23 de outubro de 2006

Crônica de Uma Fuga – Adrián Caetano


Muitos filmes já foram feitos tanto no Brasil, quanto na Argentina a respeito de suas respectivas ditaduras militares e o abuso e feridas abertas, que estes regimes autoritários causaram. Para falar a verdade, chega até a cansar, tamanho número de filmes à respeito. Aqui vemos mais um exemplo. Baseado em fatos mais que reais, este filme tem elementos que o diferem dos demais filmes a esse respeito.

Narrando a história de um goleiro, que foi preso por engano, e confundido com um terrorista, seguimos de perto, sua prisão e conseqüentemente sua vivencia numa espécie de prisão em um antigo casarão. O fato novo deste filme e que ao invés de vermos pessoas engajadas por sua luta política, vemos presos inseguros e levianos, que não pensam duas vezes, para delatar ou até inventar algo sobre qualquer amigo ou companheiro de causa. O heroísmo e o engajamento dos “companheiros”, aqui não encontra muita resistência, é um salve-se quem puder.É mais interessante ainda notar o processo gradual e lento com que aqueles homens presos vão perdendo o brio. Aos poucos eles vão se curvando, chegando a uma determinada altura, parecerem bichos acuados.

Quando vemos quatro presos políticos conseguirem fugir da prisão, o que mais impressiona, são seus gestos corporais. Mesmo já libertos, seguem pela rua curvados, como se estivessem ainda presos e com algemas.

Mais um bom filme a respeito da arbitrariedade humana, de como os homens (no caso os militares), podem ser tão imbecis e autoritários.

E também mais um bom exemplo do ótimo momento do cinema argentino, que tem marcados vários gols bonitos no quesito cinema.

19 de outubro de 2006

Muito Gelo e Dois Dedos D`água – Daniel Filho


Em uma das cenas do filme (talvez a menos pior), o personagem de Ângelo Paes Leme, faz uma metáfora sobre a personalidade da personagem de Mariana Ximenes. Ele afirma que os sentimentos dela estão gelados, como um copo com “Muito Gelo e Dois Dedos de Água”. Vou aproveitar a deixa para também fazer a minha metáfora sobre o cinema, mais especificamente sobre este filme:
Quando antigamente (mesmo nos dias de hoje) um alfaiate fazia um terno ou mesmo um vestido, qualquer uma dessas peças, eram feitas com primor e afinco. Uma peça única, uma espécie de jóia, feita na medida para o bom gosto do cliente.Mas com o passar do tempo, o alfaiate foi se especializando, outros clientes foram aparecendo, e na “obrigação” de atender a demanda de tantos clientes, suas peças deixaram de ser feitas artesanalmente. Para suprir a demanda, apareceram funcionários, que foram contratados e começaram a fazer as peças. Com sua sapiência sobre o assunto, o alfaiate apenas verificou o que mais chamava a atenção do cliente, e procurou esconder os defeitos. Só que com isso, suas peças perderam o que mais valia nelas, que era a coisa da peça ser única. Ter sua marca, passou a não ser mais questão de qualidade, e sim de quantidade produzida. A mesma coisa está acontecendo de forma gritante com o cinema nacional. Com as facilidades que certos diretores como Daniel Filho, estão tendo de produzir seus filmes, e a pressão para que estes filmes consigam mais e mais espectadores, estes caras (mesmo sem querer) vendem suas almas ao diabo, ou melhor, a Globo Filmes, e fazem a cada filme produzido, uma coisa cada vez mais longe possível do cinema que acredito que exista. São telefilmes medíocres, rápidos e sem vida.

Com o advento da Globo Filmes, em pouquíssimo tempo, Daniel Filho dirigiu quatro filmes. Se os outros três filmes não primam por qualidade, este último conseguiu a primazia de ser o pior, o mais tenebroso de todos.Um filme constrangedor, que reúne todos os defeitos possíveis, que o cinema possa ter. Se é que dá para chamar este filme de cinema. É uma vergonha.

Não há absolutamente nada que chame a atenção neste filme, nada. Nem mesmo a suposta nudez das duas estrelas Paloma Duarte e Mariana Ximenes. Nem o talento de Laura Cardoso, pirada chamando Médici de um gato.É constrangedor de tão ruim.

O pior é que vi o trailer de “Fica Comigo Esta Noite” de João Falcão, e por “aquilo” que eu vi, o filme deve ser tão ruim quanto este. Mais do que indignado, eu realmente lamento o que estão fazendo com nosso cinema, que para o bem ou para o mal, está conseguindo sair da sobrevivência, e ganhar um número e nível de produção crescente.

