27 de setembro de 2006

Cafundó – Paulo Betti e Clovis Bueno


Paulo Betti nasceu e foi criado no interior de São Paulo, numa cidade chamada Sorocaba. Filho de família pobre e numerosa, cresceu entre as histórias de sua cidade, e o sincretismo religioso da região. Lembro de uma entrevista dele no programa do Jô Soares, onde ele contava sobre histórias de sua cidade, sua infância, a kardecismo fervoroso da mãe, em contra ponto, ao catolicismo de outros membros da família. Essa mistura de credos, se deve muito aos fatos narrados em seu primeiro filme, em que roteiriza e dirige junto com Clovis Bueno.

Cafundó nos conta a história verídica de um ex-escravo, um tropeiro alforriado, vivido por Lazaro Ramos (sempre ele),da região onde nasceu Betti, no final do século 19. João de Camargo era este homem. Acompanhamos sua vida, suas desventuras, até que ele num sonho, percebe ter uma missão: fundar uma igreja, em que elementos do candomblé, umbanda,espiritismo e catolicismo se fundem numa só fé. Sua igreja logo se tornou conhecida e resiste até hoje na cidade, mas foi quando o fundador estava em vida, que ela teve seu apogeu, sendo procurada não só por pessoas da região, como de outras cidades e capitais.Esse jeito novo, trouxe muitos problemas para ele, que durante sua vida inteira foi perseguido pela igreja e pela polícia, sendo presos diversas vezes, acusado sempre, de charlatão ou bruxo.

Uma história riquíssima e esquecida, que só por ser mostrada ao grande público já merece mais que aplausos. Vemos a questão do negro recém alforriado, e principalmente vemos a complexa ligação de fé e religiões, ligadas ao povo brasileiro. O catolicismo herdado dos portugueses; o kardecismo que veio da França; e principalmente a Umbanda e o Candomblé; vindos da África, através dos negros escravos. João de Camargo mesclou estas religiões, e cumpriu sua missão, sendo respeitado, e até hoje lembrado em sua região. Pode-se dizer, que ele foi uma espécie de pré- Chico Xavier, do século 19.

Já há algum tempo que Paulo Betti tentava levar esta história para as telas de cinema, ele nutre grande carinho por ela e pelo seu personagem real, que desde menino, sempre ouviu falar e respeitar. Seu feito é louvável. Um olhar precioso e necessário para o interior da Brasil, seu povo simples, e sua fé.

Mas a impressão que fica é a de que essa história mereceria uma mão mais tarimbada na direção,para ser mais bem contada, tamanha complexidade. Para quem não conhece (a grande maioria) as religiões descritas, certas cenas são difíceis de serem compreendidas, como nas cenas em que aparecem santos como Xangô, Ogum ou até mesmo o Exu, que vem cobrar João; pois quem pratica o bem (na linguagem da Umbanda) não deve nunca se esquecer de prestar suas oferendas ao lado mal, pois tudo pode desandar. Ou mesmo os cortes de tempo, que são muito abruptos, e não deixam os personagens, principalmente o de Lazaro, se desenvolvem da melhor forma. Fora o enquadramento, muito focado nos personagens (será que é porque o filme é dirigido por um ator?), nos atores, não deixando espaço para se mostrar melhor o que estava ao redor dos personagens, e isso realmente chega a incomodar.

Há diretores iniciantes que já começam com tudo. Outros vão se desenvolvendo conforme os trabalhos aos quais se dedicam, e vão ficando melhores com o passar do tempo. Espero, sinceramente que Paulo Betti faça parte do segundo grupo. Um grande ator, e um grande brasileiro, com opiniões fortes e politizadas, que às vezes não é compreendido, como no caso recente em que declarou que todo político tem que meter a mão na merda.

