10 de outubro de 2011

Atraídos Pelo Crime – Anthony Fuqua


Não vai haver amor neste mundo nunca mais. Pelo menos no Brooklyn, em Nova York, segundo Anthony Fuqua. Neste filme, não há respiro ou alívio para qualquer um dos três policiais que conduzem a trama. É uma descida sem escala até o inferno, sem chance de redenção. Qualquer bairro violento aqui no Brasil parece a Disney, comparado ao que vemos neste filme. Bandido e mocinho se confundem em cores cinza, difíceis de digerir.
A começar pelo policial vivido por Ethan Hawke que – muito parecido com Di Caprio em Os Infiltrados – destila em cada segundo na tela uma urgência desesperada, como se estivesse sendo tragado por um tonel de areia movediça. De família italiana e extremamente católica, depois de realizar uma “justiça alternativa”, tenta se confessar e não se conforma apenas com o perdão de Deus, ele quer também sua ajuda. Mas suas atitudes o colocam cada vez mais distante das cruzes que o perseguem. Para tentar ajudar a família numerosa a melhorar de vida, se vê cada vez mais distante de Deus e próximo ao inferno. É um caminho sem volta.
Já o policial vivido por Don Cheadle se vê a tanto tempo infiltrado no crime organizado, que começa a questionar de que lado realmente esta. Conhecedor da burocracia e corrupção que toma de assalto à instituição para a qual trabalha e até então acreditava, se vê entre a cruz e a espada quando tem que entregar um amigo do crime vivido por Wesley Snipes. Sabe que mesmo não estando do lado certo – qual é o lado certo num mundo cheio de erros? – uma amizade sincera é um tesouro difícil de abrir mão. Mas acima de tudo, o que ele quer desesperadamente é sua vida de volta, talvez até tentar reconquistar seu casamento fracassado. Mas o tempo sem sua identidade verdadeira lhe cobrará um preço alto, talvez até seja tarde demais.
Já o terceiro policial vivido por Richard Gere, é tão ou mais complicado que os outros. Faltando apenas uma semana para a sua aposentadoria, ele mais parece uma pessoa sem emoção, sem alma. Os vinte e tantos anos dedicados a sua profissão, lhe foram tirando ano a ano, seu sangue, sua cor. E principalmente a crença na vida e nos outros seres humanos. É tido como covarde pelos outros policiais. É notório que os anos na corporação lhe tiraram a esperança de que algo ao alguém possa melhorar. Tanto faz estar vivo ou morto, pois já se sente morto em vida, e demonstra isso fazendo roleta-russa pelas manhãs junto a um copo de uísque. Mesmo que (sem querer) aos quarenta e cinco do segundo tempo, a vida lhe conduza a um ato heroico, que até pudesse lhe trazer algum alento, ele olha logo após diretamente para a câmera, dizendo com os olhos pesados: “E daí?” Como se o que acabará de fazer  é muito pouco diante do irreversível horror da vida. Sua alma perdida se confunde com o que presencia diariamente.
No seu filme anterior “Dia de Treinamento”, Fuqua conseguiu sucesso e reconhecimento, assim como Denzel Washington conquistou seu merecido Oscar por viver (também) um policial corrupto. Mais uma vez ele acerta a mão, se mostrando um grande diretor de atores, extraindo de seus protagonistas, grandes interpretações que por si só já valem o filme, com destaque para Ethan Hawke. Mas talvez o que explique o fato deste filme, superior ao anterior, não ter feito o sucesso merecido é o clima de desesperança e desalento que o permeiam. Corajosamente, não há concessões, nem esperanças de dias melhores. Um pouco demais para uma América em frangalhos economicamente. Uma América que aos poucos descobre que já não carrega mais o bastão da vitória, do primeiro lugar do pódio. Onde estão os velhos e bons heróis americanos? Certamente não estão no Brooklyn, nem na policia americana, segundo este talentoso diretor que consegue a proeza de fazer mais um filme policial, com seus clichês contumazes, mas com talento consegue fugir do lugar comum, com uma obra triste, mas acima da média.