Sempre gostei muito de Daniel Filho como diretor de novelas e principalmente como ator, é um cara que traz a história da televisão brasileira na pele, além de ter trabalhado como ator em grandes filmes nacionais. Minha pergunta é: Será que ele não fica constrangido vendo que tamanho lixo dirigiu? Parece-me que tudo foi feito com desleixo, como se estivesse com o prazo estourando de entrega. Uma lástima. E o pior é que se o filme de um modo geral (roteiro, direção, edição, atuação, etc.) fosse mais bem trabalhado, daria uma ótima comédia, pois as idéias são legais e os atores são bons. Acaba sendo um desperdício de tempo de todos.

Alguém precisa dizer a estes diretores, que os filmes nacionais precisam ser tratados com mais carinho. Estão maltratando nosso cinema, isso é um absurdo. Do jeito que a coisa vai, minha lista de piores filmes do ano, vai ter só filme nacional. Pode?

17 de outubro de 2006

As Torres Gêmeas – Oliver Stone


Tenho lido e ouvido falar muito mal deste filme. É porrada de tudo quanto é lado, que realmente fiquei mais curioso ainda para assistir ao filme. Como se o tema abordado já não fosse suficientemente interessante.

Oliver Stone é um diretor curioso. Seus filmes geralmente são muito comentados, mas a impressão que tenho é de que este marketing (in) voluntário sempre esconde suas limitações. Todos seus filmes, quando revistos, se tornam menores do que de fato o são. Mesmo Nascido em 04 de Julho e Talk Rádio, filmes que gosto, perdem seu vigor com o tempo. O diretor faz filmes impactantes, que mexem com o imaginário americano, pois tem sempre a intenção de tocar em suas maiores feridas. Seus filmes não são universais, são americanos até o osso, com todo o ranço que isso possa trazer. Às vezes, o diretor é bem sucedido, às vezes não.

Mas o que me impressionou neste seu último filme (ao contrário do penúltimo filme, o grande e terrível Alexandre), foi a simplicidade, humildade e delicadeza com que Stone “tenta” trabalhar a maior ferida americana. É de se estranhar falar em delicadeza e Oliver Stone ao mesmo tempo, e é aí que começam os problemas. Ele não sabe ser delicado, e se perde na sua própria direção.

O filme, conta a história verídica de duas famílias envolvidas com o acidente das torres gêmeas. Conta a história de dois soldados que acabam soterrados enquanto tentavam salvar feridos. E conseqüentemente a reação de suas respectivas famílias.

Mas o personagem mais interessante é mesmo o ex-fuzileiro que acaba salvando os dois policiais. Em meio a um culto, ele diz ao pastor de sua igreja que “ouviu” uma ordem de Jesus, e vai para os escombros tentar achar alguma vítima. Ele é o típico americano de direita, conservador, um daqueles exemplos de americano, que acredita no seu presidente e na soberania de seu país perante o mundo. E ele existe mesmo, não é invenção, depois do ocorrido, foi lutar no Iraque. Tanto é que o filme agradou e muito a direita americana e desagradou a esquerda, não por acaso, a mesma formadora de opiniões tanto nos EUA como no mundo afora. Seria um papel perfeito para Mel Gibson.

Talvez, a falta de delicadeza de Stone, tenha deixado de lado coisas muito interessantes que ele podia trabalhar. Só para citar um exemplo, interessante notar que a família típica americana do filme está em crise (Maria Bello com umas lentes de contato azuis horrorosas e Nicolas Cage), enquanto a outra família, formada por descendentes e imigrante, que vive seu melhor momento (Michal Pena e Maggie Gyllenhaal). Alusão à antiga e a nova América? Não dá para saber. Muita coisa fica rala, falta conteúdo para todas as alusões do filme e a impressão acaba sendo, que o filme poderia ser muito melhor nas mãos de outro diretor. Stone tenta com este filme, nadar contra sua própria correnteza, tenta ser sutil, quando se esperava dele muito impacto. Não tem jeito, sua mão é pesada demais.

Mas o filme tem também suas virtudes. Sabe emocionar em alguns momentos, principalmente naqueles em que a fraternidade e ajuda humana se sobrepõem em meio a toda aquela desgraça americana. Quadrado sim, mas mesmo assim interessante.

13 de outubro de 2006

Dália Negra – Brian de Palma


Tenho acompanhado muitos textos sobre este novo filme do mestre de Palma, pensei duas vezes até, em escrever a respeito, mas vou tentar passar minhas primeiras impressões sem me deixar influenciar por qualquer opinião lida, me baseando apenas em minhas sensações.