25 de setembro de 2006

Veias e Vinhos: Uma História Brasileira – João Batista de Andrade


Na parede do armazém, (de uma família recém chegada na capital de Goiás, atrás do sonho promissor, graças à construção de Brasília) dois quadros de dois ex-presidentes: JK e Getulio. O quadro de JK insiste em não ficar correto na parede, sempre está torto e sendo arrumado por seu dono. Uma clara alusão aos acontecimentos daquele momento, e do que viria em seguida. Encerramento do ciclo dos anos dourado de JK, tempo de prosperidades; inicio dos anos de chumbo, com a cassação de Jango, seu exílio e a tomada de poder pelos militares. O Brasil a partir de então, nunca mais seria o mesmo, e está família recém chegada à capital goiana sofrerá na carne, as mudanças desse novo, e sombrio Brasil.

Neste filme, baseado em romance verídico de Miguel Jorge; temos uma amostra do que seria o inicio dos anos de terror, em que militares e fanáticos afins, tomaram de assalto o poder de Brasília e do Brasil. O diretor João Batista de Andrade, de “O Homem que Virou Suco”, volta com sua veia crítica e política, para nos contar um caso sem solução até hoje, e que mexeu muito com o imaginário popular no inicio da década de 60, em Goiás.

Para minha sorte (ou azar), assisti ao filme sem ter lido nada a respeito, portanto os acontecimentos que vi na tela, me pegaram de surpresa , me fizeram muito mal. Uma história triste e indigesta, de uma época absurda. Não é um filme para qualquer um acompanhar. O diretor, entre seus acertos e muitos erros, mostra de maneira abrupta, o extermínio de uma família e suas (não) conseqüências, num exato momento em que os militares tomam o poder no Brasil. Assim, acompanhamos, os desentendimentos do dono do armazém (Leonardo Vieira), com um militar chamado Capitão (Celso Frateschi, forçado e estereotipado), que resolve implantar no estabelecimento o terror e perseguição a quem considera comunista. Acaba sobrando para todo mundo, inclusive inocentes, que se vêem a mando de um militar lunático.

João Batista acerta em nos contar uma história tão indigesta, e nos mostrar através do personagem de Celso Frateschi o quanto de desvario se fez no período. Mas erra na escalação de elenco e na condução da história. O filme é burocrático, não tem fluidez narrativa. Poderia ser muito bem melhor, inclusive, poderia assustar e nos indignar bem mais. Mas falta alma ao filme, e ele acaba ficando aquém do que poderia. Mas de qualquer forma, vale ser visto, pela ousadia do diretor em nos mostrar uma história dura, um exemplo entre vários, de uma época de terror, e que ficou no passado.

22 de setembro de 2006

A Dama da Água – M. Night Shyamalan


Em um determinado momento do filme, um crítico de cinema (ops!) muito antipático, diz ao zelador do prédio vivido por Paul Giamatti, que originalidade no cinema já não existe mais, que tudo se copia. Talvez esta seja a forma de Shyamalan, ironicamente, criticar os próprios críticos, e outros que não entendem ou aceitam sua obra. Afinal de contas, quem além dele, no imenso mundo do cinema americano , consegue escrever roteiros originais e de sucesso, na última década? Qual cineasta que em tão pouco tempo, deu tanto lucro para um estúdio como ele fez, aliado a histórias bem recebidas pela crítica e pelo público? Gosta-se ou não dele, Shyamalan consegue escrever seus próprios roteiros e filmá-los com muito requinte e precisão.

O cinema americano passa por uma crise criativa já há algum tempo, geralmente seus filmes de maior sucesso são adaptações literárias, ou de quadrinhos, vide super-heróis. O melhor exemplo disto, é de que, as séries televisivas, antes marginais, e para artistas em declínio ou segundo escalão; estão no topo,vide séries como Lost, 24 Horas ou House, só para citar alguns exemplos.

Como um filme como este pode ter sido um fracasso em sua própria terra natal? Fazendo com que, inclusive, Shyamalan rompesse seu contrato com o estúdio que até então, estava lhe dando carta branca para fazer o que quisesse.

