31 de maio de 2006

A Criança – Jean Pierre e Luc Dardenne


Esta é a história de dois jovens excluídos. Sônia (Debora François) e Bruno (Jerémie Ranier), namorados que vêem suas vidas modificadas pela chegada de um filho, a criança do título do filme.

Em umas das primeiras cenas, vemos Sônia e Bruno namorando/brincando entre eles de uma forma que lembra muito, para mim, a forma como os bichos , mais precisamente os cachorros, se tocam e se relacionam. Dois jovens, espúrias, verdadeiros vira-latas, de uma sociedade rica e arrogante. Vivem à margem. De pequenos furtos e seguro social concedido pelo governo.

Eis que surge a Criança, filho dos dois, e que comprometera de forma imensa o convívio entre o casal de jovens. Para Bruno, aquela criança serve como mais um produto a ser negociado. Em certo momento, quando ele negocia a criança, vai dizer para a namorada: “Esse eu vendi, a gente faz outro”. Não a culpa em seu procedimento, tudo para ele é negociável, dinheiro é o que importa.Acontece que em Sonia a coisa é diferente, e como um bicho que quer defender sua cria, seu instinto materno fala mais alto.

São duas crianças, com outra criança menor. Mas Sonia cresce com seu instinto materno aflorado, tornando-se mãe e mulher. Já Bruno continua com seu jeito irresponsável, que acompanhamos ao longo do filme. Seu envolvimento com mafiosos e sua solidão o farão perceber que nem tudo é negociável. Seu sofrimento físico e finalmente moral, fará ele se ver num abismo em que se envergará (talvez) um homem, como na última e extremamente tocante cena final.

Os irmãos Dardenne contam a historia dos dois de forma seca e direta, sem direito à música ou comiseração aos seus anti-heróis. E nos brincam com uma pequena obra-prima sobre estes jovens excluídos de uma Europa atormentada pelas suas culpas. Como é mostrado no também francês, e ótimo Caché, mais isso é para outro dia.

29 de maio de 2006

O Inventor da Mocidade – Howard Hawks


Não sei se li ou alguém comentou comigo, que este filme seria um Hawks menor. Acho que tal comentário não faz nenhum sentido, é certo que este talvez seja o filme mais despretensioso do diretor, mas isso não faz dele menor ou pior que qualquer outro filme seu.É na verdade, uma comédia absurda , meio infantil até. Alias,nesta historia maluca,este é o tema principal, mais predominante no filme.

Em determinado momento, seus protagonistas voltam literalmente à infância.Vividos pelo cientista Bernaby Fulton (Cary Grant) e sua esposa Edwina Fulton (Ginger Rogers). Ele é um cientista que estuda e procura encontrar uma formula que ajude o homem a rejuvenescer. O que ele não contava é que seu chipanzé de laboratório é que fosse desenvolver a tal da formula. Segue-se assim, uma série de imprevistos engraçadíssimos, quando Bernaby, e logo depois suas esposas Edwina experimentam a formula. Cary Grant está bem à vontade em seu papel e parece voltar realmente a ser criança, especialmente na cena em que ele resolve junto com outras crianças, se fantasiar de índio e declarar guerra ao advogado e amigo da família. Quando este aparece com o cabelo moicano no escritório é de morrer de rir. Ou quando Edwina toma a formula e não quer mais parar de dançar. Não tem como não cair na gargalhada com esse filme, só deixar o espírito livre e se deixar levar pelas suas situações absurdas.


Hawks é um dos diretores que mais admiro, ele foi um daqueles gênios que podiam ir do drama à comédia e mesmo assim, impor seu estilo, que depois serviria e ainda serve de inspiração e influencia para outras gerações de cineastas. Hoje em dia, poucos diretores têm esta característica, ou melhor, seu estilo próprio. De relance, lembro de Almodóvar e Wood Allen, e em menor grau os irmãos Cohen.