Preciso comentar antes, que este diretor sempre me foi especial, talvez um dos responsáveis por minha paixão por cinema. Lembro quando assisti Dublê de Corpo, o impacto daquele filme, meu entusiasmo com o cinema, a partir de então, só para citar uma entre outras obras- primas do cara. Mas assim como os recentes filmes de Spielberg, acho que Palma tem feito filmes regulares ou bons (como este novo filme), mas não maravilhosos, que ainda o elevem ao patamar dos grandes. Seu histórico o tem favorecido, e não suas últimas obras em si.

Um grande diretor, um grande livro e um grande elenco não foram suficientes para Dália Negra. É a velha história de muita estrela, para pouca constelação.Talvez por isso, acredito que são os coadjuvantes que roubem a cena neste filme, e entre eles eu destaco a ótima ambientação, o clima, o cenário e as caracterizações para se recrear um clima noir. Fora Mia Kirshner, que com pequenas aparições, demonstra mais carisma e sensualidade que suas protagonistas.

Acredito que o grande problema deste filme (que talvez com uma revisão possa ser mais bem avaliado), seja o roteiro. São muitas informações e tramas paralelas para um filme só. Confesso que até quase o final do filme, se senti burro e perdido na sua trama, e no final, achei tudo muito rápido e mal solucionado. Apenas uma cena me chamou a atenção: a cena em que o corpo da moça é encontrado. Ali, vemos um lampejo do talento do diretor, aquela movimentação de câmera me lembrou a primeira cena de “Marcas da Maldade”, e é só.

Do elenco todo, vale ressaltar Mia Kirshner e os dois protagonistas, Sr. Gelo e Sr. Fogo, vividos por Aaron Heckart e Josh Hartnett, respectivamente. Acho, inclusive, que Hartnett se sobressaiu positivamente já que não acreditava até então em seu trabalho de ator. O grande problema, para mim, está nas duas mulheres “fatais”. Scarlett Johansson está apática, e Hilary Swank totalmente equivocada em seu papel de mulher fatal. Interessante notar, que seu personagem no filme, é caracterizado por ser uma espécie de sósia do personagem de Mia Kirshner. Um baita equivoco, é como achar semelhanças entre Toni Tornado e Thiago Lacerda, não dá né.

Obviamente, esperava bem mais deste filme. Achava inclusive, que ele teria lugar garantido na minha lista dos dez mais do ano.Esperava aquele velho lampejo de gênio ímpar, que sempre caracterizou os filmes de Brian de Palma. Talvez o filme cresça com o passar do tempo e seja mais bem avaliado por mim, não sei. O fato é que esperava mais e acho que vai ficar para um próximo, quem sabe.

Abaixo, coloco os filmes que já assisti do mestre, por ordem de preferência:

Dublê de Corpo (1984) * * * * *
Um Tiro na Noite (1981) * * * * *
Os Intocáveis (1987) * * * * *
Vestida para Matar (1980) * * * * *
Carrie, a Estranha (1976) * * * * *
A Fogueira das Vaidades (1990) * * * *
A Fúria (1978) * * * *
Scarface (1983) * * * *
O Pagamento Final (1993) * * * *
Pecados de Guerra (1989) * * * *
Síndrome de Caim (1992) * * * *
Olhos de Serpente (1998) * * *
Femme Fatalle (2002) * * *
Dália Negra (2006) * * *
Missão Marte (2000) * *
Missão Impossível (1996) * *

11 de outubro de 2006

Fora do Mapa – Campbell Scott


Em um certo momento do filme, Willian (Jim True-Frost) conversa com Charley (Sam Elliott), diz a ele o quanto o admira e o acha um gênio, pois Charley e sua família conseguem viver sem renda nenhuma e a base de trocas, e ainda assim, ter estoque de comida e mantimentos, para mais de quatro anos, além do mesmo ter uma esposa linda, Arlene (Joan Allen) e Bo (Valentina de Angelis), uma filha esperta e incrível. É uma conversa entre dois depressivos, sendo que neste momento Charley está começando a se recuperar de uma depressão de mais de um ano, e que permeou a vida e o verão de todos à volta daquela família. Eles estão no Novo México, e fora de qualquer padrão, que se pareça com o estilo de vida de uma família típica americana. Charley acha um erro trabalhar para os outros, diz que quem trabalha para outras pessoas não tem tempo de cuidar de si mesmo e descobrir formas de viver melhor e assim, vive isolado com sua família, isto é, fora do mapa, como diz o título do filme.

