30 de junho de 2006

No Meio da Rua – Antonio Carlos da Fontoura


Situação chata escrever sobre um filme que você gostaria de gostar , mas não consegue. Sempre olho com bons olhos, filmes que tenham em seu foco principal o olhar de criança, mas não deu.

Fontoura dirigiu no começo dos anos 70, um filme ímpar. Sua “Rainha Diaba” é uma obra-prima, e desde então sempre se esperou que ele fizesse outros filmes deste quilate. Mas não foi isso que aconteceu, e o diretor pouco produziu depois de sua obra-prima. Vale lembrar o seu “Espelho da Carne”, ousado e pouco visto, produzido numa época difícil do cinema brasileiro.

Este seu “No Meio da Rua”, parece ter ficado no meio do caminho, talvez pelas complicações inerentes à produção, que fizeram com que o filme fosse lançado logo após “Gatão de Meia Idade” (filme que não vi, e para falar a verdade, nem tenho vontade, pois dizem que é péssimo), mesmo sendo feito antes. Acho que isso acabou ajudando a complicar sua situação. Por incrível que pareça, o filme parece que envelheceu.

Seu enredo é simples. É sobre um menino atarefado e rico que faz amizade com um menino pobre, que vive a pedir dinheiro nos faróis da cidade do Rio de Janeiro. A amizade nasce através de um game-boy, que um empresta ao outro. Este encontro fará com que o menino rico vá parar na favela, e vivendo em um mundo desconhecido, vá se sentir feliz neste novo mundo, de pequenas coisas simples da vida, que ele não estava habituado, como jogar bola de gude, futebol, etc. É o embate de classes que se faz de forma inocente e leve. Mérito do diretor que preferiu um enfoque leve e infantil, que é acertado. Mas os acertos param por aí, pois falta um roteiro melhor elaborado, seus diálogos são toscos, e falta uma direção mais segura. Suas soluções são frouxas e inverossímeis. O diretor deixou escapar uma boa chance de discutir melhor o embate dessa classe média, cheia de medos. Problemas das grandes metrópoles, mas que no Rio de Janeiro se acentua, até pelo fator geográfico. A cidade é literalmente cercada pelos morros e favelas. O embate entre morro e asfalto, devido a gigantesca diferença econômica e social, é inerente. Isso deveria ser mais bem trabalhado no filme, que no final não se apega a nada, e acaba não dizendo a que veio.

Num elenco mal dirigido, vale destacar a menina, que faz o papel de irmã do menino rico. Com seu jeito tagarela, conseguiu dar um pouco de graça a um filme que no mínimo (pelo seu enfoque infantil) deveria ser um pouco engraçado.

Se o ano passado, o cinema brasileiro nos presenteou com grandes filmes, este ano a coisa esta muito feia, e este é mais um exemplo da crise criativa do nosso cinema. É pena.
ps.: A Argentina acaba de se despedir da Copa. Nunca pensei que um dia iria pensar isso, mas fiquei triste, pois o futebol bonito, que eu gostaria de estar vendo o Brasil jogar, acaba de morrer mais um pouco, em favor de um futebol pragmático e feio (Alemanha). É pena.
Pior, a Argentina (e todos os amantes de cinema), perderam um grande cineasta. Fabian Bielinsky, do excelente Nove Rainhas, faleceu esta noite aqui em São Paulo. A Argentina, nos dois casos, tem o meu sincero respeito.

28 de junho de 2006

Eu, Você e Todos Nós – Miranda July

Tentando encontrar uma denominação para esse filme, e ele se fazendo crescente na minha memória, que pretendo assistir novamente, acho que posso denomina-lo de filme macio. Sim, isto mesmo, um filme triste, escondido através de uma maciez, gostosa de assistir.Este filme, da estreante e promissora Miranda July, é macio, com tudo de bom que esta denominação possa trazer no seu significado. Com um estilo único, influenciado pelas artes plásticas, (área onde a diretora já atua profissionalmente) o filme é levado com uma leveza única, mesmo que tratando de assuntos complexos, complicados, onde a solidão e a inadequação dos seus personagens, ou melhor, do ser-humano,com o seu próximo, seja este, filho, pai, mãe, amigo, vizinho ou amante, esta inadequação fica evidente.