4 de outubro de 2011

Bonequinha de Luxo – Blake Edwards


Aquela sensação maravilhosa de se assistir a um filme imenso, delicioso e emocionante, aconteceu com este filme, que estava guardado, esquecido na prateleira lá de casa há tempos. Este é um daqueles filmes que por puro preconceito, fui deixando de lado, para assistir um dia qualquer, quando não tivesse algo melhor. Quanto engano. Achava que pelo título original, ou pelo que eu ouvia falar, seria um filme ligado à moda, ou de uma maneira geral ligado a futilidades. De novo, que engano. Devo dizer que não sei, não compreendo, meu tico e teco não conseguem entender esta coisa, este glamour ligado à moda, aquelas moças esqueléticas passando na passarela e pessoas sentadas aplaudindo aquilo, aquelas roupas esquisitas que ninguém em sã consciência usaria. Que graça tem tudo aquilo? Não entendo. No meu inconsciente ligava este filme a este mundo. Um erro, grande erro.
Na verdade, este é um filme para ser visto e revisto com verdadeiro deleite. A futilidade passa longe. Da lugar a uma sutil elegância  e a beleza mágica do encontro. Da descoberta do outro e de si próprio. O encontro entre dois vizinhos e são eles Holly (Audrey Hepburn, esplêndida) e Paul (George Peppard), dois perdidos, dois solitários, que apesar do contato intenso com outras pessoas, pouco a pouco, só se acham junto a alguém quando ficam juntos. São dois (elegantes) sobreviventes, erroneamente classificados como garotos de programa. Seria perfeito chama-los de “malandros” como naquela velha maneira carioca de viver, tempos atrás. Ela conseguindo enrolar seus acompanhantes com os cinquenta dólares para ir ao toalete. Ele, sendo patrocinado por uma “decoradora” enquanto procura inspiração para seu segundo romance. Eles apenas se viram- com muita elegância, é claro - como podem. Que mal a nisso? As pessoas têm dentro de si tantos matizes de cores, que fica muito difícil defini-las. Quanto de amor e dor cada um carrega dentro de si? Holly se intercala entre a futilidade, a ingenuidade e a pureza, entre outras coisas, como numa corda bamba. Quem não faz isso?
Só indo atrás de um antigo clássico, para se assistir com clareza a um filme com um enredo tão bem construído e diálogos tão deliciosos. São muitas as cenas antológicas, como quando Holly e Paul se conhecem e em poucas palavras ela se descreve a ele, como uma pessoa sem posses ou vínculos, até o dia em que encontrar o “seu lugar”, que não sabe ainda qual é, sendo assim, nem seu gato tem um nome, pois como ela, esta ali ao acaso e por isso nem sequer tem um nome.
“Ela é uma impostora, mas uma impostora autentica”. Assim Holly é definida por um advogado vivido por Martin Balsan, para Paul, na cena da festa, e que festa. Parece que Edwards se especializou nestas cenas de festas e junto com Peter Sellers, seu parceiro em outras aventuras, como no hilário “Um Convidado Trapalhão” fez outras cenas de festas tão hilárias quanto esta. É de morrer de rir a cena em que uma moça em meio à bagunça, fica se olhando no espelho e ri pra valer, para em seguida começar a chorar ao espelho sem parar, já vale o filme. Assim como na compra do presente por dez dólares na tal da conceituada Tiffanys.
O drama também tem seu lugar no emocionante encontro entre Lulla Mae e o Doutor. Mas acontece que já não existe mais Lulla Mae, apenas em alguns momentos, como quando Holly canta “Moon River” na janela de seu apartamento e Paul se vê definitivamente apaixonada. Quem não ficaria? Interessante saber nos extras que os produtores queriam tirar esta cena da canção do filme, e com isso compraram uma briga imensa com a miúda Hepburn, que virou uma leoa defendendo sua cria. Ela venceu, e esta se tornou uma das cenas mais celebres do cinema em todos os tempos.
Por fim tem a cena final, com o gato na chuva, que eu sem vergonha nenhuma assumo que chorei e ri ao mesmo tempo. Deliciosamente chorei e lavei a alma de cinéfilo que pedia um filme assim tão fabuloso. Tão romântico.
Penso se assisti algo semelhante recentemente, e não acho nada similar, mas também os tempos são outros. A velocidade do mundo, da comunicação, da internet, nos tomando, talvez não permita algo assim. Mas sou um nostálgico. Sendo assim, talvez por penitencia, por só agora descobrir este tesouro da sétima arte, assisto novamente. Quem não viu veja, urgentemente, mesmo achando ser um filme de “mulherzinha”.
Ah! Lulla Mae, a tantas coisas pra se ver. E eu também estou procurando o arco-iris, logo depois da chuva.

