12 de janeiro de 2011

Além da Vida – Clint Eastwood


Já faz tempo que não escrevo nada no blog, que agora reformado, me traz novamente motivos para tê-lo de novo na minha vida. Nada melhor para este reencontro do que recomeçar com um texto sobre o melhor dos melhores na atualidade. Sim, é ele, herdeiro direto – na minha modéstia opinião – do diretor dos diretores: John Ford. Assim como o mestre antigo, Clint sabe como ninguém contar uma bela história, sem precisar de fantasiosas pirotecnias tridimensionais. Basta talento e simplicidade para se fazer o melhor cinema, falar sobre o ser humano e suas complexidades, como nos antigos filmes americanos que até hoje tanto encantam os cinéfilos pelo mundo afora.
Clint Eastwood é um gênio, o melhor da atualidade, e mais uma vez prova isso mexendo num assunto espinhoso como vida após a morte – assunto tão em moda no cinema brasileiro -, em que outro diretor qualquer escorregaria feio. Mas não ele, que com sutil elegância, bota o assunto em pauta, mas o faz como que se abrissem mais uma porta da percepção, da procura do entendimento, basta a quem quiser adentrá-la ou não.  Maldição ou benção? Vida eterna em outro espaço, ou o vazio escuro da morte total? Depende de como cada enxerga seus limites, e há que respeitá-los.

Eu, particularmente, acho impossível que a vida se resuma a só isso aqui. Que nós, seres humanos burros, que não sabemos (ou podemos) usar sequer dez por cento da nossa cabeça animal (como diria Rauzito), morremos e vivemos pó. Não, isso não. Alma! Mas tudo é uma questão de fé, de acreditar ou não, cada um na sua, com todo o respeito. Belo exemplo é o personagem de Matt Damon neste filme, que vidente que é, acha isso uma maldição, o que para mim seria uma benção.

Um espectador não acostumado com sua obra recente pode se surpreender logo com o inicio do filme. Numa cena de tsunami, que dificilmente haverá cena mais impactante no ano, Clint mostra que sabe como ninguém fazer uma cena de ação só para desenferrujar. É um filme de ação? Não, Clint no alto dos seus oitenta anos de idade, lentamente adentra novamente no universo complicado das relações humanas; da morte e principalmente da solidão. Temas tão recorrentes na sua espetacular obra recente. Parece que com este filme, Clint completa uma trilogia que começou com suas duas últimas obras-primas: Menina de Ouro e depois com Gran Torino.

São três personagens distintos e distantes que sabemos que uma hora se encontrarão (que o mundo virtual mostra não ser tão distante assim) de três países diferentes que em comum, sofrem com algum tipo de experiência pós-morte. A francesa jornalista, que depois do terremoto no qual quase morreu, percebe que seu mundo de sucesso desmorona; O garoto inglês que perde o irmão gêmeo, seu alicerce diante de uma família totalmente desestruturada; O vidente americano que acha que seu dom é uma maldição e por isso vive isolado e solitário. Corta o coração suas refeições solitárias e a noturna companhia de Dickens. A solidão é comum a todos.

Mais uma vez é nesse ponto crítico da vida moderna que Clint quer se ater, mesmo que use o tema de pós-vida como elo entre eles, pois independente do que acontece depois da morte, o que realmente importa é o agora, o que fazemos no hoje em nossas vidas. É impressionante como a solidão tem permeado os filmes do velho Clint. Seu olhar clínico nos mostrando o mundo de uma maneira geral, e a solidão das pessoas dessas capitais. Quanto mais a tecnologia faz o mundo menor, parece que é maior a distância entre as pessoas. Revendo outro dia Menina de Ouro, percebi que o grande ganho da boxeadora não foram as lutas e sim a amizade de seu técnico e vice versa, o prazer único de pelo menos uma vez na vida saborearem um pedaço de torta de limão juntos. Um momento de amor e sinceridade compartilhado de igual pra igual. Não seria isso o que procuramos o tempo todo?

A vida é difícil amigo, tudo é complicado (Porque complicamos? Porque dificultamos?) e nós sempre temos que ir num determinado caminho, seguir em frente, apesar de tantos descaminhos. Talvez seja por isso que estou de volta ao mundo dos blogues, uma corda no barranco, no abismo. Talvez me matricule também num curso de culinária como o personagem de Damon, atrás de uma boca sensual a querer experimentar iguarias, talvez saia por aí berrando minhas dores. Nem sei. Por enquanto escrevo aqui, escuto músicas, falo com os poucos amigos cada vez mais distantes. Vivo o grande escândalo (como diria Caetano) de estar aqui só. Bebendo demais, amando de menos, mas sempre com esperanças de alterar a equação. E também assisto e agradeço a elegância do velho mestre do cinema, torcendo para que ele tenha vida longa como o outro velho Manuel de Oliveira, português cineasta ainda ativo aos cem anos, pois compartilhamos igualmente o amor pelo cinema, pelos belos filmes. E eu esteja vivo, seja lá onde quer que seja para apreciar seus belos exemplos dessas maravilhas cheias de elegância e beleza que criam. Salve! Salve o cinema!

2 comentários:

  1. Bacana, hein, Beto... Bons textos, bem mais legais, um olhar crítico apurado e aquele toque pessoal que faz o seu blog diferente dos milhares que existem de gente falando sobre cinema por aí. Não pode ficar nisso, você precisa de (e merece) mais.

    Sobre os filmes, Além da Vida e Gran Torino estão estre os meus preferidos do Clint. São sensíveis, tristes mesmo, sem cair na pieguice em que o diretor já escorregou em outras obras.

    Também gostei do Minhas Mães e Meu Pai. Achei que um dos pontos altos foi a opção por mostrar as duas personagens principais como um casal e ponto final. Ali não precisa de adjetivo ou classificação. Coisa difícil de achar no cinema.

    Quanto ao do Woody Allen, gostei muito da sua perspectiva do filme. Me fez rever minha impressão; mas, de qualquer forma, depois de Tudo Pode Dar Certo, que é um dos melhores do cineasta, o novo dá aquela sensação que é um passo mais curto.

    Parabéns pela volta (o blog está muito bonito também)! De quando em quando, volto para dar meus pitacos.

    Abraço.

    Alê.

    ResponderExcluir
  2. Valeu Alê. sua opinião é essencial pra mim, pois seus textos também fogem da chatice generalizada. O que me interessa num filme é no que ele me toca, a parte tecnica deixemos aos burocratas. Volte a blogar também, faz falta. Tudo Pode dar Certo é tão bom, que certamente achamos o próximo inferior, e de fato é, mas isso não quer dizer que seja ruim, não é mesmo.

    ResponderExcluir