9 de outubro de 2008

Linha de Passe – Walter Salles e Daniela Thomas


Caminhar, seguir em frente.Mesmo que tudo dê errado, que a desesperança tome conta de todos os nervos e vontades.

Caminhar, seguir em frente.Mesmo se o "todo poderoso timão”estiver descendo para a segundona , jogar contra o Havaí ou outro timinho qualquer.Mesmo que a barriga esteja imensa de outra cria sem pai, de outra pia entupida. Caminhar.

Caminhar, atrás de uma fé pura, ou mesmo uma religião qualquer que traga alento, para aplacar a dor, do monstro invisível. Da falta de oportunidade, de
um emprego mixo, do não saber pra onde ou por quê.

Caminhar, pilotar, entre poluída metrópole cheia de gente, cheia de carros e motos, passar invisível pelos bairros chiques, pelos homens engravatados, na correria de ser mais um entre tantos a trabalhar tanto por tão pouco. E se segurar (ou não) para não adentrar no mundo da contravenção, do crime.

Caminhar, dia e noite a procura de um ser paternal, pelos ônibus e pelas caras estranhas e pouco amigáveis, afins de (talvez) encontrar um pouco de conforto no meio de tanto desconforto material e espiritual.

Caminhar e lutar pelo sonho de ser alguém especial, acreditar no talento que tem, ser um jogador, mesmo que todos digam, que igual tem pra mais de cem e mesmo assim não desistir.

Retrato de tantos espalhados pela terceira metrópole do mundo: São Paulo. Sua periferia imensa, feia e cinzenta, que fica muito longe das Vilas Madalenas, das Paulistas e Augustas, trás consigo a marca de guerreiros invisíveis que não aparecem nas novelas, na TV. A não ser quando seja para mostrar algum crime, ou jogador de futebol que deu certo, que venceu, como Cafu na copa gritando Jardim Irene.

A luta de uma família moradora do bairro da Cidade Líder, entre uma mãe e seus quatro filhos homens (e outro na barriga). A esperança de um deles de se tornar um jogador de futebol e assim ajudar a todos a sair da pobre vida de necessidades. A difícil “linha de passe” entre um e outro para sobreviverem no mundo, na periferia e entre eles mesmos.

Walter Salles e Daniela Thomas voltam a parceria, e tão bem nascidos e criados por Salles, Santiagos e Ziraldos, mostram uma veia poética e artística cada vez melhor. A linha de passe entre ambos, é novamente capaz de trazer aos cinéfilos mais uma obra excepcional, e principalmente original. Os diretores, nesta terceira parceria, conseguem enxergar e mostrar com rara sensibilidade o cotidiano desses personagens. Não os faz como sofredores e coitados, e sim como seres fortes, que na areia movediça da vida, procuram sobreviver. Apesar de tudo, apesar de todos, apesar do céu carregado e cinzendo. Caminhar, continuar.

2 comentários:

  1. Primeiramente, quanto ao post anterior, concordo com você quanto às críticas sobre o trabalho de Meirelles. Qualquer diretor passaria pelo mesmo dilema ao adaptar uma obra de Saramago. Quanto a Linha de Passe, por incrível que pareça, ainda não consegui vê-lo, mas estou no aguardo esperando ainda uma chance de conferir. Vi o trailer e gostei muito da história. Bem a cara do que o Waltinho gosta de fazer.

    Mídia? Cultura? Acesse:
    http://robertoqueiroz.wordpress.com

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  2. Parabéns,gostei da sua crítica.Interessante o jeito que você escreveu,meio poético.

    Só não gostei desse parte:
    "Caminhar, seguir em frente.Mesmo se o "todo poderoso timão”estiver descendo para a segundona , jogar contra o Havaí ou outro timinho qualquer"

    AVAÍ não se escreve com H,não está na segundona(na época do filme até tava),e muito menos é um 'timinho'!

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