Dá primeira vez que assisti, saí do cinema com uma sensação estranha, como se alguma coisa houvesse me escapado. No dia seguinte, fui conferir novamente, desta vez me permiti até dar umas risadas e tudo me pareceu bem mais coeso. Difícil escrever sobre um filme que gostei tanto, depois de tanto ler e pensar a seu respeito. A primeira coisa que vem em minha mente, é achar que ele é um filme falsamente modesto.Cheio de sutilezas, de não-ações, mostra as emoções escondidas e adiadas de pessoas mais que comuns.
A câmera é amiga companheira de Ciro (Julio Andrade), um cara totalmente desvinculado de uma vida padrão. Desiludido e apático, ele é o retrato fiel de uma juventude contemporânea que se recusa a crescer, a ter responsabilidades. Que não sabe o que fazer da vida.Tem um pouco de Ciro em mim também, e como tem... Ciro tem um medo danado de se envolver. É um cara legal até, mas afetivamente, é nulo. Até o cachorro que o acompanha, não tem um nome, e ele nem o considera seu.Não quer compromissos de espécie alguma, e enquanto os pais ajudam com uma graninha, vai levando a sua (não) vida.Interessante notar na primeira vez que ele aparece conversando com os pais, o seu total desinteresse. Sei bem como é isso, parece até que eles estão falando outra língua.
A diferença é que na vida dele acontece Marcela (Tainá Muller, linda!!!!!), e sua frágil segurança não suporta o vento do amor brotar dentro de si. Amor que julga nem existir.Que na sua pretensa segurança, pode apenas se manifestar através do sexo. Não é à toa que o sexo (lado de fora), a as doenças (lado de dentro), aparecem tanto no filme (será que é bem no meio dos dois que se encontra o amor?). Através do sexo e das doenças, que Ciro e Marcela se comunicam, se conhecem. Ela tentando a todo custo furar o bloqueio que Ciro criou dentro de si. Bloqueio que se revela frágil, pele exposta e machucada, quando ela se afasta de sua vida. Toda a falsa segurança de Ciro, caiu por terra e ele se vê perdido de amor. Quando Marcela canta – na cena do ano – toda linda e entregue a aquele momento mágico, acompanhada no violão por Ciro, é interessante notar o olhar apaixonado dele para os movimentos dela. Naquele momento, ele se entrega ao amor, mesmo sem saber disso.
Os coadjuvantes são um caso a parte no filme. Seja o moto-boy e a esposa, num encontro na casa deles, que me pareceu a cena mais real e natural eu já vi no cinema. Seja os pais de Ciro, ou mesmo o porteiro pintor. Todos sutilmente, ajudam Ciro a se encontrar afetivamente. Outra cena maravilhosa, de tantas do filme, é quando o pai de Ciro conta a ele um problema que teve no passado, em que teve que se perder para depois se encontrar. Ou quando o porteiro comenta da receita de um sorvete de pêra ocre e gelado, herança de uma ex-namorada, enquanto mostra Marcela em um de seus quadros, colorida e vibrante.
A vida, tão banal aparentemente, pulsa em casa fotograma desta outra pequena obra-prima de Beto Brant. Se já havia ficado maravilhado com “Crime Delicado” no ano passado, filme que junto com “O Céu de Suely” foi pra mim o melhor de 2006. Cão Sem Dono já é até aqui, o filme do ano. Na minha modesta opinião, nunca o cinema brasileiro esteve tão bem representado.
A câmera é amiga companheira de Ciro (Julio Andrade), um cara totalmente desvinculado de uma vida padrão. Desiludido e apático, ele é o retrato fiel de uma juventude contemporânea que se recusa a crescer, a ter responsabilidades. Que não sabe o que fazer da vida.Tem um pouco de Ciro em mim também, e como tem... Ciro tem um medo danado de se envolver. É um cara legal até, mas afetivamente, é nulo. Até o cachorro que o acompanha, não tem um nome, e ele nem o considera seu.Não quer compromissos de espécie alguma, e enquanto os pais ajudam com uma graninha, vai levando a sua (não) vida.Interessante notar na primeira vez que ele aparece conversando com os pais, o seu total desinteresse. Sei bem como é isso, parece até que eles estão falando outra língua.
A diferença é que na vida dele acontece Marcela (Tainá Muller, linda!!!!!), e sua frágil segurança não suporta o vento do amor brotar dentro de si. Amor que julga nem existir.Que na sua pretensa segurança, pode apenas se manifestar através do sexo. Não é à toa que o sexo (lado de fora), a as doenças (lado de dentro), aparecem tanto no filme (será que é bem no meio dos dois que se encontra o amor?). Através do sexo e das doenças, que Ciro e Marcela se comunicam, se conhecem. Ela tentando a todo custo furar o bloqueio que Ciro criou dentro de si. Bloqueio que se revela frágil, pele exposta e machucada, quando ela se afasta de sua vida. Toda a falsa segurança de Ciro, caiu por terra e ele se vê perdido de amor. Quando Marcela canta – na cena do ano – toda linda e entregue a aquele momento mágico, acompanhada no violão por Ciro, é interessante notar o olhar apaixonado dele para os movimentos dela. Naquele momento, ele se entrega ao amor, mesmo sem saber disso.
Os coadjuvantes são um caso a parte no filme. Seja o moto-boy e a esposa, num encontro na casa deles, que me pareceu a cena mais real e natural eu já vi no cinema. Seja os pais de Ciro, ou mesmo o porteiro pintor. Todos sutilmente, ajudam Ciro a se encontrar afetivamente. Outra cena maravilhosa, de tantas do filme, é quando o pai de Ciro conta a ele um problema que teve no passado, em que teve que se perder para depois se encontrar. Ou quando o porteiro comenta da receita de um sorvete de pêra ocre e gelado, herança de uma ex-namorada, enquanto mostra Marcela em um de seus quadros, colorida e vibrante.
A vida, tão banal aparentemente, pulsa em casa fotograma desta outra pequena obra-prima de Beto Brant. Se já havia ficado maravilhado com “Crime Delicado” no ano passado, filme que junto com “O Céu de Suely” foi pra mim o melhor de 2006. Cão Sem Dono já é até aqui, o filme do ano. Na minha modesta opinião, nunca o cinema brasileiro esteve tão bem representado.
é o filme brasileiro do ano, sem dúvida. pelo menos até Serras da Desordem estrear
ResponderExcluirEstou querendo ver (esse e Ódiquê, do Felipe Joffily), mas não estou encontrando tempo. MInha agenda anda tão assoberbada de coisas que acabo afastando-me da minha paixão pela sétima arte. Mas vou ver... com certeza. Com O Cheiro do Ralo foi a mesma coisa: custei, mas fui ver.
ResponderExcluir(http://claque-te.blogspot.com): Carne Trêmula, de Pedro Almodóvar.
Roberto,
ResponderExcluirArrume um tempinho e não perca "Cão Sem Dono" e "Não Por Acaso".Não perca! Nem que sejam os únicos do ano, hein.
Valeu a visita,
Esta parte da Tainá cantando... Meu olhar, na poltrona do Cinesesc, ficou igual ao do personagem que tocava o violão.
ResponderExcluirTão bom, sair do cinema realmente tocado por um filme...
É verdade Alê. Um momento mágico, de quem é apaixonado por cinema, como nós.
ResponderExcluirFiquei arrepiado lendo o teu texto e me lembrando das partes do filme que vc cita, Beto. Impressionante esse filme. De uma beleza ímpar mesmo. E como a Tainá é apaixonante!
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