Bom exemplo é a cena do peixe, que aparentemente é gratuita, mas optando por não mostrar a queda do peixe no chão, a diretora mostra seu estilo alegórico. Ou mesmo quando Richard (John Hawkes), ateia fogo na própria mão, tentando extirpar sua dor pela separação da família, a diretora opta por mostrar a cena como se fosse um número artístico. Acertos de um filme desigual perante a maioria de mediocridades que assolam o cinema norte americano.

Todos os personagens, e não só seus protagonistas, estão à procura de suas adequações. As meninas que procuram suas afirmações sexuais. A menina vizinha com seu enxoval, que encontra em Peter (Miles Thompson), filho mais velho de Richard, um comparsa dos seus segredos. Ou até a incrível história de Robby (Brandon Ratcliff, excelente), filho mais novo de Richard, que inocentemente começa uma espécie de romance cibernético, que culmina em um encontro numa praça. Onde vemos uma crítica, referente a este mundo cibernético, ou melhor escatológico.

Miranda impõe a seu filme um estilo leve e único, mesmo lidando com assuntos, delicados e por vezes pesados. Ela consegue manter seu foco, sem nunca ultrapassar seus limites, pois seus personagens parecem flutuar num universo à parte, criado por ela. No seu mundo, as soluções são macias, cor de rosa, e verossímeis. Ponto mais que positivo, uma verdadeira façanha criativa e arriscada, desta cineasta estreante, com seu filme independente ganhador já, de vários prêmios.

Esperemos seu próximo filme, para ver se ela irá se firmar como um dos novos nomes promissores do cinema, ou se está sendo apenas uma chuva de verão. Mas por este filme, já merece festa, por ter feito um dos grandes filmes do ano, que merece revisão, para pouco a pouco irmos descobrindo novas nuances.

24 de junho de 2006

Posseidon – Wolfgang Petersen


O Destino de Posseidon foi um dos filmes que mais mexeram comigo na minha infância, lembro de Gene Hackman (Reverendo Frank Scott), perdurado em uma porta do barco, pronto para morrer, desafiando Deus. Essa imagem não saiu mais da minha cabeça, assim como os outros personagens do filme. O durão e apaixonado personagem de Ernest Borgnine e a gorda personagem de Shelley Winters, nadando e lutando pela sobrevivência. Um filme que tenho até medo de assistir de novo, pelo carinho que tenho a estes personagens. Visão de criança é diferente, mas poucos filmes ficaram na minha memória como este. Mas vou rever, acho que até para reverencia-lo, pois compara-lo com este Posseidon milionário não dá, e olha que os críticos nem gostam do primeiro, que perto dessa nova adaptação, me parece uma obra-prima.

Petersen é um diretor que não sei porque insisto em “apreciar”, seus filmes sempre me desagradam, com honrosa exceção de “Na Linha de Fogo”, talvez por este sem estrelado pelo velho e bom, Clint. Mas seus filmes me parecem sem emoção, sem carisma, ou mesmo uma cara, alguma forma que demonstre aonde quer e como quer chegar este diretor. São produtos, e não filmes. Prontos para serem vendidos à grande massa. Filmes autorais e Wolfgang Petersen, são antagônicos.

Nesse filme ele conseguiu se superar negativamente. É impressionante o quanto de dinheiro gasto e desperdiçado para criar um filme sem nenhum carisma. Parece que o filme foi feito às pressas e ele não teve tempo nem de dirigir os atores. Parece que sua preocupação era somente os efeitos especiais, como truque para enganar os espectadores afins de não perceberem seu engodo. Mas nem os tais efeitos especiais são tão especiais assim, é tudo enganação, e nisso vemos personagens perdidos e ocos. Não sei se o elenco que é ruim, ou se são apenas mal dirigidos, talvez os dois casos.

O filme até que é curto, talvez devesse durar mais, para que nós espectadores, pudéssemos conhecer seus personagens, e talvez até torcer por algum deles( Mia Maestro, que interpreta Elena é linda), até sofrer junto naquele momento. Mas Petersen resolveu não nos mostrar nada a respeito de seus personagens, com exceção do personagem de Dreyfuss, um homossexual abandonado, que logo no inicio do filme, vemos com vontade de se matar.Quando enxerga a tal onda absurda vindo colidir com o navio, desisti e passa a lutar pela vida. Mas no restante, há um distanciamento absurdo dos personagens.

