25 de setembro de 2006

Veias e Vinhos: Uma História Brasileira – João Batista de Andrade


Na parede do armazém, (de uma família recém chegada na capital de Goiás, atrás do sonho promissor, graças à construção de Brasília) dois quadros de dois ex-presidentes: JK e Getulio. O quadro de JK insiste em não ficar correto na parede, sempre está torto e sendo arrumado por seu dono. Uma clara alusão aos acontecimentos daquele momento, e do que viria em seguida. Encerramento do ciclo dos anos dourado de JK, tempo de prosperidades; inicio dos anos de chumbo, com a cassação de Jango, seu exílio e a tomada de poder pelos militares. O Brasil a partir de então, nunca mais seria o mesmo, e está família recém chegada à capital goiana sofrerá na carne, as mudanças desse novo, e sombrio Brasil.

Neste filme, baseado em romance verídico de Miguel Jorge; temos uma amostra do que seria o inicio dos anos de terror, em que militares e fanáticos afins, tomaram de assalto o poder de Brasília e do Brasil. O diretor João Batista de Andrade, de “O Homem que Virou Suco”, volta com sua veia crítica e política, para nos contar um caso sem solução até hoje, e que mexeu muito com o imaginário popular no inicio da década de 60, em Goiás.

Para minha sorte (ou azar), assisti ao filme sem ter lido nada a respeito, portanto os acontecimentos que vi na tela, me pegaram de surpresa , me fizeram muito mal. Uma história triste e indigesta, de uma época absurda. Não é um filme para qualquer um acompanhar. O diretor, entre seus acertos e muitos erros, mostra de maneira abrupta, o extermínio de uma família e suas (não) conseqüências, num exato momento em que os militares tomam o poder no Brasil. Assim, acompanhamos, os desentendimentos do dono do armazém (Leonardo Vieira), com um militar chamado Capitão (Celso Frateschi, forçado e estereotipado), que resolve implantar no estabelecimento o terror e perseguição a quem considera comunista. Acaba sobrando para todo mundo, inclusive inocentes, que se vêem a mando de um militar lunático.

João Batista acerta em nos contar uma história tão indigesta, e nos mostrar através do personagem de Celso Frateschi o quanto de desvario se fez no período. Mas erra na escalação de elenco e na condução da história. O filme é burocrático, não tem fluidez narrativa. Poderia ser muito bem melhor, inclusive, poderia assustar e nos indignar bem mais. Mas falta alma ao filme, e ele acaba ficando aquém do que poderia. Mas de qualquer forma, vale ser visto, pela ousadia do diretor em nos mostrar uma história dura, um exemplo entre vários, de uma época de terror, e que ficou no passado.

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