Muitos tentaram sem sucesso, fazer o que Hawks fez com este filme. Uma comédia despretensiosa, mas não vazia, com estilo e elegância.E ainda por cima com o auxilio luxuoso de Charles Coburn, como chefe de Bernaby e sua secretária, uma estreante chamada Marilyn Monroe como Lois Laurel.Um filme imperdível para quem ama cinema e quer dar boas gargalhadas.

26 de maio de 2006

O Exorcismo de Emily Rose – Scott Derrickson


Sempre vi filmes considerados de terror com certa ressalva, por vezes até, como uma espécie de mundo “menor” do cinema. Daí, a grata surpresa e satisfação ao ver esta obra, que ano passado assisti no cinema e agora revi em dvd e gostei mais ainda. Correto dizer que a mistura de tribunal com terror. Ajudou decisivamente, para seu belo acerto, até porque é baseado em uma história verídica. Vale, inclusive, dar uma espiada no site oficial do filme, que contem vários artigos sobre o caso na época do ocorrido.

Vamos a ela, que no inicio mostra a morte de Emily numa sessão de exorcismo praticado pelo padre de sua paróquia, que com isso vai preso. Aí que entra a advogada de Laura Linney, ambiciosa e totalmente desapegada a qualquer tipo de crença ou religião, aceita fazer a defesa em tribunal do padre. Em contra partida, seu oponente, o defensor público vivido com Capbell Scott, se diz um homem de Deus, mais que não acredita ou aceita tal tipo de ritual. Daí começa um embate entre ciência e espiritualidade, enquanto vamos acompanhante em flash-back o que aconteceu com Emily do inicio até a sua morte. E aí que está o grande ápice do filme, estas cenas chocam sem serem exageradas , verdadeiramente assustam ao mais cético descrente, nos fazendo entrar num verdadeiro horror.

Paralelamente acompanhamos o julgamento do padre e certos acontecimentos com a advogada, que a fazem já não se sentir tão segura de si, como se um novo e estranho mundo, diferente ao qual ela se sentia segura,lhe desperta.Nada será como antes.

É preciso ressaltar o elenco primoroso, que dá toda credibilidade aos seus personagens e conseqüentemente ao filme. As sutis mudanças pelas quais o personagem de Laura Linney vai passando, com o seu contínuo envolvimento no caso. Assim como o amedrontado e contido padre exorcista (Tom Wilkinson). Mas quem rouba a cena é Jennifer Carpenter; a que se louvar a dispensa dos tão usuais efeitos especiais, Jennifer exprime do seu corpo gestos e grunhidos de intimidar o mais destemido, seu corpo se contorce todo, fazendo parecer que ela está realmente sentindo dores. É de chocar por dias.

Assim como no tribunal, o público de dividirá ao assisti o filme, os agnósticos deveram acusá-lo de tendencioso, como de fato o é. Assim como os que acreditam no sobrenatural ou espiritual irão em determinado momento de um sonho de Emily, na leitura de uma carta, conseguir ir do puro horror ao choro comovido. Pequenos achados de uma direção segura e que corre riscos.

Certo momento, o promotor diz que dúvida de tudo que ouviu da defesa ou do padre, por ser temente a Deus. Pensa ele ter certeza de tudo. A nós, os outros, cabe o beneficio (ou martírio) da dúvida, e quantas dúvidas... Cuidemos de nossas almas.


24 de maio de 2006

Meu Amor de Verão – Pawel Pawlikowski


No dia em que estreou este filme em SP, coincidentemente encontrei uma amiga num bar, ela estava com outras amigas, todas partidárias do amor entre mulheres. E como é comum conversarmos de cinema, principalmente quando eu chego em alguma rodinha (lá vem o fanático por cinema), logo comentaram deste filme, como sendo um que fala sobre “amigas”. Se o que elas falaram, é o que eu entendi, devem ter saído decepcionadas do cinema. Apesar de haver uma espécie de romance entre as protagonistas, este filme não é de maneira nenhuma lésbico (ops.)

Este bom e modesto filme (é que acabei de assistir a mega- chata- produção Da Vinci), não é propriamente um filme sobre o amor de duas jovens do mesmo sexo. Na verdade é um filme sobre a procura, o descobrimento, das coisas, dos sentimentos, das angustias.Um filme sobre o eterno descobrir. Sobre os caminhos entre tantos descaminhos.

