“Sabe quando toca uma música e você precisa dançar”
Na cena mais bonita e singela deste filme, Dean (Ryan Gosling) toca uma canção para Cindy (Michelle Williams) no meio da rua, e ela toda desengonçada, tenta sapatear ao som enamorado de Dean. É bem o começo do amor entre eles e eu, na plateia, me enamoro do casal, torço por eles. É o inicio do amor, tudo é lindo, mesmo a música mal tocada, mesmo a dança mal feita. Está mesma canção – notem – é tocada nos créditos finais e daí parece ser outra canção, (assim como a outra música que toca no filme duas vezes), todo seu lamento fica explicito, pois os espinhos da rosa foram mais fortes e feriu fundo, o coração partido. Venceu o escuro. A sensação de amargor prevalece. Meu coração também fica partido, por eles, pois o amor virou dor.
Com um roteiro para lá de afiado (algo difícil nos tempos atuais) e dois atores em estado de graça – principalmente Gosling em sua melhor interpretação – é até injusto dizer qual a melhor cena. Em todas elas existem as entrelinhas, e o contexto de cada uma, pode ser interpretada de várias formas. Megan morreu, o copo transbordou, o amor morreu. Existem culpados? Nas idas e vindas do filme, entre o inicio e o fim (?) do romance, talvez se encontre a resposta.
Saiu do cinema meio atordoado. Como um vampiro, saiu satisfeito por finalmente, depois de muito tentar ultimamente, provar um sangue bom. Afinal, este ano esta difícil beber cinema. Geralmente, saiu do cinema e passa-se cinco minutos e nem lembro direito o que assisti.
Pouco ou nada sei do amor, mas da dor... Sou romântico - insisto em ser assim – e penso no filme após os letreiros finais, quando não assistimos mais, mas continua na nossa cabeça. Penso que na sua caminhada para o abismo escuro, meu amigo – sim, meu amigo – Dean vai ser chamado de volta por Candy, e eles irão se abraçar. Uma nova chance se fará, e tudo vai ficar bem, com promessas mútuas de melhoras... Mas não é assim, infelizmente.
Mas afinal, por que deu errado? Fácil seria condenar Candy. Em outra cena importante (qual não é?) ela expressa sua insatisfação no carro, a caminho do motel. Fala de uma pessoa que encontrou no caminho, mas na verdade, esta falando de Dean. Já no motel, enquanto “tentam” transar, se sente culpada por não querer mais seu casamento, e pede para ele bater nela, e ele (burro e amoroso) não segue os conselhos antigos -por não conhecer - de Nelson Rodrigues, e se recusa. Foi ali que definitivamente acabou. No dia seguinte, em outra discussão, ela diz ser “o homem da casa” e Dean se retrai mais ainda, apesar dela saber que o que ele fez por ela e pela filha, outros pouquíssimos fariam. Ele não queria uma família, mas a partir do momento que a tem, decide viver só para ela, só amar a família, só por ela se importar e se interioriza para a vida lá fora, praticamente se fechando para o mundo exterior, e perde as ambições, se é que por ventura, as teve anteriormente. Se ao mesmo tempo, essa dedicação à família é muito digna, diria até que seria o que muita mulher sonharia, para Candy vai se tornando insuficiente, e vai criando um abismo entre os dois, pois sabemos que ela tinha grandes ambições, é inteligente e frustrada por não ter conseguido ser médica como intencionava, e conseguiria se não tivesse a gravidez e consequentemente o casamento. Ela tem ambições na vida, ele não. Abismo.
O dilema de Candy, e o pedido dos tabefes, na cena do motel, se fazem quando ela vê que precisava de mais dele, da vida, enfim. Apesar de saber que ninguém daria tanto a ela como Dean lhe dá. Que é um amor infinito para ela e principalmente para Frankie, a filhinha. Mesmo insatisfeita, sabe que o que tem é algo raro. Mas Dean não é santo não, e esconde suas insatisfações (e ambições) nos muitos cigarros e no álcool matinal. A enfermaria de Candy, a nevoa da fumaça, o cheiro da bebida; ingredientes fortes para o fim do amor dos dois. Ambos, filhos de famílias disformes, problemáticas, se agarram um no outro, mas não é o suficiente.
Entendo Candy, mas, sobretudo entendo Dean, provavelmente agiria como ele na mesma situação. Na bebida e no cigarro, já o faço, modestamente.
Os fogos de artifício pululam na cena final e Dean caminha para o nada, para o abismo. E eu caminho em meio às luzes festivas da Avenida Paulista, no frio, sozinho.
De arrepiar o teu texto, Beto!! Mesmo.
ResponderExcluirVindo do meu blog de cinema preferido... é um puta elogio. Valeu mesmo! Amei este filme!
ResponderExcluirMandou bem, Betão.
ResponderExcluirAgora, quanto ao final do texto, a festiva Av. Paulista vai estar cheia de gente nesse domingo, para você não ficar sozinho, nem com frio. Hehehehe...
Abração.
Não compartilhamos do mesmo arco-iris, meu caro.Nada contra, bens sabes. E a sinuca, tá com medo?
ResponderExcluirOpa, agradecemos a preferência, Beto! :)
ResponderExcluirMais um texto soberbo, Beto, parabéns, o filme merece, um dos melhores do ano. Um abraço.
ResponderExcluirValeu Celo!Sem duvida,um dos filmes do ano!
ResponderExcluirEsse texto embeleza o filme. A vontade é compartilhar ele com todo mundo que assistiu. Meus sinceros parabéns.
ResponderExcluirCompartilhar é necessário para todos. Incentiva outros textos, valeu Tadeu, volte sempre
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