4 de dezembro de 2006

O Céu de Suely – Karin Ainouz – parte II

É raro, mas acontece comigo, de um ou outro filme abalar minha estrutura (já frágil). Ainda bem que não assisti a este filme na mostra, seria impossível outra sessão logo em seguida, não conseguiria me concentrar em outro filme, e olha que eu tentei no mesmo Unibanco, mas a sessão já estava lotada.

É nessas horas que sinto falta de ter um melhor conhecimento sobre a sétima arte, para poder melhor discorrer sobre esta obra-prima, mas não sei... O que mais me impressionou foi a forma natural e realista como a coisa foi mostrada, a começar pelos personagens terem o mesmo nome de seus atores.Como se o distanciamento entre ator/personagem fosse o mínimo possível, e este é o grande feito de Ainouz. Não lembro de ter assistido um filme em que me senti tão próximo da estória, é como se realmente aquilo fosse real, verdadeiro e intenso. Tanto é que os atores realmente “viveram” aquela estória e moraram na pequena cidade de Iguatú – CE, durante meses, mesmo antes de começarem as filmagens.

Se no seu primeiro e ótimo filme, Ainouz se inspirou em um personagem real e “vamos dizer” excêntrico. Apresentando e presenteando ao Brasil e ao mundo, uma interpretação arrebatadora de Lázaro Ramos. Neste filme, Hermina Guedes já faz diferente.Seu personagem é mais interiorizado, suas dores são escondidas. Tanto ela como os outros personagens do filme são “gente como a gente”, com suas dores, seus defeitos e frustrações.Todos os personagens são coadjuvantes do mundo E aquela eterna falta de grana a permear a vida de todos.

Logo no inicio do filme, quando aparece uma versão brega de uma canção do Bread, senti que o filme iria me pegar de jeito e assim foi num crescente até o final . Pequenas sutilezas de um mundo mais que real. O verdadeiro Brasil, aquele onde 87% das pessoas nunca acessaram internet e menos do que 60% mexeram num computador.Mas Hermina não quer o pouco que têm. A estrada é imensa e o céu também, e lindo, de um azul perfeito, a cor mais linda do mundo. Debaixo daquele céu imenso, tem de haver um lugar onde Hermina se ache, ou melhor se encaixe. Acho que todos procuram isso.

Partindo do principio de vender numa rifa “uma noite no paraíso”, Hermina inventa um pseudônimo para si, mas sua Suely pouco resiste a tal noite, o preço é caro para partir para o local mais longe possível, no caso Porto Alegre, de sua cidade natal no sertão do Ceará. Lá, ela não se vê, não se enxerga, mesmo amando por demais seus familiares. Isso é nítido no último jantar, numa cena impressionante, em que não há palavras, só um choro sufocado, preso, em meio a um prato de macarrão queimado. Ou mesmo na cena em que Hermina tem que pedir desculpas à avó, uma desculpa difícil de sair, sufocada, guardada entre todas as suas mágoas da vida e do mundo.

Tudo muito real,muito intenso e natural, num filme de poucos diálogos. Onde os sentimentos são privilegiados e mostrados através do silêncio doído de sua personagem principal. É preciso ter coração de pedra para não se comover com “O Céu de Suely”. E o meu coração de vidro, quase se quebrou.

Obs: Agradeço aos amigos que leram e se impressionaram com o texto anterior.Alguns, que eu nem imaginava que navegassem no blog, me ligaram achando que eu estava por um triz.Nem tanto, apenas um esforço danado para me sentir vivo, mas é bom saber que tem gente que se importa.

18 comentários:

  1. realmente é sempre bom qndo um filme te abala, meche com o psicologico e coisa e tal...
    adoro q isso aconteça
    aconselho q veja "A Passagem", filme que te deixa pensando durante 1 mes...
    mas não agradou a todos...
    abraços...

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  2. Eu vi, Wiliam, e confesso que não gostei muito não.Talvez, numa revisão o filme melhore.

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  3. vc não tem nada contra Bread, espero. nem contra a versão brega...

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  4. Claro que não, Serge. Tá louco, adorei a versão brega também.

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  5. Mais um belo texto, Beto!
    Estou ficando com muita vontade de rever esse filme.
    Beijo.

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  6. Passando para dar um oi!
    Como sempre, excelente o texto!

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  7. Oh, meu Deus, esqueci de incluir o nome, o anônimo é Ruby.

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  8. Oi, Alê. E aí, como foi os Hermanos? Curtiu?

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  9. Eu gostei tanto da versão de "Everything I own" que baixei uma coletânea do Bread. Pra mim, está sendo uma descoberta. O primeiro empurrãozinho havia sido através do Cake. Só espero não engordar ainda mais: cake, bread.. Onde vou parar?

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  10. Oi, Beto.
    Como o Michel já comentou, o show foi excelente. Aliás, nunca vi um show médio dos Los Hermanos. É sempre de bom a excelente. E desta vez, inacreditavelmente, eles tocaram "Anna Julia". :)
    Beijo.

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  11. Oi, Alê. O próximo show que tiver dos caras, eu não perco. E já peço sua companhia, topas?

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  12. Olá Beto meu nome é Rui Diaz, sou ator. Por acaso você teria algum contato, email do Karin Aïnouz. Se tiver por gentileza se pudesse me passar, meu email é rui.ric.silva@gmail.com
    Muito obrigado.

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  13. Sou aluna de cinema da Universidade federal de Santa Catarina e preciso do e-mail e telefone de Karin Ainouz, se alguém puder me passar agradeço muito. meu e-mail é emmanuellipadilha@gmail.com

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  14. Faço mestrado em Letras e pesquiso o Filme "Madame Satã", preciso do livro "memórias de Madame Satã" e o Karim, acho eu, usou esse livro. Preciso do contado do Karim, por favor, se alguém souber. datanisgrego@yahoo.com.br

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  15. Oi, sou português e estou pensando ir para o Brasil estudar cinema, mais exactamente para o Rio de Janeiro. Estou a pensar matricular-me na escola de cinema Darcy Ribeiro alguém conhece? Se recomenda? alguém me podia dar alguma orientação? Meu mail é: duarte.p.teixeira@hotmail.com
    Obrigada

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