23 de setembro de 2011

180° - Eduardo Vaisman

Certamente, produzir um filme requer muita força de vontade, de trabalho. Aglutinando muitas pessoas, a começar pelo diretor, todos imbuídos num propósito em comum, o de se fazer um filme único. E, claro, se possível, um filme bom e aceitável. Vale dizer que meu espírito romântico, leva-me a crer que todo cineasta que se presta a esta epopeia,  por vezes heroica, que consome meses e até anos para ser concluída, tenha em seu diretor, um comandante que antes de tudo, ame, venere a sétima arte. Antes de dirigir/gerar seu próprio filme/filho, este diretor deve (acredito ingenuamente) conhecer e se basear em filmes formidáveis, e do convívio e bagagem com estas obras, estabelecer uma ponte para com suas crias. Daí surge minha angustiante pergunta: O cara não percebe que esta trabalhando arduamente num filme ruim? Que esta criando um monstro?
Detesto falar mal de filmes - pois cinéfilo, os amo-, e de maneira geral, falar mal de qualquer outra coisa. Tenho uma amiga que diz que preciso deixar de ser “bonzinho”, botar os bichos pra fora. Mas acontece que o cinema nacional este ano, está impossível. Novamente, saí do cinema me sentindo lesado pelo preço do ingresso e pelo tempo perdido. Mais um filme brazuca na lista dos piores do ano, que por sinal está concorridíssima só com nacionais. Muita quantidade, pouca qualidade.
Entendo, e em alguns casos até simpatizo com filmes feitos para o “povão”, como “De Pernas Pro Ar” ou “Muita Calma Nesta Hora”, filmes estes rechaçados pela crítica, mas sucesso garantido. São filmes que apenas querem divertir, não se pretendem maiores do que isso, então respeito. O que não suporto são estes filmes pseudo-intelectuais que se vendem como “puro-scotch”, mas são na verdade uns “paraguaios” de segunda linha. Melhor seria uma cachacinha não? Tem uns cineastas que parecem que só conhecem o circuito Vila Madalena/Pinheiros, com aquelas historinhas chatas a respeito do próprio umbigo. Mas está é outra historia.
Outro dia, um amigo crítico (mas) querido, comentou no Facebook que o argentino “Medianeiras” (Ah! Mariana, ou melhor, Pylar, espanhola  Pylar Ayala! Para de procurar Wally, eu estou aqui, minha linda!) é um filme publicitário da pior espécie. O que ele falaria então sobre este 180°? Titulo sugestivo para um filme que roda, roda e não chega a lugar nenhum, só nos meus nervos. Alias, visto a camisa argentina e uruguaia, comparando o que tenho visto dos hermanos em comparação ao cine Brasil. Viva Los Hermanos.
Este filme conta uma história inverosímel sobre um triangulo amoroso entre três jornalistas – quer coisa mais Vila Madalena do que isso -, sendo que um deles (Felipe Abib, péssimo) encontra uma agenda com listas de compras (!?) e a partir dela escreve um super best-seller. Repito, escreve um campeão de vendas a partir de uma lista de compras, e no Brasil, sendo que vale lembrar, só para se ter uma pequena comparação, que na Argentina, país do tamanho (mais ou menos) do estado de São Paulo, tem em torno de 80% a mais de livrarias que nós, leitores- pelo jeito – não tão ativos. Com este sucesso, o rapaz acaba roubando a namorada (Malú Galli) do outro jornalista (Dú Moscovis), para depois descobrir que não havia roubado apenas a namorada dele. Mas não dá para entender direito todo o “conceito”, pois as idas e vindas ao tempo, tão bem utilizado em filmes recentes como o maravilhoso “Namorados Para Sempre”, aqui funciona sempre negativamente, pois as cenas são pessimamente editadas, deixando tudo meio que em aberto. A questão aqui é saber se as coisas funcionam assim por “razões artísticas”, sabe como é, para deixar no ar aquele ar de difícil, intelectual, ou se é apenas desleixo mesmo. Acredito na segunda hipótese. Afinal, como classificar a última cena do filme? O que é aquilo?Final em aberto? Pegadinha do Malandro? O quê, como assim? Tá difícil viu.

Ultimamente, o que era um dos meus maiores prazeres, que é ir até o cinema, tem se tornado um aborrecimento, graças a esta safra tão ruim de filmes, e não estou falando apenas do cinema nacional, não. Vou ter que começar a ver aqueles filmes antigos, em DVD, guardados, que fico deixando pra depois, é o jeito.

