ao outro, sem muitas explicações.
Se na primeira parte, o filme nos faz viajar entre lembranças deliciosas de uma criança e sua (muito bem retratada) família baiana. A segunda parte perde o gás, com tantos acontecimentos em tão curto espaço e algumas coisas se perdem no enredo. Não sabemos, por exemplo, como o pai do menino morreu, e como sua casa, antes habitada por diversos irmãos, se tornou uma comunidade de hippies. Cadê seus irmãos?
Mas mesmo assim, o filme não perde em nada seu encanto. Até porque, fica nítido, aos nossos olhos, a urgência do diretor, em nos contar aquela história. Sua história, sua sobrevivência, em meio a tantos acontecimentos. Seu propósito não é a bilheteria, a forma de filmar ou qualquer outra coisa. Seu compromisso é o de botar para fora, através do cinema, tais lembranças. Seu compromisso é consigo mesmo, e com o cinema, sua paixão desde a época narrada. Isso ele faz de forma sincera e urgente. Só por isso, Navarro já merece sinceros e efusivos aplausos.
Gostaria de ter acesso a este filme, pois na sexta-feira 20/03/09tenho que apresentar uma resenha. Procuro e não encontro, mas, esse relato foi a mão na roda... kkk
ResponderExcluirObrigado,