1 de abril de 2011

Trinta Anos Esta Noite – Louis Malle


Não tenho ido ao cinema atualmente, uma mistura de falta de tempo e também desinteresse pelos lançamentos atuais. Até porque o cinema que eu mais frequentava (toda segunda-feira era sagrado) fechou e estou meio que de luto por isso.Mas como um cinéfilo (meia boca) que sou, sofro por estar sempre tentando me atualizar com os filmes importantes que não cheguei a assistir . E acabo virando um rato de cineclubes.Interessante que assim como na música, quanto mais filmes assistimos, descobrimos que mais filmes temos ainda para assistir, é um ciclo vicioso, mas delicioso.Eis que surge em Sampa uma mostra, intitulada Mostra Francofonia, com vários filmes importantes da  Nouvelle Vague e seus principais expoentes como Rhomer, Truffaut, Godart (eca!), Chabrol e outros.

Entre tantos assistidos, sem dúvida nenhuma, o filme que mais me chamou a atenção foi Trinta Anos está Noite, de longe, o melhor filme de Louis Malle. Um assombro existencialista, totalmente contraindicado para quem está em fase de depressão ao afins. Ao mesmo tempo em que é um show cinematográfico daqueles que faz a gente sair do cinema embevecidos e dizer, sim, isto é cinema.

Assim que o filme começa percebemos algo de errado no primeiro instante. Vemos o protagonista com a amante na cama, totalmente entediado com o sexo mal feito naquele instante, sua falta de interesse vai lhe acompanhar por todos os momentos e descobrimos que ele está em uma clínica para alcoólatras, na qual está internado há meses e não tem vontade alguma de sair. Abandonado nesta clínica por sua esposa americana, ele é convencido a sair dela, por seu terapeuta. Mas o que fazer quando você não se sente preparado para encarar as pessoas, as conversas e o mundo? Acompanhamos as últimas quarenta e oito horas de Alain (Maurice Roneit, primoroso) e sua inadequação quanto a tudo e a todos ao seu redor. Seu encontro com os amigos e as conversas com estes, pontuadas com reflexões à respeito da finitude da vida, o tédio , e principalmente seu reencontro com o copo cheio.

Alain se mostra o tempo todo angustiado, já meio morto pela desesperança, pois nada que faça lhe traz um mínimo de conforto, a vida não lhe cabe, a bela Paris, os amigos com seus assuntos frívolos, tudo parece ser uma coisa já fora do seu ser, nem o trago forte da bebida lhe traz mas algum alento. Não há nenhum tipo de esperança para ele, e percebemos logo qual será seu final, sem que haja a mínima chance de reviravolta a lá novela das oito. A ferrugem do tédio e o desinteresse pela vida já lhe corroeram a alma, só basta apertar o gatilho para o não existir. Mas será que existe o não existir? Será que não existem outras saídas?

Penso em minha vida e como por vezes me sinto também meio assim fora do eixo, meio que dentro de uma festa na qual não fui convidado, e por vezes a solidão e até a depressão querem dar o tom. Minha inadequação chega a ser até engraçada por vezes, mas espera um pouco, por Deus, não a este ponto, pois a esperança está sempre do ladinho, querendo amaciar tudo, seja através de um sorriso, um elogio, um beijo ou mesmo um pirulito. Têm de acontecer, tem de ser assim, nada permanece inalterado até o fim, como já dizia o maldito Sérgio Sampaio.

Filme belo e forte, como uma aguardente difícil de tragar, mas obrigatória.

2 comentários:

  1. Não assisti essa ainda, mas vai entrar na lista.
    Adoro suas resenhas. são bem viscerais.
    Vou começar a te seguir.
    Abraço.

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  2. Adorei o "viceral". Isto é um elogio, hehehe.Volte sempre. Fico feliz com isso.

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