30 de julho de 2007

Saneamento Básico – Jorge Furtado

Dia muito frio em Sampa, o relógio da Av. Paulista marca dez graus. Fico de assistir o Malle (último dia em exibição) com o Alê Carvalho (generoso amigo, mentor de um dos meus blogues prediletos: http://www.interney.net/blogs/rolleiflex. Chego atrasado, ele já entrou na sala, deve estar puto comigo. Sinto frio, um peso no corpo e na alma. Triste, muito triste, em mais uma noite de inverno no coração e nas ruas. Resquícios de amarguras, acentuadas pelo livro “Morangos Mofados” que estou lendo. Também me sinto mofado.Gosto de bermuda e chinelos. Detesto o frio e esse monte de roupas, que parecem sempre evidenciar meus dissabores, minha solidão. Estou com a cabeça dispersa, não é dia de assistir ao esperado quarto filme de Jorge Furtado, acho que não saberei curtir o filme devidamente, neste dia aborrecido.
Mesmo assim entro na sessão, e minha dispersão some por completo, assim que a voz em off (inconfundível) de Fernanda Torres anuncia que o filme vai começar. Opa, vem coisa boa por aí.

Sou realmente fã do cinema de Furtado, seus outros três filmes já foram assistidos inúmeras vezes por mim. Sua leveza e despretensão para tratar de assuntos sérios, ou nem tanto assim, vão de encontro ao cinema que mais gosto.Ele sempre tem o que mostrar, e com o seu prestigio e a ajuda de uma equipe afiada, parece estar apenas se divertindo enquanto dirige seus projetos.

Neste filme, ele mais uma vez mostra seu talento, e usando da metalinguagem (um filme dentro de outro filme), um texto rápido e apimentado, nos brinda com seu filme mais engraçado. Em várias cenas, não há como não soltar gargalhadas (quem me conhece sabe da descrição), como quando “O Monstro da Fossa” dá uns tabefes na cunhada chata e faz uma dança de comemoração.

Mas o filme é muito mais do que só engraçado. Com uma fina ironia, Furtado usa o artifício de uma fossa que espalha cheiro por uma pequena cidade do Sul, para fazer suas sutis críticas a vários setores e fatos:os políticos e a politicagem, ao mal uso do dinheiro público, os concursos públicos, as celebridades instantâneas, e principalmente à sua própria classe artística e a forma de patrocínio para seus projetos cinematográficos.

Ainda há tempo para o divertido embate entre os dois italianos vividos por Paulo José (Veneza) e Tonico Pereira (Bologna), que lembram satiricamente as famílias rivais italianas das peças de Shakespeare.

E não bastasse, há o casal deliciosamente personificado por Wagner Moura e Fernanda Torres, que vivem uma linda história de amor em meio a micoses e briguinhas de casal. É evidente o prazer que a dupla tem por seus personagens.Aqui o amor existe, é bom e bem resolvido, sem ser em nenhum momento piegas.

Terminado o filme, saio do cinema com um leve sorriso no rosto. O corpo mais leve e altivo. Nem os mesmos dez graus da Av. Paulista, parecem tão intensos,o coração parece aquecido pela magia do filme. O cinema sempre teve essa mágica, saio feliz comigo mesmo, e só lamento (mais ainda) não ter encontrado meu amigo, pois certamente, beberíamos algumas cervejas. E eu alegre pelo filme ter me feito tão bem ao espírito. A minha outra face.

5 comentários:

  1. É mesmo um bom filme do Furtado e, com bastante humor, faz críticas sutis e contundentes ao Brasil, de uma forma geral.

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  2. Eu adoro os filmes do Furtado.Ele, o Karin e o Brant são os caras!

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  3. Furtado é, talvez, um dos poucos cineastas brasileiros que consegue me fazer rir no cinema. E mais uma vez - como fez anteriormente em O Homem que Copiava - ele dá o show. O elenco, lógico, ajudou e muito. Palmas para o Sr. Furtado.

    (http://claque-te.blogspot.com): Fabricando Tom Zé, de Décio Matos Jr.

    Outros Blogs:
    http://fotovoyeur.zip.net
    http://houseagency.blogspot.com

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  4. hahaha o Alê comentou dessa betada que ele levou...
    Ei, amigo, frio, solidão? Aqui em casa SEMPRE tem janta, viu? Pelo menos fica com a barriga quentinha, cola aqui.
    beijo, querido

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  5. É Roberto, eu realmente soltei gargalhadas, acho que as outras pessoas no cinema me consideraram louco, hehehe.


    Pois é Carol. Mais uma Betada (tá virando marca). Adorei o convite e aceito. Nos falamos logo.
    beijos

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