Definitivamente, a culpa é dos próprios americanos, e não de Shyamalan, autor e diretor tão criativo, que não entrega sua obra tão mastigada e fácil, como todos queriam. Não, ele quis fazer um filme inteligente e honesto, principalmente consigo mesmo, e pagou seu preço. Com o tempo veremos quem tinha razão. E nem precisa ser tão inteligente para isso. Seu segundo filme, “Corpo Fechado”, não empolgou tanto a crítica, nem o público na época de lançamento. Pouco tempo depois, ou seja, hoje em dia. Muitos dizem ser seu melhor filme. Não lembro qual cineasta consagrado, inclusive, fez uma declaração de que este é o melhor filme sobre racismo já feito.

Acredito que o tempo também fará justiça à “A Dama da Água”, talvez as pessoas não estivessem preparadas para assistir a um filme tão original. Eu mesmo, acredito que o filme ficará melhor quando eu revê-lo, assim como aconteceu com “Corpo Fechado” e a sua obra-prima “A Vila”. Poucos cineastas têm o privilégio de ter uma obra que em revisão, cresce tanto e se mostra melhor e mais consistente. Shyamalan com seu último filme, mostra que seu nome facilmente estará junto ao de seus ídolos, como Steven Spielberg ou o mestre Hichcock. Ele tem muito pano para manga.

Muito li a respeito deste filme, e as pessoas que conheço, que assistiram ao filme (com exceção dos blogs) não gostaram... Por enquanto. Talvez porque não entenderam, ou melhor, não entraram no clima do filme. Uma fábula adulta, espécie de história infantil para adultos. Em tempos tão difíceis e maldosos, realmente é difícil se deixar envolver pela pureza dessa linda história mágica. Deixar solta a criança que existe dentro de nós, deixá-la se emocionar com uma história que tenta e consegue resgatar o lado bom e caridoso das pessoas, sem com isso, parecer babaquice ou coisa parecida. Uma pena, pois se deixando envolver por esta fábula, não há quem não chore uma ou duas vezes durante o filme. Um choro de emoção, por ver e ter contato com o lado bom e companheiro de outros seres-humanos, por ter contato com as verdadeiras riquezas que temos, nosso caráter e a capacidade de ajudar ao próximo, sabendo que com isso, ajudamos a nós mesmos. E como é linda a forma com que o diretor passa isso para nós, sem um segundo sequer apelar para o melodrama. Não consegui parar de chorar, quando o personagem de Giamatti finalmente colocou para fora suas dores remotas. Um show de interpretação e direção.

Não comento sobre a história e seus personagens, já que muito se falou sobre o filme. Só procuro tentar entender através dessas mal escritas linhas, como pode um filme tão rico, belo e sensível, passar desapercebido nos cinemas do mundo. Como se não fosse um verdadeiro presente para nós, homens adulto e calejado, essa oportunidade de adentrar numa história tão bonita, que tenta resgatar o que a de mais belo em nós. Shyamalan presenteia a todos nós com este filme. Eu agradeço.

20 de setembro de 2006

Retratos de Família – Phil Morrison


Família é uma coisa estranha... e única. Por mais que sejamos diferentes uns dos outros, por mais que fiquemos separados por divergências perenes, e que se acentuam com o passar do tempo.Mesmo assim, existe sempre uma ligação muito forte, uma ligação de genes. Pessoalmente, isso sempre foi um ponto crucial em minha vida. Pessoas ligadas a mim, tão próximas e tão distantes.Uma espécie de amor, cheiros e formas que são herdados, que são indissolúveis. Confesso até que andei procurando respostas, até no espiritismo, sobre isso tudo, também outra luta minha, o meu racional e o meu espiritual. Eu, sempre confuso, procurando me adequar às minhas inadequações de vida, família e religião. Mas sempre seguindo em frente, pois se uma coisa aprendi, é que este convívio, às vezes sofrido e (infelizmente) poucas vezes prazeroso se faz necessário, num exercício constante de aprender a viver comigo e com os meus.Está escrito.