Tudo acontece numa pequena cidade do interior da Inglaterra. Mona (Nathalie Press) e Tamsin (Emily Blunt), se conhecem e, apesar da grande diferença social – coisa mais do que importante na naquele país- se tornam inseparáveis. Assim, vamos conhecendo suas personalidades e como as duas vão cada vez mais se envolvendo, até sexualmente.Esse envolvimento desperta o ciúme de Phil (Paddy Considine), irmão de Mona. Que não vê com bons olhos a amizade das duas.

Esse para mim, é o grande personagem do filme. Phil vive numa árdua luta com seus sentimentos e principalmente seus instintos. Acha que encontrou a paz na religião.E sua casa que anteriormente era um pub, virá um local de culto e orações. Suas intenções e sua força de vontade são imensas, ele tenta de todas as formas “guardar” o diabo que existe dentro dele, para isso chega inclusive a construir uma imensa cruz afim de colocá-la na montanha da pequena cidade. Ele acredita que a crença em deus lhe trará a paz que tanto anseia (afinal, não é isso que todos que procuram Deus procuram?). Mas suas intenções se mostram frágeis num determinado momento, já no final do filme. É o homem, caindo e levantando, em busca do que não entende e não enxerga.

Logo percebemos também a fragilidade das garotas, principalmente de Tamsin. Mostrando o quanto se tem a explorar, na difícil engrenagem das mentes humanas. Mona, também caí, assim como o irmão, mais se levanta, mais forte. Pronta para outra. Três ricos personagens a procura de vida.

22 de maio de 2006

O Código da Vinci – Ron Howard


Confesso que fiquei com raiva dos críticos que vaiaram e soltaram gargalhadas na pré-estréia do filme em Cannes. Acho que todos já foram prontos para não gostar, aquela espécie de “clube do Bolinha”, que rola infelizmente, em todo e qualquer canto. Tirando pela Mostra de SP.Basta vestir um par de tênis Puma ou All-Star, óculos de aro grosso, e pronto. A pessoa já se sente interagindo com a “inteligência”, ou melhor, os críticos e formadores de opinião. Tenho sempre a impressão que muitos dos que acompanham a Mostra vão mais para serem vistos nas filas, do que propriamente verem os filmes.Fora a pré-disposição a não gostar de nada que mexa com religião, pois é tão chique ser agnóstico (palavra bonita, né). São impressões minha, amargas devo admitir, de uma segunda-feira cinzenta e fria em Sampa. Mas voltando ao filme... A porrada está sendo desleal, todos (parece) já foram com as pedras nas mãos, nem bem começou... pedra nele. Poxa, é preciso também respeitar os fracassos. E que fracasso!

O filme mais aguardado do ano, talvez da década, baseado num dos livros de maior sucesso no mundo, com uma venda impressionante de mais de 60 milhões de exemplares, é de dar dó. É ruim mesmo e naufraga de acordo com a sua ambição. Acredito que esta produção se cercou de uma série de erros, que vai fazer (espero) com que os grandes estúdios repassem suas formas de agir e pensar na ânsia de fazer e ganhar dinheiro. Não tenho dúvida nenhuma que o filme se pagará e dará margem a novas aventuras de Robert Langdon, espero que escolham um outro diretor, menos burocrático, mais artístico, ou melhor, com talento. Quando vi que era Ron Howard que iria dirigir ao filme, já pensei comigo que boa coisa não iria sair. Seus últimos filmes foram carregados nas costas por Russel Crowe, medianos, histórias que poderiam render muito mais, enfim...

