30 de junho de 2006

No Meio da Rua – Antonio Carlos da Fontoura


Situação chata escrever sobre um filme que você gostaria de gostar , mas não consegue. Sempre olho com bons olhos, filmes que tenham em seu foco principal o olhar de criança, mas não deu.

Fontoura dirigiu no começo dos anos 70, um filme ímpar. Sua “Rainha Diaba” é uma obra-prima, e desde então sempre se esperou que ele fizesse outros filmes deste quilate. Mas não foi isso que aconteceu, e o diretor pouco produziu depois de sua obra-prima. Vale lembrar o seu “Espelho da Carne”, ousado e pouco visto, produzido numa época difícil do cinema brasileiro.

Este seu “No Meio da Rua”, parece ter ficado no meio do caminho, talvez pelas complicações inerentes à produção, que fizeram com que o filme fosse lançado logo após “Gatão de Meia Idade” (filme que não vi, e para falar a verdade, nem tenho vontade, pois dizem que é péssimo), mesmo sendo feito antes. Acho que isso acabou ajudando a complicar sua situação. Por incrível que pareça, o filme parece que envelheceu.

Seu enredo é simples. É sobre um menino atarefado e rico que faz amizade com um menino pobre, que vive a pedir dinheiro nos faróis da cidade do Rio de Janeiro. A amizade nasce através de um game-boy, que um empresta ao outro. Este encontro fará com que o menino rico vá parar na favela, e vivendo em um mundo desconhecido, vá se sentir feliz neste novo mundo, de pequenas coisas simples da vida, que ele não estava habituado, como jogar bola de gude, futebol, etc. É o embate de classes que se faz de forma inocente e leve. Mérito do diretor que preferiu um enfoque leve e infantil, que é acertado. Mas os acertos param por aí, pois falta um roteiro melhor elaborado, seus diálogos são toscos, e falta uma direção mais segura. Suas soluções são frouxas e inverossímeis. O diretor deixou escapar uma boa chance de discutir melhor o embate dessa classe média, cheia de medos. Problemas das grandes metrópoles, mas que no Rio de Janeiro se acentua, até pelo fator geográfico. A cidade é literalmente cercada pelos morros e favelas. O embate entre morro e asfalto, devido a gigantesca diferença econômica e social, é inerente. Isso deveria ser mais bem trabalhado no filme, que no final não se apega a nada, e acaba não dizendo a que veio.

Num elenco mal dirigido, vale destacar a menina, que faz o papel de irmã do menino rico. Com seu jeito tagarela, conseguiu dar um pouco de graça a um filme que no mínimo (pelo seu enfoque infantil) deveria ser um pouco engraçado.

Se o ano passado, o cinema brasileiro nos presenteou com grandes filmes, este ano a coisa esta muito feia, e este é mais um exemplo da crise criativa do nosso cinema. É pena.
ps.: A Argentina acaba de se despedir da Copa. Nunca pensei que um dia iria pensar isso, mas fiquei triste, pois o futebol bonito, que eu gostaria de estar vendo o Brasil jogar, acaba de morrer mais um pouco, em favor de um futebol pragmático e feio (Alemanha). É pena.
Pior, a Argentina (e todos os amantes de cinema), perderam um grande cineasta. Fabian Bielinsky, do excelente Nove Rainhas, faleceu esta noite aqui em São Paulo. A Argentina, nos dois casos, tem o meu sincero respeito.

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