20 de abril de 2007

Pro Dia Nascer Feliz – João Jardim


Tempos difíceis que estou passando.Muitos problemas e poucas soluções. E o cinema segue sendo um porto seguro para se esquecer mágoas.Sendo assim, lá fui eu assistir a este filme, num dia especialmente ruim. Talvez por isso, não estava esperando muita coisa, a indiferença e a tristeza tomavam conta de mim, achava que iria assistir apenas um documentário chato sobre educação, mas não foi assim, foi exatamente ao contrário. A começar pelo trailer de Cartola, (filme que ainda não vi, mas que sei que irei adorar) em que a troca de olhar de Dona Zica e seu amado - enquanto ele canta uma das muitas canções feitas para ela - dispensam palavras e meus olhos já demarcaram minha emoção e abriram caminho para o que vinha a seguir, o melhor documentário que vi em minha vida.



As lágrimas de fato vieram logo no início do filme, quando me deparei com a história de Valéria, menina talentosa e estudiosa, moradora do interior do Pernambuco, intitulada no filme como a cidade mais pobre do estado,que tem que viajar todos os dias uma hora e meia para conseguir assistir aulas. Seu talento com seus textos e suas poesias, faz com que seus professores não acreditem que é ela mesma que os escreve .Força e delicadeza numa grande brasileira. Quando ela ressurge no final do filme com sua versão para o poema “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, minhas esperanças, com o ser humano já estavam readquiridas.

É impressionante a forma harmoniosa que João Jardim conseguiu imprimir ao filme. Todas as histórias contadas são singulares e de igual importância.Mesmo quando vemos os relatos dos alunos de um colégio rico em São Paulo. Como exemplo disto, vemos o choro de uma garota por estudar muito e não ter tempo para namorar. Pode parecer bobagem, mas é tão intenso quanto o relato de Valéria. Ou mesmo a menina depressiva, que trocou o colégio por um emprego de dobrar calças.

Retrato fundamental não só dos alunos das escolas do país, mas também dos professores, vemos o relato de algumas professoras. O descaso e falta de estrutura pelo qual elas passam em um colégio de periferia. Mesmo nestes momentos, o diretor consegue a proeza de não deixar o sentimentalismo tomar conta do filme.

Um documentário ímpar, obrigatório para que possamos entender um pouco melhor esse Eldorado chamado Brasil. Eu que havia entrado no cinema triste e pesado, saí mais leve e confiante, torcendo por uma vida melhor para mim e para aqueles jovens que apareceram neste memorável documentário.


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