O impressionante é que o livro já é praticamente um roteiro escrito. E que roteiro...Você não desgruda das páginas, e quando termina um capítulo, não agüenta e já quer ler outro. Tanto é que li o livro em três dias, o livro frui que é uma beleza, e me fazia pensar em como seria maravilhosa a sua adaptação para as telas do cinema. Que decepção. O impressionante é que realmente a mesma história contada no livro foi para as telas com algumas infelizes e fundamentais mudanças, mas está tudo lá. Então como aquela história tão bem contada no livro, se arrasta na tela de forma absurdamente burocrática e cansativa? Parece que tudo deu errado: a escolha do diretor, os atores (a inexpressividade de Andrey Toutou chega a irritar), o roteiro (que quer agradar a quem leu e não leu o livro, e que acaba não agradando ninguém). Deu tudo errado.

O filme caminha bem até um certo momento, mas (para mim) é no final que ele se perde totalmente, quando tenta mudar algumas coisas que acontecem no livro.Lembro que me emocionei muito, chegando inclusive as lágrimas, quando li no livro, o encontro de Sophie com seus parentes no final. No filme ficou tão sem graça! Cadê seu irmão, cadê aquele clima de romance entre Sophie e Langdon?! A coisa ficou rala e infantil, sem direito sequer a um beijinho, oras. E o encontro que eles marcam para uma noite de amor?

O interesse no filme é imenso, pois não lembro de ver tantas pessoas lerem um mesmo livro. Cada ônibus que tomo (e já há tempos), tem alguém lendo o livro. Os cinemas estão lotados, mesmo em sessões alternativas, logo o sucesso financeiro é garantido. Mas e o artístico, importa???



19 de maio de 2006

Tudo por Dinheiro – D. J. Caruso


Posso estar enganado, mas tenho notado nos últimos filmes holywoodianos, uma tendência à redenção, à volta as origens, seja de pensamentos ou mesmo territorial. Quase em filmes que vejo, enxergo esta temática, principalmente depois de 11 de setembro. É aquela historia da pessoa (homem ou mulher), que resolve ganhar dinheiro a todo custo, mesmo tendo que esquecer amigos e família, mesmo tendo de passar de forma pouco honrada, por cima de pessoas ou causas.Money, money,money, e capitalismo atroz. Esta é razão de ser e viver. De repente, a pessoa se sente vazia e tenta buscar, e reencontrar suas afetividades deixadas para trás. Em quase todos filmes que vejo, tenho enxergado isso. Neste Tudo Por Dinheiro, não é diferente.

Brandon Lang (Matthew McConaughey) – êta nome difícil- sonha em ser jogador de futebol americano (esporte que não consigo entender), mas tem seu sonho frustrado por uma contusão. Então passa a ganhar dinheiro dando dicas para apostadores por telefone, tipo 0800. Como seus acertos são de mais de 80%, ele logo chama a atenção de Walter Abrams (Al Pacino) este, uma espécie de Midas deste tipo de negócio em apostas. Brandon, saí do interior para Nova York, templo dos esportes, das apostas e do capitalismo.

Como é dito no filme, as apostas movimentam um valor de aproximadamente 2 bilhões de dólares por ano, um dinheiro não oficial, no país dos impostos, que consegue ser movimentado sem ser ilegal.

Logo, Brandon se vê num negócio milionário onde ele vira uma espécie de pupilo de Walter e sua esposa, Toni Morrow (Rene Russo). Tudo vai muito bem, ele vive com todo o luxo que pode aproveitar em sua nova vida. Até que o seu faro para as apostas se perde, e ele não consegue ser mais certeiro. Comenta que perdeu seu faro porque perdeu a si mesmo naquela selva de pedra. Sua relação com Walter se estreita muito, como de pai e filho, mas ele percebe que tem um algo mais naquilo tudo. Já Walter, é um ex-apostador compulsivo, que sem que sua esposa e seu pupilo percebam, começa a “jogar” com suas vidas e sentimentos. Esta é a melhor parte, quando o filme se concentra no carisma de Al Pacino.

No geral, o filme é meio confuso, irregular, com problemas no roteiro e direção. A impressão que tive foi a de que este filme, com o elenco que tem, poderia ser melhor nas mãos de outro diretor. Mas do jeito que ficou, o filme passa uma impressão de ser menor do que poderia ser. No mais, serve para ver o talento de Al Pacino. Não é pouco.

