17 de julho de 2012

E aí... Comeu – José Joffoly


Pensei várias vezes antes de escrever sobre este filme, afinal de contas, pelo que tenho lido só se fala coisas ruins sobre ele, e eu não gostaria de cair na mesma vala comum. Afinal, a premissa é muito boa, que é a história de três amigos que se encontram quase que diariamente para bebericar e conversar – e olha que disso eu entendo - sobre seus problemas e principalmente sobre mulheres nestes novos tempos. Quando vi o trailer me animei, pois com uma bela sacada arrumaram a música certa como tema: “Sou Uma Criança não Entendo Nada” do Tremendão. Grande música, que delineia (para o bem) o arquétipo daqueles três homens meninões. Já havia assistido à peça no qual se baseou o filme, só que lá eram Felipe Camargo, Tato Gabus e Marcos Winter que atuavam. Grande peça, despretensiosa, e com um texto espirituoso.
Mas infelizmente, não se pegou o melhor da peça, e tudo ficou muito raso. Os diálogos dos três no bar deveria ser o mote do filme, mas tudo é muito raso, e não se chega a lugar algum. Pior mesmo, são os relacionamentos deles com suas respectivas mulheres. Tudo muito mal arrumado, em especial, o relacionamento do personagem de Bruno Mazzeo ( o filme melhoria muito com outro ator menos caricato) com a lindíssima ninfeta vivida por Laura Neiva, que não convence em nenhum momento. A cena de sexo entre os dois e tão fraquinha que chega a ser constrangedora. 
Mas o filme conseguiu a proeza de passar da marca do milhão de espectadores, e isso não deixa de ser bom (talvez fosse esse o intuito, não é mesmo?), apesar de vender a propaganda enganosa de que é engraçado, pois não é. Será que estou exigindo muito, ou o público que exige pouco? Não sei, mas que este filme poderia ser muito mais, isso poderia. Afinal, não só eu, mas muitos dos que conheço, quarentões como eu, vivem neste dilema moderno da eterna adolescência e isso poderia ser discutido com um pouco mais de esmero. A eterna pose entre os amigos de comilão, mas na verdade a insegurança a reinar, com a independência das mulheres e estes novos tempos. Mas daí seria outro filme, mas centrado na peça de Marcelo Rubens, e certamente não chegaria ao milhão. E olha que ao contrário de todos, até que gostei do outro filme do diretor ”Muita Calma Nesta Hora”, pois naquilo que lá ele se propôs a mostrar (praia, paqueras e adolescentes) até que conseguiu tirar certa graça da coisa toda. Mas neste filme, em vez de se passar um tema despretensioso, ficou tudo muito raso.
Certo esta o personagem de Seu Jorge, que no filme rouba a cena sempre que aparece, como na cena depois dos créditos finais, em que canta e encanta a morena com seu violãozinho malandro. Junto com o título, que é um achado e a música tema do Erasmo, acaba sendo pouco, muito pouco.

4 de julho de 2012

A Febre do Rato – Claudio Assis


Lembro de uma cena inesquecível no filme “Crime Delicado” de Beto Blant. A cena se passa em um boteco fuleiro da Vila Madalena, que por acaso conheço. Vemos um homem visivelmente bêbado discutindo com sua amada. Enquanto o personagem de Marco Ricca apenas observa os dois, fato contínuo no filme. Este bêbado, personificado por Claudio Assis, percebe que é observado e chama a atenção do observador, que pare de ficar olhando e vá viver, vá amar, vá se derramar por outros cantos. Grita, gesticula, que ama demais, que sofre demais e que tudo em sua vida é intenso demais. Ali esta Claudio Assis, praticamente fazendo um personagem de si mesmo. Sempre que assisto qualquer um de seus filmes, aquela cena volta a minha mente, pois acaba sintetizando toda a obra deste diretor pulsante, goste-se ou não de sua obra.
Neste seu terceiro filme não poderia ser diferente, lá esta ele novamente sendo desta vez, personificado pelo excelente Irhandir Santos, que faz às vezes de poeta anarquista, soltando sua verborragia pelas ruas feias de Recife. Um cartão postal ao contrário, em meio ao Rio Capibaribe, e as favelas e ratos que habitam suas margens. Recife, como numa ótima piada contada no filme, é uma espécie de ante-sala do inferno.
 Claudio Assis não quer passar impune, seus filmes podem ter todos os defeitos, mas ninguém saí ileso a experiência de um filme seu. Ou se gosta ou se odeia. Mas passa-se longe destes filmes de padrão Globo de qualidade. Ele quer radicalizar, bater na cabeça, nas sensações inodoras dos politicamente corretos. A liberdade da palavra não.
O poeta Zizo vive de seus fanzines, entre seus amigos, sendo seu melhor amigo, um coveiro vivido por Matheus Nasterghelle, que é casado com uma travesti, e suas velhas gordas amantes, até mesmo a própria mãe (não esqueçam que ele quer chocar) servem de válvula para sua mente inquieta. É no calor de seus suores na quente Recife que ele encontra inspiração para suas belas poesias. Tudo exala sexo e calor. Até que conhece Eneida, uma jovem estudante, vivida por Nanda Costa, que diz não a suas investidas. O poeta se apaixona e tudo muda com esta nova perspectiva. A liberdade e a anarquia é procurada o tempo todo, a todo custo. A um certo momento, percebemos que Eneida também quer o poeta, mas a perspectiva do não acaba sendo mais forte. O não para dizer sim, quando vemos na bela/ feia  cena da mijada, ou quando ela se masturba lendo o poema dedicado a ela.
Talvez, o problema do filme seja seu maior mérito. São tantos poemas lindos, que eles acabam se perdendo pela grande quantidade declamada. O pecado pelo excesso. Mas não é isso o que Claudio Assis quer? O excesso. Diz o diretor, que seus filmes não são brutos ou ásperos, são as pessoas que estão acostumadas só com a novela das oito. Goste-se ou não, vale a pena conferir.