21 de março de 2007

Cidade Baixa - Sérgio Machado


Neste mês completo um ano de blog. Espero que seja o primeiro de muitos anos. Minha intenção aqui é só de refletir minhas opiniões a respeito da sétima arte e conseqüentemente minha vida, através dos textos, sem nenhuma cerimônia ou importância maior do que simplesmente me expressar, exercitando assim, minha escrita e principalmente minha mente. Dando uma olhada em todos os textos que escrevi neste meio tempo, me deparei com textos ruins e outros que considero bons, como o texto que reproduzo abaixo (sem mexer em nada), que talvez seja um dos que eu mais gosto entre os quais eu escrevi. Espero que no ano que vem os textos sejam melhores e que eu possa fazer o mesmo que faço hoje. Ou seja, reproduzir um texto do qual gostei:


“E aí periguete, quer carona”. Assim começa a ligação de três almas perdidas nas vielas de uma cidade escondida, não turística, aquela habitada apenas pelos desafortunados que tentam se equilibrar no pouco ou quase nada a que estão acostumados; ao pouco ou quase nada que são.Mercenários de uma vida distante do imaginado pelo Brasil, na velha Salvador, distantes da alegria dos axés carnavais felizes. Nesta Bahia , encontramos três personagens perdidos entre si e jogados à beira do cais do porto, e em suas esquinas sujas e fétidas, onde se mistura cheiro de suor ordinário, temperado a trabalho bruto, sexo e porra.Onde se habita “galos e pretas” à procura de um sentido para suas malfadadas vidas.
Sérgio Machado, nos presenteia em sua estréia, com três destes exemplos. Vagner Moura, Lazaro Brandão e Alice Braga, formam um triangulo amoroso, ou melhor, sexual. Os dois rapazes, sócios e amigos de infância, vêem sua aparente estrutura “irmã” ruir quando se apaixonam, melhor dizer, desejam a bela Alice, que por sinal incendeia a tela. A partir daí, o equilíbrio, que na verdade nunca existiu, se perde, ou melhor, eles se perdem, entre eles mesmos. O sexo, o desejo e a violência, servem de válvula de escape à ternura, ao amor, coisas que nenhum teve ensinamento, são sobreviventes.
É visível como eles não sabem lidar com os sentimentos – quem é que sabe? – seja na amizade entre os homens, seja na paixão sentida dos dois pela puta.É como se os três se perguntassem “ O que fazemos com isso?”.Ah! Esse sentimento em ebulição dentro de nós, faca de dois gumes chamada paixão.
Enquanto isso, nós vemos a Cidade Baixa do título.Quase sentimos seus cheiros e fedores, o ar pesado do cabaré, suas bebidas baratas.Deus não existe nesses lugares, apenas o desejo e a violência, mola propulsora dessas almas sem destino. Sim, eles sabem que são sem destinos, espúrias da sociedade hipócrita, que não dá chances a quem nasceu sem nada.
Temos como exemplo, logo no início, as presenças de José Dummont (o maior ator do Brasil), junto aos outros, numa briga de galo, vêem a briga de galo em que ele é um apostador. Logo em seguida uma briga dele com o personagem de Lázaro Ramos, parece uma repetição da rinha entre os galos, pois na verdade homens/galos são a mesma coisa nessa atmosfera, são apenas máquinas de briga e sexo.
Sérgio Machado deixa generosamente seus atores brilharem, especialmente Alice Braga. Sentimos suas respirações e seus odores, de forma natural e ao mesmo tempo pungente como na cena final. Desconcertante.
Pinto, Porra, Porrada e Puta, numa Salvador sem salvação.

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