Talvez seja o sinal dos tempos, o poder da grana, o orçamento milionário. Reflexos de uma Hollywood, que já a tempos não sabe para onde seguir com seu maravilhoso artefato.Falta consistência em suas produções, e Posseidon é um bom exemplo da crise dos grandes estúdios. Ou será que é o público que mudou? Não se importando mais com personagens, apenas os efeitos especiais, numa forma de se anestesiarem? Não sei, só sei que as produções estão muito aquém do esperado. Talvez por isso, as séries televisivas têm feito tanto sucesso por lá.

21 de junho de 2006

Amor em Cinco Tempos – François Ozon


Mesmo antes de assistir a este filme, seu enredo já me lembrou Besame Mucho, filme nacional de Ramalho Jr. Baseado na peça de Mario Prata, escritor que gosto muito. Ambos os filmes, nos mostram uma relação contada inversamente, isto é, do final ao seu começo.

Mas falemos aqui desse novo Ozon, diretor que não admiro muito, apesar de ter assistido apenas outros dois filmes dele, este é o melhor sem dúvida. Nos é mostrado de forma concisa através de cinco momentos deste casal, os fatos que fizeram crescer e terminar uma história de amor.

Logo no inicio, vemos o casal junto a seus respectivos advogados tratando dos acordos finais para o divorcio. Uma cena difícil, para uma situação difícil na vida (creio eu) de qualquer um, que passa por este trauma. Nesta mesma cena o casal segue para um quarto de hotel, para um definitivo e último momento de amor. Mas as coisas não saem como o planejado, e ressentimentos guardados vão ser fatalmente expostos, novamente.

Ozon parece tentar achar, através de seus personagens, um caminho ou uma resposta, sobre o relacionamento de um casal. O que faz um casal ficar junto? Até que ponto deve-se investir nessa relação? Deve-se tentar até quando que o casal permaneça junto?

Na cena seguinte, temos uma mostra de como a coisa vai se deteriorando. Num jantar entre amigos, segredos do casal são revelados por ele, e ela demonstra em silencio, que não gostou de ver certos segredos seus serem revelados, mas não discute, guarda a mágoa. Com isso, percebemos que o que destrói aquele relacionamento, são seus pequenos detalhes mal resolvidos, suas pequenas marcas e manchas não resolvidas.

Como na terceira cena, no nascimento do filho do casal, em que inexplicavelmente, o marido resolve se isolar em momento de tamanha importância. Mágoa imensa guardada pela esposa, enquanto o filho luta sozinho pela sobrevivência numa incubadora.

Ao contrário dos latinos que são mais expressivos e verborrágicos. Acredito que os europeus, particularmente os franceses, têm aquela coisa de se respeitar em demasia o lado pessoal, individual, suas particularidades.E isso pode ajudar e muito para o declínio de um casal. Não que isso seja errado, mas é excessivo.

Este entrosamento, que se pressupõe, deveria existir entre eles, já se mostra vulnerável, já na quarta cena, a do casamento. Em que o casal recém casado não se mostra na mesma sintonia em plena noite de núpcias.

Mas o ápice do filme, o que parece fazer valer o filme inteiro, e porque não, uma vida inteira de um ser humano, é a última cena. Quando os dois se conhecem. A mágica e o fascínio de um amor florescendo, faz o mundo ficar lindo, parece que a natureza ajuda e sorri, pela beleza do nascimento de um novo amor. Sentimento imenso, maior que a vida, maior que o mundo, mesmo que dure pouco.