Falo isso tudo de mim, por ver direta ligação com o que é tão bem mostrado neste filme. Eu, nascido e criado na cidade grande. Quando criança, costumava adorar ir ao interior, na cidade de meu falecido e amado padrasto, uma cidade totalmente diferente da que eu conhecia, outro comportamento, outro tempo, outra paisagem.E o que achava mais estranho, é que me parecia que ele também mudava sua postura diante dos numerosos familiares. É como se uma parte dele, que estava fora, de repente se juntava, se acoplava naturalmente, e uma gama de sentimentos ressurgisse. Ele estava de volta, em casa, e um algo mais se incorporava a ele.

Falo isso tudo, pois acho que estes comentários são pertinentes ao personagem de George (Alessandro Nivola) no filme, e seu retorno depois de anos, ao lar e a sua família no interior da Carolina do Norte nos EUA. George é um recem-casado, com Madeleine (Embeth Davits). Ela é uma dona de galeria de artes em Chicago (onde moram), e interessada em expor uns quadros de um artista pirado, e do mesmo local dos familiares do esposo, aproveita a deixa para também visitar e finalmente conhecer a nova família. Mas como eles a recebem? É o encontro entre a sofisticada cidade grande, e o interior rústico, religioso e simples da Carolina. Ela é recebida com desconfiança, como um ponto de desequilíbrio na pacata vida deles. Peg (Célia Weston), a mãe desconfiada; Eugene (Scott Wilson), o pai taciturno e tímido; Johnny (Bem Makensie), o irmão de George, nervoso e calado. Ela só é bem recebida por Ashley (Amy Adams), mulher de Johnny, na verdade com total entusiasmo, já como uma irmã.

Ashley é o ponto focal da família, ela transpira doçura e ingenuidade, que supera a inconveniente tagarelice. Ela criva Madeleine de perguntas sobre sua vida, sua infância, seus valores.Perguntas como: “O que te faz pulsar?”. Ela é de longe o personagem mais interessante, graças a interpretação majestosa de Amy Adams (que concorreu e merecia ganhar o Oscar este ano como atriz coadjuvante por este personagem). Sua Ashley caminha entre o entusiasmo pelo novo e pela vida, da mesma forma que seu olhar passa uma tristeza e anseio de vida que poucas vezes vi num personagem. Ela está perfeita, rouba todas as cenas.

Em meio a isso, vamos conhecendo todos os personagens, sendo cada qual, um caso a parte. Mas o que paira no ar é a falta de comunicação que aquelas pessoas tão próximas, tem em comum.
Um bom exemplo é quando Madeleine, vê seu marido (com imensa surpresa, maior a que nossa, de espectadores), que numa determinada cena, numa festa, canta uma antiga canção, que cantava quando morava lá. Pois na verdade, o único meio de comunicação que eles têm é através do sexo. Ela vai percebendo que não o conhece, quando julgava que sim.

O ponto crucial no enredo, é quando Ashley entra em trabalho de parto e cada um deles é obrigado a se confrontar com suas prioridades.Escolhas são feitas. É quando Madeleine se surpreende mais ainda com o marido, ficando nítida a falta de comunicação entre eles. Nada será como antes.

Uma família simples, com cada um com suas angustias contidas, seus segredos inconfessáveis, pois não sabem viver de outra maneira. Alias, um dos grandes mistérios para mim, é no final, quando Eugene não entrega o passarinho de madeira para Madeleine. Por que será que não? O que será que se passa na cabeça dele?

Um filme simples.Com elenco e roteiro afiadíssimos, nos mostrando que dá tranqüilamente para se fazer um bom filme com o básico, não sendo necessário altas tecnologias e pirotecnias ocas.Um desses filmes que faz eu amar o cinema. Que deve ser visto e revisto, pois em cada semblante de cada um de seus personagens, em cada cena revista, descobrimos mais e mais daquelas pessoas tão parecidas, e ao mesmo tempo diferente de mim, de nós. Um dos cinco melhores de 2006. E isso, diante da quantidade de filmes assistidos, não é pouco. Quem não viu, vá correndo na locadora, mesmo que depois vá me xingar. Mas veja!

