17 de agosto de 2011

Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo – Hugo Carvana


Teve um dia, tempos  e tempos atrás, que assisti “O Homem Nu” com um amigo no cinema. Enquanto eu, e muita gente na platéia ríamos pra valer com o filme (inspirado na obra do genial Fernando Sabino), este amigo permaneceu em silêncio. No final da sessão ele declarou solenemente: ”Filme brasileiro é tudo tosco mesmo, não tem jeito”. Algo parecido já havia acontecido quando assistimos anteriormente juntos “Alma Corsária’ do Carlos Reichenbach. Enquanto eu declamava “Gênio, gênio”, e conclamava umas cervejas para comemorar ao filme, à vida, ele ironicamente disse: “espero que você não queira bebericar estas brejas numa pastelaria chinesa decadente como no filme”. Cadê a sensibilidade, oras? Seguiu uma discussão onde declarei que ele assistia aos filmes brasileiros comparando-os ao cinema de fora, seja europeu ou americano, e enquanto fizesse isso, acharia tudo ruim. Cinema brasileiro tem de ser visto e feito como cinema brasileiro, não tem comparações,ele existe com as qualidades e defeitos que isso acarreta. Há tempos não vejo este amigo que nem em São Paulo mora mais. Tenho curiosidade em saber sua opinião sobre o que ele acha deste cinema certinho e plastificado com a marca Globo Filmes. Certinho, bem feitinho, tudo inho inho, como uma (das piores) novela das oito. Rock de pelúcia e sertanejos “universitários” tomam as rádios, e filmes plim-plim aos cinemas.
Voltando, qualidades e defeitos permeiam a obra paulista e forte de Carlão, assim como a obra carioquíssima e leve de Hugo Carvana. Ambos, cineastas calejados na estrada. Cineastas brasileiros, graças a Deus.
E este último filme do velho malandro ator carioca, assim como toda sua obra, é de resistência, e principalmente independência. Mais uma vez, assim como fez em todos os outros (poucos) filmes que dirigiu ao longo dos anos, Carvana evoca o seu Rio de Janeiro. Aquele Rio da sua juventude, aquele Rio lindo, da boa malandragem(onde malandro bom usava navalha e só queria se dar bem com a mulheres), das lindas mulheres. Alias, faltou mulher pelada (não nua) no filme, essa coisa de politicamente correto tá pior que censura, enfim... É a sua cidade amada, é seu orgulho, é onde sempre viveu cercado dos amigos, da boemia, e daquela paisagem zona sul, cartão postal mais belo do mundo, apesar de tudo, apesar dos anos. Quem teve o privilegio de conhecer, sabe... Aquele cheiro, aquela paisagem que tantas vezes Jobim e outros ilustraram tão bem.
Qual o problema em evocar as boas coisas da vida? A boa malandragem (que infelizmente não existe mais), o chopp gelado com os amigos e com o mar como cenário, a bela moça bronzeada e curvilínea. Afinal, quem é que não vive no saudosismo dos tempos idos, achando-os sempre melhores que os atuais? No caso do Rio de Janeiro, acredito ser realmente um sentimento válido. E Carvana faz isto, às vezes com muito sucesso como no espetacular “Bar Esperança” ou “Vai Trabalhar Vagabundo”. Ou era feio como em “Vai Trabalhar Vagabundo II” ou mesmo seu penúltimo “A Casa da Mãe Joana”. Mas ele continua firme e forte, fazendo seus filmes cariocas. Mil vivas para ele!
Neste último filme, a malandragem novamente dá o tom. Conta a historia de pai e filho que se “viram”, na primeira metade do filme, pelas estradas do Brasil à fora, trabalhando como atores, e se servindo disso para pequenos golpes. O malandro velho (Tarcisio Meira) em parceria com o malandro novo (Gregório Duvivier), entrando em enrascadas mirabolantes para se darem bem, mesmo que nada de certo. Salta aos olhos, a satisfação de Tarcisio em atuar no filme (depois de tanto tempo sem atuar no cinema), como se fosse uma grande e divertida festa (e não é?), assim como o talento de Gregório em suas cenas engraçadas, vivendo um falso “guru indiano” já no Rio, na segunda metade do filme. Tudo leve e despretensioso, sem mensagens filosófico-sociais, apenas o intuito de fazer rir, de fazer humor para o publico se divertir, sem culpa. Pra que mais?
É claro que o filme tem alguns defeitos, como a péssima dublagem na cena final, cópia desnecessária do ótimo final de “Vai Trabalhar...”, já mal utilizada em “Casa da Mãe Joana” e novamente (sem sucesso) feita neste filme. Mas nada que comprometa o todo da obra.
Certamente, não é o melhor filme de Hugo Carvana, grande diretor, grande ator, mas só vão desagradar, aqueles que sempre esperam algo “profundo”, ou seja, os maus humorados. Aqui não tem espaço para a melancolia. Só o riso.