17 de junho de 2006

Buenos Aires 100 Kilometros - Pablo José Meza

Se no futebol me dou o direito de ser totalmente contra a Argentina ( e o Corinthians, é claro), não tenho esse problema com relação ao cinema argentino, seria idiotice minha, é obvio. Sendo que eles estão nos dando uma lavada nesse quesito, e não fico bravo com isso não, eu quero é mais, tenho curtido muito o cinema argentino. Como exemplo, temos este singelo filme sobre a infância de um grupo de meninos amigos, moradores de uma espécie de periferia de Buenos Aires.
Assistindo ao filme, não deixei um segundo de rever a minha própria adolescencia, em situações idênticas, ou muito parecidas. Como no filme, tinha minha turma de amigos insepáraveis, que estavam comigo o tempo todo, para tudo o que desse e viesse. Todos nós com nossos problemas, fossem eles familiares, de afirmação, crescimento, sexual, etc. Mas acima de tudo, tínhamos a nós mesmos, e lembro o quanto isso era bom. Um elo de ligação muito forte que jamais consegui com outros e tantos amigos. Era mágico, mas também, é claro, os tempos eram outros, era a descoberta, aos trancos e barrancos, do mundo e de nossa propria vida.
Como não lembrar daquele bailinho na casa do Anderson, exatamente como no filme, dado apenas com o pretexto de que algumas "colegas" de escola, às quais eramos apaixonados, comparecessem. Lembro dela ter vindo com um vestidinho marrom, muito bonita e cheirosa. Quando finalmente venci o monstro imenso da timidez, dançamos "Adivinha o quê" de um tal de Lulu Santos, novidade da época. Lembro de apertá-la com delicadeza contra o peito e olhar demoradamente para a sua nuca (sempre adorei nuca) , e sentir seu perfume, me sentinto um gigante, com uma sensação inesquecível, não querendo que aquele momento terminasse nunca. Outras vezes, já bem mais velho, tentei repetir aquela dança com outras, mas nada jamais foi tão intenso e principalmente puro. O primeiro beijo, que aconteceu só depois no pátio da escola! Com os inseparáveis amigos a dar força e ao mesmo tempo gracejarem. O despertar(apenas despertar) sexual com a filha de uma amiga de minha mãe, muita mais velha que eu na época, que depois de muito tomar sol na praia, me pediu para que passasse óleo no seu corpo todo. A primeira vez que passei minhas mãos nos seios de uma mulher! Não bastasse, me achando bonitinho, me "ensinou" a beijar na boca. Dia inesquecível de minha húmilde vida.
Assim como no filme, tínhamos momentos de confissões, segredos super secretos de morte e para sempre, assim como os pactos de sangue, de não nos separarmos jamais. Vejo muitos comentarem a respeito dos programas de televisão assistidos na infância, não tenho lembranças disso, simplesmente porque não os assistia, vivia junto aos amigos a jogar futebol e descobrir coisas novas pelas ruas, às vezes até tarde da noite. Tínhamos a Framenguinho (eu era lateral direito como o Leandro), time que montamos, e jogávamos todo domingo no campo de varzea na ponte da Cidade Jardim, que agora, pra variar, aquele maravilhoso espaço, esta virando o luxuoso Shopping Center Cidade Jardim, eca! Tínhamos os maravilhosos campeonatos de futebol de Botão.
Enquanto o filme estava sendo projetado na tela, outro filme, o da minha vida, de tempos já tão distantes, passava na tela da minha cabeça. Acho que muitos que assistirem a esse filme vão ter essa mesma sensação. As vezes amarga, as vezes doce sensação, de um tempo de descobertas e amizades sinceras. Não tínhamos ainda o viço e o amargor do desencanto que o passar dos anos trás a todos. Não olho o passado com nostálgia ou saudade. Apenas como uma etapa da vida, bela etapa da vida. Hoje não tenho mais contato com os amigos inseparáveis, a vida encaregou, como no filme, de nos separar, mas guardo com carinho todos, na minha memória afetiva. Mas o que mais tenho certeza dessa época é de que não éramos sozinhos, eu não era sozinho e tinha muita esperança em todos e em tudo. Bons tempos.

14 de junho de 2006

Revista Paisà


Mais um número da Revista Paisà dos meus amigos Alê e Sérgio. A melhor revista sobre cinema do Brasil.

13 de junho de 2006

Caché – Michael Haneke


Estranho o cinema de Haneke. Não gostei dos outros filmes que assisti dele, sendo estes: Violência Gratuita e A Professora de Piano. Mas mesmo assim, admirei nos mesmos, uma espécie de singularidade, um cinema autoral do diretor.

Já neste Caché, ele se saiu bem melhor, mantendo suas características com um resultado bem superior, seu cinema continua a incomodar.