18 de setembro de 2006

O Ritmo do Sonho – Craig Brewer


Com tantos filmes vistos e que gostaria, se tempo eu tivesse, de comentar. Este filme tem um gosto especial para mim, talvez eu queira tentar fazer um pouco de (modesta) justiça a um filme tão bom, e que me parece, passou praticamente sem ser visto nos cinemas, foi subestimado, ou até totalmente ignorado.Tanto é, que eu assisti (duas vezes) só agora em DVD. Que filmaço! Assisti ao filme com má vontade até, pois simplesmente detesto o gênero musical do qual é o tema principal da história, o rap. Mas comecei até a respeitar a música, graças ao filme e a forma maravilhosa como o tema é colocado, fazendo até quem não gosta do estilo da música, como eu, que detesto,se encantar.

Conta a história de um cafetão de Memphis, personificado com maestria por Terrence Howard (que concorreu ao Oscar pelo desempenho), e sua vida atribulada, junto à suas “meninas” até que um dia ele reencontra um amigo de infância e velhos sonhos guardados a respeito de música voltam a tona. Mas tudo é muito difícil, e a vida é dura para o cafetão. Ele se vê numa crise de meia-idade, vendo a vida passar, e detestando sua cafetinagem. Ele tem uma alma sensível muito bem guardada e arquivada, atrás de uma imagem e postura de durão, de uma rocha. Ele é uma rocha.Isso fica explícito, quando num determinado momento, uma de suas putas lhe diz que sente medo, e ele tem uma reação violenta. Na vida daquele homem não há nem sequer a possibilidade de se sentir medo, tem que se cair de pé.E é nisso que se consente o grande feito do filme, Djay é durão, suas “meninas” morrem de medo dele, mas o tempo todo, Terrence Howard consegue passar no olhar uma urgência de vida, uma angustia, que faz com que nós consigamos gostar e torcer pelo personagem.

Numa cena lindíssima, depois de reencontrar o amigo de infância, vemos uma gravação de uma música em uma igreja, só está cena já vale o filme inteiro. Assim, como vamos acompanhando a criação de alguns raps.Em especial, a criação em detalhes de “Ferro na Boneca”. Vamos acompanhando a procura do tom e ritmo certo, até que se consegue e quando a coisa toda flui, o entusiasmo criado na tela, me pegou também. Coisa incrível. Aliás, fazia tempo que não torcia tanto para um personagem, ou melhor, para todos os personagens, pois todo o elenco é ótimo, em especial, as duas prostitutas.

Interessantes também, são as discussões a respeito de música, e o caminho que ela fez para eles chegarem naquele rap. Passando do gospel, ao blues, até chegar no rap. Um filmaço! Quem não assistiu, não perca.Eu, no mínimo, vou assistir mais uma vez e curtir aqueles raps (!!).

15 de setembro de 2006

O Sabor da Melancia - Tsai Ming-Liang


Pera aí, pera aí... Deixa ver se eu entendi...

Seguinte: a cidade sofre de uma seca terrível de água (amor), enquanto isso sobra melancia e todos se entopem da fruta (desejo e sexo) em meio a um calor infernal.Soma-se a este cenário um casal que se reencontra, e se relaciona sem trocar uma palavra sequer. Ela com seu estoque de água (amor) guardado na geladeira. Ele, empanturrado de melancia (sexo), recusa o suco da melancia dela, que ela delicadamente oferece a ele, sem sequer suspeitar que antes um vendedor de relógios, agora ele é um ator pornô de uma produtora no mesmo prédio que ela mora. Da relação apaixonada dos dois, um quer um pouco da água límpida da outra. Ela quer que ele experimente um pouco da sua melancia. Enquanto isso, uma vez ou outra, aparecem números musicais sem mais nem menos no meio desta história. Musicais estes, sem pé nem cabeça. Que entram e saem, sem ao menos um porquê?
Quem assistiu ao filme, deve se lembrar daquela maldita música do “china” vestido de mulher, cantando: “Oh,oh,oh,oh, ah,ah,ah,ah,ih,ih,ih,eh,eh,eh,eh,eh,oh,oh,ah,ah,ah,ah!” Não dá para esquecer de tão irritante.