Tendo um cenário incrível, hipnotizante até, vemos a estória desta família, seus amigos próximos, como George (J. K. Simmons) e o próprio William, que aparece na estória como um fiscal da receita federal, que vai atrás da família para cobrar a declaração de imposto de renda deles. Só que George “pira” no local e acaba se agregando à família.

Em sua segunda inclusão na direção de um filme, Campbell Scott deixa sua marca, nos mostrando uma estória muito bonita a respeito dessas pessoas. Sua direção segura deixa margem para os atores brilharem, cada um a seu estilo. Sam Elliott encontra um personagem à altura de seu talento e arrasa com seu Charley depressivo. É em torno dele que todos os outros personagens se desenvolvem, ao mesmo tempo em que cada um procura sua verdade. Arlene, com as responsabilidades que tem que acarretar, coisas que o marido sempre cuidou; George, o melhor amigo de Charley, que se sente arrasado pelo amigo e companheiro; Bo, com seu sonho de consumo e cidade grande. Todos procuram se encontrar a si mesmos e nos outros. Como se cada um fosse também um deserto lindo, como o local onde vivem.

Um filme lindo, simples. Que conta uma estória de pessoas simples e cheias de vida. Parece que existe um pouquinho de mim, em cada um daqueles bem trabalhados personagens. Infelizmente pouco apreciado no cinema e agora em DVD, eis a chance para quem não viu. Eu recomendo.

9 de outubro de 2006

Estamira – Marcos Prado


Depois de alguns dias, ainda fica em minha lembrança, umas das cenas finais deste belíssimo filme; A cena em que Estamira diz que o mundo só será purificado e tudo começará do zero, quando se queimar tudo, a começar por ela mesma, que se oferece, caso se, com este gesto, o homem aprender algo. Nisso vemos ela na praia, o mar está bravio, as ondas quebram nas rochas ou entre si, fazendo um bailado de fúria. Como se a água pedisse contas a Estamira, mostrando que tem tão ou mais força que o fogo, pois também é força da natureza, energia que tanto pode ser útil e belo, como pode destruir tudo ou todos a sua volta.

Estamira acredita ser também uma força da natureza, um ser indestrutível, que está acima das coisas pequenas e cotidianas. Ela mora em um barraco e vive de restos de um lixão, mas ela e sua esquizofrenia, parecem passar à margem de todos estes problemas comuns. É apenas uma forma de viver como outra qualquer neste mundo, seu objetivo de vida é muito maior, ela está aqui para: “mostrar a verdade e capturar a mentira”. Ela está aqui para combater o “trocadilo” e os “espertos ao contrário”. Suas frases, sua filosofia, estão acima das dificuldades de sobreviver. Sua suposta “doença” faz com que tenha um relacionamento difícil, com os filhos e com os netos. É no lixão onde freqüenta e trabalha há mais de vinte anos, que se sente bem, mesmo que isso seja incompreensível para os filhos e para o resto do mundo. Seu objetivo é maior, ela precisa combater o “controle remoto”.

Muito se pode discutir a respeito de personagem tão carismático e difícil. Suas atitudes, sua lucidez em meio as suas loucuras. O quando do que ela fala, pode-se levar em consideração ou não. Mas o fato é que Estamira tem um carisma e uma força absurda. Seu discurso é cativante e nos faz querer escutar mais e mais.

Grande mérito de Estamira ser tão “especial”, é do diretor Marcos Prado, sendo dele também a espetacular fotografia do filme (que também pode incomodar a outros). A montagem e a forma como são mostradas as imagens de Estamira, fazem com que sua história, sua loucura, ou o que quer que aquilo seja, ganhe contornos surpreendentes. Nós somos lançados ao seu problemático mundo e mesmo quando ela conversa num idioma “só dela” , conseguimos acompanhá-la.

Estamira é um filme que não procura entender ou se fazer entender. É uma obra em aberto, que nos mostra uma pessoa, uma pérola em meio ao lixão. Uma mulher; mais um ser solitário em meio a um mundo bonito e feio, triste e alegre.Uma pessoa; um mundo rico e pobre de belezas, em meio a tantas incertezas e dúvidas quando ou que e porque de estamos aqui. Estamira é inclassificável, e quem acha que entende o que se passa com ela, é um esperto ao contrário.