Neste, vemos a história de uma família francesa- considerada modelo- ter seu cotidiano tranqüilo, modificado por imagens aparentemente inofensivas do seu cotidiano, gravadas e entregues anonimamente a eles. Daí acabou-se o sossego e a estrutura da família começa a ruir. Estes são representados por Daniel Auteuil e Juliette Binoche e seu filho adolescente, que na verdade passa, a representar uma França atormentada pelo seu passado, por suas ex-colonias, que aqui no caso, é a Argélia. Haneke usa essa família para fazer uma obra altamente política e inquietante. A sujeira que estava escondida em baixo de seus tapetes caros, quer se mostrar. Haneke não demonstra nem um pouco de comiseração aos seus patrícios. Expõe incisivamente o que os franceses querem esquecer num passado não tão distante, isto é, sua prepotente maneira de lidar, com os seres “inferiores” de suas ex-colonias.

Estes vídeos e desenhos revelados e enviados a família, acredito (e gosto de acreditar) que são na verdade uma espécie de interação, intervenção do diretor diretamente na história da família (ou seria o país?). E isso é o mais interessante deste filme. Que segue num crescente de angústia e suspense sobre as imagens com as quais a família não consegue descobrir de como ou de onde vem, e assim se instala o terrorismo interior. O personagem de Daniel Auteuil sabe de sua parcela de culpa em tudo que acontece, mas sufoca-a com suas pílulas para dormir.

Várias peças ficam sem se encaixar, que talvez numa revisão se encaixem. De qualquer forma é um filme único e inquietante, que nos leva a pensar.E isso já é muito, em meio ao cinema atual.

9 de junho de 2006

Rent Os Boêmios – Chris Columbus


Chris Columbus sempre dirigiu filmes medianos. Em seu trabalho sempre buscou atingir um publico jovem, ou à família.Mesmo não realizando filmes maravilhosos, sempre conseguiu atingir seu intento e sempre obteve sucesso, com grandes sucessos como Esqueceram de Mim, ou recentemente Harry Porter.

É pena, para ele e para nós, que tenha saído do seu gênero, para dirigir Rent.É melhor ele voltar às suas comédias familiares rapidinho. Este talvez, seja o fortíssimo candidato a pior filme do ano. E pelo que sei, foi um retumbante fracasso nos EUA. E o pior é que muitos apostavam no sucesso do filme, pois ele foi baseado na peça com o mesmo nome, que foi um dos maiores sucessos na Broadway nos anos 80.Inclusive, grande parte do elenco da peça, repete seus personagens no filme, apesar do tempo contar contra. É daí, inclusive, que começam os problemas no filme, um elenco envelhecido e irregular, uma história envelhecida que não se sustenta na telona, e uma direção medíocre. Deu no que deu, fracasso total.

Quando o filme começa, falei: Opa! Ele inicia com uma canção lindíssima, de longe a melhor do filme (da peça). Pensei que iria entrar numa bela viagem musical, mas foi justamente ao contrário, um pesadelo arrastado. Algumas pessoas saíram no meio da sessão, eu agüentei bravamente até o final, para assistir a história de um bando de “artistas” infectados pelo HIV, que se recusam a pagar o aluguel do prédio onde moram e sofrem uma ação de despejo do ex-amigo também artista, que virou (cruzes) capitalista avarento.Disso e outras bobagens saem pretextos para as músicas serem cantadas e dançadas de maneira chata. Odes à vida, ao amor, à amizade, com claras imitações de outros musicais, como a famosa cena do banquete de Hair. Constrangedor, o filme não terminava nunca!

Soube que De Niro, que é o produtor do filme, havia convidado Scorsesse para dirigir o filme, e este agradeceu e saiu de fininho. Gênio também enxerga as coisas ruins de longe.






6 de junho de 2006

A Concepção – José Eduardo Belmonte


Eis mais um filme que assisto este ano, em que tem Brasília como um dos personagens do enredo, e não apenas seu pano de fundo. Assim como em Brasília 18%, saí meio que decepcionado com o filme. Vale lembrar que sempre quando vou assistir a um filme nacional, vou pronto para gostar, mesmo com vários defeitos. Neste caso fui assisti-lo sabendo que muitos gostaram.

A premissa do filme é muito interessante. Vemos a história de jovens entediados, filhos de funcionários graduados do alto escalão da supermáquina governamental em Brasília, que liderados por X (Matheus Nachtergaele, sempre ele), resolvem fundar uma sociedade concepcionista, na qual todos devem queimar suas identidades e vínculos sociais, viver cada dia como se fosse único, e de modo diferente.