Fui assistir a este filme com grandes expectativas, pois simplesmente adorei um outro filme do diretor: “Vive L Amour”, foi um daqueles filmes que mexeram até com meu organismo. Impactante!Isso porque não assisti a nenhum outro filme do diretor ainda, como “O Rio” ou “O Buraco” , que dizem serem ainda mais tristes.

Mas na verdade achei “O Sabor da Melancia” meio que um filme arrogante e chato mesmo, uma decepção para as minhas aspirações com o filme. É pena.

11 de setembro de 2006

O Maior Amor do Mundo – Cacá Diegues



Bela surpresa este novo filme de Cacá Diegues, belo filme. E isso, para mim, é uma grande coisa, por achar o diretor, supersuperestimado. Tirando “Chuvas de Verão”, que realmente acho um lindíssimo filme, todos os outros filmes de Cacá, nunca me agradaram. Dentre todos os filmes dele, e olha que eu assisti a praticamente todos, sempre a defeitos que me incomodam, e uma ou outra cena, que acaba compensando o filme todo, como exemplo, cito a cena final de “Deus é Brasileiro”, com Paloma Duarte e Wagner Moura numa canoa. Mas em todos seus filmes prevalece pouco, do que é mostrado. Mais vale o fato heróico do diretor conseguir produzir muitos filmes, sendo isso tão difícil no Brasil.

Talvez o grande acerto de Diegues nesta sua última produção, seja o fato de o filme ser extremamente pessoal, como se o diretor estivesse não só contando a história de seu protagonista Antonio, vivido muito bem por José Wilker, como a sua própria história. Ao contrário de seus outros filmes, este tem o roteiro todo concebido pelo próprio diretor, que parece querer expiar suas culpas burguesas através do astro-físico Antonio.

Pouco pode ser dito a respeito da história, com chances de uma ou outra surpresa ser estragada para quem não viu o filme ainda, que conta os últimos dias de vida de um sujeito que mora nos EUA, mas quando se descobre doente terminal de um câncer ,volta ao Brasil, atrás das suas origens, e de certa forma, um sentido para a sua vida, que agora está chegando ao fim. E assim, Antonio de repente se vê, diretamente dos altos círculos acadêmicos americanos, num lixão na baixada fluminense, local onde sua mãe deu à luz a ele, e logo em seguida morreu.

Antonio percebe que pouco ou quase nada aproveitou da vida, que não amou, ou deixou se levar por qualquer tipo de sentimento. Sua vida sempre foi ligada a racionalidade. A ciência como meio e solução da vida. Com o passar da história, vamos descobrindo o porque der algumas feridas, e a semelhança entre pai e filho. O pai, vivido por Marco Ricca e Sergio Brito, flor murcha por ter vivido um grande amor inesquecível com a mãe de seu filho. Antonio, vivido por José Wilker, uma flor murcha, por não ter vivido o amor, guardado em seu peito. Que desabrocha no convívio com as pessoas do subúrbio, estes vividos por Lea Garcia, Sérgio Malheiros e Thaís Araújo, lugar que guarda sua história e a bela história de amor de seus pais. É onde ele nasceu, que ele no final da vida, vai se encontrar.

Além da ótima atuação de todo elenco, e do roteiro coeso, o que mais salta aos olhos neste belo filme, é a fotografia de Lauro Escorel, trabalho primoroso, que mexe muito com as escuridões do personagem, assim como desenvolve uma belíssima fotografia do lixão onde Antonio acaba passando muito de seus momentos no filme.

