“Habitada por gente simples e tão pobre
Que só tem o sol que a todos cobre
Como podes, Mangueira cantar?”
Tenho até medo de escrever estas linhas sobre tão distinto e admirado brasileiro. Cartola não é para mim, apenas um sambista talentoso. Ele sim, foi um super-herói. Sabendo que só pelo simples fato de ser uma obra sobre o sambista, eu já iria adorar o filme, saí do cinema bestificado com esta obra singular, que se não é tão imensa quanto o homenageado, lhe faz muito jus, e só por isso merece muito mais que aplausos.
Pois os diretores acertadamente não apenas contaram a história do genial sambista, e sim contaram a história do samba, que nasceu na Bahia, é certo. Mas se fez carioca e deu ao carioca sua cara.E Cartola, assim como Noel, é o samba. O verdadeiro samba. Foi através destes dois gênios que aprendi a gostar de samba, que até então por ignorância e má vontade, não me atraia.
A contundência das letras de Cartola, seu samba refinado e lírico já me levaram as lágrimas algumas vezes. Como é que pode brotar tanta delicadeza e beleza poética em meio a tanta pobreza e falta de estrutura? É a história do não ao não. Pois por um destes mistérios da vida, um negro pobre, nascido no morro e semi-analfabeto conseguiu se tornar um dos poetas populares mais admirados e aclamados do Brasil. A ponto de outros gênios como Villa-Lobos subirem à Mangueira só para ouvir suas composições.Ou mesmo o poeta Drummond declarar que “O Mundo é um Moinho” é a canção mais bela já feita. Não é para muitos.Sempre quando escuto um dos poucos discos de Cartola, tenho a impressão que cada palavra proferida por ele em suas letras, naturalmente simples e ao mesmo tempo elaboradas, ficam talhadas dentro de mim.
O filme se divide em duas partes, sendo a primeira dedicada aos primeiros anos do samba no Rio, se confundindo com a mocidade de Cartola. Começa pelo fim, no enterro de Cartola, que nasceu no ano da morte de outro gênio, que também carioca, venceu mesmo nascido pobre e mulato: Machado de Assis.Vemos a incrível historia das primeiras rodas de samba, que eram perseguidas pela polícia, sendo que elas eram proibidas. Incrível como não foi feito ainda nenhum filme sobre esta verídica história. E também a infância, juventude de Cartola, depois sua viuvez, sua vida boêmia e farrista, que se confunde com a formação da Mangueira por Cartola e seus amigos compositores como Carlos Cachaça. O festival de imagens raras é um espetáculo a parte, tanto na primeira parte, quanta na segunda metade do filme, que é separada por uma tela em negro que fica aparecendo por momentos, salientando também o sumiço de Cartola, por um bom período em que ele se afastou da Mangueira nos anos 50 e foi até dado como morto.
Mas Dona Zica, sua segunda esposa, o trouxe de volta à vida (“Tive sim, outro grande amor antes do seu/ Tive sim/Mas comparar ao seu/Seria o fim/E vou calar pois não pretendo amor te magoar/Tive sim”) e assim começa a outra metade do filme e com um festival de outras imagens raras, vemos Cartola interpretar suas composições e finalmente no fim de sua vida, gravar seus discos e receber o reconhecimento que ele sabia ser merecido. Seria inverossímil, se não fosse verdade, que este reconhecimento demorou a chegar e talvez nem viria, se não fosse o jornalista Stanislaw Ponte Preta ter encontrado Cartola trabalhando num prédio como lavador de carros. Sim, o fundador da escola de samba mais tradicional do Brasil e compositor de obras-primas, foi encontrado pelo jornalista, se virando deste modo. Mas se fez justiça e Cartola conseguiu chegar no seu lugar de direito. Vemos Cartola já no fim da vida, caminhar feliz pelas ruas do Rio, ser reconhecido e consciente de sua importância, ser mais admirado ainda, por sua honesta simplicidade.
Um seu humano ímpar, que ajudou a escrever a história da música brasileira, do Rio de Janeiro e sua cultura. Deve estar em bom lugar neste momento, acompanhado de outros cariocas geniais como Noel, Jobim e Vinicius, fazendo seus sambinhas no além, mas tristes pelo que se tornou o Rio de Janeiro, que cada um a seu modo, tanto reverenciou.
Sei que não sou grande coisa, mas a mim, Cartola também influenciou e por vezes acalentou, com seus ensinamentos em forma de música, me tornando uma pessoa melhor.Salve grande poeta, e salve Lírio Ferreira e Hilton Lacerda por tão bela homenagem, num trabalho meticuloso que durou mais de oito anos, que me encheu os olhos e os ouvidos por belas e raras imagens
“Quem me vê sorrindo pensa que sou alegre
O Meu sorriso é por consolação
Porque sei conter para ninguém ver
O pranto do meu coração”
Como podes, Mangueira cantar?”
Tenho até medo de escrever estas linhas sobre tão distinto e admirado brasileiro. Cartola não é para mim, apenas um sambista talentoso. Ele sim, foi um super-herói. Sabendo que só pelo simples fato de ser uma obra sobre o sambista, eu já iria adorar o filme, saí do cinema bestificado com esta obra singular, que se não é tão imensa quanto o homenageado, lhe faz muito jus, e só por isso merece muito mais que aplausos.
