31 de maio de 2007

Princesas – Fernando Leon de Aranoa

Tenho um amigo, ex-colega de serviço, que esta morando em Madri, foi tentar a sorte naquele país. Numa recente conversa por e.mail, ele me disse que daqui a pouco, vai haver mais estrangeiros na Espanha, do que propriamente espanhóis. A mão de obra é barata, e nem é tão difícil entrar no país, principalmente de forma ilegal. Este talvez seja o grande problema dos espanhóis no momento.



Se no seu filme anterior, Aranoa já se mostrava preocupado com este assunto, abordando a vida de homens desempregados que se encontravam em um bar. Neste seu último filme, o diretor aborda o assunto de maneira mais abrangente, só que se anteriormente o bar era seu principal cenário, neste filme, é um salão de cabeleireiros, e obviamente, seus protagonistas são mulheres, mais precisamente, prostitutas de rua. Que se vêem numa concorrência desleal, em suas vidas nada fáceis, com prostitutas que tomam suas calçadas, vindas de outros países.

Poderia se pensar, que com este material, Aranoa cairia facilmente na denúncia social, ou pior, veríamos como funciona a “vida fácil” destas mulheres e só. Mas mostrada esta situação, ele parte para o lado mais interessante do filme, que é precisamente o relacionamento de duas prostitutas, sendo elas Zulema (Micaela Nevárez) e Caye (Candela Peña), é neste relacionamento de amizade crescente que o filme se firma, e também cresce como suas personagens.

Candela Peña é o grande achado do filme, pois consegue fazer com que amemos sua Caye, uma mulher triste e angustiada, sem perspectivas, que esconde sua profissão da família, a qual ela não se relaciona bem, vivendo num jogo de aparências que lhe corrói. Ela carrega consigo uma enorme desesperança, na mesma medida em que no seu interior, acredita que algo bom irá lhe acontecer. Uma princesa, escondida sobre a pele grossa de uma puta.

Uma cena em particular chama a atenção, é quando ela saí para jantar com um (talvez) namorado e encontra um cliente no mesmo restaurante. As duas mulheres que ela carrega dentro de si se chocam e ela se vê perdida em meio a aquilo que ela é, uma mulher insegura e carente, como a vemos no jogo de futebol, por exemplo. E a outra, segura, que domina os homens, que se vende por dinheiro e não tem sentimentos.

Os diálogos com sua amiga imigrante também são um capítulo à parte, são maravilhosos. Mostram uma grande mulher, dentro de um pequeno corpo frágil. Uma frase dela que não me saí da cabeça é “Tenho saudades do que não vivi”. É a vida lhe escorrendo pelas mãos, através do tempo perdido, que não volta.

Um comentário:

  1. suelen, parabéns - estás de fato um bom escrevinhador sobre cinema. seu texto flui fácil, gostoso, sem firulas, direto, conciso, bonito, pungente, delicado, com alma.
    como andas? (já que não queres andar perto de mim). seu sobrinho vai bem e os demais também. entrou do site do sesc? beijos e mais beijos. sua tainara para sempre.

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