O filme mexe com muitas coisas que me são caras, daí o fato de eu gostar tanto do filme. A eterna procura por si mesmo. O porquê de estarmos neste mundo. O tempo perdido, a espiritualidade. Enfim... uma bela surpresa deste cineasta, que espero, desenvolva mais projetos pessoais como este simples e belo filme.Em meio a tantos filmes nacionais ruins, neste ano, este traz um pouco de alivio e ar ao ambiente, ufa.

6 de setembro de 2006

Casseta e Planeta- Seus Problemas Acabaram – José Lavigne

Quando assisti ao primeiro filme da turma do Casseta no cinema, a primeira impressão que tive é a de que eles “funcionam” muito bem na telinha (nos seus esquetes de trinta minutos semanais), mas não no cinema. Talvez fosse o fato deles irem buscar a primeira inclusão no cinema, num roteiro baseado em acontecimentos do passado, mais precisamente, no inicio dos anos setenta, na Copa do Mundo e militarismo. Isso causou estranheza ao público acostumado a assistí-los na TV. O filme foi considerado um fracasso, mesmo tendo levado 900 mil pessoas ao cinema, o que acho estranho.

O programa dessa turma, com méritos, continua a fazer sucesso e se mantém na grade de programação da toda poderosa plim-plim, há mais de dez anos, brincando criativamente com os últimos acontecimentos do mundo e principalmente do Brasil.

Passado , algum tempo, eles resolveram, partir para outro filme, se aproximando mais do que eles fazem na televisão, mas a mesma impressão que tive com o primeiro filme, se repete neste segundo longa que estreou nesta semana. Eles não funcionam no cinema. A graça da Turma do Casseta e Planeta, está mais na coisa rápida da TV. A impressão que tive, é que no cinema, a piada deles perde o ritmo e principalmente o frescor. É como se fosse uma piada, que uma vez não entendida, quem a conta tenta explica-la, e aí já perdeu a graça.

Se for ver pela minha reação e dos outros dois ou três gatos pingados que estavam no cinema ontem (também, numa noite de nove graus, só loucos como eu mesmo), o filme vai se dar mal, pior do que o primeiro. Pois se a intenção deles é fazer o público rir, eles não conseguiram sequer arrancar um sorriso amarelo meu, e muito menos das pessoas que estavam no cinema.

Não tem jeito, a impressão é de que só funciona na televisão mesmo. Prova disso é que cheguei em casa e assisti ao programa deles (logo em seguida ao cinema) e o programa deu de dez no filme.

Tem que se louvar os efeitos especiais com desenho animado a lá Roger Rabbit, e a primeira cena com o saudoso Bussunda,que ficaram muito boas. Mas o fato é que risadas mesmo, nada, nadinha. A verdade é que eu estava torcendo para que o filme desse certo, pelo Bussunda, pela turma toda, que realmente é muito boa. Mas não deu.

Saudades dos Trapalhões, estes conseguiam segurar a onda, tanto na TV como no cinema, mas também era outra época, e eu era uma criança com esperanças.

5 de setembro de 2006

Vôo 93 – Paul Greengrass


Este filme realmente me surpreendeu. A principio, não tinha interesse em assisti-lo, mas por uma série de fatores como horários e outras salas lotadas (eu queria mesmo era ver “A Dama da Água”), acabei acidentalmente assistindo ao filme. Minha falta de interesse é gerada por um fato, que olhando mais ao fundo, é errado de minha parte, bem sei. Essa coisa que tenho e alimento dentro de mim, que é meu antiamericanismo, às vezes me faz não enxergar as coisas com a clareza devida. Várias vezes descuti com amigos a respeito de 11 de setembro, e sempre eu achava tudo muito exagerado. Nas minhas discussões sempre quis ressaltar que a omissão do maior (na riqueza e potência) país do mundo, aos países de terceiro mundo, assim como as outras guerras civis, que acontecem pelo resto do mundo, principalmente no Oriente-Médio e África, são, ao meu ver, muito mais importante, e não ganham nem um décimo da importância que há em cima do ataque aos EUA.Sei, sei, burrice minha... No meu íntimo sei disso.Mais do que o número de vítimas inocentes que houve no ataque terrorista às Torres Gêmeas, o que isso tudo traz de simbólico e importante, o ataque ao maior símbolo capitalista do mundo, no mínimo, é o fator que faz o mundo se dividir entre antes e depois do ataque.Estou falando isso tudo, inclusive das minhas ignorâncias, para poder mostrar o porque gostei tanto do filme (que achei obviamente que não iria gostar).

