22 de fevereiro de 2007

Cassino – Martin Scorsese

Li no jornal, logo após o término do carnaval, sobre um grande barracão feito na Sapucaí, pelos “padrinhos” das escolas de samba, para poderem todos construir seus carros alegóricos por lá. Grande iniciativa, que ajuda ainda mais o carnaval do Rio de Janeiro ser o que é. Quer se goste ou não, é de se admirar tanto trabalho e beleza.Estes “padrinhos” benfeitores, são na verdade contraventores de (no mínimo) jogo do bicho, atividade ilegal, que certamente ajuda na violência da cidade maravilhosa, mas que na época de carnaval ganha outros relevos, e de contraventores eles passam a ser benfeitores de suas comunidades.

Digo isto para fazer uma ponte entre os bicheiros e os cassinos de Las Vegas nos idos dos anos setenta. Tanto é que num momento do filme, Sam Ace (Robert De Niro) se diz surpreso, pois em outros estados dos EUA, ele é considerado inimigo público, um contraventor sempre as voltas com a polícia e as grades das prisões, enquanto em Las Vegas, ele era um semi-deus, admirado e adorado por sua habilidade com a jogatina.No filme ele é o administrador de um grande cassino, onde todos perdem dinheiro, menos o próprio cassino, que faturava milhões para a máfia na época.

Filme baseado numa história verídica, que na época em que passou no cinema, assisti e não curti muito. Resolvi rever este filme de Scorsese em pleno carnaval. Até porque todo e qualquer filme do genial diretor, sempre fica melhor na revisão, e com este não foi diferente.Já valeria a pena, só por assistir ao papel da vida de Sharon Stone e por ser os últimos grandes personagens de Robert De Niro e Joe Pesci. Ou alguém duvida? O filme gira em torno dos personagens Sam Ace (De Niro), Nicky (Pesci) e Ginger (Stone). E acompanhamos um show de direção e dinamismo por parte de Scorsese, que nos mostra ricamente, como funcionava aquele complexo mundo de jogos e falsos valores.

Retrato de uma América fadada ao fracasso por uma ambição desmedida, onde o dinheiro é a mola mestra, que passa por cima de todos os princípios do homem. O dinheiro fácil que rolava (e continua a rolar) na cidade mundial do jogo, também trazia suas contra-indicações. E Scorsese nos mostra claramente o apogeu e o declínio de seus personagens. E este declínio se inicia com o amor de Sam por Ginger. Ele, que tinha tudo sobre controle até então, se apaixona à primeira vista por Ginger e seu mundo aos poucos vai desmoronando.

O que não tinha percebido da primeira vez que havia assistido ao filme, e dessa vez ficou claro, é que este filme é de amor. Uma longe é linda história de amor, que obviamente, não deu certo. Sam, em certo momento, diz a Ginger que tudo o que ele tem não vale nada, e que a única coisa que lhe importa é a certeza que quer ter, de que pode confiar sua vida a sua amada, e que o resto é bobagem. Mas como querer um amor puro em meio a um mar de ganâncias e luxurias? Como conseguir manter um sentimento limpo e cristalino em meio à lama do dinheiro e da contravenção?

Com um show de Sharon Stone – que praticamente obrigou Scorsese a te-la no filme, já que este queria Madonna – que vive a complexa Ginger, prostituta de luxo, que tem pleno domínio de qualquer homem, menos de seu cafetão Lester (James Woods). Com o casamento, ela até tenta virar uma dona de casa, mas mesmo com seu marido dando tudo a ela, Ginger se sente cada vez mais infeliz. Acaba se envolvendo com o melhor amigo de seu marido, o bandidão Nicky. E as conseqüências são desastrosas. É tocante o quanto Sam Ace ama sua esposa, e mesmo vendo o quanto às coisas dão errado, ele nunca desiste de seu amor, fadado ao fracasso.

Scorsese nos mostra com um primor ímpar, aqueles anos não tão distantes, em que a máfia ainda dominava Las Vegas e suas casas de apostas. E mais ainda, nos mostra um de seus filmes mais românticos . Talvez, uma metáfora de um país que deseja ganhar o mundo, que deseja ganhar sempre mais e mais com suas guerras e seu poderio de armas, e seu amplo domínio capitalista mundo afora. Mas dá para ganhar o mundo (money, money) e assim mesmo manter uma pureza de sentimentos? O diretor nos brinda com um retrato nada otimista de seu país, e olha que na época nem havia ainda um cara chamado George Bush. Um grande filme, de um grande diretor. Imperdível.



6 comentários:

  1. Olá!

    Como gostas de cinema vem visitar-nos em

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    todos os dias falamos de um filme diferente

    Paula e Rui Lima

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  2. Entre as muitas injustiças cometidas contra Martin Scorcese, essa é uma das maiores. Um filmaço como só o velho Martin podia produzir.Foi o único diretor que conseguiu fazer a diva Sharon Stone realizar uma grande interpretação (tanto que ganhou o globo de ouro de melhor atriz).

    (http://claque-te.blogspot.com): Pecados Íntimos, de Todd Field.

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  3. Sem dúvida é um excelente filme!

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  4. Salve Johnni(primeira visita, hein), salve Roberto, salve Paula e Rui, salve Guilherme e mostro peludo (Jack Black). Valeu a visita, e voltem sempre. mesmo que for para falar mal, hehehe.

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