20 de setembro de 2011

Lembranças – Allen Coulter


Para mim, a tragédia de 11 de setembro, continua acontecendo. Ali, os Estados Unidos deixaram de ser a primeira potência mundial. Com isso, seus filhos americanos, ou não se deram conta da transformação, ou apenas continuam se vendo como vítimas. Mas não só as Torres Gêmeas ruíram, a confiança também. Se junta a isso, um mercado econômico patético, pelas mãos de banqueiros e economistas que não querem  largar o osso e o resultado hoje é muito pior do que o que previa o mais pessimista democrata ou republicano. A economia está um caos e o desemprego bate recorde. Nem a morte de Osama Bin Laden harmonizou a coisa. E o primeiro presidente negro parece perdido.
No domingo retrasado se “comemorou” os dez anos do acontecimento, e entre tantas notícias e imagens na TV, que são mais fortes (ainda) do que qualquer cena de cinema, me peguei lembrando  de Caroline, uma menininha linda, personagem coadjuvante deste filme e acabei revendo em DVD.
Caroline faz parte de uma família desestruturada, desde o suicídio do irmão mais velho. Com o acontecimento, seus pais se separaram, seu irmão do meio saiu de casa, pois passou a culpar o pai empresário pelo suicídio, e ela se viu tendo problemas com falta de atenção nas aulas, e bulling das colegas. Mas coisas piores viram. A tragédia das Torres Gêmeas lhe trás outras perdas e marcará sua vida. Se antes ela já era um poço de delicadeza e tristeza, e depois do acontecido? Como uma menina como ela estaria/estará vivendo hoje, passados dez anos e ela já com seus vinte e poucos anos. Como estará sua cabeça, seu interior. Daí penso em quantas Carolines traumatizadas existem hoje nos EUA, e como trabalham seus traumas e dores. 
Outra personagem tão interessante quanto Caroline é Ally, vivido por Emilie de Ravin (a loirinha da super série LOST), que também vive com o trauma de ter visto o assassinato de sua mãe dez anos antes, numa estação de trem. Ela se apaixona por Tyler (Robert Petinsson, o vampirinho camarada) que é o tal irmão de Caroline. Alias, é aí que está o problema do filme. Cheio de coadjuvantes de peso, entre eles Pierce Brosnan, Lena Olin e Cris Cooper, o filme meio que se perde nas indagações de Tyler. A produção, ávida pelo publico da saga “Crepúsculo”, concentra suas fichas no personagem menos interessante, e com isso o filme meio que se perde, até o desfecho traumático, o atentado. Que trará mais uma morte trágica na vida de Ally e Caroline. Jovens e com tanto peso trágico nos ombros, na bela cena final que por si só já vale uma conferida no filme, Ally olha diretamente para a câmera, e sem dizer nada, parece perguntar ao público: “O que será de nós?”. Boa pergunta, pois passada uma década inteira, seu país, sua nação, ainda não sabe responder esta simples pergunta e o medo atingiu em cheio, a (ex) maior nação do mundo.

