15 de julho de 2008

Chega de Saudade – Laís Bodanzky


Não é carnaval, mas é como se fosse. Pessoas, - especialmente senhores e senhoras de idade avançada - todos vestidos de felicidade, a bailar pelo salão com seus vestidos horríveis-lindos, suas camisas de seda, que deixam a dor em casa esperando, para se fartarem à procura de um tempo remoto, um tempo esquecido de sonhos e saudades pelo que houvera há tempos, nem que seja apenas numa lembrança apenas imaginária. As músicas e o modo como dançam pelo salão levam eles ao passado, e principalmente a uma vida mais feliz. Eles se tornam gigantes. Apenas algumas horas em apenas um dia da semana, eles voltam a juventude, e principalmente, voltam a felicidade.



Sei disso, pois estive em alguns desses salões que povoam o bairro da Lapa, aqui em São Paulo. Principalmente este “União Fraterna” onde aconteceram as filmagens. Depois de uma perda grande em família, resolvi acompanhar minha mãe num desses bailes para alegra-la, pois desde menino – ela sempre foi velha, dessas que curtem Nelson Gonçalves e afins - já a acompanhava. Agora, já adulto, o que mais me impressionou, nestas andanças por alguns desses salões, foi ficar verificando as pessoas no meio do salão, dançando. É bonito de se ver, tanta vida e intensidade em cada passo elegante, em cada rodopio pelo salão. É certo que o nível musical decaiu muito, pois os antigos boleros, muitas vezes são substituídos pelas terríveis bregas sertanejos, mas mesmo assim (relevando), é bonito de ver aquele monte de rosto sofrido se transformar em suor e sorriso, todos rejuvenescem, e voltam para casa leves, com certeza.

Acredito que Bodansky deve ter percebido este fato incrível, e sabidamente partiu para seu segundo longa, tentando contar um pouco dessa gente, seus tipos, seus modos. E consegue retratar bem este universo, através de seus inúmeros personagens que aparecem na trama. Muitos deles eu mesmo conheci idênticos nestas minhas andanças pelos bailes, como o senhor assanhado que vive a se gracejar para as mais novas. As senhorinhas que ficam doidas para dançar e não conseguem um par. O homem que quer dançar, mas também não consegue, pois está “queimado” pelo suor temperado em álcool. O que tem mais, são os casados, que se passam por solteiros, conversei com um que falou que estava aposentado, depois de trabalhar desde os dez anos de idade, e agora a “senhora” ficava em casa cuidando dos netos, enquanto ele bailava pelo salão, e com sorriso franco, dizia agora estar curtindo sua juventude. Talvez, o único personagem que não vi no filme e que vi pelos salões, seja o tal “Dom Juan” de senhoras abastadas ou quase, é aquele tipo de uns trinta e cinco anos, boa aparência, geralmente nordestino, que vai aos bailes para curar a carência dessas senhoras, em troca de (com sorte) boa vida.

Mas o resultado é excelente, no retrato dos tipos que freqüentam tais lugares. Pena que na tela, a junção de tantos personagens, através de um roteiro pouco inspirado, resultou num retrato distante, às vezes frio até. Poderia ser melhor, mas já vale, e muito, pelo carinho com estes seres maravilhosos, e vivos, muito vivos, que vivem na tal “melhor idade”.

2 comentários:

  1. Eu fiquei curioso em assistir, mas acabei não indo ao cinema. Agora ficou pro DVD. Gostou da maneira como a Laís Bodanski pensa a sétima arte. Há sempre algo de lúdico em seus filmes!

    Discutir Mídia e Cultura?
    http://robertoqueiroz.wordpress.com

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  2. A Laís tem realmente grandes idéias para seus filmes. Pena que os roteiros não acompanhem no mesmo ritmo. Valeu, xará

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