18 de maio de 2006

Jejum de Amor- Howard Hanks


Que jóia rara. Viva Howard Hanks! Este é um daqueles filmes que justificam essa paixão que tenho pelo cinema desde menino.

Outro dia, conversando com um amigo (e dono do dvd), profundo conhecedor de cinema, ele comentou que o interessante do cinema é que quanto mais filmes você assistir e conhecer, mais filmes terá para assistir.

Pois não é que só agora, que estou passando à limpo a obra deste diretor genial, graças a generosidade de amigos que estão emprestando os filmes.

Isso sim é um filme de AÇÃO. Seus diálogos criativos e cômicos, não deixam a gente piscar. Cada palavra proferida é uma delícia de ouvir. Um simples Ah!, tem aqui um grande significado. Sério, os diálogos são tão rápidos, que quando o filme termina, parece até que estamos cansados, e ele parece maior do que realmente é. Uma linguagem totalmente moderna para o ano em que foi produzido, que foi em 1940!

Este filme foi baseado em uma peça de teatro de muito sucesso na época, daí o seu enredo se passar praticamente inteiro em uma sala de imprensa.

Cary Grant, Rosalind Russell e Ralph Bellamy, formam uma espécie de triangulo amoroso. Os dois primeiros são jornalistas e ex-casados, mas desde o começo percebemos que ainda se gostam. Mesmo o casamento tendo terminado pelo temperamento obsessivo com a profissão e o egoísmo de Walter Burs. Quando Hildy Johnson vai contar ao seu ex-patrão e marido que está noiva novamente e prestas a se casar (mais não com ele), ele faz de tudo para não perde-la, nem como amada e muito menos como repórter.

O que se segue é uma comédia em grande estilo e classe, com rara leveza, mesmo para colocar em pausa assuntos complicados, e mesmo naquela época já inerentes à sociedade americana, como a pena de morte, o mundo cão no jornalismo e até a dita instituição do casamento.

Uma delicia de comédia, imperdível. Realmente obrigatória para todos que se dizem adoradores da sétima arte.

15 de maio de 2006

Missão Impossível - J.J. Abrams


Esse filme desapareça da sua mente em menos de 5 minutos depois do final... Pronto, já era...Como os outros dois filmes da série e outros tantos filmes de ação. Já há muito tempo não tenho paciência para esse tipo de filme. Mas a maioria das pessoas gosta, fazer o quê. Missão Impossível é um dos seus representantes mais ilustres. Mas como das outras vezes, me peguei assistindo a um filme caro e luxuoso, mas sem conteúdo. Um filme que tem muita ação, mas não tem emoção. Saí do cinema com aquela sensação de ter sido enganado de novo.
Fui assistir entusiasmado, pois o filme é o primeiro de J.J. Abrams no cinema, depois de se tornar o novo Midas da televisão americana com o sucesso de séries como Alias e principalmente o maravilhoso Lost.

Se há coisas legais no filme, é a sua semelhança com as séries de Abrams, como na cena do resuscitamento de Ethan Hunt (Tom Cruise), que lembra muito um episodio de Lost em que Charles é ressuscitado. Também é linda a cena do casamento de surpresa de Ethan com sua amada. Alias, são nas cenas caseiras que o filme mostra fôlego. Acho que J.J. Abrams ainda fará (tem tempo e prestigio para isso) um grande filme quando abraçar o melodrama. Ele tem o dom para isso.

Um personagem que tem no filme, John Musgrave (Billy Crudup), reflete o que acho do filme. Personagem estranho e mal construído para um ator que gosto muito. Sem contar o vilão do filme Owen Davian, vivido pelo magistral Philip S. Hoffman, tão mal aproveitado.

Muita gente gosta dessa ação toda, que para mim é sem eira nem beira, tudo muito oco. Mas para mim, podiam se preocupar um pouco mais com uma história mais crível.