10 de setembro de 2011

O Homem do Futuro – Claudio Torres


“E você ia tirar isso dele?!” Na cena mais impactante do filme, um dos três personagens de Wagner Moura, fala isto para seu outro eu, o outro “Zero”. Quando ambos assistem ao longe, o terceiro “Zero” no palco cantando em êxtase “Tempo Perdido” da Legião Urbana. E eu na platéia do cinema, olhos marejados, não pude deixar de lembrar o quando escutei a dita canção pela primeira vez. Pois a canção havia tocado fundo na minha alma, novamente, como naquela primeira vez, vinte e tantos anos antes. De outra forma, é claro. Não sou mais tão jovem, pelo menos na idade.
Vale lembrar (acho eu) esta historinha. Estávamos na oitava série, e não era fácil escutar uma música nova como é hoje em dia. Era só rádio, e olha lá.Só os mais antigos, sabem a delícia de pegar um vinil novo nas mãos e senti-lo, namorá-lo. Tínhamos que realmente esperar sair o vinil. Lembro que eu e mais uns dois ou três malucos espinhudos, cabulamos aula naquele dia, e fomos para a porta da “Hi-Fi” da Rua Augusta. Fomos os primeiros a entrar na loja atrás do segundo e tão aguardado novo disco da Legião Urbana. Cada um comprou o seu exemplar, e fomos imediatamente para uma casa vazia (pais trabalhando) escutar aquela jóia tão aguardada. Uma, duas, cinco vezes o vinil rodou e obviamente “Tempo Perdido” causou impacto profundo em todos, principalmente em mim. Lembro como se fosse ontem. Nada seria como antes. A inocência se perdia de vez, ali com aquele monte de canções doídas de um louco chamado Renato Russo. Impacto parecido como quando escutei, anos depois, contra a vontade, devido a insistência de um  amigo em um  disc-man em frente a uma cachoeira em Visconde de Mauá, o “Clube da Esquina 2” do até então “Coração (chato) de Estudante”, mas depois disso (abre-se a caixa de Pandora, ou melhor, da MPB), genial Milton Nascimento. Ou então quando descobri maravilhado que “Twist and Shout” era de longe, muito longe, a pior música do Please, Please Me (63), dos quatro gênios de Liverpool. Tempo passado, tempo vivido, tempo perdido, reminiscências, lembranças, momentos que não tem preço... O que você estava fazendo quando escutou pela primeira vez uma música marcante como essa?
Esta música da Legião tem papel fundamental neste filme delicioso de Claudio Torres. Permeia a historia de Zero, um cientista maluco que inventa - meio que sem querer -, uma maquina do tempo para voltar vinte anos antes, na hora e no momento mais feliz e mais triste de sua vida, ele volta ao momento exato em que a paixão de sua vida, Helena, entra e saí de sua vida em uma festa da faculdade. Momento xis para seus caminhos e descaminhos futuros. Penso que se tivesse nas mãos este poder de voltar no tempo, e pudesse mudar algumas coisas, algumas atitudes, todas elas estariam relacionadas a paixões antigas. Eu que sempre fui tão desengonçado para estas coisas do coração, avançando quando é necessário recuar. Recuando quando necessário avançar...
Mas será que se eu conseguisse modificar certos momentos, as coisas seriam melhores do que de fato foram? Meus conceitos espiritualistas me dizem que não, assim como eu entendo que também é mostrado, por outro meio no filme. Mas meus conceitos não cabem aqui. Este é um filme deliciosamente pop, e Claudio Torres o conduz muito bem, mesmo que acabe derrapando um pouco, acho eu, nas cenas finais, mas vale muito à pena. Afinal, o que vale é o percurso e não a chegada.
Confesso que estava desanimado para assistir este filme (assim como os outros em cartaz) e o trailer não havia me animado pelo fato de eu ver Wagner Moura novamente num trailer cantando música da Legião. Ele fez a mesma coisa com “Será” em seu penúltimo filme: “Vips”. Que por sinal, me causou péssima impressão quando assisti. Naquele filme em que ele também interpretava vários “eus”, estava bem exagerado na atuação, e logo pensei que cairia no mesmo erro. Engano meu, ele esta perfeito desta vez, e empresta credibilidade para seus três personagens “iguais e diferentes”. Melhor ainda é sua química com Aline Moraes, que para minha surpresa, esta muito bem como Helena, assim como Fernando Saylão e Maria Luisa Mendonça como os bons amigos de Zero. Ponto para o diretor, que mostrou que sabe dirigir seus atores, neste que é seu melhor filme, apesar do grande sucesso anterior de “A Mulher Invisível”.
O cinema nacional esta vivendo um “boom” de produção e público. Mas quantidade não está ligada a qualidade. Entre ciladas e vira-latas, Torre faz um filme pop, mas não popularesco. Não é “cabeça” ou profundo, mas o mais importante é que não é raso. Cópia do cinema americano? Neste caso... Que bom!