Assim vemos aqueles jovens à procura dessa nova concepção de vida, como o personagem X, que segue à risca, a nova lei imposta por eles mesmos.
Para pessoas como eu, o duro da vida é que temos que escolher um só caminho, e depois se lamentar por não ter ido pelos outros vários caminhos deixados para trás. Mas o que me parece que acontece com X é exatamente ao contrário. Depois de “viver” vários personagens, aonde isso acaba? Onde é o porto, depois de tantos (des) caminhos? Não tem jeito, depois do salto, a queda. E talvez algo pior ainda, o vazio (algo que eles mais queriam fugir). E nesta anarquia mal elaborada, muito facilmente as coisas terminam mal, o que fatalmente acontece ao grupo.

Acho que o que fez com que eu saísse do cinema com a impressão de não ter gostado do filme, foi a maneira extremamente impessoal como estes jovens foram colocados na tela. O diretor não se aprofunda em nenhum dos personagens. Quando o filme terminou fiquei com a estranha sensação de não ter conseguido entender ou conhecer mesmo que banalmente, nenhum dos personagens apresentados. Suas aspirações, falsidades ou sinceridades perante aquilo tudo que estavam vivenciando.

Talvez a idéia seja essa mesma, frieza e distanciamento.Ou talvez porque estes jovens fossem simplesmente ocos, e atrás de tantos “personagens”, não havia nada, apenas o vazio.

Como a outra personagem do filme, Brasília. A cidade inventada (que não conheço, nem faço questão) que não tem esquinas. E eu adoro esquinas, principalmente as que tem arvores e botequins. Pretendo rever o filme, melhorar minha impressão talvez.Mas vai ser difícil.

5 de junho de 2006

A Noiva Síria - Eran Riklis


Ir ao cinema no domingo não é fácil, apesar do preço exorbitante, os cinemas estão sempre lotados neste dia. Sendo assim, acabei assistindo a este filme. meio que , por acaso no Frei Caneca Unibanco, não sendo ele nem a minha segunda opção.Foi uma grata surpresa.

É uma história complicada, que se passa entre a Síria e um território (agora não lembro o nome) ocupado por Israel, que para nós ocidentais, parece coisa de outro mundo, como de fato é.Como é possível as pessoas não terem uma nacionalidade definida? Como vemos quando seus personagens apresentam seus passaportes, seja no aeroporto, seja na fronteira onde grande parte da história se passa.

Vemos o drama de uma família no dia do casamento de uma de suas filhas.Esta vai se casar com o primo que não conhece, ele mora do outro lado da fronteira, na Síria, e uma vez que ela passar para o outro lado, não poderá nunca mais voltar para o lado em que até então sempre viveu, ao lado da família. Ou seja, ela nunca mais poderá rever seus familiares e a terra onde nasceu. Isso é coisa de louco, mas realmente acontece naquela região. Acompanhamos o drama da noiva e de sua família, como sua irmã, (vivida pela excelente Hiam Abbas, de Paradise Now, Free Zone e outros), que luta por mais liberdade, numa sociedade machista e arcaíca, que como já sabemos a mulher vale menos do que o homem, e lá no Oriente, de um modo geral, isto é mostrado as claras.Ou mesmo seu irmão, afastado do lar há mais de oito anos simplesmente por ter se casado com uma russa, contrariando os conselheiros de sua religião, e sendo assim banido da família.

Enquanto mostra os dramas de cada um dos familiares, o filme se desenvolve muito bem, e chega a nos emocionar em vários momentos. Mas a partir da metade para o final, quando todos estão na fronteira para o casamento, o filme perde o pique e se arrasta. Parece que o diretor não sabia como terminar o filme, que ficou meio que perdido, como na cena em que a francesa que trabalha na intermediação (Cruz Vermelha) da fronteira fica indo e vendo várias vezes para resolver o impasse por causa de um simples carimbo. Ela se cansa e nós também, pois esta cena é claramente uma crítica à burocrácia, mais a própria cena ficou burocrática. Faltou humor, que facilmente nas mãos de outro diretor mais talentoso seria muito bem explorada. Mas mesmo assim, vale muito a pena ver o filme, pelos seus momentos dramáticos e um elenco extremamente carismático, e nos mostrar o que acontece naquela região. Absurdos por causa de guerra, politica e religião.Fora o fato de passear por lugares e regiões (atraves do cinema), que infelizmente, sei que não vou conhecer, pelo menos nessa vida.