Greengrass acertou em cheio com este semidocumentário (ou seria ficção realista). Baseado em estudos e teses não comprovadas sobre o que aconteceu com o único avião que não atingiu seu alvo no fatídico dia 11 de setembro, o filme em nenhum momento apela para a dor, e o horror das vítimas e seus familiares. O diretor tenta apenas passar o que os estudos acham que aconteceu naquele vôo, tanto dentro do avião quanto dentro dos aeroportos com seus controladores de vôos, que apalermados se viram perdidos diante de situação tão adversa. O que salta aos olhos é a quantidade de gente em terra: controladores de vôos, comissários, políticos, militares e aparelhagem de última tecnologia. Tudo e todos a serviço de uma situação inesperada, onde ninguém sabia o que fazer. Umas das cenas mais chocantes é vermos os controladores assistirem de suas cabines, o segundo avião colidir nas Torres Gêmeas. Enquanto eles discutiam e se debatiam, os acontecimentos iam rapidamente acontecendo, e a ficha não caia neles. O interessante é ver militares e controladores serem interpretados no filme pelos próprios homens que estavam lá, como vemos nos letreiros finais.

Buscando ser o mais realista possível, com uma câmera na mão, o filme nos choca, e nos leva para dentro do drama. Não tem como não se emocionar com os passageiros, que diante da morte certa, falam no celular com os familiares na terra se despedindo. Todos foram heróis, diante de tal situação.Outra decisão acertada foi não utilizar atores famosos, deixando o foco do filme todo em cima dos acontecimentos incríveis do dia.

Greengrass trata com carinho e respeito às vítimas do acidente, como se não bastasse o mérito de ser o primeiro a tratar de assunto tão doido, ele vai direto na ferida. E principalmente, trata com respeito o público. Grande feito. Prova disso, é que um casal sentou ao meu lado na sessão, quando a mesma terminou o senhor que ali estava, se encontrou na cadeira da frente , e com a cabeça abaixada entre os braços, começou a chorar compulsivamente. Situação esquisita, pois queria sair e não podia enquanto sua esposa tentava consolá-lo, então percebi que eles eram americanos, que de certo, moram no Brasil. Aquilo para mim foi mais tocante do que o próprio filme.

1 de setembro de 2006

Relação de filmes - Agosto de 2006

Lista de Filmes assistidos no mês de Agosto de 2006 por ordem de preferência.


Os Fuzis – Ruy Guerra * * * * *

A Casa do Lago – Alejandro Agresti * * * *

Minha Nada Mole Vida – José Alvarenga (DVD) * * * *

O Matador – Richard Shepart (DVD) * * *

Zuzu Angel – Sérgio Rezende * * *

O Virgem de 40 anos – Judd Apatow (DVD) * * *

Camisa de Força – John Maybury (DVD) * * *

Piratas do Caribe O Baú da Morte – Gore Verbinski * * *

Miami Vice – Michael Mann * * *

A Prova – John Madden * *

Café da Manhã em Plutão – Neil Jordan * *

Armações do Amor – Tom Dey (DVD) * *

Aquamarine – Elizabeth Allen (DVD) * *

Pai e Filho – Aleksandr Sokúrov * *

Trair e Coçar é Só Começar – Moacyr Góes *