4 de outubro de 2006

Eu Me Lembro – Edgard Navarro


Eu me lembro também de um caso de minha infância, que bem menino, quando devia ter no máximo uns três anos, em Piraju, cidade do interior paulista, de onde era meu pai, já falecido. Tínhamos vários parentes, e ele tinha várias primas que me adoravam. Até porque é difícil não gostar de um menino bonitinho e serelepe, pedindo colo a toda prima bonita.Pois bem; lembro uma vez que enquanto uma delas dormia, eu subi em cima do seu corpo, e descobrindo um mundo novo, desamarrei sua blusa preta de laço, deixando seus seios à mostra, e toquei-os (não) sabendo que aquilo que eu fazia era estranho, novo e fascinante para mim, menino que ainda usava fraldas. Acabava de ultrapassar um limite, proibido e profano, que eu não entendia o porquê, me era tão louco. Instinto sexual aflorado? Mera curiosidade infantil? Não sei... Só sei que é umas das minhas lembranças mais remotas. O início de tudo. E o sexo permeando estas lembranças. Acho que esqueci de quase tudo, menos das coisas ligadas ao sexo.Estranho...

Dou este exemplo, por ter lembrado disto assistindo ao filme autobiográfico de Edgar Navarro. Neste autoral, e já por isso, mais que louvável filme, o diretor nos empresta suas lembranças de menino baiano, para nos mostrar sua Bahia e mesmo o Brasil, e suas mudanças efervescentes e radicais em tão curto tempo, que vai do final dos anos 50 (anos dourados) até meados dos anos 70 (militarismo).

O que mais gostei no filme, foi sua primeira metade. Que narra a infância do diretor e de sua família típica baiana, através de lembranças de um menino, ou seja, o próprio diretor. Vemos seu crescimento e descobertas sexuais em meio a uma família grande e problemática. Família deliciosa, de uma outra época, que não volta mais.

Mas é na sua segunda metade que o filme perde o vigor, por tentar em pouco tempo, contar através do menino (que já cresceu) toda uma época de transformações. Em pouco tempo, vemos seu envolvimento com a guerrilha, a perda de amigos, sua depressão. E logo em seguida seu envolvimento com uma comunidade hippie, assim de um extremo ao outro, sem muitas explicações.

Se na primeira parte, o filme nos faz viajar entre lembranças deliciosas de uma criança e sua (muito bem retratada) família baiana. A segunda parte perde o gás, com tantos acontecimentos em tão curto espaço e algumas coisas se perdem no enredo. Não sabemos, por exemplo, como o pai do menino morreu, e como sua casa, antes habitada por diversos irmãos, se tornou uma comunidade de hippies. Cadê seus irmãos?

Mas mesmo assim, o filme não perde em nada seu encanto. Até porque, fica nítido, aos nossos olhos, a urgência do diretor, em nos contar aquela história. Sua história, sua sobrevivência, em meio a tantos acontecimentos. Seu propósito não é a bilheteria, a forma de filmar ou qualquer outra coisa. Seu compromisso é o de botar para fora, através do cinema, tais lembranças. Seu compromisso é consigo mesmo, e com o cinema, sua paixão desde a época narrada. Isso ele faz de forma sincera e urgente. Só por isso, Navarro já merece sinceros e efusivos aplausos.

2 de outubro de 2006

Relação de filmes - Setembro de 2006

Filmes assistidos no mês de Setembro de 2006 por ordem de preferência.



1 – A Dama do Lago – M. Night Shyamanann * * * *

2 – Retratos de Família – Phil Morrison (DVD) * * * *

3 – O Ritmo do Sonho – Craig Brewer (DVD) * * * *

4 – O Maior Amor do Mundo – Cacá Diegues * * *

5 – Eu Me Lembro – Edgar Navarro * * *

6 – O Tempo Que Resta – François Ozon * * *

7 – Vôo 93 – Paul Greengrass * * *

8 – Contra a Parede – Fatih Akin (DVD) * * *

9 – O Sabor da Melancia – Tsai Ming- Liang * * *

10 – Cafundó – Paulo Betti/ Clovis Bueno * * *

11 – No Rastro da Bala – Wayne Kramer (DVD) * * *

12 – Click – Frank Coraci * *

13 – O Diabo Veste Prada – David Frankel * *

14 – Xeque Mate – Paul Mcguigan * *

15 – Abismo do Medo – Neil Marshall * *

16 – A Passagem - Marc Foster (DVD) * *

17 – Veias e Vinhos – João Batista de Andrade * *

18 – Casseta e Planeta Seus Problemas Acabaram – José Lavigne * *

19 – Firewall – Richard Loncraine (DVD) * *

20 – Dizem Por Aí – Rob Reiner (DVD) *