12 de maio de 2006

LOST - J. J. Abrams ( 1º temporada)


Lembro que pequeno meus colegas de futebol adoravam acompanhar as séries televisivas e eu ficava chateado por não ver a menor graça naquilo, todos acompanhavam O Homem do Fundo do Mar ou até Chips. Eu achava tudo chato. Mais tarde, já adulto (!?), tentei acompanhar algumas séries, estas recentes mesmo, e sempre a mesma coisa, ou me enchia o saco ou eu não tinha paciência. Uma amiga chegou a emprestar a temporada completa de Sexy And City e não consegui passar do segundo DVD, pior ainda foi a experiência com Friends, que chegou a me empolgar no começo, mas depois desisti achando que era sempre uma repetição das mesmas piadinhas.Por acaso assisti um episódio de Lost na Globo (não tenho grana para uma TV à cabo), depois de ler uma matéria na Set a respeito dessas sérias, que estão fazendo grande sucesso nos EUA, mais até do que os filmes de cinema, que parecem viver uma crise de criatividade, ao contrário das séries.

Foi amor à primeira vista com a série, mas me contive, pois achava que iria ser como das outras vezes, mas... Hoje (dia em que completo mais um ano de vida, 35 para ser exato), me reservo o prazer de falar de LOST, série maravilhosa, e para mim, o que de melhor assisti no ano de 2006. Tive a paciência de esperar que a 1º temporada saísse completa em DVD para assisti-la, vou esperar também a 2º parte com igual paciência, portanto nem sei o que está acontecendo neste momento. Se alguém começa a falar sobre a série do meu lado, saiu de perto. Tive o prazer de assisti-la inteira (1º temporada) numa tacada só, em três dias assisti aos 07 DVD´s.

Se me perguntarem qual meu personagem preferido,não tenho. Qual episódio mais legal, também não. Pois acho que raramente vi uma uniformidade tão grande. Todo elenco brilha igualmente e todos os episódios são impecáveis, sendo que você os assiste e fica querendo sempre mais. Como nos bons capítulos de livro, que não conseguimos fechar, ou quando acaba, lamentamos o final. Minha sorte é que não acabou, logo, logo estarei assistindo à série novamente. Talvez algumas perguntas sejam respondidas, ou outros mistérios apareçam.

Entre todos os mistérios que envolvem a ilha e os personagens, o que mais me intriga é a ligação que há entre os personagens, que John Locke acredita existir (eu também). Eles não estão ali por acaso. Algum mistério maior ainda os une. O que será? Essa e outras perguntas ainda vão ser respondidas e acredito que os roteiristas vão ter muito trabalho para unir todas as peças desse quebra-cabeça. Mas confio neles, pois o enredo é surpreendente, e faz o que deve ser feito que é nos prender na cadeira a espera do próximo episódio. Pois que ele venha. Acho até que vou rever meu conceito, e tentar assistir outras séries pois Lost realmente me conquistou.

11 de maio de 2006

Crime Ferpeito – Alex de La Iglesia



Não me lembro bem aonde li uma entrevista de Alex de La Iglesia onde ele se declarava o melhor diretor de cinema no mundo, apenas superado por seu conterrâneo Bunuel. Obviamente ele “abusou” nesta declaração. Mas acredito mesmo que o que ele queria era fazer graça como nos seus filmes. Mas não se pode negar seu talento. Apenas assisti a este Crime Ferpeito e estou doido para assistir aos seus outros filmes já produzidos, que dizem, serem bem mais ousados e abusados do que este que está em cartaz. O cara tem cinismo e talento de sobra, coisas necessárias neste cinema atual.

Neste filme vemos a história de Rafael (Guilhermo Toledo), vendedor de um grande magazine. Sua vida é exatamente como ele sonhou, aquele “espetacular” mundo de consumo e gastos. Ele se sente no próprio Paraíso e sua vida corre às mil maravilhas, sendo amado e amante das mulheres (vendedoras) e admirado e respeitado pelos homens (vendedores), até que um imprevisto acontece e... Sua vida vira de ponta cabeça, quando entra em sua vida, uma outra vendedora de nome Lourdes (Mônica Cervera), que ele nem notava. Ela torna-se cúmplice involuntária de um crime seu.Começa aí sua descida aos infernos, e tudo que ele havia planejado para si, se perde nas imposições de Lourdes.