3 de junho de 2006

Relação de filmes - Faneiro/Fevereiro de 2006



Segue lista de filmes vistos em Janeiro e Fevereiro de 2006. Os meses posteriores já foram devidamente postados no blog.

O filme do ano continua sendo Crime Delicado - Beto Brant, seguido por 2046 - Os Segredos do Amor - Wong Kar Wai e Três Enterros - Tommy Lee Jones. Obviamente esta lista irá mudar, mas são três filmes autorais e imperdíveis aos amantes do cinema.

Lista de Janeiro/2006 (por preferência):

2046 - Os Segredos do Amor - Woang kar Wai ****
O Lenhador - Nicole Kassel (DVD) ****
Amor em Jogo - Peter Falley e Bob Falley(DVD)****
O Sol de Cada Manhã - Gore Verbinski ****
Canções da Terra de Minha Mãe - Bahman Ghobadi ****
Querido Estranho - Ricardo Pinto e Silva(DVD) ****
Soldado Anonimo - Sam Mendes ***
O Outro Lado da Raiva - Mike Binder ***
Tudo em Família - Thomas Bezcha ***
Os Produtores - Susan Stroman ***
E Se Fosse Verdade - Mark Waters ***
King Kong - Peter Jackson ***
Provocação - Ted Willians (DVD) ***
Se Fosse Você - Daniel Filho ***
O Mundo dos Pinguins - Luc Jaquet **
Procuradas - José Frazão e Zeca Pires (DVD) **
Sr e Sra Smith - Doug Liman (DVD) *
Como Fazer Um Filme de Amor - José Roberto Torero (DVD) *



Filmes vistos em Fevereiro de 2006:
Crime Delicado - Beto Brant *****
O Segredo de Brockback Mountain - Ang Lee ****
Os Sonhadores - Bernardo Bertolucci (DVD) ****
Orgulho e Preconceito - Joe Wright ****
Terra dos Mortos - George A. Romero(DVD) ****
Kung-Fusão - Stephen Chow (DVD) ****
Penetras Bons de Bico - David Dobkin (DVD) ***
Syriana - Stephen Gaghan ***
Good Night And Good Luck - George Clooney ***
Munique - Steven Spielberg ***
A Luta Pela Esperança - Ron Howard (DVD) ***
Bendito Fruto - Sérgio Goldenberg (DVD) ***
Capote - Benne H. Miller ***
Terra Fria - Niki Caro ***
A Vida e a Morte de Peter Sellers - Stephen Hopkins (DVD) ***
A Família da Noiva - Kevin Rooney (DVD) ***
As Loucuras de Dick e Jake - Dean Parisot **
A Vida Secreta dos Dentistas - Alan Ridolfh (DVD) **
Alfie O Sedutor - Charles Shyer (DVD) **
Procura-se Um Amor Que Goste de Cachorros - Gary David Goldenberg (DVD) **
Free Zone - Amos Gitai *
Pantera Cor de Rosa - Shawn Leny *

1 de junho de 2006

Relação de filmes - Maio de 2006

Filmes vistos em maio de 2006. (por ordem de preferência)

Jejum de Amor – Howard Hawks ***** dvd
O Inventor da Mocidade – Howard Hawks **** dvd
Lost (1º temporada completa) – J.J. Abrams **** dvd
Pickpocket – Robert Bresson ****
A Criança – Jean Pierre e Luc Dardenne ****
Cara de Areia – Andrucha Waddington **** dvd
Caché – Michael Haneke ****
Meu Amor de Verão – Pawel Pawlikowki ***
X – Men 3 – Brett Ratner ***
Crime Ferpeito – Alex de La Iglesia ***
A Concepção – José Eduardo Belmonte ***
16 Quadras – Richard Donner ***
A Comédia da Vida Privada – Guel Arraes *** dvd
Terapia do Amor – Bem Younger **
A Lula e a Baleia – Noah Baumback **
Tudo Por Dinheiro – D. J. Caruso **
Missão Impossível – J.J. Abrams **
Código da Vinci – Ron Howard *
Rent – Chris Columbus *