pots: Segue minha avaliação sobre o obra do velho ator/diretor carioca da gema:

Bar Esperança - ótimo
Vai Trabalhar Vagabundo - ótimo
Se Segura Malandro - muito bom
O Homem Nú -  bom
Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo - bom
Apolonio Brasil - O Campeão da Alegria - bom
A Casa da Mãe Joana - ruim
Vai Trabalhar Vagabundo II - péssimo



8 comentários:

  1. Beto, gostei do texto exaltando a carioquice, acertou o ponto da essencia do RJ. Ainda não assisti esse, mas acho q vou deixar para o DVD. Acredita q não assisti Bar Esperança? Tenho q conferir logo! Grande Abraço!

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  2. Rapaz, você não sabe então o que é um pré-adolescente, como eu, ver a Silvia Bandeira fazendo Strip- tease no Bar Esperança? O melhor, depois de anos rever o filme e acha-lo maravilhoso. Baixe, alugue, compre, já!!!!!!!

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  3. Aê, Betão!! Cara, você fez um belo de um elogio ao filme! A um filme muito subestimado, que só vem recebendo bordoada de tudo quanto é lado, o que é injusto! Seu texto merece ser mais divulgado para que aqueles preconceituosos pelo menos repensem um pouco as suas posturas. E a cena da Silvia Bandeira no BAR ESPERANÇA está entre as melhores do cinema nacional! hehehe. Grande abraço!! (Vou fazer propaganda do teu texto no twitter)

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  4. Aêêê, Ailton, Valeu! Faça mesmo, agradeço. Você também acha inesquecível a cena da Silvia Bandeira, né.Quem não acha, hehehe

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  5. Grande Beto... O texto deu vontade de fazer uma viagem ao Rio contigo, curtirmos aqueles botecos sempre de ótimos chopes e bolinhos de bacalhau, botecos que resistem abertos até a manhãzinha, porque o carioca ainda não institucionalizou a porra do psiu! paulistano.

    Bar Esperança está no meu Top 10 do cinema nacional. E recomendei este Não se Preocupe... na minha página de cinema da Revista Criativa. Perfeito contraponto aos Sex & The City que fazem a cabeça das moças de lá...

    Abração.

    Alê.

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  6. Seria ótimo, uns chopinhos, na calmaria daquele cheiro de maresia fluminense. Quem sabe um dia né Alê. O Rio merece visitas constantes, cartão postal do Brasil. Bar Esperança, também esta entre os meus dez mais brasileiros.Coragem tecomendar este filme na Criativa, hein, hehehe. Vou tentar ler. Valeu a visita.

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  7. Ouvi falar deste filme em fóruns no orkut e uns amigos blogueiros até me recomendaram, lendo teu texto confesso que fiquei mais atento, vou dar uma chance pra ele - afinal, nada tenho contra ao nosso cinemão brasileiro, né?

    parabéns pelo blog, te linkei ao meu e te sigo cá! até!

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  8. Valeu, Cristiano. Adoro esta sua terra também e vou te seguir no seu apimentado. Abraço.

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