É impressionante como Iglesia consegue ser despachado, ácido e sanguinário, sem um minuto sequer cair no estereotipo, no vulgar. O melhor exemplo é a cena da vítima sendo “cortada” para ser queimada.Sua direção sabe chegar sempre no limite, nunca sendo de mau gosto ou exagerado. Lembra até Almodóvar no inicio de carreira. O cara tem talento e seu filme é delicioso de se ver.

Vários filmes são citados na história, como Ensaio de um Crime (Bunuel), ou Anatomia de um Crime (O t t o Preminger). Filmes que Rafael assiste para “aprender” a praticar o tal Crime Perfeito, que se torna Ferpeito. Serve de homenagem aos cineastas que Iglesia mais admira. Bela homenagem de um discípulo com talento e futuro no mundo do cinema.

8 de maio de 2006

Casa de Areia – Andrucha Waddington


O homem já chegou na lua, mãe. E o que tem lá? Só areia.

É porque a vida é assim mesmo. Perde-se a noção do tempo. E nossas almas vão se cobrindo de deserto, da areia que habita em nós. Mãe e filha no meio do nada, vivendo na manobra do vento. Vento que cobre a gente, acoberta sonhos e quando vemos, o tempo (que não existe) já se passou levando tudo.

Pelo menos aqui homem não manda em mim, diz a mãe. Até a casa ser tomada pela a areia que anda.Não há diferença aqui, mas a vida é sonho, a vida é o que a gente vive e faz. Homens estudam as estrelas no deserto, vêem o eclipse da lua no deserto. Pra quê? Pra descobrir que a vida é assim mesmo.Um amontoado de sonhos cobertos pela areia da desilusão, tanto faz, a cidade, o deserto. O que vale é o amor que sentimos. Será que realmente sentimos algo nesta imensidão de nada e vento? Mas é tudo tão bonito, esse mundão a perder de vista.

Não assisti no cinema, só agora que saiu em DVD. Perdi também o bonde, e a história se esvaindo como areia entre meus dedos. Já tenho quase 35 anos. No deserto, só. A areia me tomando o corpo todo em plena Av. Paulista. As vezes parece que estou lá junto com as duas Fernandas.

Valeu só assistir agora, pelo menos vi nos extras a melhor cena, que é Fernanda Montenegro com os olhos molhados e voz emocionada, agradecendo ao genro e diretor Andruccha, pela incrível experiência nas dunas. Humilde e digna como uma grande atriz deve ser, e ela ,todos sabemos, mostra neste pequeno gesto o quanto o é.

A mãe sossega, não quer mais sair de lá. A filha demora, a sonhar... A música é o que eu sinto mais falta, Maria. O que é música, mãe? Não dá para explicar. Só se acalma quanto se entrega ao negro lindo Seu Jorge, dois sozinhos formam um. Também sossega. Pois mesmo na cidade é difícil encontrar alguém assim, água no deserto. Cena linda aquela do entrelaçamento dos dois corpos, café com leite e sexo. O amor silencioso e lindo do negro acalma o coração da mãe de Maria. A filha é infeliz, mas um dia consegue sair de lá. Vai pro mundo se perder. Um dia volta. O homem já chegou na lua, mãe. E o que encontrou lá? Só deserto e areia.




3 de maio de 2006

Brasília 18% - Nelson Pereira dos Santos


Há muito tempo atrás, li o livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, e o capítulo que mais me impressionou , foi o da cadela Baleia. Anos depois, fui assistir ao filme dirigido por Nelson Pereira dos Santos, pensando em como ele conseguiria transpor aquela história mágica, mais especificamente, aquele capítulo para a tela. Ele me surpreendeu em todos sentidos, saí do cinema com as pernas bambas apesar da péssima qualidade da cópia do filme. Fora a sensação de angústia, que tomou conta de mim, quando assisti ao monumental “Memórias do Cárcere”, sem falar da sua trilogia a respeito do submundo do Rio de Janeiro. O homem é gênio, um verdadeiro monstro vivo e sagrado do cinema brasileiro, que merece toda a reverencia possível, a um cineasta que contribuiu tanto ao nosso cinema. Não é à toa, hoje ele está na Academia Brasileira de Letras, mesmo com nenhum livro escrito, pois o único lançado com seu nome, foi uma compilação de alguns de seus roteiros. Não importa, ele merece.