Pois os diretores acertadamente não apenas contaram a história do genial sambista, e sim contaram a história do samba, que nasceu na Bahia, é certo. Mas se fez carioca e deu ao carioca sua cara.E Cartola, assim como Noel, é o samba. O verdadeiro samba. Foi através destes dois gênios que aprendi a gostar de samba, que até então por ignorância e má vontade, não me atraia.
A contundência das letras de Cartola, seu samba refinado e lírico já me levaram as lágrimas algumas vezes. Como é que pode brotar tanta delicadeza e beleza poética em meio a tanta pobreza e falta de estrutura? É a história do não ao não. Pois por um destes mistérios da vida, um negro pobre, nascido no morro e semi-analfabeto conseguiu se tornar um dos poetas populares mais admirados e aclamados do Brasil. A ponto de outros gênios como Villa-Lobos subirem à Mangueira só para ouvir suas composições.Ou mesmo o poeta Drummond declarar que “O Mundo é um Moinho” é a canção mais bela já feita. Não é para muitos.Sempre quando escuto um dos poucos discos de Cartola, tenho a impressão que cada palavra proferida por ele em suas letras, naturalmente simples e ao mesmo tempo elaboradas, ficam talhadas dentro de mim.
O filme se divide em duas partes, sendo a primeira dedicada aos primeiros anos do samba no Rio, se confundindo com a mocidade de Cartola. Começa pelo fim, no enterro de Cartola, que nasceu no ano da morte de outro gênio, que também carioca, venceu mesmo nascido pobre e mulato: Machado de Assis.Vemos a incrível historia das primeiras rodas de samba, que eram perseguidas pela polícia, sendo que elas eram proibidas. Incrível como não foi feito ainda nenhum filme sobre esta verídica história. E também a infância, juventude de Cartola, depois sua viuvez, sua vida boêmia e farrista, que se confunde com a formação da Mangueira por Cartola e seus amigos compositores como Carlos Cachaça. O festival de imagens raras é um espetáculo a parte, tanto na primeira parte, quanta na segunda metade do filme, que é separada por uma tela em negro que fica aparecendo por momentos, salientando também o sumiço de Cartola, por um bom período em que ele se afastou da Mangueira nos anos 50 e foi até dado como morto.
Mas Dona Zica, sua segunda esposa, o trouxe de volta à vida (“Tive sim, outro grande amor antes do seu/ Tive sim/Mas comparar ao seu/Seria o fim/E vou calar pois não pretendo amor te magoar/Tive sim”) e assim começa a outra metade do filme e com um festival de outras imagens raras, vemos Cartola interpretar suas composições e finalmente no fim de sua vida, gravar seus discos e receber o reconhecimento que ele sabia ser merecido. Seria inverossímil, se não fosse verdade, que este reconhecimento demorou a chegar e talvez nem viria, se não fosse o jornalista Stanislaw Ponte Preta ter encontrado Cartola trabalhando num prédio como lavador de carros. Sim, o fundador da escola de samba mais tradicional do Brasil e compositor de obras-primas, foi encontrado pelo jornalista, se virando deste modo. Mas se fez justiça e Cartola conseguiu chegar no seu lugar de direito. Vemos Cartola já no fim da vida, caminhar feliz pelas ruas do Rio, ser reconhecido e consciente de sua importância, ser mais admirado ainda, por sua honesta simplicidade.
Um seu humano ímpar, que ajudou a escrever a história da música brasileira, do Rio de Janeiro e sua cultura. Deve estar em bom lugar neste momento, acompanhado de outros cariocas geniais como Noel, Jobim e Vinicius, fazendo seus sambinhas no além, mas tristes pelo que se tornou o Rio de Janeiro, que cada um a seu modo, tanto reverenciou.
Sei que não sou grande coisa, mas a mim, Cartola também influenciou e por vezes acalentou, com seus ensinamentos em forma de música, me tornando uma pessoa melhor.Salve grande poeta, e salve Lírio Ferreira e Hilton Lacerda por tão bela homenagem, num trabalho meticuloso que durou mais de oito anos, que me encheu os olhos e os ouvidos por belas e raras imagens
“Quem me vê sorrindo pensa que sou alegre
O Meu sorriso é por consolação
Porque sei conter para ninguém ver
O pranto do meu coração”
Que texto maravilhoso, Beto! Deu até vontade de rever o documentário.
ResponderExcluirBeijo.
Realmente, um texto muito bonito. Mandando bem nas letrinhas, hein, amigo? Vc escolhu pra abrir o texto uma das nossas músicas favoritas (minha e do João), que rolava direto e reto no Caju Boteco. Nunca nenhum cliente reclamou de ouvir de novo, outra vez e de novo, o lindo disco do cartola.
ResponderExcluirbeijão,
Carol
Ebâ!!Obrigado, Alê.
ResponderExcluirTendo vc como leitora,eu tenho que sempre tentar melhorar. pra que vc sempre esteja por aqui.
Carol, que bom que gostou. Por isso que eu falei "sem querer" pra vc dar uma olhada no blog, pois me lembro (bons tempos) perfeitamente do convivio tranquilo de Cartola com Ramones no seu saudoso bar.