26 de agosto de 2011

A Árvore da Vida – Terrence Malick


Eu estava tentado a não escrever nada sobre este filme. Muito já foi dito, escrito e lido a respeito. Tenho medo de me ver, mesmo que sem querer, copiando outra opinião, de algum dos muitos artigos lidos. Mas será que alguém consegue ser realmente original, ainda mais hoje em dia, já que nos viciamos e nos misturamos a um bombardeio de notícias na internet. “Quem lê tanta notícia?” , quando Caetano decantou “Sem Lenço, Sem Documento”, naquele festival de 68, nem imaginava o que viria a seguir. A impressão que tenho, é a de que quanto mais facilidade e informação se têm, hoje em dia, mas as pessoas estão ficando burras, mas isso é outro assunto...
O que me faz escrever algumas linhas sobre este filme, tem mais haver com o fato de eu ter assistido há pouco tempo os outros filmes do Malick numa mostra do CCSP. Apenas cinco filmes com este, e uma fama de reclusão que só fez aumentar uma falsa bolha de ar envolvendo seu nome e sua obra. Olhando para todos estes filmes, o que sinto em comum em todos, é a vontade de investigar o conflito eterno entre a natureza, o homem e Deus. Suas belezas, suas maldades e a divindade em meio a tudo isso. O Deus da beleza e do caos.
É neste seu último filme, que Malick tenta dar o seu salto mais ambicioso, parece que os outros eram caminhos que levariam a esta sua obra “profunda e poética”. Se em todos seus filmes, o diretor tenta passar a poesia da natureza para a tela, neste vai mais longe e tenta poetizar a origem de tudo. O Big Band, a origem do universo, do mundo, da vida, de Deus, e do amor dele para com seus filhos. Cita Jó, o filho mais sofredor da bíblia, para mostrar o convívio de um pai austero, controlador, com seus filhos, em especial, o mais velho.
Em nome do pai, do filho e do espírito santo. Aqui representados pelo pai (Brad Pitt) que maltrata para fortalecer. O filho que sofre as angústias da opressão. E o espírito santo é representado pela mãe, o amor incondicional materno, acima de toda opressão, o amor, no sentido mais lindo e puro possível. Vamos combinar que é muita pretensão de botar toda uma gênese da natureza e da natureza humana numa família só, mas Malick é sim, muito pretensioso.
Queria muito, muito mesmo, sair embasbacado, do cinema, como tenho visto e lido por aí. Gritando: Gênio, gênio! Mas nem uma coisa nem outra. Sim, é tudo muito bonito; sim, é tudo bem feito; sim, a fotografia é belíssima. Mas é tudo over demais, não precisa ser linear não, mas chega uma hora que se torna enfadonho, cansativo. Pronto, falei: enfadonho. E como disse (ó eu copiando!) meu amigo Sérgio: ”parece new age, Enya, estas coisas aí”.
Ganhador de Cannes, recluso, todos falam que Malick é um gênio, com todo aquele seu jeito “natureza-poesia áudio visual em película” de filmar. Mas me pergunto: Será que ele faria um filme... Vamos dizer: tradicional? Porque, como já disse, é tudo muito bonito (não me joguem pedras), mas tá ficando cansativo. A gente tem que ficar fazendo força para “captar” o que aquela determinada cena quis falar. Deveria ser tudo mais natural, eu acho. Uma cena me chamou muito a atenção: é quando o pai saiu em viagem de negócios e os filhos se sentem libertos da sua opressão, logo acabam fazendo coisas que não deveriam. Coisas como quebrar vidraças dos vizinhos, e principalmente, magoar a própria mãe (Jessica Chastain, maravilhosa), insultando a quem sempre os defendeu e só deu o mais lindo amor. De oprimido a opressor. Mais tarde o filho pergunta ao pai se ele puxou sua natureza “má”? É claro que sim, ele constata que sim, mas quanto floreio para se chegar nisso, ou a qualquer outro fundamento. Sim. A vida é complexa, e aquele menino, assim como este menino aqui, que escreve, carrega dentro de si toda uma herança maldita e bendita do passado. No filme, apenas no olhar melancólico de Sean Penn, sabemos que as feridas são imensas, ele adulto em meio a edifícios imponentes, concretos e elevadores imensos, em contraste com o menino solto no quintal, na infância doída e saudosa. O homem tá lá no menino. O menino está todinho dentro do homem. Que procura sua divindade através do pai maior, ou da natureza, ou de qualquer outra coisa que o afaste do vazio e da solidão. Mesmo rindo e sendo amigo, em meio há festas imensas. Quem de fato não se sente só?
Mas precisa de tanto floreio, senhor Malick? Talvez, uma revisão melhore minha avaliação, mas nem maravilhoso, nem ruim. Mais para uma bomba de ar, por enquanto.
Cinzas no Paraíso (78) – a praga na natureza e no casamento - ótimo
Terra de Ninguém (73) –  assassinatos,amor e natureza -ótimo
Além da Linha Vermelha (98) –  guerra sem sentido e mergulhos límpidos - bom
A Árvore da Vida (11) –  O big band, a mãe , o pai e o filho - bom
O Novo Mundo (05) -  -Pocahotas e o bom/mal homem branco -bom