Mas não posso deixar de lamentar seus últimos três filmes de ficção . Lembro de eu e um amigo, sairmos do cinema nos xingando por termos assistido “A Terceira Margem do Rio”. E o que falar de Cinema de Lágrimas (não assisti “Raízes do Brasil”), que horror. Parece-me que o diretor perdeu a mão, suas idéias são ótimas, mas os filmes estão frouxos em suas direções.

Brasília 18% é o melhor dos três últimos de ficção, mas mesmo assim , para mim obviamente, contem muitos defeitos. Não entendi aonde Nelson Pereira dos Santos quis chegar com esse filme.

Se sua vontade era narrar um pouco do universo político de Brasília, lhe faltou aprofundamento, adentrar em suas questões mais escuras, estudar mais o território, a coisa ficou muito rasa. Talvez quisesse contar uma história meio-espírita, sobre um homem atormentado que vê sua esposa já morta, e depois passa a ver a própria vítima, à qual está fazendo a autópsia e, estudando suas fotos, se vê apaixonado por ela, e passa a vê-la nua (isso é legal, pois Karine Carvalho é linda demais) a todo o momento. Ou a simples história de um homem desanimado (morto vivo) com a vida, vagando no meio de um furacão, que é Brasília.

De qualquer forma, nada se sustenta, são muitas questões levantadas, sem seu devido apuro. Quando terminou o filme, eu não sabia o que o diretor quis com aquilo tudo. Muitos personagens aparecem e somem sem bem o porquê. Aquela japonesinha extremamente mal dirigida, ou simplesmente péssima mesmo, qual sua finalidade? E o final? Entendo que o personagem de Ricelli (Olavo Bilac) deva ser apático, mas é o ator que está apático.

Fui assistir ao filme pronto para gostar (pois realmente ele tem aquele clima de filme dos anos 80), mesmo com defeitos, pois só de sair daquele ciclo Globo Filmes já seria maravilhoso, mas me decepcionei. Tenho lido muito a respeito do filme. Outras pessoas mais gabaritadas do que eu, que enxergaram coisas que eu não vi. Pretendo assisti-lo de novo e ver se mudo essa péssima impressão.
ps. Carlos Vereza foi na segunda-feira falar sobre o filme e outras coisas como política e espiritualidade no Programa do Jô. Grande ator, grande ser humano, numa entrevista ( o Jô deixou ele falar) memorável.

1 de maio de 2006

Relação de filmes - Abril de 2005


Filmes assistidos no mês de abril/2005

Este mês, fiquei surpreendido pela quantidade de filmes bons assistidos. Abaixo, coloco os filmes por ordem de preferência. Foi difícil escolher entre "O Plano Perfeito" e "Três Enterros" entre os melhores. E a grande decepção ficou com "Brasília 18%", filme que fui assistir pronto para gostar, mesmo que houvessem muitos defeitos, mas não deu...

Três Enterros - Tommy Lee Jones ****
O Plano Perfeito - Spike Lee ****
O Novo Mundo - Terence Malick ****
V de Vingança - James Mc Teigue ****
Boleiros 2 - Ugo Georgett ****
Manual do Amor - Giovanni Veronesi ****
Arido Movie - Lírio Ferreira ****
Tapete Vermelho - Luis Alberto Pereira ****
Estrela Solitária - Win Wenders ***
A Dama de Honra - Claude Chabrol ***
Crianças Invisíveis - Vários Diretores ***
O Chamado - Gore Verbinski (TV) **
Um Lugar para Recomeçar - Lasse Hallstron **
Brasília 18% - Nelson Perreira dos Santos *
Irma Vap O Retorno - Carla Camuratti *
Até O Limite da Honra - Ritley Scott (TV) *